CAPA: SIDNEY MAGAL, NOSSO AMANTE LATINO

Ele já foi símbolo sexual, cantor brega, rei da lambada e, hoje, é considerado “cool”. Mas, entre rótulos e adjetivos, Sidney Magal, segue uma trajetória de sucesso que atravessa gerações. Dono de visual e estilo inconfundíveis ele nos recebeu para um papo franco onde falou sobre o direito de envelhecer sem intervenções cirúrgicas, é da opinião de que os artistas deveriam manter o voto secreto. Com vocês, o amante latino, Sidney Magal!

Por Patrícia Alves

Você é primo de Vinicius de Moraes e no início de sua carreira ele lhe aconselhou a não cantar Bossa Nova, como foi essa história? Pois é.  Vinicius me falou: você é muito bonito para cantar bossa nova… (risos) Comecei a carreira cantando em programa de TV como calouro e em casas noturnas. Sob o nome Sidney Rossi, cheguei a gravar um compacto intitulado Tema de Amor, mas a canção não obteve sucesso. Decidi ir para a Europa em 1971, onde excursionei com um grupo folclórico de música brasileira. No ano seguinte, voltei ao Brasil e comecei a me apresentar em bares, churrascarias e casas noturnas. Em uma dessas noites, conheci um produtor musical que pediu para que eu adotasse um estilo “cigano” e  foi assim que comecei a me apresentar  e fazer minhas performances no palco que começaram a chamar a atenção de todos.

Você sofreu muito preconceito na época por ter um visual muito sensual e dançar de uma forma considerada até subversiva para o padrão dos cantores daquela geração. Como foi isso para você? Você pode imaginar? Eu dançava de salto carrapeta, macacão, cabelo comprido. Era uma coisa meio andrógena, meio roqueiro… Não tínhamos marqueteiros e nem pensávamos em “lacração” como se diz hoje em dia. Era tudo muito empírico, intuitivo. O público foi aceitando e a coisa foi acontecendo. Mas, sim, minha masculinidade sempre foi atacada mesmo eu sendo um dos maiores sex symbols daquela época.

Vivemos em um tempo de polarização política e você sempre se manteve distante e com uma postura de nunca revelar seu voto. Não acha isso importante? Eu acho que um artista não deve entrar nessa seara. Não critico quem o faça. Tenho as minhas convicções, mas prefiro falar sobre coisas positivas e sublimes. Não quero ser porta voz de um ou de outro e, depois, ver que as coisas não são bem assim. Quero divertir meu público, dar o melhor em cada show e deixar meu legado. Quero fazer o que mais sei, que é fazer arte…

Você acabou de completar 72 anos e tem um casamento de mais de 40 anos com sua única esposa. Em tempos de relações tão vazias e efêmeras, qual é o segredo? Cada um tem um “segredo” (risos) Mas, acredito, que no meu caso, além do sentimento e da vontade de dividir a vida, manter o ídolo da porta para fora sempre foi fundamental. Depois do show quando eu penduro o paletó sou simplesmente o “Sidney”, o marido, pai e, agora, avó. Se existe alguma dica? Saber separar bem o homem do personagem.

Você resolveu assumir os fios brancos e já disse algumas vezes que não pretende fazer intervenções cirúrgicas. Tem medo de envelhecer? Não tenho medo de envelhecer e acho que seria ridículo aos 72 anos fazer lipoaspiração ou transformar meu rosto em uma caricatura.

Cuido da saúde, assumi meus cabelos brancos e não tenho o mesmo peso nem agilidade de quando era jovem. E, tudo bem! Quero estar bem, mas acho a busca pela eterna juventude algo sem sentido algum. Quero, daqui a pouco, me aposentar dos palcos e curtir minha netinha, descansar. Definitivamente, não quero morrer no palco.

Em breve o filme “O Meu Sangue Ferve por Você”, contará a história de amor entre Magal e sua esposa Magali, entrará em cartaz.  Qual a importância de ter esta história eternizada nas telas? Para mim, o filme tem uma importância dupla porque o objetivo, no fundo, é sempre manter viva a memória do Magal. Isso é muito importante quando ainda estou vivo. E o lance da vida íntima, amorosa, tem um significado muito grande porque são duas coisas paralelas que, graças a Deus, sempre combinaram muito bem. É importante também mostrar neste momento, para as novas gerações, que amar ainda pode dar certo.

Você se define como um homem de uma fé muito peculiar, algo que vai muito além de qualquer religião. Como é isso para você? O meu corpo é o meu templo, ou seja, o que eu consumir de pensamentos e de sentimentos vai me transformar numa pessoa do bem ou numa pessoa do mal, numa pessoa protegida ou não protegida. Então, você estando bem e fazendo bem às pessoas que te cercam, com certeza, essa é a maior fé que existe, porque você vê em Deus e Deus vê em você a semelhança. Essa semelhança que todo mundo procura.

No final deste mês (outubro) um musical estreia em São Paulo contando sua trajetória. Como é para você ver sua história interpretada no palco? Um presente!  Esse musical narra a minha vida, as barreiras do tempo se dissolvem. Passado, presente e futuro se encontram em cenários e personagens que contam minha trajetória, revelando os bastidores da vida do ser humano por detrás do “Amante Latino”. Nessa viagem musical, minha história, inevitavelmente, se entrelaça com a de minha mãe, uma promissora cantora de rádio que se viu obrigada a abandonar sua carreira para atender os padrões esperados para uma mulher de sua época. Muito mais que um musical sobre a trajetória de um artista de sucesso, essa é uma história sobre escolhas, sonhos, relações familiares e, principalmente, sobre a importância do amor em nossas vidas.

A propósito, que tipo de música o Magal ouve? Sou MUITOOOO eclético (risos). Por exemplo, amo Norah Jones e sou encantado pela voz dos negros americanos. Pela Diana Ross, sou alucinado desde a época das Supremes.

Caí em prantos, na frente do palco, quando ela esteve no Rio de Janeiro e sentou ao meu lado para cantar. Para mim, Emílio Santiago é a voz mais bonita que já se ouviu neste País. Respeito muito, mas não sou nem Roberto, nem Erasmo. Nunca fui um apaixonado pela Jovem Guarda. Era e sou muito, muito mais MPB.

O cantor e ícone do punk João Gordo, vocalista da Ratos de Porão, lançou um projeto chamado Brutal Brega, com uma versão de Amante Latino e Sandra Rosa Madalena. Como você vê tantas gerações e estilos celebrando a obra do “Amante Latino’’? Gratidão é o que define este meu momento. Estar aqui fazendo esta capa, cercado de carinho e profissionalismo, esta entrevista para vocês, meus fãs que me acompanham… E, poder ver tudo isso com saúde e ainda em vida. Muita, muita gratidão define este momento pleno que vivo. Obrigada MENSCH!

Fotos Ângelo Pastorello