Com apenas 23 anos, mas uma longa trajetória como artista, Lucas Leto, natural de Salvador, hoje vive um momento especial em sua carreira e em sua vida ao interpretar o personagem Marcelo em Pantanal. O sucesso e a aceitação do personagem foi tanta que Lucas vive o sonho real que tanto pelo qual tem batalhado ao longo de dez anos de estudos e trabalhos. A oportunidade que veio, ele abraçou com força. Aprendeu a montar cavalo, estudou Zootecnia e se jogou no Pantanal por um mês e meio. O resultado não poderia ser melhor. Assim, como esse papo com um jovem ator que tem muito que mostrar pela frente.
Lucas, você já declarou que foi através do teatro que você realizou seu sonho. Quando e como descobriu isso? Quando eu era criança, minha avó me mostrou o mundo da arte. Ela me levava a museus e ao teatro. Meus olhos brilharam quando vi uma peça de teatro pela primeira vez e, ali, tive certeza que eu queria fazer isso.
E como foi (e é!) ter uma família, em especial uma avó, que sempre incentivou suas escolhas e decisões? A minha avó é meu tudo, a minha referência de força. Pobre e semianalfabeta, ela teve 12 filhos e ainda tirou tempo para me criar enquanto a minha mãe trabalhava, sempre me mostrando um mundo que era distante para pessoas vindas de onde eu vim. Ela é apaixonada pela arte e criou essa paixão em mim. A minha tia Vera me levou de surpresa para a minha primeira aula de teatro, a minha mãe e o meu pai compravam ingresso pra me assistir todos os dias. Lembro da plateia muitas vezes vazia e o meu pai ali, sozinho, me assistindo todo orgulhoso. Eu me sinto privilegiado de ter uma família que acredita nos meus sonhos, e vejo a importância de ter uma base como essa. Eu não estaria onde estou se não fosse eles.
Percorreu milhas e milhas até chegar no horário nobre? Como foi sua trajetória até aqui? Tudo parece que aconteceu rápido, mas, na verdade, foi um caminho longo como se uma coisa me preparasse para a outra. Aos 12 anos, eu entrei no curso de teatro para iniciantes. Com 13 anos fiquei sabendo de uma oficina do Bando de Teatro Olodum, grupo que eu já sonhava em estar próximo porque foi a escola de Lázaro Ramos, uma das minhas referências, e também foi o grupo que fez Ó Pai Ó, um dos meus filmes favoritos – e que eu vivia em casa repetindo todas as falas. Me inscrevi na audição para a oficina deles, disputei com 300 artistas e fiquei entre os 20 selecionados para estudar no Teatro Vila Velha. Depois da oficina, fiquei cinco anos com o grupo e me tornei amigo daqueles que são os meus ídolos, viajamos o Brasil com espetáculos premiados e teatros lotados.
Ainda em Salvador eu comecei a pegar mais intimidade com a câmera, fui protagonista de uma série para a TV Cultura e criei um canal no YouTube com meus amigos, porque eu sentia vontade de dirigir os meus próprios projetos. E aí entrei de vez no mundo do audiovisual. Graças ao canal, fui convidado a fazer um personagem youtuber dentro de um projeto da Turma da Mônica e tive que me mudar para São Paulo. Morando numa cidade nova e completamente diferente de Salvador, fui chamado para fazer meu primeiro teste para a televisão. O produtor de elenco me conhecia do Bando de Teatro Olodum – eu topei e fiz. Não demorei muito em São Paulo e vim pro Rio de Janeiro para fazer um grande musical, Dona Ivone Lara e, ao fim da temporada, eu recebi o resultado – o papel de Waguinho (de Bom Sucesso) era meu. Entrei com medo porque eu nunca tinha feito televisão, mas em pouco tempo eu queria fazer mais! O personagem cresceu de uma forma assustadora e no fim da novela eu estava contracenando com atores experientes que eu observava e perguntava para aprender como é fazer televisão. A novela terminou em 2020. Aí veio a pandemia e um dos momentos mais difíceis da minha vida, depois de tanto trabalhar no que me fazia sentir vivo, eu tinha que parar. Foram quase dois anos sem trabalhar e longe da minha família que estava em Salvador, e eu em quarentena no Rio. Fiquei com a saúde mental bem afetada.
Em 2021, as coisas começaram a acontecer – em julho gravei Vizinhos, filme pra Netflix com o Leandro Hassum. Foi quando recebi o convite para testar um personagem da novela Pantanal. Lembro de chorar muito na manhã que recebi o convite, era mais do que voltar pra arte – era a oportunidade de fazer um grande clássico da televisão, gravei a selftape com sangue nos olhos e com a certeza de que eu queria fazer um grande trabalho. Minha mãe não sabia do teste, mas sonhou na mesma semana que eu receberia uma boa notícia e não deu outra! Fui aprovado para Pantanal e, ao mesmo tempo, aprovado para ser protagonista do filme musical de Lázaro Ramos Um Ano Inesquecível – Outono, que estreia em 2023 no Amazon Prime Video. E nesse filme eu canto, danço e atuo, tudo que eu aprendi no Bando de Teatro Olodum, e ainda fui dirigido por Lázaro, que eu sempre admirei. Já vi algumas cenas do filme e estou ansioso pra todo mundo assistir. É uma das melhores coisas que eu já ousei fazer.
Hoje ser o “filho de Tenório” está sendo bem legal não é mesmo? (risos) Como tem sido a repercussão? É engraçado porque na rua as pessoas me chamam de Marcelo ou filho do Tenório, falam que eu tenho que fazer alguma coisa pra parar o Tenório. Fazer o filho bom do vilão tem me ensinado bastante coisa – é meu primeiro papel mais maduro na TV.
Como surgiu o convite para interpretar esse personagem, o Marcelo de Pantanal e como foi sua preparação? A produtora de elenco que já conhecia meu trabalho em Bom Sucesso, entrou em contato comigo para testar o personagem. Eu fui logo gravar o vídeo-teste, e dei o meu melhor. Dias depois ela me retornou com a pergunta “Lucas, vamos trabalhar?” e eu respondi “Vamos! Mais um teste?”. Achei que era mais uma etapa porque se tratava de um projeto muito concorrido, mas, na verdade, era a confirmação de que o papel era meu. A preparação começou com as aulas de montaria, eu nunca tinha subido em um cavalo e já na terceira aula eu queria comprar um cavalo porque a conexão que eu senti com o bicho foi muito grande. Junto disso eu estudei sobre o mundo da Zootecnia, curso em que o Marcelo se formou, e fui tirando minhas dúvidas com os colegas de elenco que criam e cuidam de animais. Marcelo foi nascendo aos poucos e também na troca com os meus colegas atores.
Assim como grande parte do elenco já relatou, a temporada no Pantanal realmente foi e é marcante? Como te tocou? Morei no Pantanal durante 1 mês e meio, cheguei cheio de medos e deixei eles lá. Não tem prédios então, vi o horizonte pela primeira vez – não tem luminosidade à noite e o céu estrelado é surreal. Comecei a andar e observar o chão para não pisar e machucar nenhum bicho, me tornei mais atento ao outro. Questionei o tamanho da minha existência naquele todo, e isso me deu uma noção de vida muito diferente.
Que momentos especiais você vai levar desse trabalho? Das rodas de viola com os meus colegas de elenco toda noite depois de um dia inteiro de gravação. Das coisas novas que eu aprendi, desde montar um cavalo, pilotar barco e até o posicionamento das câmeras num estúdio grande. E, com certeza, os amigos novos que eu fiz.
Na primeira versão de Pantanal, seu personagem foi interpretado por Tarcísio Filho. Chegou a ter algum contato com ele? Se tivesse oportunidade de encontrá-lo qual seria sua primeira pergunta? Não tive oportunidade de encontrá-lo ainda. Primeiro eu quero elogiar o trabalho que ele fez como Marcelo e depois, perguntar como era na cabeça dele construir o psicológico de uma personagem que se apaixona pela irmã sem saber que ela não é sua irmã.
Marcelo é um cara íntegro, honesto, trabalhador e puro. Alguma semelhança entre vocês? Eu sou bem diferente do Marcelo – ele é mais certinho e eu tenho um espírito mais livre. Mas uma coisa a gente tem em comum, que é acreditar em si mesmo. Assim como ele foi pro Pantanal acreditando no sonho, eu saí de Salvador acreditando no que seria pra muitas pessoas algo impossível.
Que importância teve essa nova versão de Pantanal em trazer a 2a família de Tenório com atores negros? Sentiu algum impacto por parte do público e crítica? É um avanço positivo. Leio comentários de como a nossa família é muito bonita, mas nós atores sempre estivemos aqui, só nos falta o espaço. O Brasil tem mais da metade da população negra e, por conta dos streamings, as pessoas hoje têm ainda mais poder de escolher o que assistem e, naturalmente, elas escolhem coisas com as quais se identificam, onde se enxergam. Isso é bom pra todo mundo, tanto para quem produz, quanto pra quem consome. É claro que, por melhor que seja, isso ainda não é o ideal. Precisamos ainda de autores, diretores e técnicos pretos. Pessoas pretas em cargos executivos. O que nos separa dos outros é a oportunidade, Viola Davis disse isso em outro contexto, mas faz muito sentido. Temos muitos profissionais pretos super capacitados que só precisam de uma oportunidade para fazer seu trabalho.
Falando em crítica, você é muito crítico com você mesmo? Costuma se assistir? Eu sou crítico com o meu trabalho, também porque vim de uma formação na qual sempre me exigiam o máximo que eu poderia dar, estudar muito e fazer com perfeição aquela coreografia do espetáculo. Eu, hoje, procuro manter as minhas raízes, mas não ser tão rígido comigo mesmo. Eu gosto de me assistir e aí, consigo fazer melhor as coisas que eu acho que podem ser melhores – emocionar mais quem está assistindo.
Alguma mania do Pantanal que você vai levar pra vida? Conversar com os bichos. Lá no Pantanal eu conversava com os cavalos – até com os jacarés eu trocava uma ideia, e eles entendiam. A conexão com o animal é uma coisa que eu não quero perder.
Você é um cara vaidoso? Do que não abre mão? Eu sou um cara vaidoso, mas também sou simples nesses cuidados. Eu gosto de fazer exercícios para deixar meu corpo forte e a mente saudável, e isso desde sempre. Na época do teatro, adquiri uma consciência de meu corpo e, nunca mais larguei. Já fiz balé, tecido acrobático… Também descobri há pouco tempo, alguns cuidados com a pele. Tudo que é relacionado a autocuidado, eu estou experimentando.
Hora de relaxar o que você procura? Uma praia e um bom livro, meu fone de ouvido tocando qualquer música do Jorge Ben Jor. É um estado de meditação para mim. Sou de Salvador, gosto de sol, de mar e ouço música o dia inteiro.
O que é liberdade para você? É ter consciência de si como dono do seu próprio destino. Ouvi isso muito novo e nunca mais desacreditei do meu valor e da minha grandeza.
Reta final de novela e gravação… o que pretende fazer? Quais os planos? Viajar pra Salvador e beijar muito a minha avó! Cozinhar uma moqueca para os meus pais e brindar uma cerveja pelo fim de um grande trabalho que vai marcar a minha vida para sempre.
Fotos @marciofariasfoto
Make @sennarafael
Stylist @thiagobiagi) – Ass. Stylist @liaaaneiva
Produção Executiva @opedroblanc
Assessoria de Imprensa @marromglaceassessoria
Agradecimentos @santateresamgallery e @ludiludica