Estrear na TV e já no horário nobre em um projeto que traz todo um valor especial para o audiovisual não é para qualquer um, mas é uma realidade para Breno da Matta, que interpreta o pastor Lívio na versão atual da novela Renascer (Globo). Assim como seu personagem, Breno também nasceu em Itabuna (BA) e possui muitas referências trazidas da sua terra natal para seu atual trabalho. Mas o ano de 2024 ainda trará mais surpresas para quem está curtindo seu trabalho na novela das 21h, próximo mês ele estreia na série Justiça 2. Desafio em dose dupla. Mas desafios não intimidam nosso homem da capa que nos contou um pouco da sua trajetória até aqui nesta entrevista exclusiva para a MENSCH.
Breno, como está sendo para você estrear na TV e ainda por cima, no horário nobre? Tem sido uma experiência incrível, desafiadora e gratificante. Fico muito feliz com o texto do Lívio e receber do publico, nas ruas, devolutivas de quanto são tocadas por ele.
Como surgiu o convite e como foi sua preparação para encarar o Lívio de Renascer? Eu fiz no primeiro semestre do ano passado a série JUSTIÇA 2 (que estreia agora em abril), também com direção do Gustavo Fernandes e produção de elenco de Marcella Bergamo. Eles viram em mim algo de bom e me convidaram diretamente pra Renascer. Tenho lido muitos livros do Universo do Lívio, encontrado pastores, conversado com amigos evangélicos e também segundo minha intuição ao ler o texto, acessando minhas vivências.
Interpretar um personagem que já teve uma primeira versão e traz uma memória afetiva do grande público ao longo dos anos, traz mais responsabilidade? Como isso lhe toca? É realmente uma responsabilidade imensa, principalmente pelo Lívio ter sido feito brilhantemente pelo Jackson Costa. Inclusive fui até ele pra conversar sobre a vida e o processo dele em Renascer. E foi muito legal, pois na conversa que, apesar dos personagens terem muitas diferenças, nessa adaptação pra pastor, eles seguem como em continuidade. Pastor Lívio é, antes de tudo, uma continuação de padre Lívio.
Na primeira versão de Renascer (1993), coube ao ator Jackson Costa interpretar o Padre Lívio. Agora, 31 anos depois, você interpreta o Pastor Lívio. Que mudanças e desafios religiosos separam esse personagem de épocas distintas? A continuidade vem exatamente de sentir como as mudanças do mundo nesses 31 anos impactam na percepção dessa mesma história. E o Bruno Luperi está sendo muito feliz e tendo muita sensibilidade ao escrever, ao perceber esse Brasil de 2024. A importância da igreja católica na época, como influenciava as pessoas no seu cotidiano e hoje – qual o papel do protestantismo nesse imaginário coletivo.
Seu personagem em Renascer tem um pouco de sua vida, como o fato de ter nascido em Ilhéus (onde a novela se passa) e seu pai ter trabalhado com cacau e ser engenheiro agrônomo. O que a vida real lhe ajudou na composição? É uma grande prazer falar da minha região, da minha realidade próxima. O trabalho de meu pai, ter pé de cacau no quintal, os cheiros, texturas, sabores, cores. E essa é a grande ajuda na composição, a vivência daquele cotidiano. Essas figuras são reais pra mim, não são só personagens de ficção, são próximas, cresci vendo-as.
Indo para o início de tudo… Como se descobriu ator? E como deu seu start na carreira? Recebi um chamado da arte, sem nunca ter imaginado a possibilidade. A vida me levou pra esse caminho. Sou formado em Farmácia pela Universidade Federal da Bahia. Só assisti minha primeira peça de teatro quando era adulto, morando em São Paulo, numa época em que fui passar um tempo lá, enquanto a pós graduação na UFBa estava em greve. Daí, o bichinho do teatro me pegou e não largou mais.
A trupe Fuerza Bruta foi uma grande responsável nisso tudo? Não! Venho do teatro de grupo, os grupos pelos quais passei e são responsáveis pelo ator que sou. A Cia do Pássaro que é minha casa meu ninho, a Cia Os Satyros onde fiz meus primeiros espetáculos, Clã do Jabuti, Estopô Balaio… A Fuerza Bruta é uma delícia trabalhar, um desafio diferente de tudo que já experimentei com minha arte, mas é um processo muito diferente, onde apesar de ter o maior orgulho e prazer em fazer, eu tenho uma relação mais de emprestar minha arte a uma Companhia gigantesca, com grande visibilidade e repercussão. Nos grupos, participo dos processos criativos. São relações diferentes – cada uma com seus prazeres , e todas com muito amor envolvido.
Com a trupe você rodou o mundo. Conte pra gente como foi esse momento da sua vida e carreira? Foi/É um momento especial, pois não estou fazendo porque os trabalhos na TV estão me tomando todo o tempo. Teria uma turnê pra Coréia, quando passei pra Justiça 2 e uma na China – gora, quando rolou Renascer. Mas é uma experiência super especial, diferente de tudo que vivi. Acesso sentimentos que outros trabalhos não me geram, muito físico, intenso, catártico. E cada país tem um público que responde de forma muito diferente, fora as sensações que te atravessam já por estar um ambiente distinto. Uma vez estava numa turnê no México, pendurado a 20 metros de altura, esperando começar a cena e pensei “que loucura estou a milhares de quilômetros de casa e daqui a pouco pegarei esse público de surpresa descendo de cabeça pra baixo e fazendo uma cena impactante”. É fabuloso, inesquecível.
Que lugares e pessoas influenciaram no ator que você é hoje? penso que o ator é fruto de todas as experiências humanas que o atravessam. Então, tudo e todos podem ter alguma participação na composição de um personagem. Tudo que vi, senti, vivi, moldam minha percepção do mundo e isso aparece de alguma forma. Do louco que perambulava pela cidade na infância, a minha aula de teatro, a uma música que ouvi num bairro popular na Colômbia, do livro cabeça a uma conversa despretensiosa de botequim. Tudo vira arte em algum momento, e que se expressa a partir do meu corpo.
Você é um cara religioso? Acredita em que? Sou uma pessoa muito espiritualizada. Creio em muitos mistérios dessa vida. Mas acho que a percepção e a mensagem que Lívio tem a passar, são mais importantes nesse momento. Pra além de qualquer dogma.
Que discussões você espera trazer com seu personagem Lívio para o grande público? Afinal, esse também é o papel da arte de interpretar. Ou seja, provocar o público. Provocar reflexão, transformar simbolicamente o que a vida não dá conta sozinha, abrir novas possibilidades de imaginários, são as coisa mais bonitas dessa profissão e é o que me move. Lívio já está tocando alguns temas que serão aprofundados no decorrer da novela, temas delicados, mas que estão sendo pisados com muita sensibilidade. Como a intolerância religiosa e relações abusivas. O público tem sido tocado linda e fortemente pela forma com que estão sendo construídas questões. Estou muito feliz em poder dar corpo a isso.
Qual sua maior vaidade como ator e como homem? Esse é um assunto muito delicado e sobre o qual reflito bastante. Onde a vaidade saudável e o ego nocivo se encontram, qual é o ponto de equilíbrio – existe? Mas sinto que tanto o ator quanto o homem, têm como maior vaidade se sentir valorizado, útil, necessário, querido, nos lugares e com as pessoas que me importam.
Fotos @c.oviedoph
Make @hicarothalesmake
Produção @castinglab1 e @dois.8ito
Assessoria de imprensa Julyana Caldas