Uma pesquisa nacional sobre hábitos culturais realizada pela Fecomércio/RJ e pelo Instituto Ipsos revelou que ir a um show musical é a segunda atividade cultural mais frequentada pelo brasileiro. A pesquisa também quis saber quanto o brasileiro acha justo pagar para ter acesso a determinados serviços ou produtos musicais. Em média, os valores respondidos foram R$ 23 para assistir a um show, R$ 13 para comprar um DVD e R$ 10 por um CD. Outro resultado da pesquisa mostra que o consumo de produtos culturais é impactado não somente pelo preço, mas também pela educação e pela renda das pessoas. Ou seja, quanto maior o nível de escolaridade e o poder de compra da população, maior o consumo de bens e serviços culturais.
A redução da pobreza, o aumento da classe média, o controle da inflação, a oferta de crédito, o investimento em educação, a volta do ensino de música nas escolas, todos esses fatores contribuem para moldar um cenário positivo para o desenvolvimento de negócios no mercado musical brasileiro. O Brasil é reconhecido internacionalmente pela qualidade e diversidade de sua produção musical. O desafio, entretanto, é saber como transformar o talento do músico brasileiro em uma oportunidade para a geração de trabalho e renda, desenvolvendo os territórios de forma sustentável. O talento continua sendo um fator necessário para o desenvolvimento da carreira musical, mas sozinho não é suficiente para garantir a sustentabilidade do artista no mercado. Ao talento, é preciso acrescentar inovação e gestão para tornar competitiva uma carreira musical.
Venda sua música, não a sua alma
Durante muitos anos o músico entregou a gestão de sua carreira a terceiros, fosse uma gravadora ou um empresário. Ele não se preocupava com a contabilidade, mas apenas com as questões artísticas. Eram muito comuns os casos em que o músico bebia, fumava ou cheirava todo seu cachê. Essa época semiprofissional ficou pra trás. Hoje em dia o músico entende que sua atividade deve ser exercida de forma profissional e organizada. Caso contrário, ele não sobreviverá (literalmente). Um músico pode ganhar dinheiro de três maneiras: faturamento com a prestação de serviços (shows), com a venda de mercadorias (fonogramas) e com a exploração de direitos (royalties). No videodocumentário Infinito ao meu redor, Marisa Monte enfatiza que a crise da indústria fonográfica e as mundanças nas práticas relativas aos direitos autorais transformaram o show na principal fonte de renda de um músico. A atriz brasileira Cacilda Becker disse, certa vez: “Não me peça para dar de graça a única coisa que tenho para vender”. Músico, aprenda a valorizar seu talento, porque a música é um negócio bom. Um músico nunca deve sentir culpa por ganhar dinheiro fazendo o que gosta, mesmo que os outros achem que esse ofício seja “pura diversão”. Tampouco deve trabalhar de graça, mesmo que ele mesmo ache o trabalho muito divertido.
Novos modelos de negócios
A tendência dos novos modelos de negócios na música é a busca do artista pela autonomia administrativa e financeira de sua carreira mantendo uma relação de parceria com a gravadora ou com o empresário. Marisa Monte tem seu próprio selo, chamado Phonomotor, e trabalha em parceria com a multinacional EMI para a distribuição dos discos. Jorge Vercillo fundou o selo Leve e trabalha em parceria com o escritório Posto 9 para o gerenciamento da carreira musical. A banda Calypso surgiu em Belém/PA no início do ano 2000. No começo, Chimbinha e Joelma não tinham gravadora ou empresário. Também não possuíam recursos para investir em divulgação nas rádios. Então a dupla resolveu entrar em ação e vender seus discos a preços populares em supermercados frequentados por seu público na periferia da cidade. Eles ainda decidiram partir para a divulgação das rádios piratas e dos camelôs. A iniciativa deu certo. Hoje a banda soma mais de 10 milhões de discos vendidos no país inteiro. Cansado de ser explorado financeiramente pelas rádios comerciais, devido ao alto preço cobrado pelo jabá, o cantor brega Augusto César mudou radicalmente a forma de divulgação de seu trabalho musical. Em vez de pagar para uma rádio tocar suas músicas, ele mesmo passou a fazer isso semanalmente no centro do Recife. Através de um carro de som estacionado estrategicamente no centro comercial da capital pernambucana, ele canta ao vivo várias de suas músicas, atende aos pedidos dos fãs e, claro, também comercializa seus discos.
Custo de oportunidade
Quando aplicamos recursos (dinheiro, tempo, energia) em um negócio, deixamos de lado outras alternativas de investimento. Custo de oportunidade, portanto, é tudo o que deixamos de lado (ou de ganhar) quando decidimos investir em alguma coisa. Podemos definir o cálculo do custo de oportunidade da carreira musical como a diferença entre a remuneração média recebida pelo músico/produtor na atividade musical e a remuneração que ele receberia pelo exercício de outra atividade econômica. É muito comum, no início da carreira, haver a figura de um mecenas. Alguém que custeie os investimentos iniciais do músico enquanto o retorno financeiro e a viabilidade econômica não chegam. Os pais, a esposa, o marido, o Estado, a iniciativa privada, etc. Os anos passam e os resultados devem ser avaliados. É nessa hora que existe a necessidade de calcular o custo de oportunidade da carreira musical. Um resultado negativo nessa equação serve de alerta para rever prioridades, estratégias e parcerias. Surge, inevitavelmente, a pergunta: vale à pena persistir na carreira musical? A resposta é pessoal, mas cabe diferenciar persistência de teimosia. Ambas são tentativas de realização. O teimoso tenta várias vezes – da mesma maneira. O persistente também tenta várias vezes, só que de maneiras diferentes.
Perspectivas
Estudo encomendado pelo Sebrae à Fundação Getúlio Vargas traçou um mapa das oportunidades nas cidades-sede da Copa do Mundo 2014. Em relação ao setor musical, foram identificadas 20 atividades com potencial para realização de negócios, como comércio de discos, atividades de cantores e bandas, casas de show, boates, produção e promoção de eventos musicais, agenciamento de artistas, atividades de sonorização e iluminação, dentre outras. Essas oportunidades são decorrentes do incremento de negócios gerados pelos principais atores envolvidos nas diversas fases do evento. O estudo considerou os investimentos prévios estruturantes, os gastos dos visitantes durante o megaevento esportivo e o legado em infra-estrutura e exposição internacional. As oportunidades não se esgotam nos eventuais negócios que venham a ser fechados no contexto do evento, mas dizem respeito à chance de desenvolvimento empresarial dessas empresas.
Leonardo Salazar é produtor musical, técnico em contabilidade, bacharel em jornalismo e especialista em gestão de negócios. É instrutor credenciado do Sebrae, autor do livro Música Ltda: o negócio da música para empreendedores e editor do blog www.musicaltda.com.br
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