Fernando Fernandes, nascido na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, filho de pai mineiro e de mãe Santista, nasceu no mês de março marcado para brilhar, assim como as medalhas e o sol que enfrenta na maior parte do tempo durante os treinos, que acontecem duas vezes ao dia, seis vezes por semana e quando possível nos finais de semana. Perfeccionista por natureza e persistente por opção, quando traça uma meta luta até o fim, para ele não basta só metade, tudo tem que ser completo, inteiro e intenso. Batizado de Hatiure, pelo povo Javaé, este bravo guerreiro afirma que seu maior desafio foi se reinventar e se reencontrar depois de ter perdido o movimento das pernas em um acidente de carro em 2009. Antes de se tornar tetracampeão mundial e bicampeão sul-americano de canoagem paraolímpica, Fernando tornou-se famoso no Brasil por sua carreira de modelo e por ter participado do Big Brother Brasil 2, reality show produzido pela Rede Globo. Convidado para uma sessão de fotos para a MENSCH, ele respondeu a um bate-bola bacana. Perguntado sobre espiritualidade declarou, ”Minha Fé é uma energia, uma força maior que uns chamam de Deus, outros dão outro nome de acordo com a sua religião, mas como não sou de religião, eu tenho Fé na vida e é isso que me move.”
Quando e como descobriu esporte e a moda, quem veio primeiro? O esporte faz parte da minha essência, nasci com a bola debaixo do braço, só pensava e vivia pro esporte e com 12 anos a moda surgiu na minha vida por acaso.
Hoje em dia você é muito assediado para modelar, as campanhas incluem moda funcional? A moda tem sido cada vez mais aberta a todos, as empresas e seus criadores passaram a entender que o mundo é branco, é negro, é gordo e magro e pode ser sentado também.
Como foi a experiência de modelar para MENSCH? Sensacional, queria uma proposta diferente do habitual, da roupa esporte do dia a dia que todos estão acostumados a me ver e partimos para o BESPOKE, roupas sob medida, clássico.
O ano de 2009, marcou a sua vida dando a ela um caminho até então inimaginável até então, como o equilíbrio emocional e a disciplina base da vida esportiva, influencia seu comportamento pós acidente para ultrapassar a adaptação à nova realidade? Tudo que vivi antes do acidente me serviu como aprendizado para aqueles momentos de dificuldades extremas, seja as coisas positivas como as negativas também. Conheci de tudo na vida, entre elas eu sabia bem como era a derrota e o que eu precisava para vence-la, assim foi feito, entre flores e espinhos comecei a achar a luz.
Quando e como descobriu a canoagem? A canoagem surgiu enquanto fazia reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, ainda de uma forma lúdica, porém, no instante que sentei no caiaque, a sensação de liberdade e capacidade que eu havia perdido voltou.
Em que situação se tornou atleta paraolímpico? Quando iniciei na Canoagem o esporte ainda não era Paraolímpico, o que me fez escolher esse esporte foi a transformação imediata que senti quando o conheci pela primeira vez, os títulos, as medalhas foram consequência da minha vontade de auto superação.
Quais os próximos objetivos a serem ultrapassados? Os próximos objetivos estão ligados a buscas pessoais, quero utilizar o esporte em geral e a canoagem também, para me desafiar na natureza selvagem e extrema, longos desafios onde o físico é importante mas o trabalho psicológico será muito mais intenso.
Você participou da expedição que documentou a 1º edição dos jogos Mundiais dos Povos Indígenas, na aldeia Javaé, localizada na Ilha do Bananal, Tocantins, como você descreveria esta experiência? Fui em busca das minhas raízes, em conhecer profundamente o meu povo, a origem do meu esporte também e o que eu encontrei foi muito maior, conheci o respeito pela natureza, a vida simples sem muita ganancia e ambição. Também conheci o lado das dificuldades Indígena na batalha para preservação da sua cultura e de suas terras que veem sendo cada vez mais destruídas.
Você foi escolhido embaixador do Wings For Life World Run, realizado em maio deste ano, projeto inovador que acontece simultaneamente em 38 países, com o objetivo arrecadar fundos para o Instituto Wings For Life, que pesquisa a cura de lesões na medula. Conte um pouco sobre este projeto e a experiência de ter participado? Essa é a minha luta, a minha batalha, lutar pelos meus, pelas pessoas com necessidades especiais e a WFL se tornou uma grande ferramenta de batalha em busca da cura da lesão medular.
Está planejando uma trajetória profissional além da vida de atleta profissional? Qual o perfil de Fernando Fernandes como empreendedor? Quando me vi reiniciando minha vida numa cadeira de rodas em um esporte desconhecido vi que teria que quebrar grandes barreiras e uma delas seria o paradigma da sociedade em confundir a Deficiência Física com incapacidade. A partir daí entendi que não bastaria ser apenas um atleta, eu teria que ser um verdadeiro empreendedor e administrador da minha vida, passei a valorizar a imagem, a conduta e tudo que me cercava. Meus planos para o futuro, tenho diversos, mas o principal é continuar utilizando o esporte como ferramenta de comunicação com o mundo.
O Instituto Fernando Life de Instrução Esportiva quando e em que situação surgiu? Como ele funciona atualmente e o que significa para você? O Instituto surgiu 3 anos, foi uma forma que encontrei de devolver ao mundo aquilo que eu havia recebido, é poder transformar a vida das pessoas, como a minha foi transformada. A partir daí peguei investimento próprio, procurei alguns parceiros que abraçaram essa minha loucura, demos as mãos para cumprir a missão de tentar transformar vidas. Atualmente, estamos localizados na represa Guarapiranga em SP e atendemos mais de 3000 pessoas.
Na nova campanha da Caixa Econômica Federal para os jogos Olímpicos do Rio, a linguagem usada está sendo muito bem recebida, qual sua impressão sobre o filme inspirado na sua história? Surpreso, nunca havia visto a minha própria história com tanta propriedade. Como vocês podem conferir através do link
Infelizmente você não conseguiu a vaga para os Jogos Paraolímpicos do Rio 2016, em um vídeo publicado em uma rede social, você questiona o sistema de classificação funcional, que coloca os atletas na categoria de acordo a lesão e com o que ele tem de funcional. Poderia explicar melhor seu posicionamento sobre o tema? Classificação funcional é onde defini a categoria dos atletas Paraolímpicos de acordo com o que você tem de funcional no corpo, com o crescimento da Paracanoagem surgiram novos atletas, que nem sempre são pessoas bem intencionadas. De um tempo pra cá os atletas passaram a burlar o sistema de classificação, as vezes mentindo sobre sua real condição física, tentando omitir o que realmente há de funcional no seu corpo, fazendo com que eles compitam com atletas com menos mobilidade.
Como descreve sua participação no documentário “PARATODOS” e o resultado final nas telonas? Quais a parte que mais gostou? Achei o filme espetacular! O Marcelo (diretor) conseguiu fugir do óbvio, lidando com os atletas Paraolímpicos de forma real e verdadeira. Nosso mundo não é apenas um “exemplo de superação”, no mundo paraolímpico tem vitórias, mas também tem derrotas, mentiras, quedas… assim como a vida.
Fotos Angelo Pastorello
Realização Ju Hirschmann
Beleza Renata Rubiniak
AGRADECIMENTOS
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