CAPA: BRUNO FAGUNDES

Cria do teatro e de pais famosos (Antônio Fagundes e Mara Carvalho) Bruno Fagundes vai começar uma nova jornada agora com a chegada de seu personagem, Renan, na novela Cara e Coragem (Globo). Após oito anos longe das novelas, Bruno vai experimentar de forma mais madura a grande exposição que a TV aberta traz. Sem deslumbres e despido de vaidades, apenas focando no seu ofício de dar vida a um novo personagem, Bruno vai aprontar poucas e boas. E já no segundo semestre veremos nosso homem da capa em outro desafio, uma série musical, Só Se for Por Amor, que estreia globalmente na Netflix. Ou seja, vamos ficar mais próximos desse talentoso ator e conhecer um pouco mais da sua versatilidade.

Bruno, depois de oito anos você volta a fazer uma novela. Como recebeu o convite e como está a expectativa para esse novo trabalho? Não teve muito conto de fada nessa escalação, (risos). Eu fui convocado para um teste e foi a aprovação mais rápida, direta, transparente da minha vida. Fiz o self-tape e logo depois fui aprovado pela direção e pela autora. Todo começo de trabalho gera expectativa. Então, estou bastante ansioso, louco pra mostrar o trabalho, pra assistir, crescer, divulgar. Essa espera é uma panela de pressão! (risos)

Você já declarou que esse personagem é o mais desafiador da sua carreira. Por que? Pelo pacote completo = a complexidade emocional do personagem, o fato de ele ser totalmente o oposto de quem eu sou, o volume de trabalho, a extensão da novela, a visibilidade, exposição, tudo. Todos esses fatores aumentam o desafio e a responsabilidade. Tenho que achar motivações internas para trazer verdade ao comportamento do personagem e é um exercício interessante porque ele age de forma agressiva, manipuladora, às vezes, impulsiva e injustificada.

Para interpretar o Renan soubemos que você deu uma enxugada no shape com dieta e muita malhação. Como foi isso? Qual sua rotina de treinos e dieta? Eu estava treinando seis vezes por semana e controlando bastante a alimentação, zero açúcar e álcool. Agora, com a rotina de gravação (e ansiedade da estreia), eu dei uma relaxada, mas preciso estar sempre atento. É difícil manter tudo em ordem numa batida doida de trabalho, morando fora da minha cidade, sozinho no Rio. É bastante coisa para administrar. Mas seguindo na cara e na coragem! (risos)

O Renan de Cara e Coragem tem um caráter meio duvidoso e adora uma aventura. É isso mesmo? Como definiria ele? Tem como defendê-lo? (risos) Sim. Eu li por aí, na internet, que ele faz parte do bonde da maldade. Adorei isso. (risos)! Ele tem, sim, um leve desvio de caráter. Sem dar muito spoiler, ele opera na manipulação e controle. É extremamente inteligente, estratégico, muitas vezes, ao ler, eu fico surpreso com as atitudes dele e me pergunto que tipo de pessoa faria isso e aí está a parte mais interessante, ele é uma pessoa possível. Já vimos muitos “Renans” por aí. Não dá pra defendê-lo e o desafio maior é fazer tudo isso parecer justificado emocionalmente, dentro da lógica dele. Ele tem uma moral e uma firmeza, é um cara coerente, mas essa moral é torta. 

E como foi treinar dança vertical? Qual o maior desafio nisso tudo? Dança vertical parece fácil pra quem assiste, mas é uma das modalidades mais difíceis que já experimentei. E olha que eu gosto da adrenalina e aventura. Quem me acompanha na Internet, sabe que eu amo circo. Pratico há anos as modalidades aéreas, trapézio volante, fixo, lira – nada disso é fácil, mas a dança vertical somou várias dificuldades. Para encontrar seu eixo, suspenso pela corda, você precisa de muita força abdominal e lombar, os músculos ficam em isometria – dói o braço, a perna, a coluna, tudo (risos). E ainda temos que agir como se fizéssemos isso há muito tempo, com graça e naturalidade. Eu, particularmente, fiz no máximo duas semanas de aula. Então, é um desafio e tanto.

Quando você precisou de mais coragem? (No trabalho ou vida pessoal) Arriscando ser um tanto existencialista aqui, viver é um ato de coragem. Se jogar da altura do prédio preso por uma corda, é mais ou menos uma ótima analogia para o pulo da cama de todos os dias. Na vida, nos vemos em várias situações onde só nos resta avançar e esse microssegundo de indecisão requer coragem. Eu me considero um cara corajoso, sim. Eu nunca abaixei a cabeça para o medo.

Ser filho de pais atores e famosos traz uma certa responsabilidade indireta? Já sentiu ou sente isso? Minha única responsabilidade é comigo mesmo. Ser um Bruno melhor do que o Bruno de ontem. Não é responsabilidade de ninguém acertar o tempo todo. E isento eles dessa equação, minha carreira não tem nada a ver com a deles. Somos pessoas diferentes, com trajetórias diferentes.

Quando eles são colegas de profissão e quando são pais a avaliar um trabalho seu? São colegas de profissão se estamos trabalhando juntos. E são meus pais todo resto do tempo. Ambos têm um olhar muito apurado e refinado. Eu amo escutá-los, trocar uma ideia com eles. Amamos falar sobre nosso trabalho. Mas cada um traça seu caminho, na sua intuição, suas escolhas individuais.

Qual a vaidade de um ator? Acho que a vaidade do ator está em ser visto. O que podemos, facilmente, confundir com a fama. Eu me vejo muitas vezes me comparando com trajetórias de pessoas famosas e isso deixa meu objetivo meio nebuloso, até que me lembro que faço isso pra tocar o coração das pessoas e me comunicar. É por isso que atuo. Sou um contador de histórias.

E qual seu maior pecado? Por definição, não acredito em pecado, essa palavra carrega um peso católico/cristão, traz culpa. Não gosto de me relacionar com isso. Mas sinto que erro quando me auto-saboto desacreditando do meu potencial e tamanho. Todos estamos sujeitos a cair nessas armadilhas, de vez em quando.

Depois de alguns trabalhos no streaming, agora TV fechada. Sente alguma diferença? Como vai o mundo no streaming pra você? Os processos são bem diferentes. Enquanto no streaming são gravados oito episódios em cinco meses, na novela, no mesmo período, são gravados 80, aproximadamente. Um é bastante artesanal e mais colaborativo, o outro é o exercício de prontidão e volume. Mas, essencialmente, é o mesmo trabalho. Eu amo os dois. Nesse período sem fazer novela, gravei séries sem parar, então, intercalar os dois é o melhor dos mundos.

Falando nisso, tem uma série musical vindo pela Netflix. O que podemos esperar desse trabalho? Estou muito ansioso pela vinda de Só Se for Por Amor que estreia globalmente na Netflix, no segundo semestre. Vai ser uma delícia, vi rapidamente alguns trechos e fiquei muito entusiasmado com o resultado. A série vai ser doce, divertida. Foi feita com muita paixão e o elenco é inteiro multitalentoso. Meu personagem é Rafael, um cara que se apaixona por um integrante de uma banda que ele produz musicalmente. Vai ser incrível ter dois trabalhos meus radicalmente opostos, um na TV aberta e outro no streaming. O exercício do ator em sua plenitude.

Com a novela você teve que dar um tempo do teatro. Mas depois dela, algo em andamento? Pela primeira vez na minha vida profissional, pausei o teatro por conta da pandemia. A novela surgiu nesse período, o que acabou travando minha agenda. Estou com muita saudade do teatro e tenho um projeto encaminhado pra 2023. Já estamos com os direitos e trabalhando para iniciar a pré-produção em breve. É um projeto gigante, super ambicioso e importante. Em breve, eu vou começar a falar mais profundamente sobre ele.

Na hora de relaxar o que procura? Eu tenho visto muitas séries, filmes, o tempo todo livre. Tudo isso me inspira e alimenta muito. Quando rola uma folga, eu vou correndo pra São Paulo, pra estar mais perto de meus amigos e família, mas tenho me dedicado bastante a esse trabalho. Relaxo estudando, (risos). Estou bem recluso, quietinho.

O que Bruno Fagundes é hoje? Eu quero colher. Não paro de plantar. Ininterruptamente, plantando, investigando, aprofundando. Eu estou um pouco carente de colheita. Colher frutos da dedicação, trabalho, estudo. Espero sentir isso esse ano com esses projetos. Foi exatamente isso que pedi de aniversário semana passada. Estou vibrando nessa energia agora.

Fotos @hudsonrennan