Como um avatar para chamar de seu em um jogo de videogame e refazendo a primeira ligação de celular da história realizada em Nova York, Ernesto Paglia refletirá, no ‘Globo Repórter’, desta sexta-feira, 31 de março, as transformações tecnológicas das últimas cinco décadas. A paixão pelo assunto o fez ser requisitado para missão de assinar um dos cinco programas comemorativos dos 50 anos do programa, que começam a ser exibidos a partir de hoje. O jornalista, que trabalhou exclusivamente para o programa como repórter de 1983 a 1986, desta vez, refaz a cena da primeira ligação de celular da história, realizada no dia 3 de abril de 1973, mesmo dia da estreia do ‘Globo Repórter’. Cinquenta anos depois, Paglia pede uma descrição do programa ao recém-lançado chatGPT, e, em entrevista para a MENSCH ele fala mais sobre essa imersão no assunto do qual é especialista.
Como é a sua relação com a tecnologia? Eu tenho uma espécie de um museu tecnológico, principalmente, de notebooks, de modem, mas o da época era um treco que fazia um barulho. Ele traduzia as ondas eletromagnéticas num ruído, era um chiado e você ficava ouvindo pra saber que a conexão tinha acontecido. Então aquele barulhinho me perseguiu durante muito tempo até em sonhos. Eu pensava: ‘será que eu vou conseguir a conexão?’ (risos).
O que esse programa sobre tecnologia vai trazer para o público? Estamos falando do surgimento do primeiro celular. Você imagina numa época em que não havia como você se comunicar a não ser que se você tivesse um aparelho ligado numa tomada na parede. Imagina, surge um cara e fala assim: ‘olha, nós temos um aparelho que fala sem fio! Olha que maravilha!’. E foi assim que, numa esquina de Nova Iorque, em 1973, no mesmo momento em que foi ao ar o primeiro ‘Globo Repórter’, um cidadão de uma empresa americana de tecnologia ele fez uma ligação, a primeira ligação. Ele foi para o meio da calçada, na esquina da Rua Cinquenta e Três com Sexta Avenida, em plena Manhattan, e ligou para um concorrente para mostrar que sabia que a outra empresa estava fazendo também um aparelho celular, mas que o deles ficou pronto primeiro. Imagina como ficou o cara do outro lado que recebeu o telefonema…(risos)
Como é a sua relação com o Globo Repórter? Quando integrou a equipe do programa? Chegou a ser repórter exclusivo? Como foi isso? Olha, o Globo Repórter é um protagonista na minha carreira. Eu tive o privilégio de participar dos primeiros tempos do Globo Repórter, em 1983. Deixa eu explicar melhor… Em 73, o ‘Globo Repórter’ foi inaugurado e, teve uma primeira fase que durou quase 10 anos, em que era feito por documentaristas. Eram cineastas que faziam documentários jornalísticos para o programa, um elenco estelar, mas não tinham repórter presente na tela. Você tinha uma história sendo contada por um narrador, que normalmente era o Sérgio Chapelin. Em 1983, o ‘Globo Repórter’ entrou para o departamento de jornalismo da emissora, e quem começou a fazer fomos nós os repórteres. Então tinha um grupo inicial do qual eu tive a honra de fazer parte e eu era muito novo. E a gente começou a testar a linguagem, pensando: ‘como é que a gente vai contar as histórias?’ Antes não aparecia nem a mão do entrevistador segurando o microfone… Aí, começamos a interagir com o entrevistado, a fazer conversas como as pessoas fazem no dia a dia. A gente se aproximava e, aos poucos, foi percebendo que podia olhar no olho dela, registrar a emoção, se emocionar junto com o entrevistado, isso tudo foi uma evolução. Hoje em dia, a nossa linguagem é muito diferente. E está muito mais interessante, gosto muito mais do que a gente faz hoje. Trabalhei uns 3 anos exclusivamente para o ‘Globo Repórter’ e colaborei acredito com a evolução dessa linguagem. Como eu era jovem e menos experiente que os outros colegas, também tinha menos amarras, me jogava mais e isso ajudou muito no começo da minha carreira e acho que contribui, pelo menos um pouquinho, para o ‘Globo Repórter’ ser o que ele é hoje. Tenho muito orgulho dessa minha história junto a esse programa prestigiadíssimo, líder de audiência há 50 anos.
Para você qual a importância do programa para a TV Brasileira? O ‘Globo Repórter’ teve a oportunidade de com o tempo, com uma equipe qualificada, com boas verbas, de rodar o mundo contando histórias, mostrando lugares, até chegar ao seu papel de hoje em que ele pega a mão do telespectador e diz assim, vem viajar comigo, vamos conhecer lugares que talvez você sozinho não pudesse conhecer. Vamos explorar assuntos, vamos conhecer gente que talvez você não tivesse coragem de abordar. Nós vamos fazer essa intermediação, vamos, vem junto com a gente. Essa é a ideia, a filosofia do programa. Acho influenciou gerações de telejornalistas, de jornalistas e até de cineastas, que se inspiraram no trabalho que bons profissionais fizeram à frente do ‘Globo Repórter’. O grande o símbolo de todo esse trabalho é a nossa querida Glória Maria, que nos deixou recentemente. Está no DNA do programa o tipo de viagem que ela fazia, de reportagem mostrando a todo mundo lugares novos, situações inusitadas, gente diferente. Eu acho que o ‘Globo Repórter ‘contribuiu tornando o mundo um pouco menor e mais acessível para o nosso telespectador.
O ‘Globo Repórter’, especial sobre tecnologia, vai ao ar após o ‘BBB 23’.
Confira a chamada do programa: acesse.one/vGL7I
Fotos Globo / Daniela Toviansky