Em sua primeira novela, com a personagem Sara na novela Travessia (Globo), Isabelle Nassar mostra que veio para ficar. Depois de um período trabalhando como modelo, que a possibilitou visitar lugares e conhecer pessoas, Isabelle se formou em filosofia contemporânea pela Puc/RJ, e ali desenvolveu uma pesquisa sobre o corpo e seus entendimentos. O que já serviu de base para seu trabalho como atriz. Ao longo desse papo desvendamos um pouco mais sobre os próximos passos de Isabelle. Essa garota promete!
Isabelle, aos poucos sua personagem, Sara, em Travessia, foi se chegando e mostrando a que veio. Como tem sido a repercussão desse trabalho e como ele tem te tocado? A melhor possível. Eu sempre tive muita vontade de trabalhar com o Mauro Mendonça Filho. Acho ele um diretor diferenciado e com trabalhos de muita qualidade. E sempre tive muita vontade de trabalhar com a Glória, ela tem um olhar atento para a diversidade e para questões que nos atravessam. Quando soube que eles tinham se unido, fiquei com muita vontade de fazer essa novela. A troca com o público está sendo uma delícia.
Como foi sua preparação para a personagem? Alguma identificação com ela? Para as minhas personagens, eu sempre procuro partir do corpo. A Sara da primeira fase era mais magra, mais nova, mais “leve”. A Sara da segunda fase, eu tive tempo de preparar um corpo mais forte, malhado, com mais tônus para essa mulher corajosa que se apresenta e pronta para enfrentar qualquer desafio. Tenho muitas identificações. Sara é uma mulher que ralou muito para chegar aonde está (profissionalmente). Então, ela é uma mulher corajosa. Ela vai atrás daquilo que ela acha que é importante, justo. Ela não sabe onde está se metendo, mas possui senso de justiça. Além do mais, ela é maquiadora, eu adoro maquiagem. Adoro na verdade tudo aquilo que nos empodera. A maquiagem é também, uma forma de empoderamento feminino. A mulher pode ser tudo que ela quiser, inclusive optar por usar muita ou nenhuma maquiagem. Eu gosto do assunto beleza, me viro super bem com minhas makes, consumo conteúdos de maquiagem e moda. Está sendo uma delícia, me aprofundar nisso através de Sara.
A personagem pode parecer pequena, mas tem uma grande importância na trama. Você já sabia dessa evolução dela e como você enxerga a Sara? Eu não meço meus personagens, para mim o “tamanho” é relativo. Estou sempre pela “obra” e pela importância dramatúrgica que aquele personagem tem para o todo da obra. A Sara tem uma importância tamanha, pois ela traz à tona um segredo mexendo com toda a estrutura do enredo. Poder estar fazendo uma participação sem fala ou uma protagonista, eu sempre vou dar meu máximo e fazer o melhor de mim.
Muita gente não sabe, mas sua carreira como atriz não começou agora com a Sara. Você já tem uma bela jornada no teatro e no cinema. Como foi o começo de sua carreira de atriz? Eu acredito que o estudo é a base para todo ator. Sou formada pela Martins Pena (a primeira escola de teatro da América Latina, onde se formou Procópio Ferreira), Bacharel em Artes Dramáticas pela Cal e Pós-Graduada em Filosofia Contemporânea pela PUC/Rio. E tenho muito orgulho de que, o ponto de partida da minha carreira, foi os estudos.
Sua estreia na TV foi no ano passado na série Bom Dia Verônica com uma personagem meio sombria. Como foi participar desse trabalho? Eu tenho um carinho muito especial por toda a equipe Bom Dia, Verônica. Primeiro, foram eles a me darem a primeira grande oportunidade no audiovisual. Sem contar que a série fala de uma temática importantíssima – a violência contra mulher. É uma responsabilidade que, não é só do audiovisual, é de toda a sociedade e do estado falar sobre o tema. Na série eu faço a Olga, uma mulher que foi vítima dessa instituição criminosa que acaba se transformando em algoz, que insere a discussão do tráfico humano na trama. O tráfico humano existe, ele é real.
Pós-Graduada em Filosofia Contemporânea, pela PUC, onde pesquisa o corpo e suas diversas manifestações. Como aplica isso em sua profissão? Eu sou pós-graduada em filosofia contemporânea pela Puc/RJ, e ali desenvolvi uma pesquisa sobre o “corpo e seus entendimentos”, um alinhavo que pensa o corpo e suas interpretações com poesia e performances em vídeo (até faço uns vídeos poemas/autorais no Instagram). O corpo para mim é meu material de trabalho. É por onde meus personagens começam, habitam. Como artista que sou (talvez por sina ou por karma), questiono, ou me questiono as divisões impostas sobre mente e corpo. O corpo também é mente, pensa, vive, cria e recria. Para minhas personagens eu sempre procuro a partir do corpo.
Um detalhe sobre você chama atenção é a postura, a elegância. Características de quem trabalhou como modelo. Como foi que começou e que momentos destaca da carreira de modelo? Eu sempre fui atriz, ser modelo foi uma passagem, uma oportunidade de conhecer novos lugares. Eu sempre tive muito interesse por pessoas, por gente. Eu comecei no teatro de rua ainda criança, mas como as possibilidades eram poucas na minha cidade, a dança me resgatou. A arte sempre esteve muito presente – eu sempre escrevi, dancei, interpretei. No meio do caminho, com 14 anos, eu estava em um shopping e um olheiro me viu e disse que eu tinha muita possibilidade de trabalhar como modelo. Até então, isso nunca tinha passado por minha cabeça. Entendi isso como uma chance de expandir. Fui para a China com 15, 16 anos, e eu lembro que ficava observando as pessoas, como elas faziam as coisas, como conversavam. Eu fui escrevendo essas histórias com o passar dos anos, fui entendendo como funcionava. Eu fiquei muito tempo na Ásia, fiz China, Japão, Turquia, Hong Kong e Europa. Morei por muito tempo em Milão. E foi lá que comecei a fazer aulas de interpretação e filosofia, fazendo meu pezinho de meia e investindo um pouco nessa formação artística.
O quanto você é ligada em moda e como lida com o espelho? Gosto de moda. Moda é uma indústria também de empoderamento feminino, de desdobramento de padrões, de questionamento de estereótipos. E quanto ao espelho, é só um reflexo de uma imagem. Se você estiver bem consigo mesmo, nenhum espelho vai te derrubar.
Qual seu pecado irresistível? Dormi depois do almoço.
O que alguém tem que ter / ser para chamar sua atenção? Inteligência e sensibilidade.
Quais os planos para depois de Sara? Até o começo de maio, estamos em Travessia. Estou recebendo alguns convites, analisando alguns projetos. Está sendo super legal. Depois, quero continuar me estabelecendo na Globo, fazer outros produtos dentro da casa. Em 2023, quero fazer também a circulação da minha peça Era Medeia, em São Paulo, que é uma parceria com meu amigo Eduardo Hoffmann e supervisionada pelo César Augusto. Estou terminando de escrever meu livro de poemas e esse ano estreia o filme Delicadeza, dirigido pela Ciça Castello. Quero que seja um ano de muito trabalho e crescimento.
Foto capa @essa_midia
Ensaio @jorgebispo
Assessoria @nova.comunicacao