ESTRELA: CLAUDIA DI MOURA, É CARA E CORAGEM

Depois de ter brilhado na pele de Zefa, mãe de Roberval (Fabrício Boliveira), na novela “Segundo Sol”, e de ter sido indicada ao “Prêmio Melhores do Ano” como Atriz Revelação pelo programa Domingão do Faustão, Claudia Di Moura está de volta à TV em “Cara e Coragem” no papel de Martha Gusmão, poderosa dona de uma siderúrgica e mãe dos personagens de Ícaro Silva e Taís Araújo. Além da atual trama das 19h, a atriz também pode ser vista na quarta temporada de “Sob Pressão” (Globoplay) como Dona Maria, personagem que, segundo Lucas Paraizo, autor da série, pode ser considerada a “Avó do Brasil”. Claudia protagoniza a história da avó de um menino gravemente ferido por arma de fogo após tentar protegê-la. A partir daí, ela ficará dia e noite ao lado do neto hospitalizado e não medirá esforços para ajudá-lo diante da insanidade que é a saúde pública em nosso país. No cinema, depois de ter atuado em mais de vinte filmes, a atriz estará em duas novas produções: “Terapia da Vingança”, dirigido por Marcos Bernstein, com estreia prevista para 2022, e em “Arcanos”, nome provisório do longa que foi gravado no Maranhão. Na trama, Claudia dará vida a Nazaré, irmã de Fátima, vivida pela protagonista Lilia Cabral. Baiana, de Salvador, Claudia, além de também ter uma consolidada carreira no teatro, é estilista, designer e dona de um uma grife de roupas na capital baiana.

Claudia, você atuou em duas novelas com personagens de realidades bem distantes. Em “Segundo Sol”, você deu vida à Zefa, uma mulher de origem humilde e que passou a vida se dedicando à família de Severo. Já em “Cara e Coragem”, você interpreta a poderosa Martha Gusmão, dona de uma siderúrgica. Apesar das diferentes realidades, você enxerga algo em comum entre elas? Você as considera duas matriarcas em diferentes posições? A principal diferença entre Zefa e Martha, mais do que o dinheiro, é a liberdade. Embora ambas sejam mães de dois filhos, Zefa foi privada do exercício da maternidade de um deles. Martha sofreu a perda da filha Clarice, mas teve direito a um luto que a Zefa nunca foi permitido, pois ela tinha o filho próximo e inalcançável ao mesmo tempo. A liberdade que Martha tem de tomar suas decisões regidas por motivações pessoais e não por sobrevivência, isso é algo que Zefa raramente tinha.

Em “Segundo Sol” você foi mãe do personagem de Fabrício Boliveira. Já em “Cara e Coragem”, você é a mãe de Taís Araújo e Ícaro Silva. Como foi e tem sido essa troca com atores que pertencem a uma geração de grandes talentos? Tem sido um intercâmbio poderoso, tanto em experiência de televisão quanto de vida. Isso permite que estejamos sempre colaborando uns com os outros em cena e eventualmente fora dela. Cada um dos três tem um lugar próprio nos meus afetos que só tem evoluído com o tempo.

Como você vê o avanço da escalação de atores pretos em papéis de destaque sem estereótipos estabelecidos por anos? Você diria que a Martha, além de um grande papel, também é uma grande conquista, um avanço nas escalações? A escalação de Martha é histórica e muito me alegra ter sido convidada para esse papel, uma mulher rica, livre e poderosa. É importante para que o grande público de televisão enxergue esse tipo de representação com naturalidade, que mais e mais personagens como esse sejam atribuídos a nós atores pretos no audiovisual. Estereótipos só deixam de existir quando param de ser repetidos. E Martha Gusmão é um dos exemplos de que isso é possível.

Você está no ar na Globoplay na quarta temporada de Sob Pressão como Dana Maria, uma avó que teve seu neto atingido por uma bala perdida ao tentar protegê-la. Como foi dar vida à uma personagem que, de certa forma, é a cara do Brasil, principalmente quando se fala da qualidade da saúde pública no país? Pra mim foi uma alegria muito grande fazer parte dessa jornada tão grandiosa e ajudar a prestar essa homenagem aos nossos profissionais da saúde pública através de uma personagem tão carismática quanto a Dona Maria. Ela é a avó do Brasil, a personificação da esperança. E a equipe da série me trouxe um acolhimento generoso que me tocou profundamente. Sei que todas as emoções que vivenciei durante as gravações estão impressas na caracterização da personagem, então reitero o convite para ir ao Globoplay e assistir a essa temporada incrível.

No cinema, você estará em duas novas produções: “Terapia da Vingança”, dirigido por Marcos Bernstein, com estreia prevista para 2023, e em “Arcanos”, nome provisório do longa que foi gravado no Maranhão. Na trama, você dará vida a Nazaré, cantora e irmã de Fátima, vivida pela protagonista Lilia Cabral. Fale um pouco sobre esses dois projetos. Em “Arcanos”, uma comédia de costumes repleta de dramas e mistérios, eu interpreto a irmã da personagem de Lília Cabral e tive a imensa honra de cantar ao lado de Alcione, tendo como pano de fundo o esplendor das paisagens maranhenses. Já em “Terapia da Vingança”, um filme de Marcos Bernstein, eu dou vida à sogra da personagem interpretada por Cláudia Abreu. Esta é uma história densa de drama, suspense e ação.

Em “Arcanos” você vive uma cantora. Como foi esse processo? A música faz parte da sua trajetória como artista. Tem vontade de fazer algo também ligado à música? A música é uma das expressões da minha alma, mas, profissionalmente, eu prefiro que ela retrate a voz das minhas personagens, quando essa musicalidade as atravessa. Foi assim com a Nazaré de “Arcanos”, assim como também foi com Dona Maria em “Sob Pressão”.

Zefa, Dona Maria e agora Martha Gusmão. Três personagens com um lado maternal muito forte. Na vida real, você é mãe de Iasmin e Vitória. Ser mãe te ajudou na construção dessas personagens? Sou mãe de Iasmin, Vitória e Deise; e a maternidade me ajuda infinitamente na composição dessas personagens. Para além da construção intelectual, existe algo como um reflexo, um modo inconsciente de pensar e sentir que é desenvolvido e aperfeiçoado pela própria relação entre mãe e filha, e isso, inevitavelmente, vaza para a atuação porque faz parte do meu repertório pessoal. Por mais que as mães que interpreto sejam diferentes entre si e de mim, há algo que me é possível alcançar em todas elas por essa identificação primal.

Você começou no teatro e tem uma trajetória consolidada e de prêmios nos palcos. Tem algum projeto novo nessa área? O palco é a casa da minha alma, é um lugar onde minha voz dramática fala mais alto por estar em presença tão imediata do público. Tenho, sim, projetos para o teatro, mas, neste momento, ainda não posso revelar a respeito.

Na Bahia, você tem uma confecção com peças exclusivas e criadas por você. Qual a sua relação com a moda hoje? Qual a influência que ela traz pro seu trabalho de atriz? Tem novos planos nessa área? A moda é uma linguagem que me ajuda a manter uma distância segura entre mim e as minhas personagens, e é também um empreendimento que me traz alegria e expande meus horizontes criativos. Existem muitos territórios ainda inexplorados por essa minha atividade e, sem dúvida, especialmente após o fim da novela, darei ainda mais atenção a isso.

Você mora em Porto Seguro, mas vive na ponte aérea quando está gravando no Rio. Pretende, um dia, fixar residência na cidade maravilhosa? O Rio de Janeiro é uma cidade de muitas oportunidades, por isso, acaba sendo inevitável estar aqui para movimentar a minha carreira. Mas a Bahia é esse lugar onde eu reencontro minhas origens, cultivo o silêncio produtivo e me conecto com a minha ancestralidade. Independentemente do que diga ou do meu comprovante de endereço, eu sempre estarei ocupando os dois espaços, respirando cultura e molhando meus pés no mar.

Quais são seus novos projetos? Alguma novidade na TV ou streaming? Por enquanto dedicação total a Cara e Coragem, mas sem perder de vista novas ideias para o teatro e o audiovisual. No tempo certo, darei mais detalhes.

Deixe uma mensagem para os leitores da MENSCH. Leitoras e leitores da MENSCH, muito obrigada pelo carinho com o qual vêm acompanhando minha carreira. Tem sido incrível a repercussão do meu trabalho aqui na revista. Espero que minhas palavras sirvam de incentivo para que vocês deixem brilhar seus talentos e sua personalidade a despeito de idade, raça, gênero ou classe social. Sucesso!

Fotos Vinícius Mochizuki