Inquieto e criativo, Henrique Steyer (@henriquesteyer) é arquiteto e urbanista além de ser publicitário, com especialização em imagem publicitária e também designer, com título de pós-graduação pelo Politécnico de Milão. Como se não bastasse, ele é autor de dois livros: “Uau! Design, emoção e experiência” e “Dicas de décor com Touché”. Com projetos espalhados por revistas especializadas no Brasil e China, Henrique ultrapassou fronteiras e assina projetos tanto residenciais quanto comerciais pelos quatro cantos do Brasil, além de atuar em Miami e Uruguai. Na área de design, assina coleções de móveis (alguns você confere nesta matéria), luminárias, tapetes, joias e até moda praia, sempre em parceria com grandes players do mercado. Por mais de seis vezes representou o Brasil na semana de design de Milão, na Itália, e é de lá que ele conversou com a MENSCH sobre sua trajetória até aqui.
Henrique, você trabalha com arquitetura e urbanismo, isso sem falar com a publicidade. Você foi um estudante inquieto? Como chegou a essas escolhas? Eu fui um menino que era chamado na coordenação da escola todas as semanas (risos). Perturbava na sala de aula, conversava demais, era irônico, inoportuno (risos). Minha mãe era chamada na escola com muita frequência, tadinha, mas ela sempre acreditou que eu seria um bom profissional e iria amadurecer, mais cedo ou mais tarde. Ela investiu muito em mim com paciência e carinho. Isso foi importante para minha formação, mas eu sei que fui um adolescente difícil (risos). Após terminar o ensino fundamental, fui pra faculdade de comunicação, e em seguida, parti para a arquitetura. Isso é um pouco reflexo dessa minha mente inquieta.
Onde cada uma dessas atividades lhe completam? E como elas se completaram ao longo da sua carreira? Entendo que meu trabalho é focado em estética. Buscamos soluções que sejam inusitadas, interessantes e impactantes. Esse é o nosso diferencial. Fugir do convencional através dessa abordagem multidisciplinar. Ambas são atividades com base em criação e inovação. Meu lema é “a tendência é não seguir tendência”.
O que e onde se sente mais inspirado a criar? Sou caseiro, não frequento balada, tenho poucos amigos… preciso de tranquilidade para me inspirar e criar. Sou um pouco ermitão e bebo na fonte da solidão, o que muitas vezes beira o sofrimento. Às vezes, o processo criativo é meio dolorido e penoso. Um dia, ainda quero me desconectar do sofrimento e da culpa. É um processo que já está sendo tratado no divã, há alguns anos.
Que influência Milão teve/tem em sua carreira? Quando jovem, era um objetivo chegar lá? Milão é o objetivo e o foco de qualquer pessoa que trabalha no ramo do design. É como Paris, para o mercado da moda. Tive a sorte e a oportunidade de fazer uma especialização em uma universidade com dupla certificação, no Brasil e em Milão, e isso eu devo ao meu pai, que me proporcionou esse curso. Poucos anos depois, já fui convidado pare expor em Milão o primeiro móvel que desenhei a Mesa Macaco, que no mesmo ano ganhou os cenários das novelas da Rede Globo e páginas de revistas em mais de quarenta países. Quem me abriu a primeira porta, foi o José Roberto Moreira do Valle, um grande amigo, pioneiro em mostrar o melhor do Brasil em Milão. De lá pra cá, foram muitas participações na semana de design de Milão. Já expus mesas, cadeiras, poltronas, luminárias e até moda praia.
O que precisa ter uma decoração de bom gosto? Decoração chique precisa ter a cara do cliente. Uma casa de bom gosto, não pode nunca ter cara de showroom de loja. Isso é brega! Decoração de bom gosto tem tapete antigo, sopeira da vovó, gravura com manchinha de mofo (risos). Casa elegante precisa ter alma!
Agora você está no Salão de Design de Milão expondo suas criações e conhecendo o que há de novo pelo mundo. Como chegou até isso? Minha primeira participação na semana de design de Milão foi em 2013, na mostra Brazil S/A que foi organizada pelo Moreira do Valle. Neste ano, estou participando de três eventos paralelos, expondo um vaso em madeira natural em parceria com a Tora Brasil, que está exposta numa galeria de design super bacana, onde só tem italianos locais. Também trouxe uma mesinha de apoio em parceria com a Saccaro móveis, que está exposta da feira oficial, no pavilhão do Brasil, com organização da Abimovel e apoio da Apex e do Governo Federal. E também estou numa exposição linda com a Lovato Móveis, especialista em área externa, exibindo uma cadeira que leva o nome do meu pai.
De onde veio inspiração para criação dessas peças? E como percebe a aceitação? Gosto de beber de fontes alternativas como cinema, arte, fotografia… quase não frequento exposições de arquitetura e design para não me contaminar. Às vezes, simples objetos do dia a dia servem de base para uma nova criação, como é o caso dessa mesinha que criei para a grife Saccaro, que surgiu a partir da observação de uma tábua de carne de madeira.
Como anda o design brasileiro em relação ao resto do mundo? Eu fui convidado para integrar a primeira turma de um projeto criado pela Abimovel e Apex, que visa fomentar a exportação de mobiliário genuinamente brasileiro. Ações como essa têm o objetivo de promover criações nacionais e mostrar que o nosso país também é capaz de desenvolver coisas únicas e com personalidade.
Você também é autor de dois livros sobre design e decoração. De onde veio a inspiração para esses dois livros? Pretende lançar mais outro títulos? Eu adoro escrever. Já fui colunista de duas revistas e também de dois jornais afiliados da Rede Globo. Os livros são um pouco fruto desse gosto pela escrita. Estou com um novo projeto já em andamento que deve ser lançado em breve, se tudo der certo.
Falando em design, você já assinou diversas peças que vão de jóias a luminárias, tapetes e moda praia. Essa diversidade de segmentos foi decorrente de viagens e experimentos? O que lhe desafia mais? Eu adoro essa diversificação de portfólio. Não saberia trabalhar apenas com uma área específica. O desafio de conhecer novos negócios e criar novas peças é meu combustível pra viver.
O arquiteto, assim como o designer, tem o poder de transformar e criar tendências. Concorda? Super. E também acredito que o bom profissional, aquele que realmente quer se diferenciar, não deve seguir tendências. Como falei anteriormente, meu lema é “a tendência é não seguir tendência”.
Além do trabalho, você parece ser um cara elegante e vaidoso. Qual seu estilo e do que não abre mão? Elegância é mais uma questão de atitude perante a vida do que uma roupa propriamente dita. Meu estilo vai do social ao mendigo em poucos minutos (risos). Acho que esse high and low é o segredo para ter uma aparência legal e agradável. Temos uma certa obrigação de nos cuidar para apresentar uma aparência minimamente razoável para os outros. Ninguém gosta de ver coisa feia, né? Assim, como também acho muito brega aquelas pessoas que parecem um outdoor cheios de marcas e logotipos aparentes. Gente, isso definitivamente não é elegante.
Hora de relaxar o que procura? Meu sofá e minha roupa de mendigo.
O que ainda vem por aí este ano? Quero lançar meu terceiro livro, uma nova linha de joias, fazer palestras e mais algumas coisinhas que não posso falar por enquanto, mas garanto que são bacanas.
Fotos Marcelo Donadussi