A advogada, administradora, sócia do escritório Nelson Wilians, Anne Wilians é também fundadora e presidente do Instituto Nelson Wilians (INW). Especialista em Gestão da Inovação Social, com aperfeiçoamento em Políticas Públicas e Políticas ESG, Anne é autora do livro “Empreendedorismo Social Feminino”. E não satisfeita, Anne também é co-fundadora do projeto Justiceiras, projeto multi e interdisciplinar de orientação voltado a meninas e mulheres vítimas de violência doméstica. Determinada e altamente comprometida com a justiça social, está diretamente ligada à causa dos jovens e mulheres em contexto de vulnerabilidade. Além disso, desde 2022, Anne tem se dedicado a difundir o Projeto Cidadaniar — uma iniciativa da UNESCO e do Instituto Nelson Wilians (INW) para fomento da Cultura da Legalidade, que visa a formação do senso crítico sobre o Estado de Direito, com ações diversas que valorizem e promovam a Educação para a Cidadania Global (ECG) e proponha a equidade de gênero junto às juventudes, mulheres, aos migrantes e refugiados. É com essa mulher incrível que a MENSCH conversou e o resultado não poderia ser mais incrível.
Como surgiu a ideia do Instituto Nelson Wilians? Desde muito jovem, sempre carreguei o desejo de fazer algo maior, algo que pudesse transformar vidas e levar justiça para aqueles que mais precisam. Cresci com a consciência de que a realidade em que vivemos exige responsabilidade, compromisso e ação. Ao lado da Nelson Wilians Advogados, que sempre foi uma empresa parceira mantenedora com essa visão de compromisso social, surgiu a oportunidade de consolidar um projeto que pudesse impactar diretamente a sociedade. Foi assim que surgiu o Instituto Nelson Wilians, um espaço que reflete minhas paixões pela justiça, equidade e educação, com o propósito de gerar oportunidades e fortalecer o exercício da cidadania para aqueles em situação de vulnerabilidade. O Instituto é a expressão prática do que acredito – uma sociedade mais justa, só é possível quando todos têm acesso a seus direitos e a ferramentas, para transformar suas histórias.
Você poderia viver sua vida voltada para sua família e o trabalho na advocacia, mas foi além. Vive uma vida em busca de levar justiça, em suas várias formas, para outras pessoas que não têm o mesmo privilégio que você. Por que cuidar do outro é importante? Acredito que o mais importante não é simplesmente cuidar do outro, mas ser capaz de realmente sentir o que o outro sente. Usar essa empatia para agir é um dever, porque somos todos parte de algo maior. Não consigo aceitar uma sociedade que privilegie uns e ignore tantos outros, que vivem sem oportunidades ou dignidade. Sempre acreditei que, se temos a chance de conquistar algo, nossa responsabilidade é compartilhar e multiplicar isso. Como mãe, advogada e administradora, aprendi que podemos usar nossas habilidades para fazer a diferença. Para mim, ter empatia é algo natural, e não há propósito maior do que ajudar a abrir caminhos para que mais pessoas possam ter acesso à justiça e à igualdade.
Você é uma voz potente na luta pelo empoderamento feminino, pela justiça, equidade e transformação social. Quais os prós e contras de uma vida dedicada ao social? Trabalhar com o social, me trouxe um propósito que nunca imaginei ser tão forte. Não é sobre conquistas pessoais, mas sobre ver vidas mudando, histórias se reescrevendo e comunidades ganhando força. Isso é gratificante, mas também não é fácil. Enfrentar resistência, preconceitos e os estigmas que acompanham esse trabalho exige muito mais do que eu imaginava. Além disso, conciliar isso com a minha vida pessoal não é simples. Tem dias de cansaço e frustração. Mas, no final, a diferença que conseguimos fazer, por menor que seja, sempre me dá forças para continuar.
Conta um pouco pra gente do Instituto Nelson Wilians. Propósito, ações e planos para 2025. O Instituto Nelson Wilians reflete nosso compromisso com o pleno exercício da cidadania e com a educação, sobre direitos. Atuamos com programas de educação, direito e cultura da legalidade. Para 2025, nosso objetivo é expandir nosso impacto, especialmente nas escolas públicas, por meio do projeto Compartilhando o Direito. Queremos levar uma formação a jovens do ensino médio em todo o Brasil, ajudando-os a entender seus direitos e deveres. Estamos presentes em todos os estados, em parceria com organizações da sociedade civil, e buscamos fortalecer ainda mais essas alianças para ampliar nossa atuação. Acreditamos que, juntos, podemos transformar mais vidas.
Fale um pouco dos programas do Instituto, o Acesso à Justiça, à Educação para a Cidadania, à Inclusão Produtiva e ao Engaja NW. Cada um dos nossos programas foi pensado para atender diferentes necessidades sociais
– acesso à justiça. Focamos em garantir que pessoas e entidades tenham a oportunidade de defender seus direitos de forma digna e acessível. Educação para a Cidadania – buscamos preparar indivíduos para serem protagonistas em suas comunidades, conhecendo seus direitos e deveres. Inclusão Produtiva – esse programa oferece ferramentas e capacitação para que as pessoas possam gerar sua própria renda e conquistar autonomia financeira por meio do trabalho digno. Engaja NW – qui, mobilizamos a rede de colaboradores da Nelson Wilians Advogados para participar ativamente em projetos sociais, multiplicando impacto e promovendo engajamento. Esses programas atuam de forma integrada, pois sabemos que a mudança verdadeira acontece quando garantimos acesso, educação e oportunidades de maneira conjunta.
O trabalho que você realiza implica em muitas viagens, muitas pessoas, muitos mundos diversos. Como tudo isso implica no seu dia a dia, no seu propósito e na força de seguir em frente? Alguma vez já pensou em desistir? Minha rotina é cheia, e cada viagem me coloca em contato com realidades, desafios e inspirações novas. Conhecer tantas histórias e pessoas, só reforça meu compromisso com a busca por um mundo mais justo. Às vezes, o cansaço aparece e os obstáculos parecem grandes demais, mas nunca pensei em desistir. Cada história de superação que encontro, me dá forças e me lembra o quanto o que fazemos é importante.
O feminicídio atinge mulheres para além da classe social e da cor, apesar de alguns números apontarem mais incidências de caso em determinada parcela da população. O que falta para virar essa página triste e revoltante de nossa história? Falta um comprometimento coletivo, desde políticas públicas eficazes até uma mudança cultural profunda. É preciso investir na educação, combater a normalização da violência e garantir que as leis existentes sejam efetivamente aplicadas. Precisamos, ainda, criar redes de apoio mais sólidas para as mulheres – desde assistência jurídica até proteção social. Essa luta exige ação conjunta de governos, instituições e sociedade civil.
A ignorância em relação ao que é o feminismo é um entrave para uma sociedade mais equiparada entre os gêneros? Quais suas ideias para combater o machismo e a misoginia? Sim, a falta de entendimento sobre o feminismo é um obstáculo, mas acredito que a educação é a chave para combater essa ignorância. Precisamos falar sobre igualdade de forma clara e acessível, desconstruindo estigmas e promovendo a conscientização. Combater o machismo e a misoginia requer ações em todos os níveis – dentro de casa, nas escolas, nas empresas e na mídia. Só assim construiremos uma sociedade verdadeiramente equitativa.
Ao longo dos anos à frente do Instituto Nelson Wilians, já cruzou com vidas que impactaram e trouxeram alguma transformação para a sua? Sim, inúmeras. Cada história de superação, cada pessoa que conseguiu transformar sua realidade por meio do nosso trabalho, deixou uma marca em mim. São essas histórias que me lembram por que comecei e por que continuo, mesmo diante dos desafios. Elas são o meu combustível diário.
Como é a Anne mãe? Como é a rotina com seus filhos, como os educa, valores que busca passar para eles e em relação à disciplina, faz a linha mais rígida ou mais maleável? Sou uma mãe presente, mesmo em meio a uma rotina intensa. Busco transmitir valores como respeito, empatia e justiça, ensinando meus filhos a olharem para o outro com sensibilidade e compreensão. Em relação à disciplina, acredito no equilíbrio – sou firme quando necessário, mas sempre com diálogo e escuta ativa, prezando por um ambiente de confiança e aprendizado mútuo. Confesso que nunca tive aquele sonho idealizado da maternidade e, por isso, não criei expectativas irreais. Isso me ajudou a encarar a maternidade de forma mais consciente e menos romantizada. Contudo, essa jornada tem se revelado muito mais surpreendente e apaixonante do que eu imaginava. Existem momentos desafiadores que exigem muita inteligência emocional, mas a intensidade do amor envolvido me faz agradecer diariamente pela oportunidade de gerar, cuidar e educar essas vidas tão preciosas.
Você tem meninos e meninas. Há alguma diferença na criação? Acredito que a educação deve ser construída em torno de valores, e é isso que tento transmitir a todos os meus filhos, independentemente de gênero. No entanto, sei que cada um deles é único, com suas próprias características e necessidades. Alguns precisam de mais apoio em determinadas áreas, enquanto outros precisam de mais limites e orientação. Por isso, a forma de educar é diferente, mas os princípios que passamos são os mesmos. Procuro ensiná-los a respeitar e valorizar as diferenças, ajudando-os a entender que eles podem ser quem quiserem, sem se prender a estereótipos ou expectativas externas. Quero que cresçam sabendo que suas diferenças são uma força, desde que sempre com respeito, empatia e responsabilidade. Minha maior preocupação é criar filhos resilientes, que saibam quem são e que se mantenham firmes nos valores que aprendem. Quero que desenvolvam uma visão empática e respeitosa sobre o mundo, mas que também saibam se posicionar e se fazer respeitar. Para nós, nossa fé cristã é um guia importante na educação, ajudando a formar crianças livres, responsáveis e compassivas, capazes de enfrentar qualquer desafio sem perder a essência.
Você é sócia e trabalha com seu marido. O que fazem para manter um equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar? A comunicação é fundamental para a gente. Sempre procuramos separar os papéis de sócios e de casal e, claro, reservar momentos só para nós como família. Sabemos que, especialmente nos momentos mais desafiadores, o apoio mútuo é o que mantém tudo equilibrado. Temos uma regra – certos assuntos de trabalho ficam no trabalho. Quando começamos a misturar as coisas, um dá o toque no outro para lembrar da importância de manter esse limite. É como uma dança – se um de nós perde o passo, precisamos ajustar juntos para voltar à harmonia. Tanto o Nelson quanto eu temos personalidades fortes, mas entendemos que estar juntos, tanto no trabalho quanto em casa, é uma escolha diária, feita com intenção. Como qualquer casal, enfrentamos nossos desafios, mas buscamos sempre alinhar nossas diferenças e semelhanças, tanto na vida pessoal quanto profissional. É um esforço constante, mas é isso que faz valer a pena.
Vida profissional corrida, quatro filhos ainda pequenos, como encontra tempo e espaço para a vida a dois com seu marido? Temos um compromisso mútuo, baseado na consciência de que não são os filhos que mantêm um relacionamento duradouro, mas sim os acordos, a manutenção do casamento e o cuidado diário que temos um com o outro. Sabemos que nossa relação é a base de tudo o que construímos, e, por isso, fazemos questão de reservar momentos só nossos. Aprendi a valorizar pequenas escapadas, mesmo que sejam viagens curtas ou um simples jantar em casa acompanhado de um bom filme. Esses momentos, por mais simples que pareçam, fazem toda a diferença para mantermos a conexão. Com quatro filhos e uma rotina de trabalho intensa, manter essa dedicação não é fácil, mas entendemos que nossa relação precisa ser constantemente alimentada. Cuidar do que construímos juntos é uma prioridade que escolhemos, diariamente, com amor e comprometimento.
Você sabe ser inspiração para muitas pessoas, em especial mulheres. Isso lhe assusta, porque traz certa carga de responsabilidade, ou lhe alegra por ser vetor de transformação para muitas delas? Ou quem sabe, um pouco de cada coisa? Com certeza, é um pouco de cada coisa. Saber que sou uma referência para tantas pessoas, especialmente para mulheres, me enche de alegria, porque isso significa que meu trabalho e minha trajetória estão gerando um impacto positivo. Por outro lado, essa posição traz também uma sensação de responsabilidade. Ser um agente de transformação exige coerência, força e, principalmente, a capacidade de seguir aprendendo e crescendo. Mas, para mim, essa responsabilidade é, na verdade, um privilégio e uma motivação para continuar fazendo o que acredito com ainda mais dedicação.
Que recado gostaria de deixar para nossas leitoras e leitores? Quero dizer a todos que nunca subestimem o impacto que podem ter no mundo. Cada ação, por menor que pareça, pode transformar vidas. Busquem seus propósitos, ajam com coragem e sempre lembrem que a justiça e a equidade começam nas pequenas escolhas do dia a dia. E, especialmente para as mulheres, reforço – não deixem que ninguém limite o que vocês podem alcançar. Nós somos a força que move o presente e constrói o futuro.
Quais são os desafios da maternidade em meio a telas, Internet, diferenças sociais abissais e alta competitividade, inclusive no mundo infantil? Educar em um mundo hiperconectado e competitivo é um desafio constante. Procuro garantir que meus filhos desenvolvam uma visão crítica e saibam usar a tecnologia de forma responsável e consciente. Tento equilibrar a exposição às telas com atividades que estimulem a criatividade, o pensamento independente e a empatia.
Confesso que sou contra o uso excessivo de telas e, às vezes, entro em conflito até mesmo dentro da família pelos danos que acredito que celulares e tablets podem causar nas crianças. Muitas vezes, sinto como se estivesse lutando sozinha contra a tecnologia. Meu argumento vem das mudanças comportamentais que observo – quando meus filhos têm acesso ao celular, tornam-se mais irritados e apresentam noites de descanso mais difíceis.
Outro desafio é lidar com o fato da exposição social. Busco ser muito cuidadosa na forma como me comunico, ciente de que a Internet, muitas vezes, apresenta vidas irreais e gera comparações prejudiciais. Tento desmistificar essa ideia de perfeição porque sei que ela não existe para ninguém, independentemente das aparências.
Por enquanto, meus filhos não têm acesso às redes sociais, mas reforçamos continuamente valores como igualdade, respeito e justiça, para que cresçam conscientes de seu papel no mundo. Quero que eles estejam preparados para lidar com as diferenças sociais de forma ética e compassiva e, no futuro, que saibam refletir esses princípios em qualquer comunicação ou interação nas mídias sociais.
Fotos Eusébio Mendonça