Enquanto alguns reclamam que o novo recurso compromete a privacidade das pessoas, outros receberam a novidade de maneira pacífica. A advogada Kamila Leal aprova a nova atualização, contudo, defende o uso moderado do aplicativo. “Agora posso ter certeza que minhas mensagens foram lidas, isso funciona principalmente nos grupos. Não me sinto forçada a responder. Muitas pessoas ficam incomodadas com isso”, pondera. Ainda de acordo com ela, é preciso compreensão e maturidade das pessoas que utilizam o app. “Evitar conversar sobre informações sigilosas do trabalho, divulgar fotos inapropriadas, por exemplo”, informa.
Para quem tem um comportamento mais compulsivo em relação ao aplicativo, o doutorando em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento e tutor de psicologia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), Igor Lins Lemos, explica que nenhuma modificação tecnológica interfere positivamente ou negativamente na vida dos usuários do app. “O que fará com que esse valor seja atribuído é a interpretação que o sujeito terá em relação às atualizações e a maioria de nossas interpretações é positiva”, afirma.
Ainda de acordo com Lemos, as pessoas vivem num mundo imediatista. “Como a tecnologia proporcionou a comunicação em tempo real, assume-se que não mais devemos aguardar informações, mas que elas devam ser visualizadas de forma imediata e isso é um erro grave”, explica. “O uso de qualquer artefato tecnológico deve ser feito de forma moderada, nós é quem dominamos os aparelhos eletrônicos, não o oposto. O usuário deve buscar outras atividades de lazer não vinculadas à tecnologias e estabelecer horários para checar o Whatsapp”, aconselha.
Na opinião do designer gráfico Júlio César, a mudança foi positiva. “Para o bem ou para o mal, acho importante saber que sua mensagem foi visualizada, o app aperfeiçoou bastante”, explica. Ainda de acordo com ele, a insistência em ter uma resposta é um dos pontos baixos. “Acho que isso gera uma expectativa nas pessoas, mas só porque visualizamos, não quer dizer que vamos responder imediatamente”, diz. Em relação à utilização, o designer se considera um “heavy user” (que utiliza demais). “Quando fui assaltado, mal consegui passar uma semana sem o aplicativo”.
A estudante de gastronomia, Soraia Liz Jácome ainda está se adaptando à novidade e afirma estar adorando. “Sou muito viciada em Whatsapp e como meus amigos moram longe, utilizo para tudo. Compartilho coisas engraçadas, mantenho contato com a família e me considero também uma heavy user”. Contudo, Soraia afirma que não desenvolveu nenhum comportamento compulsivo na utilização do aplicativo. “Acho que você tem que respeitar as pessoas ao seu redor. Tento evitar utilizar o Whatsapp se estou com meus amigos”, diz.
Para o professor da Universidade de Santa Fé, Novo México, nos Estados Unidos, Dafyd Rawlings as diferentes culturas transmitem mensagens singulares. “Utilizo o Whatsapp apenas para uso pessoal, contudo acredito que com o avanço da tecnologia, o contato pessoal vai ficando cada vez mais superficial na medida em que os usuários vão substituindo momentos por teclas de celular”, afirma. Quem concorda com a opinião do docente é o agente administrativo Camilo Torres. “Não morreria se ficasse sem o aplicativo. Não acho que a atualização foi prejudicial, creio que ajuda no relacionamento e aproximação pessoal, porém, ele não pode ser a única forma de contato das pessoas”, comenta.
NOVAS FORMAS DE USO
Em um mundo cada vez mais imediatista, ter informações rapidamente passou a ser crucial. Vários veículos de comunicação, empresas e organizações estão explorando cada vez mais as redes sociais e as ferramentas dos smartphones para atingirem um público diversificado. Dessa forma o Whatsapp é inserido em um contexto que vai além do se comunicar com amigos e manter contato com parentes distantes, por exemplo.
Quem se insere nesse novo contexto é o Colégio Boa Viagem (CBV), que em novembro utilizou o Whatsapp para dar dicas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para os alunos da escola. “O colégio costumava usar vídeos no Facebook, mas como eram postados tarde resolvemos usar uma forma de linguagem mais direcionada”, explica um dos sócios da Voz Comunicação e responsável pelo desenvolvimento do projeto, Nilton Lemos. Segundo ele, a Voz amadureceu o projeto e incluiu um canal de comunicação via Whatsapp com os estudantes e os pais também. “Nossa primeira experiência foi com o Enem, geramos um canal de comunicação com o aplicativo entre o CBV, os pais e alunos”, finaliza.
Na opinião do diretor pedagógico do CBV, José Ricardo Diniz, a experiência foi positiva. “Fizemos três grandes grupos no Whatsapp com alunos do ensino médio e cada coordenação ficou responsável por cada um. Demos dicas de conteúdo, alimentação balanceada e outras informações úteis sobre o Enem para os estudantes”, explica. Ainda de acordo com Diniz, as mídias sociais são um meio de atingir a todos e personalizar a comunicação. “Foi possível também mostrar aos pais a importância do conjunto de informações que estavam sendo divulgadas para os filhos. Nas próximas ações nós pretendemos inovar e utilizaremos ferramentas do dia a dia”, finaliza.