Escrever sobre um político sem tocar no tema política. Uma missão praticamente impossível ao se falar do pernambucano Felipe Carreras, atual secretário de Turismo, Esportes e Lazer do Governo do Estado. De sorriso largo e com cara de menino, é o que se pode chamar de um cara muito família. Pai de três meninas, com as quais sua vida pública disputa espaço, Maria Luiza de 7 anos, Letícia de 5 e Laís de 4, sempre que pode estar envolvido em brincadeiras e passeios divertidos. Segundo o secretário, a proximidade de idade delas faz com que tenham energia de sobra, e a bateria não descarrega nunca. Por isso tem que ter jogo de cintura para conciliar as três e as atividades de Governo. “Às vezes, o final de semana é muito demandado pela política, vira e mexe chamam pra uma agenda no interior ou uma reunião. Mas, quando consigo, paro tudo e fico com minhas filhas. Viajo com elas, fico em casa brincando e as levo para passear. Comprei até uma barraca de camping e coloquei na sala pra acampar com elas”, brinca Felipe.
Mas a política está tão entranhada em sua vida que a única fase em que não a viveu foi na infância. Período, aliás, que Felipe considera como tendo sido o mais saudável e feliz possível. “Como morava em Casa Forte, minha infância foi brincando por ali, pela praça e no Poço da Panela, andando descalço. Chegava da escola e ia jogar bola, andar de bicicleta, empinar pipa na beira do rio, disputando com meus amigos quem derrubava a do outro. Negócio de moleque mesmo. Infelizmente a gente não vê mais isso na criançada de hoje”, pondera.
Nessa fase, que permeia as memórias afetivas do secretário, ele estudou na Escola Padre Donino, a mesma que o mestre Ariano Suassuna e o governador Eduardo Campos frequentaram. Mas foi mais ou menos na época da faculdade que sua história cruzou com a política. Depois de estudar na Escola Técnica Federal, foi para a Universidade Católica de Pernambuco. Foi por lá que entrou no Diretório Central dos Estudantes. “Logo no primeiro período, me chamaram para integrar uma chapa cujo nome era Depende de Nós, disputando com mais duas. Foi minha primeira vitória. Virei secretário geral do DCE em 1996”, diz.
De lá para cá, sua trajetória ascendente fez com que a rotina ficasse cada vez mais puxada, enfrentando hoje uma verdadeira maratona. Felipe começa o dia normalmente às 6h, e, por vezes, estica até 23h. Para aliviar um pouco o estresse, já que sempre teve intimidade com os esportes, gosta de correr. “Esse ano eu não estou do jeito que eu gostaria, a verdade é essa. Venho para a Secretaria quando não tenho agenda fora, mas normalmente até na hora do almoço eu trabalho. Sempre tenho um encontro com alguém que não tem brecha na agenda. Termina que o almoço vira reunião”, desabafa.
O que pouca gente sabe é que enquanto sua história na política se desenrolava, Felipe passou um bom tempo como um próspero produtor de eventos. Fato curioso é que, o primeiro partido ao qual se filiou é o mesmo que permanece até hoje, o PSB, tendo sua ficha assinada por ninguém menos que Miguel Arraes. Mas quando o então governador perdeu a reeleição, em 1998, Felipe saiu e ficou desempregado. Precisando de dinheiro, iniciou sua segunda carreira. “Comecei a fazer evento com o amigo Augusto Acioli, que também trabalhava comigo no Palácio. Iniciamos com a maior calourada da história da Católica, quando éramos do DCE. Mas ainda era para o Diretório e não para nós. Também tinha o camarote para a juventude do partido no Carnaval de Olinda. Ou seja, no Governo e na Faculdade aprendemos a fazer festa. Com essa expertise, resolvemos entrar no mercado. A partir daí, dois eventos foram emblemáticos, o Olinda Beer, que veio dos camarotes, e um agito no bar Oitão na Copa do Mundo, que veio da calourada. Mesmo com o fim dos jogos, passamos a repetir semanalmente. Bombou, esgotava ingresso. E esse foi o início de tudo. Foi a partir daí que surgiu o Caldeirão”, revela.
Apesar dos negócios promissores, ainda jovem, a paixão pela política nunca o abandonou. Sua relação forte com o saudoso Eduardo Campos, o fez praticar a militância em todas as suas campanhas. “Quando trabalhei na juventude da campanha de Eduardo (1992), aos 16 anos, lembro que foi meu primeiro voto”. Em 94, Felipe integrou a juventude na campanha de Arraes, que saiu vitorioso, e passou a trabalhar no gabinete do Governador. “Escolheram os jovens mais ativos. Eu era só um jovem cheio de ideais. Mas Eduardo (Campos) era o secretário do Governo. Ele sabia que eu era ativo e me deu a chancela”. Já em 95, organizou o primeiro Fórum Jovem da Frente Popular. Em 96 foi eleito secretário nacional da Juventude do PSB, membro da executiva nacional do partido.
Mas, foi no ano de 2012 que a história de Felipe Carreras começou a fazer parte mais ativamente da vida pública local, quando chamado para ajudar a coordenar a campanha a prefeito de Geraldo Júlio. “Estava chegando ao Centro de Convenções (de Pernambuco), Eduardo liga e pergunta – “O cavalete da campanha tá guardado ainda? Tem material de som?” Respondi: tá tudo guardado. Ele contou que lançaria Geraldo Júlio candidato e que precisaríamos estar no final de julho com dois dígitos para ele. Eu disse, governador meu nome é pronto, ‘vamo simbora’. O prefeito se elegeu e fui sondado pra entrar na Prefeitura. Conversei com meu sócio sobre isso e ele perguntou se eu tinha esse sonho, eu disse que sim e ele disse que tomava conta das coisas no nosso negócio”, relembra.
Segundo o secretário, nesse momento sua cabeça ‘virou a chave’. Saiu de sua zona de conforto, já era dono do próprio negócio e acordava e trabalhava a hora que queria. “Se Augusto quisesse fechar a porta depois do almoço da sexta e tomar uma cerveja a gente podia, e era o que normalmente acontecia”. Ao entrar na Prefeitura, sua rotina mudou completamente. Logo passou a ser o secretário de Turismo e Lazer do Recife, onde passou 15 meses. Depois lançou candidatura a deputado federal, a pedido do partido, “eles achavam que eu tinha perfil metropolitano jovem e tinha um papel a cumprir, com a linguagem da nova política que Eduardo pregava”. Obteve uma grande votação, sobretudo para um candidato que nunca havia disputado nada. Contudo, não foi para a Câmara representar o Governo. “A forma que tenho de compensar os eleitores por não estar em Brasília é fazendo e realizando aqui, justamente por eu ter esse perfil executivo que eu consegui acumular com as realizações da Secretaria da Cidade e que posso, hoje, transferir para a Secretaria do Estado, colaborando com o governador Paulo Câmara”.
E assim segue Felipe, sempre a postos para um novo desafio, político ou pessoal, ao lado de suas três filhas. Seja no Gabinete, seja na cabaninha na sala de sua casa.