LEITURA: ALEXANDRE CARDEAL, UM CONTADOR DE HISTÓRIAS

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Alexandre Cardeal, além de nosso colunista na seção de filmes e séries, é escritor. Nascido e criado no Recife/PE. Sim, “no Recife”, como ele mesmo gosta de destacar, e se considera nerd. Tem dois livros publicados e participa de uma coletânea de contos. O primeiro foi um infanto-juvenil chamado “Minha Vida de Humana” e o segundo, um de fantasia histórica intitulado “A Tríade: O Segredo das Almas“. A coletânea de contos faz parte de uma antologia chamada “Aberto a sete chaves: Breves narrativas sobre Inteligência Artificial”.

O gosto por contar histórias veio na infância. Como filho único, brincava muitas vezes sozinho no quarto, escrevendo, dirigindo e atuando nas histórias que criava, além de consumir muitos quadrinhos, livros, filmes e seriados. Com o passar do tempo, conheceu outras obras ligadas ao universo nerd, mas ampliou seu repertório. Gosta de dizer que tem uma Ecoteca, brincadeira que faz referência ao escritor Umberto Eco.

Em 2021 publicou “Minha Vida de Humana” sobre uma cachorra que se transforma em gente para resgatar seus filhotes. No final de 2023, ele lançou “A Tríade: O Segredo das Almas”, voltado para o público adulto, é “uma fantasia histórica com pitadas de sci-fi”, segundo ele mesmo. E este ano, participou com o conto “O Imprestável” na coletânea “Aberto a sete chaves”. A MENSCH bateu um papo com ele e o resultado você confere abaixo:

Você estreou com um livro infantojuvenil, lançou um de fantasia e agora um conto sobre redes sociais. Estes dois últimos para adultos. Por que a mudança de público? Eu sempre gostei de passar horas criando histórias na minha cabeça. Durante a pandemia, estava a maior parte do tempo sozinho, confinado em casa, e quis colocar algumas dessas histórias para fora. Foi assim que surgiu “Minha Vida de Humana”. A trama já estava montada na minha cabeça desde a adolescência, e achei que seria um bom começo. A mudança de público veio porque quis contar outro tipo de história. Foi algo espontâneo.

Ainda sobre essa mudança, quais foram os desafios para escrever um infanto-juvenil e um livro adulto? Acho que todos os assuntos podem ser abordados para qualquer público. Porém, com crianças e adolescentes, é preciso mais tato, cuidado em como apresentar o tema, a escolha das palavras e até onde pode ir. Por isso, é necessário mais responsabilidade ao criar histórias para crianças e adolescentes. Para escrever para adultos, temos mais liberdade, podendo apresentar a trama mais à vontade.

E as inspirações para o seu segundo livro? Sou fã de séries como Arquivo X, Strange Things, Cidade Invisível. De escritores como André Vianco, Warren Ellis e Neil Gaiman, quis fazer meu próprio universo que tivesse nossa cara. Essas são minhas referências no estilo de história que eu gostaria de contar. Mas as sementes, por assim dizer, para criação de “O Segredo das Almas” vieram fatos históricos, como a visita de Darwin ao Brasil e o rei de Portugal, Dom Sebastião, que gerou o movimento do sebastianismo, que teve ecos aqui no Brasil mais de duzentos e cinquenta anos do seu desaparecimento.

Você citou a vinda de Darwin ao Brasil, Dom Sebastião, a história se passa no final dos anos 1990. Para o segundo livro, foi preciso fazer muita pesquisa? O livro é uma fantasia histórica com umas pitadas de sci-fi. São dois tempos na trama: 1998, que é o presente da história, e 1878, é contado em forma de diário. Acompanhamos uma missão de agentes com superpoderes que trabalham para uma agência secreta do governo. Muita mentira! (risos), mas ainda assim tem um pezinho na realidade. Não inventei dados sobre Dom Sebastião, Darwin, Dom Pedro II ou qualquer personagem histórico citado. Para criar esse pezinho na realidade, precisei ler e pesquisar sobre todos esses temas. Inclusive, alterei o ano em que a história se passa para ser mais verossímil com as leis da época sobre o consumo de bebidas alcoólicas.

E o que você pode falar sobre “Aberto a sete chaves: Breves narrativas sobre Inteligência Artificial”? A iniciativa surgiu de um grupo de escritores que conheci quando fiz uma mentoria sobre carreira de escritor. Achamos que cada um poderia dar sua própria visão sobre o que acha da tecnologia, não apenas das IA como das redes sociais. Ficou um resultado interessante porque nenhum abordou temas ou de forma parecida. No meu conto, “O imprestável” achei engraçado o fato da ideia dele ter sido instalada lá atrás na época do Orkut, do mIRC, e ficou datada por um tempo. Porém, recentemente, eu percebi que ela estava mais verossímil que antes. A história acompanha Carlos, um homem que se refugia nas redes sociais para evitar sua realidade. Na primeira versão, o termo ‘nem-nem’ nem existia. Hoje, ele é um reflexo real de muitos jovens que nem estudam, nem trabalham no Brasil.