CAPA: A REPRESENTATIVIDADE DE FÁBIO DE LUCA NO AUDIOVISUAL

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Ator, diretor e roteirista, o carioca Fábio de Luca ficou conhecido do grande público por conta do Porta dos Fundos. Daí em diante não parou mais, recentemente gravou uma participação no remake da novela “Dona Beija”, que estreia em breve na HBO Max, e agora se dedica a escrever um espetáculo que levará aos palcos ainda este ano e um filme de comédia com temática espírita que terá direção de Wagner de Assis, o mesmo de sucessos cinematográficos como “Nosso lar”. Ele prepara uma oficina de interpretação e criação de personagem de comédia, que será ministrada nos próximos meses em seu próprio espaço cultural no Rio.

Festejando 25 anos de carreira, Fábio ainda comanda desde 2015 o canal “Amigos de Luz”, em que fala sobre espiritismo misturado ao humor. Com 45 anos, Fábio de Luca ganhou exposição na internet ao entrar para o elenco do canal Parafernalha, onde também foi roteirista. Em 2023, atuou em “Sedes”, seu primeiro trabalho dramático e esteve nos cinemas no filme “Não tem volta”, ao lado de Manu Gavassi e Rafael Infante. Na TV acumula participações em programas como “Tô de Graça”, “Filhos da Pátria”, “Sob Pressão”, etc. E aqui na MENSCH ele nos conta um pouco de tudo, inclusive sua nova fase ontem tem focado numa vida mais saudável e novos desafios pessoais.

Você faz parte do Porta dos Fundos há anos. Podemos dizer que esse trabalho é um divisor de águas da sua carreira? É comum o pessoal achar que estou no Porta desde que o canal começou, em 2012, mas na verdade o primeiro esquete do Porta que eu participo – CARNAVAL DO CRIVELLA – foi lançado em 2018. Eu entendo essa confusão porque eu também sinto como se estivesse com essa galera desde o início. Antes de chegar ao Porta dos Fundos eu já tinha uma carreira no YouTube, como ator e roteirista, mas participar dos vídeos do Porta mudou tudo na minha vida profissional. O canal tem uma visibilidade enorme, muita credibilidade e são super importantes no Brasil e até fora dele! Juntar a minha história com a deles levou meu trabalho a lugares que eu nunca imaginei. Além disso, fazer parte de um elenco tão talentoso, conviver e criar junto com eles, poder chamá-los hoje de amigos, é incrível.

Aliás, como é fazer parte do Porta, um projeto que revolucionou o humor e o uso da internet para artistas exibirem seus projetos? Quando assisti pela primeira vez a um vídeo do canal eu pirei! Foi um babado fortíssimo dentro da minha cabeça, porque era exatamente aquilo que eu queria fazer como ator, exatamente o tipo de comédia que eu amo e que, na época, não encontrava em nenhum canal de TV ou na internet brasileira. Então, quando o destino me levou ao Youtube, primeiro pelo canal Parafernalha, depois com a criação do canal Amigos da Luz e, finalmente, chegando ao elenco do Porta, foi um sonho realizado. Ainda hoje, cada vez que saio de casa pra gravar, dá vontade de me beliscar pra ver se é verdade mesmo.

O público sempre imagina que humorista sempre está de bom humor e tem uma piada pronta pra contar. E você é dessas pessoas que está sempre preparado para fazer o outro rir? Quem me dera! Eu já fui um cara bem mais “palhacento” na intimidade, que aproveitava qualquer oportunidade pra fazer os outros rir. Literalmente tudo era motivo pra piada. Mas teve uma hora que isso deixou de ser natural em mim, e hoje só ligo meu “modo humorista” profissionalmente ou quando sinto que preciso da aprovação do grupo que estiver no momento. Não sei bem quando essa chave virou em mim. Acho que a idade e os desafios da vida vão deixando a gente mais triste e nosso palhaço interior um dia cansa, faz as malas e vai embora. Sinto falta do meu.

Aliás, como Fábio de Luca foi parar no humor? Sempre foi esse seu objetivo quando começou a carreira há 25 anos? Eu percebi desde cedo que o humor era uma baita ferramenta pra a gente se conectar com os outros e fazer novas amizades. Aí saquei que era uma ferramenta que eu sabia usar! Então, essa habilidade natural em fazer os outros rirem acabou moldando meu caminho. Tanto que, quando dei os primeiros passos no teatro, já vinha com uma inclinação pra comédia e ela acabou se tornando minha principal forma de expressão artística. Mas adoro passear por outros gêneros também. Minha última peça (“Sedes” de Wajdi Mouawad, que encenei em 2023 no Rio) foi um drama psicológico profundo, uma delícia de fazer.

Fábio de Luca além de ator ainda escreve e está se dedicando a um longa que terá direção do renomado Wagner de Assis. O que pode adiantar sobre essa sua estreia assinando um filme nacional com temática espírita, que tanto agrada ao público brasileiro? Estamos só começando, botando as ideias no papel, começando a desenvolver o roteiro. Mas acho que não vai demorar a termos novidades pra compartilhar sobre nosso filme porque contar com o Wagner nesse rolê é um baita “turbo”! Ele vem com um mundo de experiência em filmes de sucesso nesse estilo, o que ajuda a acelerar tudo e fazer as coisas fluírem melhor.

Com tantos anos fazendo humor, há planos para fazer um personagem dramático? Sim! Estou só esperando os convites. Um dos meus objetivos principais na carreira atualmente é ampliar minha área de atuação. Tanto no que se refere a formatos (mirando além do teatro e audiovisual convencional, plataformas como Tiktok, Instagram, etc) quanto aos gêneros dramáticos (humor, drama, suspense, terror, etc).

E ambiciona atuar em novelas? Com certeza! Tenho muita vontade! Já fiz algumas participações, mas queria muito pegar um personagem que me desse tempo de desenvolver e me aprofundar. Fora que eu cresci naquela época em que todo mundo achava que, pra ser ator de verdade, você tinha que estar em uma novela. Então, no fundo, uma parte de mim ainda espera essa validação. É um marco na minha carreira que eu estou doido pra dar o “check”.

Você é um artista que parece não ficar parado: está no Porta, escrevendo roteiro de filme, comandando canal sobre espiritismo de Youtube… O que te move? As contas pra pagar todo mês! Brincadeira. Eu tenho o privilégio de trabalhar com o que eu amo. Mais do que isso, com o que constrói parte da minha identidade. Trabalhar, pra um artista vocacionado, é mais do que “fazer”, é “ser”. Mas claro, nem sempre é um mar de rosas. Ser ator é lidar com uma profissão sedutora, mas também muito traiçoeira, que uma hora te coloca num pedestal laureado de sucesso e, do nada, te dá uma banda. Aí quando você vê está tendo que vender rifa pra montar uma peça e poder trabalhar. No dia-a-dia é uma profissão deliciosa, mas um pouco dolorida. Como atores temos que manipular o tempo todo as próprias emoções, que são nossa matéria prima, então qualquer crítica ao nosso trabalho não é como uma crítica a um produto separado da gente. Por mais que a gente finja que não, é sempre pessoal.

E quais os planos para os próximos 25 anos de carreira? Como disse, eu quero é novidade. Fazer a peça “Sedes” ano passado, por exemplo, foi diferente de tudo que já tinha feito até então e foi incrível! Quero mais disso. Já estou na fase inicial da montagem de outro espetáculo desafiador, do dramaturgo alemão Marius von Mayenburg, que une o estilo do Teatro do Absurdo com uma boa dose de crítica social, a lá Brecht. Mas além de dar uma voltinha pelos outros gêneros sempre que puder. Quero mergulhar ainda mais na comédia, aprimorar minhas técnicas nessa área e experimentar novas maneiras de subir num palco e fazer rir. Stand-up, quem sabe? 

Fábio você está passando por um processo de emagrecimento, de autocuidado. Você é vaidoso? Como tem sido essa transformação desde que resolveu se confinar num spa? Como filho do orixá Logun Edé, sou vaidoso sim. Mas minha vaidade não é muito relacionada a aparência não, tem mais a ver com meu trabalho. Sou dependente de elogios pra tudo que eu faço, senão fico achando que ficou uó. Mas ao mesmo tempo não sei lidar bem com elogios, fico sempre desconfiado que a pessoa só está sendo gentil. Enfim, sou mais inseguro que vaidoso. Quanto a minha estadia no Spa, onde fiquei hospedado por dois meses no início desse ano, foi um verdadeiro ponto de virada pra mim no que se refere a saúde. Cheguei lá meio cético, especialmente por causa da dieta vegetariana e por estar longe do meu cotidiano. Mas, vou te contar, foi uma experiência reveladora. Com a alimentação regrada e a rotina de exercícios físicos, eu em pouco tempo comecei a sentir diferenças enormes. Coisas bobas, que a gente nem valoriza, como amarrar os sapatos sem fazer contorcionismo, se tornaram mais fáceis. Esse tempo de reclusão me abriu os olhos para a importância de cuidar da saúde. Claro, ainda curto uma junk food de vez em quando, mas agora sei que não precisa ser a regra. Tenho tentado adotar o que aprendi no spa na minha vida cotidiana, como comer mais  saladas, mastigar mais a comida, cuidar melhor do meu sono, praticar exercícios regularmente, essas coisas que a gente tá careca de saber que precisa fazer mais não faz. Se eu estou conseguindo manter todos esses hábitos, claro que não! São 40 anos de vida sedentária contra 2 meses num spa. Mas eu estou tentando, e tem sido bom demais pra mim.

Ainda vemos poucos artistas gordos com personagens de destaque na TV e no cinema. Como você avalia isso? Acho que isso ainda é reflexo de uma sociedade que não discutia questões como representatividade, seja de artistas gordos, pretos, trans, ou qualquer outro conjunto de pessoas fora do padrão. Um modelo de sociedade que estava aí praticamente até ontem, então boa parte de quem escala os elencos é de uma geração que construiu seu pensamento nessa realidade. Por isso a situação ainda não é ideal, mas como hoje a gente tá passando por essa fase mais intensa de reflexão sobre inclusão, diversidade, e que muitos estão abertos a abrir a cabeça, creio que estamos caminhando para algo melhor. É um processo lento e cheio de desafios, mas eu estou otimista. Acredito que as futuras gerações vão encontrar um cenário bem mais acolhedor e igualitário.

O que você faz quando não está trabalhando? Durmo. Todo o resto é trabalho. De parar pra assistir a uma série a ler um livro, de jogar videogame a sair com os amigos pra um barzinho. Tudo é um grande brainstorm de temas pra próxima história a contar, seja na tela ou em vídeo.

Foto Vinicius Mochizuki @viniciusmochizuki
Styling Marlon Portugal @marlonportugal
Grooming Loeni Mazzei @loenimazzei_makeup

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