Intuitivo e altamente criativo, o carioca Thiago Gaspary viu no design de joias sua realização e combustível para empreender. Isso tudo se definiu melhor quando em 2018, ele criou sua própria marca de joias – a Jiló Joias. Inicialmente exclusiva para mulheres, foi tomando espaço e criando fama ao ponto de Thiago não saber mais viver fazendo outra coisa. Daí veio a pandemia e novos desafios o levaram a reinventar seu negócio que, por sinal, segue muito bem. Quem vê suas peças logo pensa de onde vem inspiração para tudo isso, coisa que nem o próprio Thiago sabe explicar – simplesmente acontece. Conversamos com Thiago para conhecer um pouco dessa trajetória e nos inspirar com esse grande artista dos nobres metais.
Thiago, você está à frente da marca Jiló Joias desde 2018. Como surgiu a ideia da marca e o que você queria trazer para esse mercado? No início, ouvi muitas críticas devido ao nome, tais como “Mas por que Jiló?”, “O que isso tem a ver com Joias?”, “Você tá maluco?”. A ideia do nome surgiu, primeiro, por eu ser apaixonado por Jiló, outra… eu queria um nome curto e que soasse bem com joias. Sei que muitas pessoas não são adeptas de Jiló, mas quem curte, curte de verdade (meu caso). Era justamente isso que eu buscava – achar o meu público, pessoas que se identificassem com a marca e inspirar essas pessoas através da arte manual, transmitir a elas bem estar e autoestima por meio do trabalho autoral, fidelizar clientes. Sou meio teimosinho quando minha intuição grita, aposto e pago pra ver. Hoje em dia, o nome é muito bem aceito e acham até fofo esse nome… (risos)
De lá pra cá muitas outras marcas surgiram e ao mesmo tempo o homem foi ficando mais atento a joias e acessórios. Como percebe a evolução do mercado e do homem consumidor de joias e acessórios? O homem atual está cada vez mais desamarrado e em busca da desconstrução psicológica e visual. Diferentemente de antigamente, quando usar uma roupa um pouco mais colorida e acessórios, era visto de maneira pejorativa. Essa liberdade de hoje “de poder ser”, abre um leque muito grande de opções no mercado tanto para o consumidor, quanto para os empreendedores e acho isso maravilhoso. Sejamos plenos da maneira que queremos ser e façamos isso sem medo ou peso na consciência. A liberdade de apenas ser, nunca esteve tão em alta. Acredito que essa evolução no mercado masculino, se deva a isso.
Aliás, você é a personificação desse homem atual que curte joias. O quanto tem de desejo e inspiração seu nas peças? Me considero um cara sem rótulos. O gostoso pra mim, é poder mudar e experimentar sempre que eu sinta essa vontade e isso me faz bem, renovar… Acredito passar isso para as minhas criações – tem as mais clássicas, as modernosas, as basiconas e as extravagantes, acho que as minhas criações são fruto do meu estado de espírito. No final, acabamos falando a mesma língua (risos).
É realmente mais difícil criar para o público masculino do que para o feminino? Como sente essa diferença? Não vejo como mais difícil, é um nicho ainda muito menor do que o público feminino, mas que está numa constante evolução. O mercado masculino está se expandindo cada vez mais – os homens hoje em dia tem se mostrado mais interessados e dispostos a experimentar o novo e isso me dá total liberdade, na hora de criar. É uma delícia!
Como começou a Jiló Joias e como foi passar por essa pandemia? O que mudou do início até a realidade de hoje? A marca foi lançada no final de 2018 quando participei do meu primeiro evento, entrei para substituir uma pessoa que não poderia estar presente. Foi tudo muito rápido e sem muito planejamento, mas acho que nesse caso, a pressão do prazo, me ajudou. Foi tudo muito intenso. Fiquei tão envolvido nessa loucura que não me vi fazendo outra coisa na vida. Em 2019, participei de alguns eventos e tive a sorte de conhecer pessoas que confiaram em mim e apostaram no meu trabalho, me ajudando muito nessa caminhada até aqui. Gratidão eterna a elas. Tive alguns convites de trabalho, a honra de colocar minhas peças em alguns artistas para revista, programas de TV e acervo pessoal de influencers. Isso foi me dando confiança e estrutura para continuar. Acredito que a maior dificuldade foi ficar tanto tempo longe das pessoas que amamos, misturado com o sentimento de dor por tantas famílias afetadas pelo Covid-19. Achar ânimo e inspiração para criar não foi fácil, mas em relação à produção, não parei – já tinha montado o ateliê em casa. O que fiz foi criar peças mais acessíveis e reduzir valores.
Desde quando lancei a Jiló Joias sempre trabalhei só com o público feminino, mas tinha muita vontade de testar e inserir o masculino também na marca. Aproveitei esse tempo com mais tranquilidade para começar a planejar coisas novas para a Jiló. Hoje, trabalho muito mais para o público masculino. O que mudou do início até hoje, talvez seja a forma um pouco mais madura com que enfrento as coisas em relação à marca.
Passar da loja física para o e-commerce. Como teve que se reinventar? Loja física nunca tive, desde quando lancei a marca e participava de eventos no Rio. O e-commerce veio assim que a pandemia surgiu. Já era um plano. Porém, precisei antecipar já que todos os eventos foram cancelados e fiz como todos os outros empreendedores tiveram que fazer emergencialmente. Expandi a marca para o Brasil através da Internet. Estou feliz com o resultado.
Em se tratando de joias masculinas, quais as tendências e materiais mais procurados e usados hoje em dia? Os clientes hoje em dia estão tão diversificados que afirmar uma tendência, seria complicado. Trabalho com prata e pedras naturais, mas não tem uma tendência fixa – tem pra todos os gostos. O fato de minha clientela ser bastante eclética, nunca me deixa preso a tendências. Foco mesmo em peças atemporais que caso eu precise – volto a reproduzi-las com uma nova leitura.
De onde vem a inspiração para criar as peças? Pra mim essa é uma pergunta intrigante e complexa. Minhas ideias e minha inspiração são resultantes de tantas viagens da minha cabeça. Ser sonhador ajuda muito no processo de criação…às vezes, parece só uma maluquice que não vai dar certo. Aí, eu testo sem pensar no resultado. Enfim, está funcionando, mas eu não tenho uma explicação lógica pra isso.
Que peça você não abre mão de usar? Gosto muito dos braceletes rígidos e anéis – pra mim, são peças coringas que estão sempre comigo.
Se considera um cara vaidoso? Até onde vai essa vaidade? Sim, eu me considero. Acredito que todos nós, de certa forma, temos vaidade – uns mais outros menos. Uns assumem, outros não… o importante é ter equilíbrio. Não vejo problema na vaidade e sim no narcisismo. Por isso, é importante ficar atento aos sinais e como dizem por ai “estar com a terapia em dia” (risos). No fundo, no fundo, um pouco de carinho com a gente mesmo é essencial – inclusive, para a saúde mental.
Como definiria seu estilo? Eu prefiro a liberdade de não saber, ou talvez, não me definir em um único estilo. Raramente fico com o mesmo visual por muito tempo. Seja um estilo de roupa, uma cor preferida, um corte de cabelo, com ou sem barba – sou totalmente adepto a mudanças. Meu estado de espírito e duas xícaras de café é o que definem o que vou usar ou fazer.
Chegou a hora de relaxar, onde recarrega as baterias? Sou nascido e criado em Santos, mas moro no Rio de Janeiro há 20 anos. Sempre tive uma conexão muito forte com o mar, não necessariamente preciso ir, estar na praia. Mas saber que as tenho por perto e que posso ir a qualquer momento para um banho de descarrego – sem dúvidas é uma das coisas que lava a alma. Um bate papo regado a várias saideiras e gargalhadas com amigos é sempre maravilhoso e revigorante. No mais, sou um cara bem caseiro, gosto de receber amigos em casa, cozinhar, maratonar séries, pegar no sono no sofá, enfim… são tantas coisas que me fazem desligar. E claro, visitar a família na minha terra natal é uma coisa extremamente necessária pra mim. Um abraço deles recarrega qualquer bateria.
Quem é Thiago Gaspary hoje em dia? Um cara normal, devoto de Santa Rita e que continua acreditando nas pessoas. Num exercício diário, buscando a evolução espiritual, tentando sempre respeitar a perspectiva de cada um. Empatia e blusa branca, não tem erro, te deixam chique pra qualquer ocasião.
Quais os planos para este ano ainda? Alguma coleção nova? Voltar para os eventos presenciais não só aqui no Rio de Janeiro, mas pelo Brasil. A ideia da marca nunca foi necessariamente trabalhar só com coleções e sim peças atemporais.
Fotos Fael Gregório
Direção de Produção Ju Hirschmann
Produção RJ Ana Fontelles
Assistente de foto Léo Martins
Beauty Rogério dos Santos
Looks Asas de anjo @asasdeanjomeias / Foxton @foxtonbrasil / Docthos @docthos / Kolway @usekolway / Acessórios @jilojoias / Agradecimento Novotel RJ Leme all.accor.com @novotelrjleme