Ele é naturalmente divertido, criativo e de bem com a vida. Nada mais natural então que os personagens de Rodrigo Fagundes passem um pouco disso. Atualmente no ar interpretando o divertido Armandinho em Cara e Coragem, na Globo, Rodrigo tem se divertido e divertido os colegas de elenco com seu astral. Não é à toa que rapidamente ele conquista o público seja com que personagem for. “Aonde vou tem sempre alguém mexendo comigo, lembrando de algum personagem ou dizendo como já fui importante em algum momento na vida deles”, comenta Rodrigo em entrevista para a MENSCH. Além disso, tudo, essa matéria de capa celebra os 50 anos desse queridão nosso. Vida longa e próspera nosso eterno Patrick (do Zorra Total)!
Rodrigo, em 2017 você foi nossa capa. Como avalia sua vida pessoal e profissional de lá pra cá? Fiquei muito feliz em estar com vocês naquela capa celebrando meu momento na novela “Pega pega”, onde fui imensamente feliz. De lá pra cá fiz vários trabalhos na TV, teatro e cinema. E tive a chance de fazer trabalhos diferentes um do outro e pude exercitar outras temperaturas de personagens, tanto cômicos quanto dramáticos, como no filme “Tudo bem no Natal que vem”, da Netflix, e a série “Impuros”, na Fox Premium. Na vida pessoal realizei alguns sonhos de conhecer alguns lugares também numa viagem que fiz com meu marido Wendell Bendelack, em 2018, para os Estados Unidos. A pandemia foi algo perturbador pra todos, obviamente, perdi minha mãe há um ano e nos agarramos um no outro para enfrentar essa dor, que ainda é gigante, mas é preciso seguir. Tento buscar uma maturidade e um equilíbrio com tudo que aconteceu e arrancar um sorriso meu e de quem está perto de mim. É preciso!
Na época, você fez fotos inspiradas em Chaplin. Agora, o ensaio é mais fashion e tem direito até a Mickey. Como surgiu a ideia pra esse ensaio? É pra tentar manter minha criança viva. Acreditar que por pior que as coisas estejam, é importante focar no lado positivo da vida, nas pequenas coisas que trazem alegria. Estar com a família, com os amigos, brincar com nossas gatinhas que adotamos na pandemia, assistir filmes, novelas ou séries que nos inspirem. A ideia é alimentar o lúdico!
Seu visual também está diferente, com cabelo grisalho e maior. Você curte moda? Como é o seu guarda-roupa no dia a dia? É efeito da pandemia. Fiquei dois anos sem cortar o cabelo. Quando soube que faria a novela (Cara e coragem) e o tipo de personagem que seria, esperei para ver o que dava pra ser aproveitado do meu visual; e confesso que amei o resultado, pois normalmente você não vai me ver com mullets, rabinho de cavalo e bigode (risos). Nem com aquelas roupas da novela. Gosto de moda, mas não a ponto de me balizar por ela. Meu guarda-roupa é mais básico e discreto. Mas também possuo peças que vou adquirindo por aí e curto usar cores vibrantes, sapatos diferentes e tudo que combine com meu humor do dia.
Agora em outubro você fez 50 anos. Acha que está na sua melhor fase ou está em crise? Estou na minha melhor fase! Mais seguro, menos preocupado com opiniões alheias, descobrindo segurança para tomar decisões profissionais e pessoais; mas sobretudo, vivendo um dia de cada vez e fazendo memórias com aqueles que amo.
Aliás, como manter a forma e a saúde (mental e física)? Saúde mental está ligada ao bem estar, a tentar rir mais que chorar, e pra isso posso encher a boca e dizer que na nossa casa a alegria se impõe, mesmo nos piores momentos, pois aprendi com minha mãe que essa vida é rápida e como é gostoso fazer diferença na vida das pessoas. Ser gentil, cuidadoso, carinhoso e leve. Oscilo muito na parte de saúde física, às vezes foco bastante e mantenho minha rotina de academia, bicicleta, natação, caminhada, mas às vezes fico um tempo sem fazer e relaxo. A tendência agora com a idade é não parar de mexer o corpo, né!? Porque a conta vem e não tenho talento pra devedor (risos).
E como faz pra manter tanta jovialidade na sua rotina que a gente acompanha nas redes sociais, sempre leve, divertido? É como disse, mantendo minha criança viva. Me sinto com energia de 20 anos! Sou espoleta, amo brincar com meus amigos, meus sobrinhos, que são minha paixão, nossas gatinhas Agatha e Emily, com Wendell que, além de tudo, é uma pessoa que me traz muita vontade de viver, de viajar, de experimentar, trabalhar. Funcionamos que é uma beleza. Não tem segredo, tem é muito amor e planos de curto prazo, de trabalho e de vida.
Muita gente acha que humorista tem sempre uma piada na ponta da língua. E você, tem? O que te tira o humor? Não sou essa pessoa de ser engraçada toda hora. A menos que esteja com pessoas que tenho intimidade. Aí sou palhaço mesmo. Gosto de arrancar gargalhadas de quem está perto e que saibam como são importantes pra mim. Mas não sei contar piada. Rio de mim tentando contar. Sou péssimo (risos).
Como é sua relação com o público? É ótima. O teatro e a TV me deram isso. Me acho popular e gosto da intimidade que o público acha que tem comigo. Respeito e retribuo com simpatia. Aonde vou tem sempre alguém mexendo comigo, lembrando de algum personagem ou dizendo como já fui importante em algum momento na vida deles. Que através do meu trabalho, pude melhorar a vida de alguém.
E qual trabalho você considera inesquecível na sua trajetória? No teatro, a peça “Surto”, que ficou 12 a os em cartaz e onde nasceu o Patrick, que ganhou vida longa na TV no “Zorra Total”, mostrando meu trabalho para o Brasil. E na novela “Pega pega”, onde pude sentir uma felicidade imensa com o trabalho na TV, o incentivo dos diretores, da autora, dos colegas e realizar cenas incríveis com meu personagem Nelito.
Você tem uma trajetória de sucesso na TV, no teatro e no cinema. Como se manter num mercado que a cada dia que passa tem mais nomes chegando? Meu lema é devagar e sempre. Sempre tive a ambição de viver da minha arte, mas nunca a ganância. Vejo alguns colegas com a pressa e o desespero de se darem bem, alguns até sem medir consequências, pisando ou passando por cima dos outros. Acho isso triste. Vou tentando equilibrar tudo e tenho orgulho das coisas que fiz, pouquíssimos arrependimentos e uma vontade imensa de seguir em frente. Procuro ser um excelente profissional, ser agregador por onde passo e deixar uma lembrança boa do que foi feito ali.
Inclusive, você ganhou projeção quando fez a peça Surto, que ficou mais de uma década em cartaz. Esse espetáculo ainda é muito lembrado pelo público. Considera de fato ele um divisor de águas na sua trajetória? Com toda certeza. “Surto” é um divisor de águas e tenho muito orgulho do que construímos. Nossa coxia era sagrada e somos amigos até hoje! Um torce pelo outro e nunca duvidamos da nossa capacidade de perceber que éramos felizes e sabíamos durante os anos que estivemos juntos no palco.
Você está em Cara e coragem como o divertido Armandinho. Como tem sido fazer esse trabalho? Mais uma vez posso dizer que estou sendo feliz na TV. Armandinho além de ser um personagem cheio de camadas, com humor, com traços duvidosos de caráter, é também mais um encontro com profissionais que admiro, que me estimulam e tornam os dias pesados de gravações em algo leve e cheio de amor. Definitivamente será mais um trabalho que guardarei nas minhas melhores memórias.
O que pode nos adiantar sobre a trajetória de Armandinho? Posso dizer que ele vai levar uma lição de suas ex-mulheres. Elas vão se juntar pra dar um corretivo nele. E será merecido. Ele se acha demais (Risos) Tem uma autoestima delirante, mas pode ser que tenha uma redenção no final ou pelo menos aprenda a lidar melhor com seu furor pelas mulheres e passar a respeitá-las como elas merecem.
Temos visto vários humoristas migrando de programas para novelas. Como é para um ator acostumado a improvisar fazer um trabalho em que o texto já vem todo pronto? É possível colocar cacos? Meu sonho sempre foi fazer novela. Cresci assistindo quase todas. Amo o melodrama. Sigo a risca o texto, mas às vezes também contribuo com pequenos temperos, nada que fuja do que a cena pede. O texto passa pela direção, pelo figurino, caracterização e chega pra gente pro toque final. Quando recebo um personagem, procuro acrescentar coisas que o deixe de verdade, identificável, onde quem assista possa dizer: “Nossa, tenho um amigo ou parente que é exatamente assim”. Aí tá pago! (risos)
Armandinho, aliás, tem três ex na cola dele. E você, na vida, é casado há 19 anos com o também ator Wendell Bendellack. Qual o segredo pra essa relação longa? Tenho só o Wendell que já vale por três no melhor sentido da expressão (risos). Não tem receita, vivemos um dia de cada vez e escolhemos dividir a vista todos os dias. Somos muito parceiros. Não gostamos de acumular conversas sérias quando necessário, até porque tenho preguiça de DR! Nosso dia a dia é leve e um adora fazer o outro rir. Temos altos e baixos como qualquer casal e o fato de termos uma excelente relação com nossas famílias também ajuda muito. É como vi uma vez na peça “DIVÔ, da Martha Medeiros: Não é amor… é melhor!
Vocês dois são bastante discretos. Como conciliar essa vida reservada com a exposição que a vida de artista dá? Tesouro a gente guarda e mostra pra poucos, ne?! Costumamos dizer que nunca fomos de levantar bandeira, mas também nunca escondemos o mastro. Mas de uns tempos pra cá, vimos a importância de falar e mostrar sim que somos gays e que temos os mesmos direitos que todos tem; que ainda que na nossa bolha estejamos de alguma forma mais protegidos de agressões e ainda sim elas existem, sobretudo nas redes sociais. É primordial mostrar que você deve ser feliz do jeito que você é . E nada me deixa mais emocionado e esperançoso na humanidade do que quando recebo uma mensagem de alguém que se inspirou na nossa história e pode se abrir com seus pais ou seus responsáveis e assim fazer com que o amor e a compreensão de que cada um é de um jeito prevaleça.
Na pandemia, você trabalhou muito, fez filmes, divertiu os fãs com imitações de capas de discos no instagram… Como manteve o humor nesse momento tão difícil no mundo? Foi a forma que encontramos pra não enlouquecer. Passamos por uma tragédia sem tamanho na saúde, na política, na convivência com o outro e confesso que acho que a maioria não aprendeu nada. Alguns até pioraram. Mas fui criado pra ver o humor nas coisas. E se você acreditar, ele vem e ele te salva, sim.
No meio disso tudo você também perdeu sua mãe para a Covid e disse em entrevistas que tem dedicado seu personagem na novela para ela. Como você lida com a sua fé? Essa é a pior dor que tive na minha vida. Minha mãe foi arrancada de nós em oito dias. Se foi aos 77 anos e não tem um dia sequer que eu não me pego lembrando dela e botando em prática o que ela me ensinou. Amar, agregar, respeitar e fazer valer cada dia. Devagar e sempre. Ela sempre teve muito orgulho de mim. Amava minha profissão e a minha vida. Amava o Wendell e o que posso dizer é que não ficamos devendo nada um pro outro. Minha mãe era minha amiga, participava de tudo na nossa vida, viajamos, rimos, aprendemos, passamos por cada barra, mas ela sempre disposta e enfrentar tudo com o maior amor do mundo. Eu e meus irmãos tivemos a sorte de tê-la como nossa mãe e somos muito unidos. O amor é pra sempre. A saudade também. O equilíbrio disso é que é o desafio. Mas eu sinto o amor dela comigo O TEMPO TODO! Ela soube que faria a novela uma semana antes de falecer. Estava tão radiante e feliz porque ela sabia o tamanho dessas conquistas na minha vida. Mas ela se foi e eu busco todo dia meu melhor sorriso e minha vontade de seguir. E é muito por conta do que ela me ensinou.
Quais os novos projetos? O quem tem de novo vindo por aí? Estou com muita saudade do palco e devo fazer uma peça no primeiro trimestre de 2023. Fiz uma participação no filme “Desapega”, do Hsu Chein, com a Gloria Pires (raça alcançada, risos) e espero poder fazer mais cinema e outra novela em breve.
E quais os planos para os próximos 50 anos? Continuar vivendo um dia de cada vez com uma noite no meio. Fazer memórias e amar muito tudo que a vida me oferecer.
Fotos Ricardo Penna
Styling Marlon Portugal