Ele já foi Raí e Max, dois personagens inesquecíveis da teledramaturgia brasileira. É pai de dois adolescentes a quem se refere com muito amor, admiração e respeito. E não para por aí! Marcello Novaes mostra seu talento a cada novo trabalho e como um vinho está cada vez melhor, fruto de uma vida com prática de esportes, boa alimentação e, sobretudo boa relação com as pessoas, sejam amigos, ex-mulheres e colegas de trabalho. Conheça um pouco mais dessa cara alto astral e cheio de coisas pra contar.
Desde pequeno você já se apresentava pra família, ser ator sempre foi sua vontade ou até chegar a seu primeiro papel outras profissões despertaram seu interesse? Comecei a fazer teatro bem jovem porque era muito tímido e muito introspectivo. Do teatro as coisas foram acontecendo e hoje já são 27 anos de profissão. Se eu não fosse ator com certeza seria engenheiro civil ou marceneiro. Tenho uma oficina em casa, desenho móveis como hobby, adoro trabalhos manuais, toco obras na minha casa e no meu sitio com muito prazer. Aliás, sou louco por uma ferramenta (risos).
Sua estreia na TV foi em 88 com a novela “Vale Tudo”, uma novela que marcou a história da televisão. Como você chegou até ela e como repercutiu para você? Como disse eu já fazia teatro. Dos palcos fiz testes para a TV e passei para minha primeira novela que foi Vale Tudo.
Ainda sobre “Vale Tudo”, que segundo o próprio autor, o Gilberto Braga, discutia se valia a pena ou não ser honesto no Brasil. Vale? Sempre vale a pena ser honesto. Acredito na lei do universo, o que se planta se colhe. É assim que educo meus filhos e foi assim que sempre levei minha vida. A honestidade é primordial.
Em 94 Raí e Babalu, personagens de “Quatro por Quatro”, conquistam os telespectadores e marca não só a sua carreira e a de Letícia Spiller, como leva o amor de vocês para fora da tela. Até onde fazer par romântico gera o “risco” de se apaixonar de verdade? Isso só aconteceu uma vez na minha vida em 27 anos de carreira. Na verdade, quando estamos em um trabalho, principalmente uma novela, trabalhamos de 9h às 21h, de segunda a sábado com as mesmas pessoas em uma rotina intensa. A gente acaba ficando mais tempo com a equipe do que em casa com a família. Acaba se tornando natural, se você está solteiro, que relações acabem acontecendo, não necessariamente entre pares românticos, mas entre pessoas da equipe. É muito tempo junto, dividindo as mesmas questões, se vendo o tempo inteiro.
Em 2000 você estreou em “O Clone” como o segurança Xande, cuja namorada era uma dependente química. Viver de perto, mesmo que na ficção, a realidade dura da dependência química te trouxe algum tipo de reflexão, aprendizado? Com filhos adolescentes como lida com esse assunto? Lá em casa esse papo é, e sempre foi aberto. Tenho 2 filhos homens, falamos de drogas como falamos de qualquer outra questão. Não os crio com tabus, falo das minhas experiências, do que aprendi com a vida e com tudo que já vivenciei mesmo que através amigos. Busco mostrar a mais pura realidade e o preço que se paga por certas escolhas.
2012 Max surge como um grande vilão das telenovelas e carimba com maestria sua qualidade e versatilidade artística. Como foi a construção desse personagem e vivê-lo durante a novela? Vivi intensamente o Max durante 10 meses da minha vida, gravava o dia todo, tinha 20 cenas por dia, chegava em casa e a minha coach já estava me esperando para passar os textos do dia seguinte. Foi um processo intenso, mas valeu muito a pena profissionalmente. Trabalhei o Max psicologicamente para entendê-lo e depois procurei referências para não fazê-lo de forma clichê, eu não queria um malandro sem alma, eu quis fazê-lo humano acima de tudo. O figurino, o texto e a direção ajudavam muito a me transportar facilmente para o mundo dele.
Qual a sensação de ter sido “odiado” e ao mesmo tempo admirado pelo público por conta de Max, em Avenida Brasil? Esse realmente é um dos marcos da sua carreira? De fato sim, é um marco como foi o Raí. Costumo dizer que um ator recebe um personagem desses de presente de 10 em 10 anos no máximo. Fui sortudo. Eu quase não saia na época de Avenida Brasil. Quando chegava o domingo, meu único dia de folga, eu queria dormir, descansar, desconectar mesmo, então eu senti pouco essa resposta das ruas. Mas lembro-me de receber mais carinho e afago do que raiva nas ruas. Ele e a Carminha eram amados apesar das maldades.
Ainda sobre a carreira, você está estreando um novo trabalho na TV com a série de Glória Perez. O que podemos esperar desse novo trabalho? É a primeira série em 4k da rede globo, é quase como fazer cinema, o processo de produção e edição é demorado e minucioso. A série está ficando incrível, o enredo é muito bom, são poucos atores e uma história densa. Acho que o público vai curtir. Meu personagem é um investigador de polícia, que junto com a personagem da Luana Piovani desvenda os passos de um serial killer, vivido pelo Bruninho Gagliasso.
Você é basicamente um ator de TV. Isso te incomoda em algum momento? Foi escolha sua ou as oportunidades que foram surgindo que te levaram a isso? De forma alguma. Minha carreira foi toda baseada nas oportunidades que fui recebendo e nas minhas escolhas pessoais. Acabei de ganhar um prêmio no festival de Paulínia, por um longa que fiz ano passado, “Casa Grande”. Realizei 3 projetos no cinema, esse foi o maior deles e esse prêmio me deu a certeza que meu caminho está certo. Tenho buscado construir um escopo para meus trabalhos como ator. Um me ajuda no outro. É assim que eu sigo. Minha base, minha escola foi o teatro, devo meu método a ele, mas a minha experiência vem da TV e sou muito grato a ela.
E nos intervalos entre um trabalho e outro o que gosta de fazer como forma de lazer? Quando tenho um tempo livre corro para descansar no meu sitio em Teresópolis. Lá é meu refúgio, meu paraíso. Telefone e internet não pegam. Tenho horta, pomar, galinheiro, meus cachorros, uma cachoeira e uma cozinheira maravilhosa. Não preciso de mais nada além daquilo.
Aos 52 anos, você tem um físico de fazer inveja a muito adolescente por aí. Que estilo de vida leva para causar suspiros nas moças? (risos) Eu sempre gostei muito de praticar esportes. Sou faixa marrom de jiu-jitsu, jogo vôlei de praia, tênis, corro na areia e de vez em quando ainda me arrisco nas ondas. Tenho uma alimentação saudável, treino pelo menos 2 vezes na semana e não tenho tendência a engordar. Eu diria que minha forma física é um resultado de tudo isso junto.
A idade em algum momento incomodou? Sua relação com o espelho é tranquila? Nunca me incomodou, estou de bem com o espelho. Está tudo certo, graças a Deus.
Você sempre foi ligado a esportes como vôlei de praia e surf. O que o esporte te proporciona? Criei meus filhos no esporte e fui criado nele também. O esporte traz disciplina, foco, tranquilidade, competitividade. Além de fazer muito bem a saúde, é uma válvula de escape, e um lugar de igualdades, onde não tem cor nem classe social que o faz melhor e sim o talento para aquele esporte que o faz se destacar. Isso é incrível!
Com o surf, qual sua relação com o mar? Onde ele te leva? O surf já foi uma febre na minha vida quando adolescente, meu primeiro salário na vida veio de um trabalho de shaper de pranchas quando eu tinha 15 anos. Hoje ele é a febre dos meus filhos. O mar me acalma, me limpa, me deixa renovado. Dar um mergulho no mar cura qualquer angustia.
Diogo e Pedro. Como é sua relação com eles e o que eles representam na sua vida? São os verdadeiros amores da minha vida, eles moram comigo e são meus grandes amigos. A gente se respeita, se admira e se ama muito. Tenho uma imensa gratidão pelos filhos que tenho. Eles são uns caras muito especiais e muito do bem.
Dois casamentos, alguns namoros… Ainda deseja construir uma relação sólida até o fim da vida ou é do time que acha utópico “até que a morte os separe”? Eu acredito que tudo dura um tempo, esse tempo pode ser 60 dias, 6 meses ou 60 anos, não importa, tudo tem seu tempo para durar. Eu acredito no amor e nas relações. Sempre fui de namorar muitos anos, me casei duas vezes, fiquei 8 anos com a mãe do Diogo e 4 anos com a Letícia, mãe do Pedro. Depois tive um relacionamento de 5 anos e agora estou namorando há 9 meses, depois de ficar quase 6 anos solteiro, sem engrenar nenhum relacionamento por mais de 3 meses. Acho que eu precisei desse tempo para mim, para me conhecer e me entender com um ser humano só. Foi bem importante.
Costuma pensar em um tipo ideal de companheira? Ou como diria Vinícius “a vida é a arte do encontro” e isso basta? Eu sei exatamente o que não quero em um relacionamento, o que não me atrai em uma mulher, mas um tipo ideal seria negligente da minha parte apontar. As mulheres de um modo geral são interessantíssimas, cada uma a sua forma, eu admiro o humor nas mulheres inteligentes e também acredito no amor quando não o estamos procurando.
O que inveja nas mulheres e onde elas deveriam aprender com os homens? Invejo a capacidade de pensar e fazer várias coisas ao mesmo tempo que elas têm. Isso é insano de ver. Também invejo a ideia de gerar uma vida dentro de si. Deve ser algo realmente magico.
Felicidade é um conceito vago e muito pessoal, mas existem padrões de felicidade que muita gente acaba buscando sem pensar no que está fazendo e no final vive uma eterna frustração. Vivemos uma ditadura do “ser feliz a qualquer custo”, do “vencer na vida”? Vivemos buscando preencher as tais “caixinhas” da vida e deixá-las sempre alimentadas. A caixinha da família, a do amor, a do trabalho, a da saúde. Quando uma delas está vazia ou remexida, a gente automaticamente se desordena. Busco o tempo todo deixar de pensar dessa forma e aceitar o meu dia, como ele se apresenta para mim e vive-lo da forma mais bacana possível, senão eu piro.
As mídias sociais e a exposição de si mesmo, muitas vezes cria mundo de mentira e gente de mentira. O que pensa sobre isso, ainda mais como ator que muitas vezes vive uma exposição involuntária? Não tenho redes sociais, não uso nenhuma, isso não me pegou.
Ao educar seus filhos, que valores você preza e que ensinamentos considera fundamentais? Busco mostrar para eles o poder da humildade, do foco, da generosidade, da paciência e da autoestima na vida da gente. Tenho uma relação maravilhosa de amizade com as mães deles, ensino que ainda as amo, mas de outra maneira e isso os deixa seguros. Eles presenciam respeito em casa, entre os pais. Isso é essencial.
Passadas as eleições, como você vê no nosso país? Não costumo me colocar ou tomar partido politicamente porque acho que sendo uma pessoa pública posso influenciar as pessoas e esse não é o meu papel. Meu papel é estimular todos a pensar no que seria bom para o nosso país. Eu penso que deveríamos começar investindo drasticamente na base de tudo que é a educação e a saúde públicas do Brasil. Deprimente nos deparar com os impostos caríssimos que pagamos e não termos esses serviços essenciais funcionando de forma digna.