Desde muito cedo acompanhamos a trajetória de Danton Mello, mais especificamente aos 10 anos com o inesquecível Cuca em “A Gata Comeu”. A novela e a estreia foram um sucesso, e de lá para cá Dalton não parou mais. Foram 20 novelas, 15 espetáculos teatrais, 15 filmes e muito outros trabalhos em minisséries e especiais. Ao longo dessa trajetória Danton se descobriu dublador e humorista, já está gravando a nova temporada de “Tá no Ar: a TV na TV”. E atualmente ele se desafia, e se descobre, um exímio dançarino no quadro “Dança dos Famosos”, no Faustão. Nessa entrevista Danton fala do início da carreira, humor, dança, filhos, relação com o irmão e claro, novos desafios. Afinal ele está sempre à postos para novos desafios.
Danton, sua participação no “Dança dos Famosos’ tem revelado um Danton que muita gente não conhecia. Isso tem te impressionado também? Sim, estou me surpreendendo também (risos), eu nunca tinha praticado dança na minha vida, eu aprendi fazendo, arriscando, nunca estudei, cresci trabalhando, e a dança é algo muito novo pra mim. Como fiz muito teatro tenho uma consciência corporal mas é diferente de você apresentar uma coreografia tão elaborada. Estou tão impressionado quanto o público que está acompanhado e torcendo por mim, fiquei muito feliz com o resultado da primeira fase, participar da Dança dos Famosos está sendo algo prazeroso e gostoso. Sei que é uma competição mas eu não estou ali com esse pensamento, pensamento de competição. Eu tô ali para crescer como artista, conhecer os limites do meu corpo e espero passar ainda um bom tempo na competição para conhecer e aprender novos ritmos.
Com mais de 30 anos de carreira é a primeira vez que você está na TV sem mostrando se estar por trás de um personagem. Isso era uma forma de se preservar ou esconder uma timidez que muitos não acham que tenham? Na verdade eu sempre tentei preserva minha vida pessoal, um pouco dela pelo menos, mas todo mundo sabe que sou casado, tenho duas filhas, da minha família, e ali realmente as pessoas estão vendo o lado o Danton Mello – é quase um reality por que eles gravam os ensaios enfim – quando eu entro no palco, converso com Fausto, eu sou o Danton e quando eu danço acabo entrando em um personagem. Sou uma pessoa muito tímida mesmo, mas tem o limite de você se mostrar e é bacana tá participando desse quadro. Fico feliz pela resposta do público.
Você e seu irmão cresceram aos olhos atentos do público. Como hoje, aos 43 anos, você observa isso? Em algum momento você se sentiu incomodado? E como se preservou? É engraçado pensar nisso por que são gerações que acompanharam o nosso crescimento né? A gente cresceu na frente de muita gente, trabalhamos desde cedo e é como falei na pergunta anterior sou um cara muito tímido, tentei me preservar ao logo desses anos, mas entendendo também que o público tem curiosidade de saber um pouco da nossa vida. Então, as pessoas sabem da minha história, das minhas filhas, das minhas famílias enfim só acho que tem o limite do que falar, mostra e não me sinto incomodado, na verdade eu me acostumei né? (risos) Pra mim é uma coisa muito natural, cresci nesse meio, então, minha vida foi sempre ser reconhecido na rua, ser abordado, é muito gostoso por que diferente do teatro que o ator receber o carinho ali na hora, quando você faz televisão, ou cinema as pessoas assistem nas suas casas, na sala de cinema, então é muito gratificante você ser abordado na rua e elogiar, comentar o seu trabalho. É maravilhoso receber esse carinho do público.
O que tem aprendido com o “Dança dos Famosos”? O que tem surpreendido você nesse processo todo? Eu tô aprendendo mais os limites do meu corpo, eu acho muito importante o trabalho corporal de um ator, acho incrível, acho que corpo fala também. E estou surpreso com minha colocação realmente (risos). Eu tenho noção de corpo mas eu não esperava encerrar a primeira fase na colocação que fiquei até por ter pessoas mais jovem, esportistas, mas é isso quando eu faço um trabalho eu quero fazer o melhor possível. Tenho a sorte também de ter uma grande coreógrafa do meu lado que é a Brenda Martins e ao logo dessa primeira fase entender e conhecer o que tenho de melhor e vai montando coreografias tentando tirar o meu melhor. Enfim desde do início conversamos bastante e fiz algumas solicitações como não fazer pegadas, por exemplo. Como não tenho estrutura de dançarino não sou preparado para fazer malabarismo com ela (risos) a gente faz o básico, mas um básico intenso, e cada domingo ela vai dificultando mais. Estou muito feliz com o resultado.
O “Dança” expõe demais o ator que não está acostumado com a dança em público. Sendo você um cara mais reservado como isso te tocou no início e como tem levado agora? Sim, ninguém ali está acostumado em dançar em público né? Mas cada um na sua área lida com o público de forma diferente. Então, eu por ser tímido, reservado, eu fico nervoso quando entro no palco. Mas isso não acontece só na dança, acontece também no teatro – estreia de teatro – é um nervosismo de se apresentar pela primeira vez no espetáculo, no teatro tem essa coisa do terceiro sinal, abri a cortina e você já está no seu personagem. Já a dança o terceiro sinal é para o Danton Mello e não para um personagem. Ali é Danton que entra nervoso, pensando na coreografia, enfim, mas quando começa eu vou ficando mais relaxado e é ai que entra o meu lado ator até porque o meu objetivo ali é fazer a melhor apresentação possível para plateia que tá lá e para o público de casa, o jurado é uma consequência disso, de uma entrega e de uma realização mesmo.
De “A Gata Comeu” (1985) até sua recente participação em “Deus Salve o Rei” foram inúmeros trabalhos na TV. Como avalia essa trajetória. Mais TV e menos teatro foi escolha ou consequência? Eu tenho muito orgulho da minha trajetória, fico orgulhoso olhando pra trás, vendo e pensando em tudo que já fiz. Minha carreira é muito bem equilibrada, comecei criança na televisão, depois veio o teatro, o cinema, então na carreira hoje já são 20 novelas, 15 espetáculos teatrais, 15 filmes fora as minisséries e séries que já fiz. Na minha vida foi assim as coisas foram acontecendo – consequência – e muitas vezes foram escolhas mesmo na televisão, teatro, cinema, drama, comédia e agora a experiência com a dança, então tudo é uma aprendizado e cada trabalho eu cresço como artista, sou um grande observador – cresci e aprendi observado os grandes atores desse país – então cada trabalho que eu faço vou acrescentando não só para o meu lado profissional mas também no meu pessoal. Por isso tento andar por todos os meios, recentemente tenho me dedicado a televisão e ao cinema, mas alguns anos atrás me dividia entre televisão e o teatro, e é isso que importante fazer um pouco de cada.
Que personagem(s) você guarda com carinho? Daquele que você guarda as melhores lembranças. Nossa! Difícil citar um, eu tenho carinho de tudo que já fiz, todos os personagens, de todas as pessoas com quem já trabalhei seja na televisão, no cinema, ou no teatro. Todos os meus trabalhos foram importantes para minha vida né? Por que em cada um deles eu aprendi algo e cresci como ator.
O quanto já aprendeu com seus personagens e o quanto você entregou de seu para eles? A gente sempre aprende com os personagens e também terminamos doando algo nosso, tem sempre um pouco da gente em cada personagem. E você dá a vida há um personagem, você acaba aprendendo alguma coisa e isso termina sendo uma troca, uma forma de crescer.
No cinema muita gente pode não saber, mas você já fez inúmeras dublagens. Qual o prazer para o ator expor seu talento só pela voz? Que desafio esse tipo de trabalho traz? Sim, dublei bastante quando era mais jovem, acabei me afastando por que estava difícil conciliar a dublagem com a televisão – novela – mas aprendi muito também na dublagem. Eu comparo a dublagem a mesma coisa quando me refiro a importância do corpo para um personagem é assim que vejo esse trabalho por que você precisa saber colocar a voz, transmitir a emoção e brincar com a voz. A dublagem foi um grande aprendizado e tenho muita saudade de fazer dublagem, mas é difícil conciliar. Tenho ótimas lembranças e foi muito importante para minha carreira ter passado por essa escola.
No momento você está gravando mais uma temporada do “Tá no Ar: a TV na TV”. Como é fazer humor? Se sente mais confortável do que no drama? O que te atrai mais nisso? Estou gravando a sexta e última temporada do “Tá no Ar” é uma alegria muito grande de fazer parte desse projeto e equipe. É um programa de humor crítico e foi muito bem aceito pelo público e crítica no geral. Eu na verdade gosto de fazer de tudo, é como falo sempre sou um artista que aprendeu com a vida, aprendi fazendo, errando, continuo aprendendo, me arriscando, e por isso falo e bato sempre nessa tecla eu não sou comediante. Sou muito feliz de poder andar por todos os gêneros seja humor ou drama não só pelos meios né? – cinema, teatro ou televisão. É muito bom e gostoso fazer comédia, é gratificante fazer o público ri, se divertir. O que me atrai no “Tá no Ar” é essa versatilidade de pode fazer vários personagens em um único programa – é muito interessante.
Você parece ser um cara tipo paizão, um homem bem família. É isso mesmo? Como é o Danton no dia a dia em família? Sim, sou muito apegado a minha família, sou muito próximo aos meus pais, irmão, as minhas filhas, esposa e meu enteado (meu filhinho de coração), sou uma pessoa de tenho poucos e bons amigos. O Danton no dia-a-dia é isso um cara caseiro, gosto de estar com a família, com os amigos, enfim recebe-los em casa, produzir jantares, churrascos, viajar com minha família, agora que minhas filhas moram fora tento o máximo estar com elas seja lá indo visita-las ou recebe-las aqui (elas e as amigas). Sou uma pessoa caseira (risos) e a família é o que temos de mais importante.
Que herança você tem do seus pais que quer repassar para suas filhas? Meus pais sempre me ensinaram a ter coragem, lutar pelo o quer, respeitar o próximo, com as diferenças, ser generoso, ajudar as pessoas, ser correto (praticar o bem), ser integro, é isso que tive de exemplo com os meus pais e passo para minhas filhas.
Você e Selton começaram a fazer sucesso na TV quase que na mesma época. De onde vem tanto talento na família? Vocês se ajudavam nesse início? Realmente começamos muito cedo. Não temos ninguém na família, não somos uma família de artistas e pensar nisso termina sendo engraçado (risos). E isso veio com nossa dedicação, vontade e profissionalismo que aprendemos desde cedo. A gente se ajuda até hoje não só na vida profissional mas na vida pessoal também, trocamos muitas ideias e somos muito parceiros.
Entre você e Selton apenas 2 anos de diferença. Isso deixou você muito unidos, competitivos ou parceiros? Como é a relação entre vocês? Temos dois anos e meio de diferença. Somos muito unidos, a gente não tem competição, pelo contrário torcemos um pelo o outro. Tenho muito respeito e orgulho pelo que ele se tornou e sei que ele pensa a mesma coisa com relação ao irmão caçula dele (risos).
O que o Monte Roraima representa para você hoje em dia? Ah! O Monte Roraima faz parte da minha vida, ali vivi o pior momento dela, mas também foi um renascimento. Pensar em tudo que passei na dor, na angustia do resgate, e do tempo que ficamos lá perdido, da incerteza de sair de lá ou não, então, ali é um renascimento de ver que sobrevivi, que estou bem, que não tenho sequelas, que segui minha vida e cheguei onde cheguei hoje e isso me mostrou que devemos aproveitar a vida por que não sabemos o nosso dia de amanhã.
Você já comentou em entrevistas que o acidente sofrido há 20 anos mudou sua vida. Como você percebe isso hoje em dia? Na verdade não mudou minha vida ao contrario só fortaleceu o pensamento que eu tinha antes do acidente de que a gente deve aproveitar a vida, e isso ficou mais claro pra mim.
Você parece ser um cara mais preocupado em ser do que ter. É isso? O que realmente importa para você? Onde está o verdadeiro valor da vida que você busca? Eu acho que o amor é o que temos de mais importante na vida. Amor da nossa família, não estou preocupado em bens materiais, o que quero é ser feliz. Sou feliz por ter uma esposa maravilhosa do meu lado, por ter duas filhas incríveis, por ter pais que me ensinaram a ser o que sou hoje, ter um irmão incrível, e é isso que valorizo realmente. Posso não ter nada de material, mas se eu estiver ao lado deles o amor é o que importa pra mim.
O que te dar paz e faz relaxar? O que me dá paz é estar com minhas filhas, morro de saudade delas. Então, quando estou com elas eu fico em paz. E o que me faz relaxar é curtir minha casa (risos).
Qual (ou quais) sua (s) maior vaidade? E seu maior pecado? Não sou um cara vaidoso. Eu acho na verdade que esse é meu maior pecado (risos), não cuidar de mim, eu cuido dos meus personagens acho que até estou mudando isso um pouco depois que descobri que tenho diabete. Eu cuido mais dos meus personagens no sentido de caracterização, de querer me transformar, engordar, emagrecer, querer mudar cabelo, mas é isso só faço pelos meus personagens, deveria fazer mais pra mim. Mas acho que estou conseguindo mudar isso aos poucos.
Como gostaria de ser reconhecido daqui a 30 anos? Eu quero que minhas filhas tenham muito orgulho de mim. Seja como pessoa em primeiro lugar e depois como profissional.
Fotos Gustavo Arrais
Stylist e Produção de Moda Yakini Rodrigues
Make e Hair Rafael Guapiano
Danton Mello veste: Highstil @highstil_oficial (em todos os looks), sapatos Dom Shoes @domshoes (em todos os looks), pulseira Severo Marinho @severomarinhooficial (look total jeans)