CAPA: NO TEMPO DE PAULO RICARDO

Sobrevivente em um país que já não ouve tanto rock como antigamente, Paulo Ricardo segue sua estrada mais seguro de si, com nova turnê vindo por aí, pai de quatro filhos e ao lado de um amor seguro, a fotógrafa Isabella Pinheiro (autora desse ensaio para a MENSCH). Aos 60 anos recém completados em setembro passado, Paulo Ricardo continua o mesmo romântico e sonhador de sempre, só que agora entendendo que seu negócio vai muito além do show business.

Paulo, você está sob os holofotes há praticamente 40 anos. Entre altos e baixos, não é fácil se manter. O que aprendeu ao longo desse percurso? Que no show business o business é tão ou mais importante que o show (risos), ou seja, o lado burocrático, financeiro, é fundamental para viabilizar os projetos e manter a saúde financeira da empresa, porque somos uma empresa. Hoje, tenho um empresário maravilhoso que é um irmão pra mim – Duda Magalhães. Juntos, sobrevivemos à tragédia da pandemia e aprendemos muito. Costumo dizer a quem está começando que, bons advogados e contadores são tão importantes quanto bons músicos e produtores. Infelizmente, ainda há muito amadorismo e malandragem no mercado, mas só os realmente profissionais sobrevivem. Outra grande lição é que, contrariando o trinômio sexo, drogas & rock’n’roll, a saúde e o condicionamento físico são tão fundamentais para a minha performance quanto os ensaios. Assim, 99% de foco, disciplina e planejamento e 1% de glamour, essa é a verdade!

Qual o segredo do sucesso? Muito trabalho, uma equipe coesa e competente e objetividade pra não se perder nas muitas armadilhas do caminho, sobretudo as do ego, num meio onde a vaidade impera!

Em setembro de 2022, você completou 60 anos totalmente na ativa. Como encara a idade e como se prepara para ela? Encaro com alegria e naturalidade, sabendo que cada idade tem suas características e me adaptando a elas. Se por um lado há uma perda, no lado físico ela é mais do que compensada pela maturidade e serenidade que vem com o tempo. E a perspectiva do futuro nos ajuda a priorizar, a focar no que realmente importa, o amor, a família, a saúde e o trabalho.  Sobretudo, pra quem tem o privilégio de fazer o que ama!

E, aos 60, resolveu posar nu para sua esposa Isabella e só recebeu elogios. A que se deve essa jovialidade? Difícil resumir em uma coisa só. Acho que isso vem da alma e de trabalhar com algo criativo, divertido, que nos mantém antenados e ligados ao que está acontecendo no mundo. Mas a ideia do ensaio veio de minha mulher, uma fotógrafa maravilhosa e que é o amor da minha vida!

Aliás, é Isabella quem assina esse ensaio também. Ele retrata bem um momento de liberdade, de voos mais longos. É isso mesmo? É isso mesmo. O  ensaio aponta para o que vem por aí, a nova turnê, os novos projetos e o novo eu, cheio de energia e vitalidade!

O disco Rádio Pirata ao Vivo (que teve 3,7 milhões de cópias vendidas) foi o maior sucesso do RPM. E agora, você trouxe de volta no show que celebra 35 anos. Como é para você revisitar esses sucessos e tocar para um público que muitos nem viveram essa época? É mágico, uma verdadeira máquina do tempo que prova que a boa música não envelhece, pelo contrário. As  canções se mostram absolutamente atuais. Além do mais, esse foi um espetáculo divisor de águas, dirigido magistralmente pelo maior showman do Brasil, Ney Matogrosso e qual mantém o mesmo impacto de 35 anos atrás. Foi uma turnê inesquecível, que atravessou uma pandemia e reafirmou a força do rock nacional.

O que a música fez e faz por você? E o que o RPM fez por você? A música é minha vida. Cantei na televisão pela primeira vez aos cinco, no programa A Hora do Tio Vinicius, na Globo e, aos vinte e dois, o RPM atingiu um sucesso sem precedentes. De lá pra cá tem sido uma viagem, uma verdadeira odisseia de Homero, com sereias e tudo o mais. O RPM durou pouco, mas teve uma trajetória intensa, com direito a duas voltas e levo aquelas lembranças e as canções que compus com muito carinho, a cada show. Vivemos todas as histórias e estereótipos do rock’n’roll, mas sem dúvida, agora é minha melhor fase. Vem muita coisa nova por aí, aguardem!

Quem foram e são seus ídolos na música? O que toca na sua playlist? Toca de tudo, gosto e preciso saber o que está acontecendo na música, mas minha base é o pop rock e a MPB, Beatles, Stones, Caetano, Gil, Milton e Roberto, sem esquecer os deuses da Motown como Marvin Gaye e James Brown, entre tantos outros. Mas amo a Bossa Nova, e ano passado, lancei no digital o álbum Toquinho e Paulo Ricardo cantam Vinicius, homenageando o Poetinha. E tenho um pé na música eletrônica, o espectro é amplo.

Paulo, como é ser pai de uma filha de 35 anos e um filho de 6? É saber ter jogo de cintura e sintonia com papos de momentos distintos? É natural, flui. Somos todos muito unidos e agarrados, mas é claro que aprendi muito com a Paola, minha filha mais velha e, hoje, tenho certeza de que, por isso, consigo ser um pai melhor para os três pequenos. Mas não tem segredo – é como eu digo, a paternidade é 50% responsabilidade e 50% amor incondicional.

Falando em sintonia, como é que funciona com Isabella? Onde se completam e se diferem? Em tudo. Com ela aprendi que essa história de que os opostos se atraem não tem nada a ver (risos). Mas mesmo as diferenças são importantes. Ela é uma mulher muito madura e sensível. Adora música e com seu olhar de fotógrafa, enxerga coisas que eu nunca veria e me ajuda muito em tudo. Ela é muito disciplinada. Malhamos juntos e, sendo Libra, do ar, e ela Capricórnio, da terra, ela me ensina a pôr os pés no chão, ainda que a cabeça esteja nas nuvens.

Você se considera um cara vaidoso? Até que ponto? Do que não abre mão? Como disse, a vaidade faz parte do que eu faço, do show business. Às vezes, me pergunto o que faz uma pessoa precisar tanto de atenção (risos), mas sou apenas um veiculo da música e da poesia, e essa vaidade é necessária para darmos nosso melhor tanto numa nova composição quanto nos palcos, que é basicamente uma atividade física. Mas, a principal preocupação é a saúde, os exercícios, a alimentação. O personagem dos palcos gosta de um figurino exuberante mas no dia a dia sou mais pelo conforto e discrição. Me cuido, mas não sei se teria essa mesma preocupação se trabalhasse com outra coisa. Como dizia meu irmão Cazuza, faz parte do meu show!

Você, pelo jeito, vive a mil rotações por minuto. Onde recarrega as energias? Dormindo (risos). Sem brincadeira, sempre fui bom de cama (risos),  mas nada é mais importante pra voz do que dormir bem! Mas estar com a mulher que amo e com meus filhos, recarrega rapidamente minha bateria. Além disso, há a endorfina dos treinos e a famosa troca de energia dos shows, e isso é realmente mágico!

Onde mora esse olhar 43 que encanta as mulheres? O olhar 43 é o de um garoto míope e muito tímido. Até hoje, me surpreendo com o sucesso dessa canção, é parte do inconsciente coletivo e me sinto honrado com a receptividade do público em relação a ela e ao meu trabalho em geral, muito obrigado!

Quem é Paulo Ricardo hoje em dia? E como se vê daqui há dez anos? Sou ansioso, curioso, sonhador, poeta e um apaixonado pela vida. Não sou de fazer planos a longo prazo, mas me esforço para ser e estar cada vez melhor e espero estar fazendo cada vez mais e melhor o que faço pra vocês – música!

Fotos Bella Pinheiro / @isabellapinheiro