Por Ana Paula Crasto / Fotos Federico Colautti
Nas minhas emocionantes viagens pelo ‘Velho Mundo’, na incessante busca pelas ‘Vinícolas Especiais’, fui ao Norte da Itália, bem na fronteira com a Eslovênia (na região do Friuli-Venezia-Giulia) para visitar e me emocionar, pela segunda vez com o precursor dos chamados ‘Oranges Wines‘: Josko Gravner – considerado um dos viticultores mais importantes do mundo atualmente.
Num vilarejo chamado Oslávia, um povoado de cerca de 700 habitantes, Oslavje, em Esloveno, Josko possui maravilhosos vinhedos com 15 hectares e mais de um século de história com produção limitada de cerca de 25 a 30 mil garrafas, ele me explica pausadamente todo o respeito, cuidado extremo e imenso amor pela terra. Josko criou um ecossistema para seus vinhedos, que se encontram cercados de bosque nativo, plantou árvores frutíferas, fez um pequeno remanso onde se reproduzem peixes e chegam pássaros, recriando assim um perfeito equilíbrio e um terroir onde a intervenção do homem é mínima. O microclima, a pequena colina de 450m e o tipo de solo chamado Ponca (camadas de arenito e marnas de origem eoceni) predispõem a terra ao cultivo da videira, especialmente da Ribolla Gialla (italiano) Rebula (esloveno) casta que em Oslavia tem literalmente raízes há cerca de mil anos. Em 2012, ele decidiu extirpar todas as castas internacionais (Sauvignon Blanc, Riesling itálico, Chardonnay e Pinot Gris) ali cultivadas para deixar naquela terra só as variedades autóctones: Ribolla Gialla e Pignolo, a boa terra reconhece seus próprios “filhos”.
Josko Gravner em 2001, em um gesto de extrema coragem, abandonou a vitivinicultura tradicional moderna que geralmente visam mais os interesses comerciais à qualidade, decidindo voltar às origens da ‘Vitis Vinifera’. Em várias viagens a Geórgia, berço da vitivinicultura mundial, ele trouxe as suas famosas ânforas de terracota, essenciais na produção artesanal dos seus vinhos. “As ânforas funcionam para o vinho como um amplificador para a música”. Assim sendo Gravner reescreve a história e cria paradoxalmente um novo (antigo) modo de vinificação.
Josko faz a sua Ribolla com somente 1/2 kilo de uva por planta, vindimiadas muito tarde as uvas já estão muito maduras e quase sempre foram atacadas pela Botrytes cinerea ou “mofo nobre”, fungo que agrega características especiais a uva dando mais complexidade e longevidade ao vinho. A Ribolla Gialla é uma uva riquíssima em acidez, a brilhante cor âmbar é obtida após uma longa maceração das uvas nas ânforas (em torno de seis a sete meses) extraindo assim o máximo das cascas para só depois passarem ao amadurecimento em grandes barris de madeira. Usando na vinificação somente leveduras selvagens, mínimo de sulfitos e nenhuma química de síntese nos seus vinhedos. A atenção ao biológico ou orgânico é a nova tendência mundial não só falando em vinhos, mas em toda a cadeia alimentar.
O “Ouro de Gravner” só é engarrafado a cada sete anos, “antes disso, o vinho ainda é uma criança”, explica ele. O produtor nos conta ainda que nos anos 60, quando ele e o seu pai iam até a adega para a prova dos vinhos a serem engarrafados: Sauvignon Blanc, Chardonnay e Pinot Gris, chegando a vez da Ribolla Gialla o rosto do seu pai se iluminava em um imenso sorriso, confirmando que esse varietal tinha nascido para aquela terra. “Fazer um bom vinho é intuição, terroir e o mínimo possível de intervenções. Em 1997, decidi complicar a minha vida, segui meu coração e meu instinto, os vinhos que fiz até aquele momento me ensinaram os limites da enologia moderna. O limite das modas.”, descreve.
“Não gosto da definição de “vinho natural”, para mim é retórico, um vinho tem que ser natural. É implícito que o vinho é um fruto da natureza e não da indústria, transformado pela mão do homem, para conseguir esse resultado é preciso seguir um rigoroso processo baseado na simplicidade e na história. Estou muito atento ao vinho que faço, a única química usada no meu vinhedo são pequenas doses de cobre e enxofre, que os romanos já utilizavam há dois mil anos, procuro nunca “ofender” nem a terra, nem a uva”, detalha.
Minha emocionante viagem ao “Mundo encantado de Oslávia” chega ao fim com a degustação maravilhosa de Ribolla Gialla Anfora 2005/2006 numa espécie de caneca especialmente criada por Josko para respeitar o modo antigo de beber vinhos. Segue a degustação técnica organoléptica, onde encontrar os Vinhos de Josko Gravner e agora resta a você, caro(a) leitor(a), o desejo e a curiosidade de degustar o néctar de Gravner!
Serviço: Decanter Importadora de Vinhos Finos. Blumenau – SC Atendimento Geral: 47 3326-0111 Fone: 47 3038-8875 www.decanter.com.br
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Ana Paula é formada em Sommelière pela AIS associação italiana Sommelier. Jurada da guia Vini Buoni d’italia.