O cuiabano William Marques é um cara de sucesso com uma trajetória brilhante e inspiradora. Não é à toa que ele está aqui nessa capa. Mas para quem olha assim pode achar que foi tudo muito fácil. Total engano. Vindo de uma família humilde, criado por uma mãe batalhadora e guerreira, William teve o principal para ser quem hoje ele é: educação e muito amor. Cursou duas faculdades, de Direito integralmente e Medicina, até o sexto período. Fez curso de teatro e hoje é habilitado com DRT expedido no Rio de Janeiro, chegou a trabalhar como modelo em São Paulo. Atualmente é Diretor Vice-presidente da Rio Trilhos – empresa estadual responsável pelo Metrô do Rio de Janeiro, – , atuando como administrador público. Nesse Carnaval faz sua estreia desfilando como destaque em duas escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, Acadêmicos do Grande Rio, onde será semi-destaque do carro três com a fantasia ‘Tesouro dos Deuses Incas’, e na Mocidade Independente de Padre Miguel na qual será Destaque Principal do Segundo carro – “Tupiniquim Caju Fruit Company – Um Quiprocó! Virou Guerra Assumida”, com a fantasia ‘Delícia Nativa’, representando o líder dos indígenas Tupys. Diagnosticado recentemente com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) vem aprendendo a entender melhor e lidar com esta deficiência. A MENSCH conversou com William para conhecer um pouco mais de tudo isso que faz dele um super vencedor.
William, da infância pobre até a graduação em Direito e Medicina. Se considera um vencedor até aqui? O que foi mais difícil nessa trajetória? Me considero um super vencedor sim. O mais difícil foi o preconceito que sempre sofri por conta da minha realidade social e da minha cor. O olhar das pessoas me penetrava como se estivessem me questionando como eu podia estar ali, principalmente, na faculdade de Medicina no Rio de Janeiro.
Pelo que soubemos da sua história, sua mãe é uma referência de mulher guerreira. Qual a importância da família para você? A família é o alicerce de todo o ser humano. É a nossa primeira referência. Fui criado pela minha mãe, uma mulher honesta, destemida, e de personalidade forte, com quem aprendi todos esses valores, sobretudo, a enfrentar as dificuldades e a ser resiliente.
Que recordações e influências você traz do período em que morou no Paraguai? Bem, foi onde conheci minha esposa e fiz amigos queridos. Além disso, o povo paraguaio me influenciou positivamente pois são extremamente receptivos, acolhedores, respeitosos e festeiros, principalmente, com os brasileiros.
Como a Medicina te conquistou ao ponto de cursar alguns períodos? Ainda pensa em atuar na área? Ou põe em prática algum ensinamento? Sempre gostei de cuidar das pessoas, além de ser muito observador, habilidoso e amar a estética. Mas, por enquanto, não penso em retornar, pois o fato de ter recomeçado aqui no Brasil no primeiro ano, pois não validaram os três anos que cursei no Paraguai, me desmotivou. De qualquer forma, aprendi muitas coisas, em especial, anatomia, primeiros socorros e curativos, que às vezes ponho em prática no âmbito familiar.
Atualmente você é Diretor Vice-presidente da RioTrilhos. Quais os principais desafios enfrentados e como lida com eles? Bem, ser gestor de uma grande empresa sempre é um desafio, em especial, no Brasil, onde temos que estar muito atentos para não permitir que aconteçam abusos e/ou ilegalidades. Além disso, o fato de ser jovem, às vezes, também é motivo de preconceito porque, infelizmente, algumas pessoas não acreditam na nossa competência. A melhor maneira de lidar com isso é desempenhando o meu trabalho com eficiência e entregando resultados, como venho fazendo.
Profissionalmente você se sente realizado? E onde se sente mais desafiado no trabalho? Ainda não. Na verdade, a arte sempre foi a minha “menina dos olhos”. Então, ser um burocrata ainda é desafiador pra mim.
Esse ano o Carnaval terá um gostinho especial para você com sua estreia como destaque em duas escolas, a Grande Rio e a Mocidade Independente de Padre Miguel. Como surgiram os convites e como está sua expectativa? As escolas estavam em busca de homens com o meu perfil, sobretudo, a Mocidade, que buscava um homem com porte e biotipo indígena para ser destaque da alegoria 2. E, daí, fui apresentado aos respectivos carnavalescos, Gabriel (da Grande Rio) e Marcus (da Mocidade) que, imediatamente, me convidaram.
Na Mocidade você vem com a fantasia Delicia Nativa, representando o líder dos indígenas Tupys. Que importância tem essa representatividade para você? Os povos indígenas representam a origem da nação brasileira. Especificamente, em relação às tribos tupis, seus antepassados saíram há milênios do centro amazônico, expandiram-se ao norte do Rio Amazonas, ao sul pelo Paraguai, a leste pelo Tocantins e a oeste pelo Rio Madeira. Porém, os tupis são apenas aqueles que migraram para o leste e habitavam o litoral brasileiro, desde a costa paulista até o Ceará, muito antes da chegada de Cabral. Por isso, me sinto honrado em representar a liderança dessa tribo que muito contribuiu para o desenvolvimento do Brasil, em especial, na agricultura.
E como estão os preparativos para segurar o fôlego nesses dois dias de desfiles? Olha, bem intensos, (risos), apesar de ter uma boa resistência, principalmente, porque nunca fumei e não bebo. De qualquer forma, venho me preparando física e mentalmente. Minha médica, Dra. Heloísa Rocha, cuida da minha saúde há algum tempo. Além disso, malho todos os dias, cuido da minha aparência e também tenho feito aulas de samba com o professor Luís Fernando.
Ao descobrir o TDAH o que mudou na sua vida? Tudo. Ao mesmo tempo que foi um alívio, tive que me reconstruir porque, antes de saber do TDAH, além de ser muito criticado por ser muito desatento e impulsivo, eu achava que eu não era capaz, devido as minhas dificuldades de aprendizado, de memória e de atenção. E, hoje, sei que não é nada disso, pois, na verdade, o que acontece é que o cérebro de quem tem TDAH precisa de condições diferenciadas para que possa funcionar da mesma forma que os outros que não possuem essa deficiência. Não tem nada a ver com capacidade ou inteligência. Não é ser menos, mas apenas diferente.
Quem é William Marques hoje? O que deseja? O William de hoje é um homem resiliente, maduro, consciente das suas potencialidades. Intenso, verdadeiro e com muita sede de alcançar seus objetivos para provar que nada é um obstáculo quando temos fé e persistência para conquistarmos aquilo que desejamos. Meu desejo é poder viver com dignidade e respeito, principalmente, ser exemplo de que podemos ser o que quisermos , independentemente de classe social, econômica, cor, gênero, religião ou idade.
Quais os planos para depois do Carnaval? O que vem por ai em 2024? Bem, ajudar as pessoas, continuar trabalhando a minha imagem e quem sabe entrar num reality!
