Aos 14 anos ele já era conhecido nacionalmente pelos seus prodígios na internet. Era o começo da rede das redes e Murilo Dantas ou Gun, como é mais conhecido já estampava jornais e era entrevistado por Jô Soares. Empreendedor por instinto, Murilo foi o criador do site “Peça Comida”, que na época se utilizava do bom e velho Pager para as transações, ganhou fama, fez algum dinheiro e fazia parte da elite da internet. Depois veio a faculdade e Murilo ficou mais focado nos estudos da administração. Quando foi escolhido para ser o orador da sua turma começou a pesquisar sobre o que levava as pessoas a rirem para construir um discurso que a fizessem rir bastante. Deu certo e enquanto os amigos saiam de lá administradores ele saía humorista.
Assim como na grande rede, Murilo acabou fazendo links entre o humor, os conhecimentos do mundo corporativo e a própria internet e passou a inovar em seus shows de humor para empresas. “Sempre acabava vendo as palestras que rolavam nessas ocasiões, antes do meu show. Percebi que a maioria das apresentações eram monótonas e que acabava não retendo a atenção das pessoas. Então, resolvi pegar os meus estudos sobre criatividade e transformar num conteúdo prático e útil para as pessoas, utilizando o humor como forma para entregar esse conteúdo e ajudar na retenção do conhecimento.”
DE PERNAMBUCO PARA O VALE DO SILÍCIO
Entre um show aqui e outro ali, veio a oportunidade de reencontrar de maneira muito especial uma velha conhecida – a tecnologia. Murilo foi um dos 80 selecionados para participar da Singularity University, uma organização de ensino que funciona através de uma parceria entre a NASA e o Google que desafia gente do mundo todo a usar a tecnologia em prol do bem da humanidade. São 80 vagas disponibilizadas anualmente, 50 delas são preenchidas por meio de aplicação direta; o restante é disputado por pessoas de todo mundo através de competições de inovação. Quem tentar uma vaga por meio do primeiro método de ingresso deve pagar US$ 30 mil para estudar lá, à vista, na hora.
Murilo nos conta que no programa que participou passou dez semanas morando no Vale do Silício, EUA, nas instalações da NASA como se vivesse em um Big Brother, já que ficavam enclausurados em uma escola bem pequena com pessoas de diversos países. A proposta da instituição é reunir times com o objetivo de criar projetos que possam impactar um bilhão de pessoas em dez anos. “Isso é bem desafiador”, diz Murilo.
“Eu acordava por volta das 8h, tomava café da manhã e assistia aulas até a hora do almoço. As aulas recomeçavam todas as tardes e seguiam até a noite, durante o horário do jantar. Às 22h acabava a programação oficial e começava a parte mais importante.” Para Murilo o grande momento era a hora em que as ideias começavam a ser trocadas entre todos os participantes fora do ambiente da sala de aula. “Imagine um grupo de médicos, engenheiros de software, cientistas e empreendedores fazendo um brainstorm. Era nesse momento que as ideias para impactar um bilhão de pessoas começavam a surgir.” Relata.
Divididos em grupos de interesse, os estudantes tinham de desenvolver no último módulo do curso, algo inovador, útil e de interesse coletivo. O grupo do qual Murilo Gun fez (e ainda faz) parte pesquisou e percebeu que várias tecnologias são criadas para aumentar a expectativa de vida das pessoas, mas muitas delas não pensam sobre como será a qualidade de vida da população. Estamos vivendo cada vez mais e precisamos pensar no tipo de vida que teremos. Por isso, o grupo pensou nos problemas que os idosos enfrentam e um deles é justamente a audição, sentido que vamos perdendo naturalmente quando a idade avança.
ENTRE CRIAÇÕES E INOVAÇÕES
Os aparelhos auditivos são uma solução para esse problema, mas eles têm um custo altíssimo. Nos Estados Unidos, estes produtos chegam a custar 10 mil dólares. Então, começamos a destrinchar a estrutura de custo de um aparelho auditivo e descobrimos que 70% do valor é a margem de lucro do varejo porque esse intermediário é feito pelo audiologista, um técnico de áudio que faz calibragem da frequência.
A partir disso, o grupo criou um software de auto calibragem justamente para dispensar esses profissionais em casos médios de perdas de audição, que são a maioria dos casos. “Criamos 16 padrões mais comuns do problema para incluir no programa. Com o software instalado em um aparelho de celular já é possível determinar qual será a frequência do aparelho sem aquele custo exacerbado” diz Murilo.
“Além disso, colocamos dispositivos nos aparelhos para eles poderem gerenciar dados em tempo real do paciente. Depois disso, criamos um assistente de saúde pessoal. Uma vez que tivermos esses dados em milhões de aparelhos auditivos, vamos poder prever doenças através dos sinais vitais de quem os usa. Parece loucura, mas é real” nos conta um empolgado jovem humorista e cientista. E a internet? A internet foi um objeto de curiosidade e trabalho no passado (Murilo fundou e foi sócio de empresas de tecnologia) e hoje é o meio pelo qual dissemina seus cursos e palestras.
HOMEM DO FUTURO
Sobre o futuro próximo Murilo nos conta que está com uma palestra marcada para Genebra em outubro e quer tentar levar seu conteúdo para fora do Brasil. Além disso, quer transformar seu curso de criatividade numa plataforma online para pode disseminar em massa. E quanto ao projeto da Singularity? Murilo vai se encontrar em Londres com parte do grupo para traçar os próximos passos.