Por Fernando Luís Cardoso
Dançarina, coreógrafa, bailarina, influenciadora digital, ativista e cantora. Thais Carla, 33 anos, nascida em Nova Iguaçu (RJ), é a prova de que podemos ser muitos e isso independe de rótulos ou padrões estéticos. Thais ficou conhecida por seu ativismo contra o estigma social da obesidade e tem seguido sua trajetória superando obstáculos e conquistando seu espaço. “Meu legado é levar força e autoestima. Mostrar que mesmo não sendo padrão as pessoas podem lutar seus sonhos, e ser incríveis a sua maneira”, comentou ela ao longo dessa entrevista exclusiva para a MENSCH.
Com 17 anos você venceu o “se vira nos 30’’ do Domingão do Faustão. Esse fato mudou totalmente a sua vida. Como começou a sua paixão pela dança? Foi a partir deste fato? A minha paixão pela dança começou aos 4 anos, vendo minha irmã dançando e aquilo foi se tornando uma paixão, achei que era distração de criança mas a dança aumentou a minha autoestima. Eu participei de programas de palco com concursos, como: Eliana, Celso Portiolli, Raul Gil, Gugu entre outros, todos eu ganhei. Foi a partir do programa Legendários que eu senti que a dança era a minha profissão, tenho uma grande gratidão ao Mion que foi visionário e me deu essa oportunidade. Era a primeira vez que deixava de ser participante convidada e tinha um quadro fixo na TV.
Você quebrou todos os tabus, dividindo palco com bailarinas padrão dando assim novo sentido ao sonho de muitas mulheres, no senso de que todas podem dançar independente de como sejam seus corpos, pois a dança é uma expressão de arte. Qual o legado e a mensagem que a Thaís quer passar as mulheres e adolescentes que deixam seus sonhos para trás por não pertencer a um padrão? Eu acho que desde pequenos a nossa autoestima é roubada, eu acho que a dança traz essa força, te faz olhar no espelho e se sentir bonita, As pessoas começaram a se enxergar em mim. Meu legado é levar força e autoestima. Mostrar que mesmo não sendo padrão as pessoas podem lutar seus sonhos, e ser incríveis a sua maneira. Força para autoaceitação. O seu corpo não tem limite, o preconceito nos limita, mas não o corpo.
Referência no mundo da dança e levando empoderamento e autoestima para mulheres que não se viam representadas, você tem uma enorme responsabilidade social. Você acredita que as novas gerações estão conseguindo ceder mais espaços ao diferente e a pluralidade de forma natural ou ainda existe uma grande luta? Eu acredito que já se rompeu grandes coisas, quando eu vejo as crianças querendo me abraçar e falando “nossa como você é linda”, as crianças estão vendo pessoas gordas em patamar mais alto e entendendo que também são bonitas. Existe uma grande luta pela ditadura da magreza. Reconheço uma melhora, mas ainda está a passos lentos.
Com agenda intensa sobra tempo para a família? Nos conte um pouco como é a dinâmica da Thais mãe e esposa? Meu marido trabalha comigo, então estamos sempre juntos, as crianças têm rotina mas amam nosso trabalho, suas amigas conhecem nosso trabalho, elas estão inseridas e entendem um pouco. São crianças introduzidas no meu mundo, por mais que tenham a rotina delas. O fato de trabalhar em casa é um privilégio, pois posso acompanhar o crescimento delas.
Qual é o maior conselho que você daria para suas filhas? Não deixar ninguém roubar a autoestima delas. São duas meninas pretas, minha família é branca, a do meu marido preta, eu estou sempre empoderando elas. Sempre coloco black, trança no cabelo delas e estimulando elas a se aceitarem como são: lindas! O cacho da mulher negra é uma coroa, eu cuido do cabelo delas, para que entendam que é uma joia.
Como foi participar do vídeo #energiadegostosa com Ivete, que já promete ser um dos hits do empoderamento e pluralidade feminina? Ivete… Ela é um ser humano de luz, ela te ilumina e te faz ficar tão bem. Quando ela me chamou eu fiquei tão feliz, foi muito gostoso. Ela falou tanta coisa linda para mim, que essa música foi inspirada em mulheres como eu. Pluralidade de corpos como mulheres mais velhas, carecas, as padrões. A música me trouxe energia para voltar a dançar pelo convite da rainha da música.
Expressões como plus size, gordinha, tamanhos maiores. A moda parece não saber se expressar direito para atender um público que existe e consome. Definitivamente nos ensina como falar, quais expressões devemos considerar justas, aceitas e simpáticas? Olha, tamanhos maiores eu não acho legal, plus size já faz parte do hábito em falar todavia o jeito certo, a palavra é gorda. Obesidade é para os médicos, pois é um diagnóstico de doença.
Quais são seus planos de carreira para 2025? Um ano novo representa novas oportunidades na carreira? O que podemos esperar de novidades, algo exclusivo para o leitor MENSCH? Vem aí uma nova Thais, de uma forma que ninguém nunca viu, nem faz ideia, é a Thais de sempre em formato diferente. Em janeiro todo mundo vai saber um segredo que vou desvendar da carreira, mas o que posso adiantar é que temos três músicas novas até o carnaval.
Thais nos diga sobre a dança, o que ela representa hoje em sua vida? A dança pra mim é meu ar, minha vida, ela me deu a possibilidade de ser uma mulher empoderada, ser quem eu quero ser de fato, ela é tudo que eu me tornei. Eu transformei a opinião das pessoas por eu ser gorda, eu consegui através da dança, eu rompi através da dança. Eu me tornei uma mulher que conquistou todo meu império através da dança.
Nossa entrevista acontece praticamente na véspera do Natal, quais são seus planos para este feriado tão familiar? Ficar em casa com a família, aproveitar o tempo para cozinhar junto com as meninas. Priorizar a família, faremos biscoitinhos para deixar para o Papai Noel com uma cartinha. Tudo muito lúdico para elas entenderem que o Natal é uma fantasia gostosa.
Fotos Marcos Duarte
Make Sandro Barreto
Edição de moda Dudu Farias