TECNOLOGIA: Cidades do Futuro – As mudanças para transformar e construir redes inteligentes e humanas

A Campus Party é um evento nascido no final da década de 90, na Espanha, se internacionalizou em 2008, hoje está presente em países tais como Colômbia, México, Brasil, Inglaterra, Alemanha, Venezuela, Equador, chile, Estados Unidos e El Salvador. Em 2012, a Campus aportou em Pernambuco com seus quilômetros de fibras óticas e conexões neurais efervescentes para nunca mais zarpar. Foram muitos nomes importantes envolvidos nas articulações que ampliaram e trouxeram o evento pela 1ª vez em duas edições para um País. Destaque especial aos esforços do ex-Governador Eduardo Campos que, após visita à Campus Brasil se desdobrou para deixar de legado de seu trabalho um evento desse porte para o Estado de Pernambuco, potencializando os trabalhos de pesquisas nas áreas de tecnologia, inovação e empreendedorismo, registrando seu nome para sempre na história do evento, inclusive sendo homenageado na abertura desta edição.

A MENSCH realiza desde então uma cobertura diferenciada, vivenciando as 300h de conteúdos oferecidas aos campuseiros (denominação dada a quem se inscreve e cumpri a maratona de 3 dias, registrando muito além do evento, buscando compreender ao máximo o processo de fomento, a mudança de código fonte do mundo e de produção de conteúdos diversificados, relevantes e inovadores, produzidos de forma frenética e veloz, 20 GB para ser mais exata, velocidade de conexão oferecida durante o evento, em busca da transformação e construção de redes inteligentes e humanas. Descrever em palavras o conceito do evento é um desafio à parte, pois só vivenciando na prática para compreender todo o potencial de transformação deste gigantesco laboratório humano de mentes criativas. Só participando, vivenciando, sendo, compartilhando, para poder sentir o real poder de transformação das conexões entre tecnologia e seres humanos para a construção de um futuro melhor.
A Campus Party Recife, fixou-se como um dos maiores e mais relevantes eventos de geração de conhecimento do mundo. Nesta 4 ª edição, como tema geral, foi trabalhada uma homenagem à obra de Jules Verne “Da Terra à Lua”, aproximando o universo deste visionário ao dos jovens inovadores com o intuito de provocar diferentes perspectivas do mundo, estimulando e inspirando os visionários deste século a pensarem juntos sobre os próximos anos, em busca da qualidade de vida no planeta.

Mas, por que dar atenção especial a este evento se não sou da área de tecnologia? Você poderia perguntar, caso não seja da área. E se é, por que o olhar diferenciado para o evento? A resposta está dentre de tantos índices significativos de produção de conhecimento gerados – podemos começar pelo fato de que o Brasil é único país do mundo a realizar duas edições do evento. A primeira é a Campus Party Brasil, 2ª maior do mundo, realizada em São Paulo, que registrou este ano 8000 campuseiros e um público estimado de 100.000 pessoas.  O cofundador e presidente global da Campus, Paco Ragageles, sinaliza um futuro ainda mais promissor, provocando em seu perfil do twitter a comunidade tecnológica para uma possível terceira edição do evento no Rio de Janeiro, “Em outubro Rio… #cpsamba? 😉 #ragaleaks”, twittou ele em mensagem curta, porém poderosa, que influenciou de imediato a principal rede social do evento, uma comunidade que possui 12.000 campuseiros que já começam a viralizar a hashtag #CPRio.

A CPRecife deste ano também registrou números significativos. Foram 4000 campuseiros, vindos dos 27 estados brasileiros, instalados em uma área total de 27.000m², do Centro de Convenções de Pernambuco, 2.500 campuseiros acamparam no pavilhão de exposições ocupando uma infraestrutura bem planejada e híbrida; 400 pessoas envolvidas na organização de 250 atividades, divididas em workshops, maratonas de negócios, mentorias, hackathons e mais de 224 palestras. Tudo registrado por um batalhão de 250 jornalistas e produtores de conteúdo. As áreas de conhecimento dividiram atenções, desenvolvimento levou a maior fatia de inscritos com 20.5%, games ficou em segundo com 16,8%, empreendedorismo registrou 14.9%, segurança e redes 7.6%. A Campus é dívida em 4 áreas mestras: Inovação, Criatividade, Ciência e Entretenimento Digital.

MENTES BRILHANTES

Destaque para a palestra magistral de Lorrana Scarpioni, realizada na Arena (espaço interno do pavilhão do centro de convenções, exclusivo aos campuserios). A jovem curitibana de 24 anos, considerada um dos 10 brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos pela revista de inovação MIT (Massachusetts Institute of Technology), é uma das idealizadoras do projeto de inovação social chamado Bliive, nascido no Reino Unido e hoje utilizado em mais de 50 países. Lorrana veio compartilhar sua experiência de criação da solução de utilizar o tempo como moeda.

A área externa do pavilhão um espaço aberto ao público visitante, com fácil acesso e gratuito, proporcionou contato direto com o universo do empreendedorismo inovador, estimulando a participação e o engajamento em projetos como Open Campus, Campus Future e Startups&Makers Camp, Fórum Campus, que ocuparam todo o mezanino. Estima-se que cerca de 60 mil pessoas circularam pelo local. O destaque da Open Campus, área destinada a exposições e entretenimento, ficou por conta dos simuladores, onde as pessoas podiam experimentar a sensação de estarem pilotando carros, entre outros sistemas operacionais do mundo virtual. Já a Campus Future, um espaço dedicado a fazer com que pesquisas e projetos sejam acessados e compreendidos por um maior número de pessoas possível, teve a missão de atingir os interessados em ciência, inovação e tecnologia, destaque para os projeto de neuromarketing e a armadilha seletiva para tubarões.

Outra novidade que agitou os corredores da Campus Recife foi a informação da contratação da MCI Brasil, subsidiária brasileira da multinacional MCI com sede em Genebra, que será a organizadora do evento, a partir da próxima edição, em 2016. A gigante do mercado de comunicação e eventos coorporativos registra um faturamento de cerca de 339 milhões de Euros por ano. Todavia, a participação no Brasil ainda é considerada pequena, cerca de R$ 80 milhões em 2014. Com as novas parcerias, os organizadores esperam um aumento de 50%. De acordo com a nota divulgada pela empresa, o objetivo é expandir a Campus Party para outras regiões do país e levar o evento para outros países, ainda não explorados pela Futura Networks.

STARTUP & MAKERS CAMP FEZ A DIFERENÇA

O projeto Startup&Makers foi outro ponto alto do evento. Uma área inteiramente reservada para o investimento em empreendedorismo digital, que teve como foco principal apoiar empresas iniciantes no mercado de tecnologia, amplificando o legado da Campus Party, colaborando assim, com ações que fomentem o desenvolvimento e qualidade de vida da sociedade. O projeto foi realizado no ano passado, em Recife, e registrou resultados tão positivos que retornou este ano com força total – neste segundo ano, ampliou seus esforços com o projeto Startup360.

Para Vinck de Bragança, Coordenadora Startup360 Recife e São Paulo, gestora de Marketing da Associação Brasileira de Startups, facilitadora e realizadora do projeto Colisões “A área tem crescido e se expandido – este é um reflexo do mercado enxergando nos jovens e no empreendedorismo, um caminho de sucesso. Sete   startups foram premiadas, ganhando além de troféus, auxílio da aceleradora Jump para tirarem suas startups do papel ou alavancarem seus negócios. E a todos os participantes, ficou um convite, para através do Células Empreendedoras continuarem a desenvolver seus projetos.”

Em um espaço aberto ao público visitante e híbrido, a Arena dos campuseiros, um time de elite formado por 40 mentores (coaches) com expertise de mercado, circularam pelos corredores vindos de diversas origens como aceleradoras, como o Programa Células Empreendedoras, do SEBRAE, assim como muitos investidores anjos. No total foram 110 projetos divididos nas categorias early stage (fase inicial) e growth stage (fase de crescimento) – 50 destes foram selecionados através de edital para a área de S&M Camp, onde ganharam 3 dias de stand com infraestrutura completa (física e digital) para criarem seus ambientes de negócios. Com o Startup360, houve ainda a oportunidade de 60 inscritos para as maratonas de negócios. Startups formadas pelos campuseiros ganharam a oportunidade de participar das atividades de mentorias, workshops, palestras e painéis, com o último dia reservado aos pitches (apresentações) para investidores. Dos 32 projetos que foram para a final, 7 foram premiados. Estima-se que no espaço circularam cerca de 400 empreendedores.

O Professor Genésio Gomes mentor do Programa Células Empreendedoras e Curador do Projeto Startup&Makers, destaca os parceiros como ponto forte, pois os prêmios oferecidos motivaram e gamificaram o processo. O professor deu destaque a instituições tais como o SEBRAE, incubadora Porto Mídia do Porto Digital, aceleradora Jump, aceleradora Cesarlabs do Cesar, Células Empreendedoras e Rede Brasileira De Cidades Inteligentes E Humanas. E concluiu citando ainda as participações especiais “em nossa área tivemos a vinda do Profº. Álvaro de Oliveira e a equipe de pesquisadores da União Europeia quando selamos uma parceria de auxílio à Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas e a todas as startups premiadas, assim como a presença de um investidor de Nova York pertencente ao grupo OutThinker.” O professor Alvaro de Oliveira é um especialista renomado presidente da Alfamicro, presidente emérito da ENoLL (Rede Europeia de Living Labs) e Líder da Rede de Cidades Inteligentes e Humanas. Foi dele a iniciativa de formar a Rede em 2013, projeto que visa ligar cidades que se comprometem a colaborar e trocar experiências de boas práticas na execução das Cidades Inteligentes em contextos culturais, geográficos e institucionais.

CIDADES DO FUTURO INTELIGENTES E HUMANAS

A CPRecife 2015, trouxe pelo segundo ano consecutivo como tema transversal as Smart Cities, ou cidades inteligentes. Todavia, o foco foi direcionado às interfaces humanas nas cidades do futuro. No Campus Fórum – Smart Cities, espaço que fomentou os debates sobre os caminhos e soluções de inovação tecnológica para as cidades brasileiras. Foi possível ter acesso a dados importantes sobre tendências na área. Na ocasião, foi realizado o 1º Fórum da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, que contou com o apoio e participação do Ministério das Cidades. A organização foi realizada em parceria com o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Ciência, Tecnologia e Inovação, a Frente Nacional de Prefeitos, a União Europeia e o Banco Mundial. A Rede apresentou o Programa da Comunidade Europeia que prevê investimentos de cerca de 300 milhões de euros em cidades inteligentes e humanas.  A Rede Brasileira faz parte da Open & Agile Smart Cities (OASC) – atualmente presente em 7 países na Europa e no Brasil, único país fora da União Europeia presente na Rede.

O conceito de Cidades Inteligentes e Humanas vem sendo disseminado no Brasil pelo ilustre professor Dr. Álvaro de Oliveira e segundo este especialista, “as atividades de sensibilização no Brasil foram iniciadas através de missões na cidade de Manaus em 2007, com a Rede Living Lab que aborda domínios de inovação técnica e social. Esse trabalho culminou, em parceria com o Fórum dos Municípios Brasileiros (através das Secretarias de Ciência, Tecnologia e inovação), na criação de uma Rede Brasileira de Cidades Inteligentes Humanas.”. O conceito de Cidade Inteligente e Humana surge como uma evolução da Cidade Inteligente, que valoriza ainda mais a prestação de serviços de um ambiente inteligente, para a vida de pessoas inteligentes, com governança e economia inteligentes. Nascido na Europa, o Manifesto da Rede de Cidades Inteligentes e Humanas, foi assinado no dia 29 de Maio de 2013, em Roma, fruto do trabalho do doutor Álvaro de Oliveira e sua equipe. O professor integrou a Comissão da União Europeia que veio a Campus Party para cumprir uma intensa agenda de prospecção e fechamento de parcerias.  Na ocasião, compartilhou, em sua palestra de abertura, no encontro da Rede, as experiências de sucesso que estão sendo aplicadas pela União Europeia.

O Programa Brasileiro para Cidades Inteligentes e Humanas, foi debatido durante 3 dias com o objetivo de fomentar a mudança de paradigmas necessárias para a transformação da governança das cidades, através de uma cultura participativa, transparente e inclusiva como motor para inovação social. Lugar melhor não haveria para se fomentar este debate. Pois, mesmo trabalhando dentro de um ambiente de tecnologia, a Campus Party já nasceu humana, uma vez que é um evento feito por pessoas para pessoas que pesam soluções em prol da humanidade formada por pessoas, sendo assim, o grande patrimônio da Campus são as pessoas que, através das conexões formadas ou fortalecidas no evento compartilham vivências e conhecimento. Sendo assim, mesmo trabalhando dentro do ambiente da tecnologia, o conceito de trabalho vai além, já que as soluções com bases puramente tecnológicas não conseguiram engajar os cidadãos e as prefeituras de forma eficaz até então.

Apesar da diversidade de modelos de estratégias para cidades inteligentes e humanas em todo o mundo, é possível identificar um conjunto de recomendações estratégicas e operacionais para que os governos locais, atores econômicos e sociais, prepararem seus espaços para a implantação do sistema, com liderança e visão estratégica, envolvimento dos cidadãos – cidades para todos, com soluções de baixo custo e elevado impacto, fomento da inovação microcidades dentro da pólis, integração de infraestruturas e interoperabilidade, financiamento inteligente e avaliação de resultados. Trabalhando, assim, sob os eixos da universalização de acesso aos serviços, da geração de riqueza e o aumento de competitividade através de novos modelos de negócio e de redes colaborativas para desenvolvimento do ecossistema de inovação sustentável.

O Fórum resultou na definição das 5 premissas que os projetos brasileiros devem priorizar para que possam aplicar a tecnologia inteligente e humana, concorrendo assim aos recursos oferecidos pela União Europeia, são elas: envolvimento das pessoas, investimento em plataformas abertas, adoção de metodologias dos “Living Labs Urbanos” de modo a garantir a participação dos cidadãos com centralidade nas soluções tecnológicas e sociais adotadas, estímulo ao ecossistema de inovação sustentável e integrado e governança participativa e transparente.

A MENSCH acompanhou os trabalhos da Comissão Europeia e de municípios Brasileiros que vieram participar do Fórum para traçar um panorama de como estão sendo conduzidos os trabalhos de desenvolvimento do Programa Europeu, e dos projetos da Rede Brasileira. O Programa Europeu cria senso de emergência para análise e integração de dados e informação de fontes diversas como suporte à antecipação de problemas, visando a resolução rápida, eficaz e a minimização dos impactos negativos sobre as cidades. Trata-se de problemas em diferentes áreas de segurança pública e da gestão de tráfego, passando pelas redes de energia, aos serviços de saúde. Enfim, todo e qualquer sistema que vise melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos das cidades do futuro. A comunicação e a articulação do Brasil nessa união internacional é de responsabilidade do Fórum de Ciências, Tecnologia & Inovação, da Frente Nacional de Prefeitos.

Conversamos com André Gomyde, presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Ciência, Tecnologia e Diretor Presidente da Empresa Companhia de Desenvolvimento de Vitória (CDV) sobre os primeiros movimentos de formação da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes no Brasil. Segundo ele “A Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas surgiu oficialmente em setembro de 2014. Sua “certidão de nascimento”, por assim dizer, é a Carta de Vitória, assinada por 15 cidades e que recebeu este nome por ter sido assinada na capital do Espírito Santo.”. Questionado sobre qual o principal desafio para se implantar uma Smart Cities, respondeu “O primeiro desafio é a criação de uma infraestrutura tecnológica que sirva como uma base, uma plataforma mesmo, na qual os programas e aplicativos da cidade irão rodar. E isso é caro e complexo. As cidades brasileiras, no geral, não têm ainda a consciência de que esse investimento pode ajudar a salvar seus futuros.”  A lista das cidades já ativadas e conectadas à Rede na criação de soluções inteligentes e humanas no Brasil atualmente, inclui Espírito Santo – Vitória, Serra e  São Mateus, Pernambuco – Olinda e Recife, São Paulo – Campinas, Sorocaba, Taquaritinga e São Carlos; Goiás – Anapólis; Belém – Pará,  Minas Gerais – Belo Horizonte,  Brasília, Tocantins – Colinas de Tocantins, Paraná – Curitiba, Ceará – Fortaleza, Santa Catarina – Florianópolis, Amazonas – Manaus, Rio Grande do Sul – Porto Alegre e a cidade do Rio de Janeiro.

Ao comentar sobre a importância de realizar o Fórum dentro da programação oficial de um evento mundial como a Campus Party, Gomyde declarou “A Campus Party Recife foi excelente. Muito bem organizada e relevante do ponto de vista das contribuições que vai gerar para a cidade, a região e todos os participantes, porque ele é, afinal, um evento de compartilhamento, de troca. Realizar o Fórum dentro da Campus Party teve um sabor especial justamente porque pudemos vivenciar, durante todo esse tempo, o ambiente da inovação elevado à enésima potência. Tive a oportunidade de conhecer e conversar muito com o dono da marca em nível mundial, Francesco Ferruggia, que fez questão de convidar a Rede Brasileira para participar, como parceira, da Campus Party São Paulo. Na nossa reunião de trabalho avançamos muito nas discussões sobre a institucionalização da Rede e da necessidade de ampliarmos nossas ações de comunicação e de engajamento de novas parcerias e de integrantes. O saldo foi excelente.”

Cláudio Nascimento, vice-presidente de Empreendedorismo e inovação da Rede e Diretor de Tecnologia na Prefeitura Municipal de Olinda, foi o responsável por integrar o Fórum à Campus Party Recife e coordenar as atividades da Comissão Europeia na missão, quando perguntado sobre a principal dificuldade dos municípios brasileiros investirem em tecnologia de melhoria de serviços para o cidadão declarou “O Brasil, sendo um país muito heterogêneo, obriga a uma análise cuidada município a município, mas em condições constantes, a principal dificuldade seria ter a percepção das prioridades de investimento e combater alguma informação de exclusão.” Quando perguntado sobre o tipo de governança e organização estrutural necessários para estimular as cidades a adotarem soluções inteligentes e voltadas à prestação de serviço de qualidade para o cidadão, Claúdio declarou “Precisa de um governo com uma política ativa de participação pública que envolva os utilizadores na tomada de decisão, que veja a co-criação como mais valia, que crie uma estrutura para ser responsável nessa matéria, que desenvolva a confiança dos demais atores dos territórios.” Ressaltou ainda, que foram selecionadas nessa 1ª etapa do projeto 10 cidades brasileiras. Em Pernambuco, três cidades foram contempladas nessa primeira fase do Programa. Olinda foi a primeira cidade do Estado a aderir à Rede, realizando um trabalho de articulação e integração diferenciado. Depois, veio Recife que realizou a solenidade de assinatura do termo de adesão à rede pelo do prefeito Geraldo Júlio durante o Fórum na Campus Party e Paulista, que ainda se estrutura para iniciar o processo.

O chefe de Divisão de Inovação Organizacional e Participação da Câmara Municipal de Lisboa e presidente da Update Cities, Valter Ferreira palestrou de forma magistral com o tema “O lado humano da tecnologia”, no palco Terra, na Arena. Em entrevista exclusiva à MENSCH, afirmou que “A tecnologia nem sempre tem seguido as necessidades reais do ser humano. Na maioria das vezes, tem sido, sem sombra de dúvida, o móbil do desenvolvimento – é uma resposta moderna e eficaz às necessidades. No entanto, muitas vezes na rede pública, a transformação é apenas do meio, e não da mensagem, transforma-se burocracia física em burocracia digital, deixando de lado a participação dos cidadãos e a simplificação/modernização da administração pública. Por exemplo, grande parte dos portais europeus de cidades é centrada nos eleitores e não na cidade em si.”

Em 2010, a União Europeia lançou a Estratégia Europa 2020 visando um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo da Europa, priorizando iniciativas em áreas como inovação, eficiência dos recursos, agenda digital, industrialização, juventude, emprego e novas competências e combate à pobreza. Valter Ferreira falou sobre o futuro das cidades inteligentes na Europa e as prioridades que foram definidas para trabalhar no plano gestor das cidades até 2020 “A Europa tem neste momento, a decorrer um quadro de apoios e fundos para apoio ao desenvolvimento de cidades inteligentes que, no seu todo, abarcando vários programas, ascende aos 400 milhões de euros. O cerne das atividades decorrentes desses programas estão ligados à energia eficiente, segura e limpa, à mobilidade inteligente, verde e integrada, a ações climáticas, e à utilização eficiente de recursos.” Ressaltou ainda que os indicadores e requisitos básicos estruturais que levaram a inclusão do Brasil como único país fora da União Europeia a integrar a Rede Nacional, foram “o histórico de participação cidadã do Brasil, sua capacidade inovadora e forma como tem vencido e sabido adaptar-se aos tempos modernos, sem isso jamais poderia estar nesta rede. Falamos aqui claramente de um jogo de soma positiva para ambas as pares, pois o que ambas podem aprender é muito vasto, e será um ganho para a Europa e para o Brasil”.

O Presidente da Update ressaltou ainda, a importância da formação e desenvolvimento dos living labs urbanos como base fundamental para sucesso de um projeto de Smart Cities Humanas “Em primeiro lugar importa perceber que um living lab, ainda que conceptual abstrato, obedece a cinco princípios fundamentais, ou seja, tem que criar valor, ser sustentável, ser aberto, ser realista e ter influência. Ao falarmos de living labs, falamos de um espaço onde os demais atores das Cidades são encorajadas a encontrar-se e a interagir, permitindo assim, identificar os desejos, interesses e demandas comuns. É nesse encontro e interação que se constrói a cidade inteligente e humana. A cidade de Águeda em Portugal é um bom exemplo de como com dois living labs se transformou na cidade mais inteligente de Portugal. No Brasil, o Recife com o Porto Digital, que se pode comparar a um living lab, e após ter assinado a entrada na rede das cidades inteligentes e humanos, poderá estar a um passo da afirmação mundial.” Living labs, ou laboratórios vivos, são espaços de interação que visam desenvolver soluções para problemas reais das Smart Cities do futuro. Já existe atualmente um living lab em Recife que envolve uma parceria entre a UFPE, UFRPE, Emprel, Prefeitura do Recife, CESAR e Fablab.”

Valter registrou ainda seu sentimento em relação a vivência proporcionada pelo evento “Foi a primeira vez que fui a um Campus Party, e foi sem dúvida um grande evento, um evento que mexe com toda uma estrutura complexa, e que permite um cruzamento multidisciplinar de conhecimento inigualável. A toda hora e em diversos locais existia possibilidade de trocar ideias, conhecer experiências e fazer todo o tipo de perguntas. Foram três dias muito intensos, com muitos representantes de vários municípios brasileiros, em que se pode partilhar experiências, e explanar sobre o futuro da Rede. Um evento dessa natureza, dentro da Campus Party, faz todo o sentido, pois muitos daqueles que serão os players do futuro estavam naquele evento. Muitos jovens, muitos universitários, muitos empreendedores, muitos cidadãos e muitas autoridades locais, ou seja, todo o cerne nuclear do sistema de inovação territorial a habitar durante três dias no mesmo espaço, a conversar, a chegar a consensos e a criar redes, redes que serão a pedra que sustentará todo este empreendimento.”

O rápido crescimento das empresas de TICs (tecnologia da informação e comunicação) permitiu a criação e adaptação dos serviços oferecidos à população, à massificação da internet e das redes sociais, deram impulso extra ao ecossistema de inovação necessário para auxiliar as transformações sociais em todos os níveis da sociedade. Os cidadãos buscam, cada vez mais, conexão, por sua vez estão mais informados, conscientes e exigentes no que diz respeito às necessidades para a construção e desenvolvimento dos centros urbanos onde vivem. As cidades inteligentes devem aplicar intervenções estratégicas nas áreas de mobilidade, meio ambiente, energia, governança, empreendedorismo, criatividade e inovação social.

A inovação social é um dos vetores mais dinâmicos e importantes do Programa da Rede, constituindo-se como um pilar fundamental na participação entre o governo e os cidadãos, estimulando e apoiando as iniciativas sociais, para tanto, faz-se necessário a inclusão social, a criação de comunidades e a ligação dessas comunidades às estruturas públicas.

As cidades são espaços com problemas e desafios, contudo, oferecem grandes oportunidades para quem está atento e comprometido com a formação de um novo código fonte social através da inovação, conhecimento e criatividade. Pesquisas apontam que as 600 maiores urbes do mundo deverão gerar cerca de 60% do PIB mundial até 2025 (Mc Kinsey, 2011). Sendo assim, um senso de urgência para a análise das soluções e um senso crítico sobre as dores que atingem a sociedade moderna podem contribuir para a formação de relações humanas saudáveis. A questão é de sobrevivência. Hoje, mais da metade da população do planeta concentra-se nas cidades, estima-se que este valor suba, podendo atingir 70% até 2050. As pólis são responsáveis por 60% a 80% do consumo de energia e irão gerar algo em torno de 75% das emissões de carbono emitidos no planeta (UNEP, 2011).

Cidades são comunidades formadas por pessoas, polos de conhecimento e criatividade de uma cultura. Para que uma cidade seja considerada inteligente, precisa da colaboração dos diferentes atores urbanos, municípios, universidades, centros de investigação, empresas, cidadãos e quem mais quiser contribuir, trabalhando integrados na construção de modelos de governação em rede, adaptados a cada realidade, centrado em infraestruturas técnicas e tecnológicas. Há a necessidade de articulação entre a infraestrutura física (edifícios, estradas, redes de energia) e infraestrutura digital (fibra óptica, cloud computing, sensores, smartphones). A Cloud FIWARE, plataforma de código aberto na nuvem para construção de aplicativos inteligentes, foi escolhida como a Plataforma de suporte para o ecossistema das Cidades Inteligentes e Humanas. Os desafios tecnológicos das cidades que desejam se transformar em inteligentes são enormes, passando desde integração de tecnologias à capacidade de comunicação entre os vários sistemas e redes urbanas. O fato é que, a qualidade de vida no planeta precisa e deve melhorar, é uma questão de sobrevivência humana, seja nos grandes centros urbanos ou nas micro pólis os gestores públicos, privados e sociais, devem se engajar de verdade nas causas, enxergar as oportunidades de se investir em tecnologia para construção das cidades inteligentes e humanas e sintonizados às demandas das cidades do futuro.