CAPA: GUTHIERRY SOTERO – SUCESSO DIRETO DE “NO RANCHO FUNDO”

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Guthierry Sotero começou a sua carreira artística em 2019, através da cultura Hip Hop, no slam e no rap. No mesmo ano, entrou para o teatro, fez a sua 1ª peça chamada Enquanto respirar no Centro de Artes da Maré e, desde então, já interpretou o Bruno na série Tudo igual… SQN, o 1º projeto da Disney+ no Brasil, gravando 2 temporadas e fez participações na novela Amor de mãe da Rede Globo. No ano de 2022, esteve em cartaz com a peça Ainda sopra no Nu Espaço e participou também do 1º curso da Amazon no Brasil, ministrado pela Amanda Blumenthal, o Intimacy Coordinator

Em 2023, foi o protagonista Rodriguinho na fase jovem em Veronika, série do Globoplay que estreia no segundo semestre deste ano. Em seguida, viveu o Vini na novela Vai na fé da Rede Globo e foi diretamente para Ritmo de natal, o 1º filme dos Estúdios Globo. Atualmente, ele integra o elenco de No rancho fundo, a novela das seis, também da Rede Globo, dando vida ao Nastácio. Em suas redes sociais, fala de sua jornada artística, moda streetwear, rotinas de treino e sobre desigualdades sociais/raciais através de suas poesias. Encontrou o jeito de motivar seus seguidores com suas letras, sendo diferente dos demais. Tem uma base forte de fãs que o apoia.

Guthierry, soubemos que foram as batalhas de poesia e o rap que lhe levaram para a dramaturgia. Como foi isso? Eu comecei a escrever poesias em 2016, sempre fui muito tímido e, por isso, não conseguia mostrar pra ninguém ou expor nas redes esse meu lado até 2019. Nesse ano, eu estava pilhado com trabalho, na época eu era estagiário no MPRJ, tinha o último ano do ensino médio, pré vestibular, ENEM… Minha cabeça estava uma loucura. Ali, eu decidi correr atrás do meu sonho e se eu não fizesse isso, seria uma pessoa completamente infeliz hoje. Na minha 1ª batalha de slam, eu perdi na final e duas pessoas da plateia vieram me parabenizar pelo texto, mas ressaltaram que eu precisava me soltar mais no palco já que o slam é muito sobre perfomance também, eu agradeci o conselho e fui atrás de teatro, na Maré. Desde 2019 eu me sinto a pessoa mais realizada do mundo, fazendo o que realmente amo. 

Você cresceu no Complexo da Maré e se lançou no mundo através da sua arte lá em 2019, isso aos 17 anos, né isso? Como foi esse início? Que dificuldades teve de superar? Exato. Acredito que, no início, o meu maior obstáculo era eu mesmo, minhas questões, minha timidez e isso tudo me invalidava como artista. Nada na minha vida foi fácil e essa decisão, também não. Tive  de abrir mão de muitas coisas, do próprio curso de direito que eu tanto queria fazer na UERJ, pra me tornar um desembargador de justiça. Acredito que, de tudo que rolou as maiores dificuldades, foram os traumas dos projetos para os quais eu estava escalado e caíram ou fui trocado. Como era novo nesse meio, imaginei que seria o fim e que era melhor eu largar tudo e ficar só na música. Mas,  com o tempo, percebi que isso é “comum” de acontecer e, entendi que o problema não era comigo. 

Você tem dupla nacionalidade – é brasileiro por conta da mãe e angolano, por conta do pai. Já visitou Angola? Tem curiosidade? Como essas duas culturas te completam? Ainda não, mas pretendo ir e conhecer a família, a cultura e o país o quanto antes. Entretanto,  por uma questão óbvia, a ida para Angola é muito mais cara do que ir para a Europa. Acredito que isso tenha me atrapalhado muito – financeiramente falando, nos primeiros anos que essa ideia passou pela minha cabeça. Tudo é oriundo da África, a musicalidade, a dança, a moda, o estilo pra se vestir, os tecidos… Somos os vestígios do que foram os nossos ancestrais no continente africano, ainda que não tenhamos o contato direto, nós aprendemos involuntariamente sobre tudo que vem de lá! 

Sua carreira como ator começou através do teatro e, daí em diante, você não parou mais. Na TV, veio sua primeira participação numa novela –  Amor de Mãe (2019). na sequência vieram as séries Tudo Igual… SQN, da Disney+, que já conta com duas temporadas e Veronika, do Globoplay, ainda não lançada. Como avalia sua trajetória até aqui? Creio que estou no caminho certo. É gratificante demais saber que as coisas estão acontecendo após os baques que eu tive, soa como se tudo tivesse sido aprendizado pro momento que vivo hoje. Eu me cobro muito. Aprendi, desde cedo, que não tenho o luxo de ser mediano e tô muito longe, artisticamente falando, do que eu posso contribuir, mas entendo que hoje eu estou sendo a melhor versão que eu poderia ser. Tudo ainda é pequeno demais para o que quero alcançar com o meu trabalho. Espero que o tempo possa me mostrar a evolução que tanto busco com a minha profissão. Eu sou feliz, faço o que amo. 

E, atualmente, você está fazendo sucesso com o personagem Nastácio na novela No Rancho Fundo (Globo). Como está sendo a experiência? Está sendo incrível! Pelo fato de me cobrar muito, hoje eu percebo que, no início do projeto, pela questão da autocobrança, eu não aproveitei a vivência 100% do projeto nas primeiras duas ou três semanas. Esse personagem me tirou completamente da zona de conforto. Eu sou nascido e criado no Complexo da Maré (RJ), região urbana, falo chiando e com os meus amigos sou bem informal. De  repente, eu dou vida a uma pessoa que vive num contexto completamente diferente do meu. Isso é incrível, é o que eu mais amo nessa profissão. Hoje, entendo que essa cobrança, no início, foi necessária para que eu pudesse corrigir os meus erros e, desde então, estou totalmente leve nesse projeto que só trouxe alegrias para minha vida. Sou grato demais por fazer parte da família No rancho fundo

Você está atuando ao lado de veteranos como Andrea Beltrão, Eduardo Moscovis, Alexandre Nero e Deborah Bloch. No início deu um friozinho na barriga? Como está sendo essa troca? Está sendo ótima! Como disse anteriormente, eu me cobro muito e vendo esses gigantes da dramaturgia brasileira confesso que fiquei mais nervoso que o habitual em inícios de projeto. Mas,  entendi que, 20/30 anos atrás quando começaram, eles também sentiam o mesmo frio na barriga, insegurança e o medo de “será que vou conseguir entregar?!” que eu estava carregando comigo. Ao entender isso, eu só vi o lado bom de poder aprender com eles. Todos são muito gentis e generosos com todo o elenco. Chegaram a determinado prestigio na profissão pelo amor, entrega e muito, também, pela humildade e respeito que eles têm com toda a equipe – do diretor ao auxiliar de serviços gerais no set. Eu só tenho a agradecer por fazer parte desse projeto e poder presenciar a magia acontecendo diante dos meus olhos, nos bastidores de cada cena. Todo  dia, eles me surpreendem, me ensinam e me mostram o caminho a ser seguido. Recentemente, gravamos uma cena com Lari, Clarinha, Andréa, Débora e Du com direção do Allan Fitterman e no ensaio da cena eu fiquei “Meu Deus, isso realmente tá acontecendo diante dos meus olhos, vou aproveitar” e tem sido assim desde o dia 24 de janeiro, quando começamos esta jornada. 

Você já tinha feito algum nordestino antes? E como foi sua preparação? Não, está sendo a primeira vez. Nós tivemos aulas de prosódia com a Íris Gomes no início do projeto e ela nos acompanha até hoje no set, dependendo da demanda de cena. Eu estava muito inseguro por conta de ser algo totalmente diferente do que a minha embocadura estava acostumada e com medo de não fazer bem feito. Mas, me joguei e dei o melhor de mim naquele momento e venho aprendendo, desde então. Lembro de ter colado nos meus irmãos – a gente sempre saía junto e eles me ensinavam e corrigiam sempre que era preciso. Os “Igors” me ajudaram muito nesse processo. Construímos coisas muito legais juntos. Assisti muitas poesias do Bráulio Bessa também – a prosódia do meu teste foi toda estudando ele, vi muitos filmes que tinham essa vivência como os clássicos Auto da compadecida, Lisbela e o prisioneiro. O filme que muito me encantou nesse processo, foi o Tapete vermelho, estrelado pelo Nachtergaele e Gorete Milagres. Essa  foi a minha base de estudo. 

Fora das telas e nas redes sociais, você sempre tem falado de música, moda, streetwear, desigualdades… como define o que é público e o que é privado? É uma linha muito tênue, porque, apesar de ter uma vida pública, eu sou bem reservado e discreto quanto a minha vida pessoal. Esses dias fiz um registro com a minha família aqui no Complexo da Maré e publiquei no Instagram, mas são coisas que evito fazer. Hoje, tudo tem sido numa boa, mas se em algum momento algo der errado, quero que isso seja direcionado a mim e não a eles, sabe? Prefiro blindar as pessoas que amo. Até que eu tenho postado mais fotos ultimamente. Antes,  era um por trimestre. Hoje, já temos quase a média de um post por mês –  olha aí a evolução, hahaha. A verdade é que eu  sou bem low profile. Mas,  sempre que gravo, costumo postar algo nos Estúdios Globo porque o público gosta dessa proximidade. O acesso aos bastidores e sempre que a pauta do “precisa postar” vem à tona, eu prefiro me resguardar e postar somente as coisas que tenho vontade. Não quero que a minha profissão e o meu trabalho fiquem refém de redes sociais, meu desempenho fala mais alto do que um post

Quando tem um tempo livre onde recarrega as baterias? Onde é mais fácil lhe encontrar? Eu sou bem caseiro, gosto de ficar na minha laje observando o tempo passar ouvindo Os Racionais, vendo as pipas, lendo um livro, o texto de cena… Gosto de descansar e ficar perto das pessoas que amo. É muito fácil me encontrar no Nilton Santos, torcendo pelo Botafogo. Eu não tinha noção que, artisticamente, entraria nessa bolha e nos últimos jogos. A galera tem me reconhecido, vem pedindo pra tirar foto e eu só acho isso bacana demais. Uma coisa é eu ser reconhecido na rua, e outra coisa é eu ser reconhecido dentro do estádio do meu clube do coração. É bom demais. É muito fácil me encontrar nos sambas da vida também – quase todo final de semana. Eu pego uma roda de samba pra começar a semana bem. 

Você se considera um cara muito vaidoso? Do que não abre mão? Muito vaidoso é forte, mas sou vaidoso sim. Eu não tive muito a questão que homens negros têm de demorar pra se achar bonito – isso não foi uma questão pra mim. Acredito que esse pensamento me fez pular etapas e com isso sinto que não preciso de muito pra ficar bonito, eu já sou bonito e ponto, mas posso sim, melhorar aqui ou ali. No início do projeto, eu estava com 68 kg e, aparentemente, mais forte que hoje, quando me encontro com 65kg, o que já faz muita diferença. A  academia foi uma válvula de escape muito boa pra minha autoestima também, pois eu era bonito mas com corpo de criança – tenho tendência a ser magro e aí com o treino pesado, eu cresci um pouco. Por isso, apesar de não ir seis vezes por semana, como antes, eu não consigo mais abrir mão da academia – é um de estilo de vida que colabora com minha autoestima. Faço skincare diariamente também e algo que não abro mão quando não estou gravando, é cortar o cabelo toda semana. Isso é essencial para a  autoestima de qualquer homem, mas trabalhando eu viro uma chave na cabeça e fico meses sem cortar, numa boa. 

Falando nisso, qual pecado difícil de resistir? Chocolate, eu gostava muito quando era mais novo e, depois de velho, já com uns 19 ou 20 anos, começaram a aparecer algumas espinhas soltas no rosto coisa boba. Mas, como nunca tive isso, me assustou um pouco. Desde então, evito comer chocolate, porque sei que no dia seguinte vai aparecer alguma acne no meu rosto. Meus amigos brincam dizendo “ah, é a dieta dele, foco fitness” quando na verdade, eu só quero ter o rosto limpo mesmo. (risos). 

E para conquistar Guthierry, basta… Ser uma pessoa de coração feliz que respeita a sua família e sabe viver a vida. Eu sosseguei nesses últimos meses – já fui muito de festa, mas voltei pra formação caseira que sempre tive. Então, não tenho me relacionado com muitas pessoas. Quando me relaciono, é com pessoas de longa data – a gente já se conhece, se respeita e tá tudo certo. Não sou muito de farra, prefiro viver um dengo. Um amor num final de semana numa casa no meio do mato, pra mim é o lado bom da vida.

Fotos Marcio Farias

Styling Samantha Szczerb 

Agradecimentos Meninos Rei