
Por Alexandre Cardeal
A origem do cangaço vem do século XIX com o surgimento de Jesuíno Brilhante, um dos primeiros cangaceiros que se tem registro. Provavelmente foi dele a criação da imagem do cangaceiro como um justiceiro. Ele começou a agir nos anos 1870, quando teve uma grande seca e os mantimentos enviados pelo governo federal eram desviados pelos coronéis. Jesuíno roubava dos coronéis e distribuía a comida ao povo, sendo um Robin Hood agreste. Porém depois deles, estes homens levaram o terror ao povo de sertão e tinham muitos coronéis como aliados.
A glamorizarão deles veio da cultura. Primeiro pelos cordéis, livros e culminou no cinema com o filme “O Cangaceiro” de Lima Barreto, em 1953, que foi premiado em Cannes e foi o primeiro filme brasileiro a fazer sucesso internacional. Depois deles, mais de 50 outros filmes com esta temática foram produzidos. De clássicos do Cinema Novo, como Deus e o Diabo na Terra do Sol ao humorístico O Cangaceiro Trapalhão.

Além dos filmes sobre o cangaço, a figura do cangaceiro se fez presente em outras histórias cujo cenário é o nordeste brasileiro. Por exemplo, O Auto da Compadecida, que tinha Severino de Aracaju como um dos personagens. Severino é uma paródia do maior e mais famoso cangaceiro de todos os tempos: Virgulino Ferreira, vulgo Lampião.
Porém a projeção de Virgulino para o imaginário popular, teve a mão de um homem, mais especificamente, das lentes de um libanês, Benjamin Abrahão. O libanês conseguiu conviver por um tempo e registrar em película o cotidiano do bando de Lampião. Esta história é contada no longa Baile Perfumado (1997).
O cangaço hoje voltou à tona seja em filmes de comédia, mas a principal característica destas novas produções é a atualização do tema para nosso tempo. Na série Cangaço Novo (Amazon Prime), os cangaceiros estão nos anos 2020, tem celular e dirigem camionetes, além do fator social está mais evidente na trama. Já na série Maria e o Cangaço (Disney+), conta a vida de Lampião e Maria Bonita, porém sob a ótica dela.
PRA SE ADENTRAR MAIS NO TEMA

FILMES E SÉRIES
O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto – O primeiro filme brasileiro a ganhar um prêmio no Festival de Cannes, como melhor filme de aventura (esta categoria não existe mais). A música mulé rendeira também teve destaque e os diálogos foram construídos com a ajuda de Rachel de Queiroz.
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Gláuber Rocha – Manuel foge pelo Sertão após matar um coronel desonesto. Nesta fuga ele se junta a um grupo messiânico e depois ao bando de Corisco, o diabo loiro, último cangaceiro da gangue de Lampião. Aqui o cangaço é tratado como instrumento de resistência social e resposta do mais pobre contra o sistema.
Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira – O longa pernambucana mistura fatos, com algumas liberdades criativas, para contar a história de Benjamin Abrahão, amigo íntimo de Padre Cícero, que teve a proeza de filmar Lampião e seu bando. Ele registrou o dia a dia dos cangaceiros, desde tarefas simples, como buscar água, até um baile no meio da caatinga, que inspirou o título do filme.
Cangaço Novo (2023) – Aqui acompanhamos Ubaldo, um homem criado em São Paulo, que está desempregado e com seu pai de criação hospitalizado. Ele viaja para uma cidade no interior do Ceará, quando descobre que tem direito a um pedaço de terra ali. Chegando na cidade, revela-se que ele é filho de um famoso cangaceiro e sua herança vai além do dinheiro. Esta série atualiza o cangaço retirando a vestimenta típica dele e introduzindo caminhonetes e celular.
