CAPA: CAIO BLAT FAZENDO ARTE

Nosso homem da capa, o ator Caio Blat, é um cara que vive e respira arte. Seja atuando em palcos ou nos estúdios, seja dando suas aulas de leitura e teatro ao Nós do Morro, ou mesmo assumindo novas funções no audiovisual como diretor e produtor de filmes e peças. Ao longo já se vão mais de 30 anos de carreiras, com os mais diversos personagens e desafios. Como o mais novo que será fora da Globo em uma série na HBO. Cheio de fé em seus anjos e orixás Caio atualmente segue uma vida de plenitude ao lado da sua amada Luisa Arraes, seus filhos e conectado de corpo e alma no que traz prazer em viver.

Caio, ao todo já se vão mais de 30 anos de carreira. Se surpreende com toda essa trajetória? Que análise faz até aqui? Sempre me surpreendo, porque foram milhões de experiências incríveis que passaram num instante. Ainda me sinto um menino curioso começando a aprender, e, ao mesmo tempo, um veterano. Sempre tive muita sorte nos encontros com pessoas incríveis, e hoje, escolho meu trabalho de acordo com as pessoas envolvidas.

De vilão a mocinho, do humor ao drama… Tem de tudo um pouco em sua trajetória. Quando se sentiu mais desafiado? Tive alguns personagens muito desafiadores como o André de Liberdade Liberdade, que era um homem afeminado da corte portuguesa que vem para o Brasil colônia numa época de muita violência. Fizemos (eu e Ricardo Pereira) a primeira cena de amor entre dois homens da TV brasileira, e ele terminou enforcado em praça pública. Viver o Riobaldo de Grande Sertão: Veredas na peça da Bia Lessa foi um desafio gigantesco, pela linguagem e pela complexidade do personagem.

O que lhe move ao aceitar um novo trabalho? Você é movido a que? Desafio e parcerias. Escolho aquilo que me encanta e assusta e pelas melhores companhias.

Ao longo de todos esses anos, algum personagem lhe marcou mais? Algum deixou “marcas”? Tenho muitas memórias do Carandiru, por exemplo. Do Frei Tito de Batismo de Sangue, que foi barbaramente torturado. Do Macu de Broder, por ter conhecido o Capão Redondo (SP) e agradeço a Deus todos os dias por ter conhecido o Xingu. Todo personagem é um aprendizado.

Em sua carreira, você quase esteve tão presente no cinema quanto na TV. Equilibrar isso sempre foi uma meta ou foi acontecendo? Os dois foi uma busca e as oportunidades surgiram. Consegui manter três carreiras paralelas – cinema, TV e teatro com perfeito equilíbrio, isso é meu maior orgulho.

Nos palcos, no cinema ou TV. Não importa o meio, importa a história que você vai contar. É realmente isso? Normalmente, é uma alternância. Ao terminar uma novela estou sempre com saudade dos palcos, e as chances de filmar para o cinema, vão se encaixando entre eles também.

Com anos de estrada na profissão você acha que está mais difícil fazer arte hoje em dia? Não só por fatores políticos / econômicos, mas pelo público que mudou muito. O público está sempre em transformação, e a indústria também – a gente tem que se adaptar o tempo todo. Já fiz muitos fracassos no teatro e muitos filmes que foram pouco vistos. O fracasso é importantíssimo para dar humildade.

Falando em TV, seu personagem mais recente foi Pajeú em Mar do Sertão. Ele vivia um dilema entre Deus e o Diabo, o bem e o mal. Como foi fazer esse personagem? Assim como Riobaldo, mais um personagem sertanejo que vive a violência diária. Pajeú era um matador devoto de Padre Cícero que cuidava sozinho de um filho doente. Esses personagens complexos são um prato cheio.

Uma novela que trouxe um elenco repleto de nordestinos, atores que não estavam no circuito comercial. Como ator, que importância você vê nessa forma de se fazer novela que é um produto altamente comercial? A TV, entendeu, finalmente, a importância da diversidade e da representatividade. Foi um orgulho poder estar no meio desse elenco. Espero ver cada vez mais atores do Brasil todo serem reconhecidos.

Acha que foi um bom exemplo de como se fazer arte, dramaturgia de qualidade, em um produto comercial para as massas? Sim, juntava a Cultura popular nordestina, terminava todos os dias com um “repente”, ao mesmo tempo, numa linguagem pop. Acho que hoje, somente os produtos com identidade forte vão sobreviver.

Como você avalia a TV aberta hoje em dia? E o quanto a TV fechada tem influenciado nisso? A Internet revolucionou a TV e a imprensa, e a gente ainda está se adaptando. A TV aberta precisa manter um público popular, e vai repensar os formatos e orçamentos. A TV, por demanda, é responsável por uma renovação da linguagem e do mercado. Praticamente, não existem mais contratos longos e vocês vão ver os artistas mudando de canal a cada novo trabalho, se tornando produtores. Por isso, é tão importante nossa luta por direitos conexos, uma vez que o trabalho do ator vai ficar disponível para sempre nas redes, sendo baixado, alugado, assinado.

E como estão os planos após Globo? Depois de 25 anos de uma parceria estável e produtiva, vou gravar pela primeira vez para a HBO Max uma série de 40 episódios ao lado da Camila Pitanga e da Camila Queiroz. É uma história sobre os excessos que as pessoas cometem em busca de beleza e juventude, chamada Beleza Fatal e meu personagem, é um cirurgião plástico. A série é escrita pelo Raphael Montes.

Caio o que representa pra você ser homenageado na edição 2023 do CinePE? Que referências este festival lhe traz? Foi uma surpresa grande, por eu ser ainda jovem, mas fiquei muito honrado com esse reconhecimento. Sou apaixonado pelo cinema pernambucano. Filmei com Cláudio Assis e tenho dois filmes para lançar em breve de diretores pernambucanos – Guel Arraes e Lírio Ferreira. O CinePE tem tradição por levar grandes plateias ao cinema. Já  vi grandes sessões no festival. É uma honra muito grande.

Depois de alguns relacionamentos, hoje você vive uma relação discreta e tranquila com Luisa Arraes. O que a maturidade trouxe que faz esse relacionamento ser o que é? A Luisa é de uma maturidade impressionante. A gente tem um relacionamento muito equilibrado, com muito respeito e admiração mútuos. E também, uma identificação muito grande na nossa maneira de encarar a profissão e o teatro. De escrever e criar projetos, uma parceria em todos os níveis.

E no meio disso tudo, como é Caio pai? Digo que sou pai por profissão e ator nas horas vagas – os dias de ficar com meus filhos são sagrados, o tempo passa voando. Antonio e Bento são duas alegrias na minha vida.

Na hora de relaxar, o que procura? Onde recarrega as baterias? Gosto de dormir até tarde, andar de bicicleta até a praia e ficar ao sol, fazer uma Yoga e meditar. Gosto de uma mesa de bar cheia de amigos, de receber em casa para uma comida caseira, de ir com a Lu ao cinema e ao teatro.

Quem é Caio hoje em dia e que rumo está levando? É um cara louco pelo que faz, obcecado pelo trabalho e ao mesmo tempo que gosta de aproveitar a vida. Sou dedicado ao Nós do Morro, onde dou aulas de leitura e teatro, e estou amando minha novas aventuras na direção de filmes e peças. Sou muito caseiro e tranquilo, e adoro uma festa. Sou absolutamente feliz no meu casamento, cheio de fé nos anjos e orixás e na humanidade.

Direção de arte Marco Antônio Ferraz (@marcoantonioferrazoficial)

Foto Ian Costa (@i.a.n_studio)

Styling Junio Dias (@juniodias.estilista)

Beleza Graciane Vazquez (@gracianevazquez) 

Camarim Irronic (@IRonniC)

Fashionfilm Rodolfo Paganelli (@ropaganelli)

Amaury veste: Josy Paulina (capa), Levi’s, Junio dias, Armani. Sobretudo e chapéu: acervo