ESTRELA: TODAS AS CORES DE ALICE FROMER

Texto Patrícia Alves

O show que reuniu a formação icônica dos Titãs trouxe a cena musical uma das melhores surpresas de 2023. Quem vê Alice Fromer no palco entende na hora que ela chegou para ficar. Forte, culta, intensa e afinadíssima… A filha de Marcelo Fromer (ex-guitarrista da banda) se reuniu com os integrantes clássicos da banda: Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto para a turnê Encontro. Ela está bem longe de uma cantora pré-fabricada com hits óbvios ou dancinhas ensaiadas para viralizar em um verão qualquer. Durante um almoço ela me recebeu para um papo leve, generoso e mostrou porque é muito mais que a filha do guitarrista da banda que mudou o cenário do rock nacional dos anos 80. Em seu primeiro ensaio ela mostrou personalidade e ousadia.  

Você morou em Portugal, cursou Pedagogia e Filosofia. Depois disso, se especializou para trabalhar com crianças especiais. Pode nos contar esta experiência? Morei lá por 12 anos onde fiz minha primeira faculdade. Ao chegar no Brasil cursei Pedagogia e acabei fazendo alguns cursos complementares para que eu pudesse trabalhar com crianças especiais, autistas ou que passaram por sofrimentos psíquicos, ou possuem TDHA. Meu propósito era ajudar crianças com problemas de inclusão escolar. E até hoje faço isso, que é uma enorme paixão.

Como a música surgiu na sua vida? Sempre gostei de música, sobretudo, de rock. Por incrível que pareça (e isso nunca contei a ninguém). Meu pai não ouvia música em casa, ele separava muito bem os “mundos”. Para você ter uma ideia nem seus instrumentos ficavam lá. Na intimidade ele gostava do silêncio.

E quando você começou a cantar? Comecei a fazer aula de canto, mas muito mais como terapia, para me soltar e deixar a timidez de lado. E aí, meu ex-marido Daniel tinha uma banda de cover e um dia me chamou para cantar. Fizemos um dueto e ele e as pessoas que assistiam começaram a me dizer sobre o quanto eu era afinada e como eu tinha noção dos tons, das notas. Bom, então pensei vou estudar e me aprofundar nas aulas de canto.

Mas, isso sem pensar em seguir nada profissional? Nunca imaginei…  Depois de um tempo, aos 20 anos, comecei a cantar mais com meu ex-marido e me aprimorar. Quando recebi o convite o primeiro sentimento foi de um “susto”. Veio também o sentimento de “meu deus não vou dar conta”. Na verdade, nem eles esperavam a magnitude que se tornou esta turnê. Estreei com 20 mil pessoas assistindo… (risos) Depois da primeira metade da turnê já estava mais solta, me divertindo e, a cada dia mais, amadureço e aprendo com o público que me recebeu com tanta generosidade.

E, como foi cantar ovelha negra para homenagear a Rita Lee? Eles me ligaram e me disseram: vamos fazer uma homenagem a Rita? Vamos cantar ovelha negra? Eu falei ok. Mas, não sabia que eu que iria cantar. E, eles foram categóricos. Tem que ser uma voz feminina. E foi sem ensaio! Fiquei nervosa por conta do tom ser mais alto, mas falei… Vamos lá. E, foi maravilhoso! Sair da zona de conforto e homenagear a rainha do rock foi emocionante. Hoje, quando aparecem situações inusitadas na vida penso que sair da zona de conforto é assustador no início, mas nos move, nos joga para frente. Tive mais medo neste dia todo do que na estreia da turnê.

Liminha é um ícone, um mestre. Como é dividir o palco com ele em uma turnê tão emblemática? Eu conheci ele meio pisando em ovos, não houve uma intimidade imediata. Havia um respeito enorme. Os outros eu já conhecia, eram amigos do meu pai. Mas, hoje ele é o que mais me guia, para quem mais eu olho. Tenho um carinho muito especial por ele, é um cara sensacional. Mestre absoluto!

E daqui para frente, você pretende levar adianta sua carreira solo? Existem projetos em andamento, coisas no meu horizonte. Quero lançar sim algo solo, além de um podcast diferente que acredito que deve sair bem do lugar comum.

E, depois do sucesso, você deve abandonar a pedagogia? Não pretendo. Amo as crianças. Enquanto der eu quero conciliar as duas coisas. E sou uma pessoa que preciso de uma rotina estruturada e diária. Preciso desta “rigidez” para a vida acontecer. Sou disciplinada. Não gosto da angústia, da incerteza e a carreira de um artista no Brasil é bem complicada.

Você escreve poemas e prosa o que não é comum na sua faixa etária. Me conte como isto começou. Sempre gostei muito de ler e meu pai era um exímio contador de histórias. Lembro de um dia que eu pedi a ele: quero dez histórias de bruxa. E, ele no improviso, contou as dez. E com personagens diferentes.

Criatividade absurda, ele escrevia muitooooo bem. Tenho gavetas de textos inéditos dele. Um dia, eu e meu irmão, ainda queremos transformar esses escritos em um livro.

Você pensa em um projeto de música para crianças? Ainda não tinha pensado, mas odeio essa coisa de música para adulto ou para criança. Acho horroroso aquelas musiquinhas que tratam crianças como “bobonas”. Criança tem que ouvir música boa e todo tipo de música. Beatles, erudito, rock… Mas, seria sim uma boa ideia um projeto que pudesse unir minhas duas paixões.

Você nos presenteou com seu primeiro ensaio… Como foi para você fazer as fotos para a MENSCH? Não esperava jamais. Foi uma grata surpresa! E, quando soube que seria com o Angelo Pastorello, que já tinha fotografado meu pai em uma capa icônica da Bizz com os Titãs, fiquei emocionada e empolgada. Encontrei uma equipe muito profissional que me deixou muito à vontade. Angelo me deixou livre para escolher as fotos e o resultado ficou incrível, espero que os leitores gostem também (risos).

Fotos Angelo Pastorello

Stylist Nicole Nativa e Revoltx Cardoso

Beleza Anauê Stein