CAPA: THIAGO THOMÉ, ELI FERREIRA E RONALD SOTTO – NEW BLACK POWER

Sabemos que ainda existe uma carência de atores e papeis de destaque com negros. O cenário está mudando, os costumes e a forma de encarar tudo isso também. Pensando nisso convidamos três jovens talentos da dramaturgia que estão dando o que falar e que representam bem esse momento de mudança e reflexão. Thiago Thomé, Eli Ferreira e Ronald Sotto, são uma promessa real de mudança e de novos ares na arte de interpretar. Thomé está no ar como Adriano em “A Dona do Pedaço’, Eli acabou de participar de “Órfãos da Terra”, e Ronald tem sido um dos destaques da atual temporada de “Malhação”. Como disse Thiago durante a entrevista: “quando os papéis não tiverem mais cores, aí sim teremos um avanço significativo, um personagem branco não vem escrito que ele é branco o negro sim.” Que venham muitos outros atores incríveis e papeis diversos. E além disso, igualdade para todos. Afinal o talento e a emoção não tem cor.

THIAGO

Thiago, outra novela de Walcyr Carrasco no horário nobre. Como surgiu o convite e como tem sido participar de “A Dona do Pedaço”? Então o convite partiu do Walcyr e chegou até mim pelo produtor de elenco da novela Guilherme Gobbi.

Na trama você interpreta um personal trainer. Esse universo de academia já faz parte da sua rotina? Fez algum laboratório para isso? Mudei meu compor para viver o Radu em “O Outro Lado do Paraíso” e mantive, aí quando surgiu o convite pra fazer o Adriano eu só intensifiquei os treinos e prestei mais atenção na postura dos professores.

Você acha que ainda faltam papeis para negros nas tramas brasileiras? Ainda existe esse défice? Estamos avançando nesse aspecto, mas ainda tem muito pra ajustar, quando os papéis não tiverem mais cores, aí sim teremos um avanço significativo, um personagem branco não vem escrito que ele é branco o negro sim.

Como tem sido a repercussão desse novo trabalho? Muito bom, as pessoas fazem o link entre os outros personagens e esse agora e elogiam o crescimento.

Onde procura se inspirar? O que te provoca a criar a forma de atuar? Praticamente tudo, sou observador e tudo me inspira, cada personagem é único e dependendo do personagem eu busco um caminho.

E na hora de relaxar, o que faz sua cabeça? Meu violão ou meditação.

Fazendo um personagem que é um personal te instigou a frequentar mais academia? Eu já frequento bastante pra manter a forma, o Adriano só me fez observar mais o modo do trabalho dos professores.

Como lida com a vaidade? Gosto de me cuidar, faz bem.

O que te atrai em outra pessoa para querer conhecer melhor? Honestidade.

E o que te conquista? Ser de verdade.

 

ELI

Eli você acabou de participar de “Órfãos da Terra”, como foi a experiência? O que te trouxe de novo além do sotaque francês? Um mundo de possibilidades, mas principalmente conhecer a fundo a cultura Congolesa. Conhecer os costumes, as músicas… A comida… Eu sou taurina, então, o paladar é fundamental (risos), e a comida é uma cultura de cada povo. Esse contato direto com congoleses, com a cultura no modo geral só me agregou pra vida mesmo.

O quanto foi importante para você levar o assunto dos refugiados para o grande público? A gente pôde conhecer melhor o que as pessoas em situação de refúgio passam. Foi bom saber que eu estava inserida numa obra que veio pra mostrar, dar nomes à essas pessoas e desmistificar diversas coisas e quebrar preconceitos. Ouvir das pessoas na rua: “Ah, eu não sabia o que Eles passavam… Não sabia que era assim…”, foi bom por ver que uma novela num veículo tão importante como é a TV no nosso país, estava fazendo um papel social também e é nessa arte que eu acredito. Na real, arte, pra mim é isso.

Fora isso tiveram outras questões levantadas na novela como preconceito, racismo e diferenças sociais. Como foi para você como atriz e cidadã ver esses assuntos sendo abordados? Sentiu falta de se aprofundar em algo? Eu não, não senti falta. Acho que tivemos diversas questões levantadas, quem acompanhou um pouco a novela percebeu que as autoras passearam por diversos universos, isso fez com que atingisse muita gente.

Esse papel parece ter sido bem diferente de tudo que você já tinha feito. O que te desafia como atriz? O que você busca a cada novo trabalho? É, na TV sim. Marie foi minha segunda personagem em uma novela inteira e ao todo, a 6ª, e foi uma delícia. Sem dúvida a mais diferente de todas. E é extremamente isso que me desafia. Ser uma completamente diferente da outra, buscar caminhos, pesquisar o corpo, a voz a personalidade da personagem. Pensar nas cores dela. Eu gosto de poder ver diferença entre elas. E quando elas trazem consigo, histórias fortes, verdadeiras, com peso emocional é ainda mais gostoso. Quando a personagem é escrita com nuances e várias possibilidades em uma só. Acho que todo artista sempre quer um personagem que transmita, que represente pessoas reais por que elas vão se identificar de alguma forma e isso gera empatia.

E na hora de relaxar, o que faz sua cabeça? Praia num dia tranquilo, sem dúvida. Praia, trilha…família, amigos, cantar e quando dá, viajar (risos)!

Você é uma negra linda. Que cuidados procura ter? Tende à puxar algo para o lado étnico no seu visual? Obrigada! Podemos reformular essa pergunta para: Você é uma *mulher* linda, (risos). Não queremos ouvir um “… Negra linda”, por que ninguém fala “Branca linda”, acredito que seja algo que podemos falar também, sobre repensar nossas colocações (e aprendermos juntos), que muitas vezes são inconscientes mas à todo momento que são proferidas à nós, fere. Meus cuidados são básicos, nunca me preocupei muito além. Hidratantes, protetor, agua micelar. O que mudou este ano foi que incluí a vitamina C pra pele e tenho amado. Eu uso de tudo. O tom da minha pele e meu estilo e personalidade me permitem usar tudo e todas as cores. Gosto de estampas, turbantes, jeans, social… Gosto da mistura entre esses estilos. Depende do dia, acho que toda mulher é um pouco assim nosso estilo depende do dia. Dependendo do meu dia, dos compromissos… Da energia. A gente se veste de acordo e isso é liberdade também, não me definir numa linha mas sim, seguir várias.

Como lida com a vaidade? Vou na minha medida. Não me deixo levar por tendências, por que está em alta ou o que dizem combinar melhor pra mim. Sempre fui assim pra tudo, roupa, estética e corpo nunca segui moda, aliás, muitas vezes o que tá na moda eu até evito e nem consumo.

O que te atrai em outra pessoa para querer conhecer melhor? Depende muito, meus namorados foram bem diferentes um do outro, mas se posso apontar algo em comum foi a dedicação pra me conquistar, precisa querer MUITO e ter paciência por que eu não ajudo. E não por “me fazer de difícil”, mas por que sou mesmo e quem me conhece sabe bem. É ótimo por que espanto os curiosos.

E o que te conquista? Clichê, mas o caráter.

Quais os planos agora depois desse trabalho? Algo em vista? Eu tenho estudado bastante, coisas que vão agregar à minha profissão. Voltei para as aulas de canto, estou estudando inglês e até natação por que eu não sabia nadar. E estou movimentando dois projetos pessoais e estou amando esse momento.

RONALD

Ronald, como foi a estreia na TV, muito frio na barriga? E agora que está já há algum tempo no ar, passou a tensão? Como tem sido esse início? Então minha estreia foi perfeita, Eu estava muito nervoso. Mas o meu diretor me deixou muito a vontade que as coisas fluíram. Quanto ao frio na barriga sinto todas as vezes que estou sem cena, to mais confiante mas o friozinho ainda continua.

Como foi o processo até você receber o convite oficial para estrear em “Malhação”? Recebi o convite para fazer um teste de improviso na empresa e não estava com muita esperança pelo fato de nunca ter trabalhado na área. Mas fiz e no dia do meu aniversário recebi a melhor notícia da minha vida. Que eu ia dar a uma a um personagem na malhação.

Na trama você é um MC que não aceita a homossexualidade do irmão. Como você enxerga isso e o que tem aprendido com esse trabalho? O camelo é um personagem com muitas possibilidades e logo vai mudar sua postura. Sua história só reforça a ideia de que é preciso respeitar as diferenças.

Como tem sido a repercussão do seu personagem Camilo? O assédio aumentou muito? Ahhh, eu tenho recebido muitos carinhos das pessoas na rua e nas redes sociais. Eu tenho até fã clube.

Você está sempre presente nas redes sociais. Como lida com isso? Alguém te ajuda a administrar isso ou você se vira só? Sim. Tenho uma relação tranquila com as pessoas e respondo sempre que posso. Faço isso sem nenhuma ajuda.

E na hora de relaxar, o que faz sua cabeça? Procuro estar sempre com meus amigos e família.

Pratica esporte? Como cuida do corpo? Sim, faço Crossfit. Gosto de ir à praia pega um pouco de sol.

Como lida com a vaidade? Tenho uma relação saudável com a minha vaidade. Cabelo cortado, dentes limpos, cheiroso e sempre dentro do meu estilo despojado.

O que te atrai em outra pessoa para querer conhecer melhor? Ver a simplicidade em outra pessoa é uma coisa que me atrai. Sou um cara simples e admiro um sorriso e um olhar sincero.

E o que te conquista? Companheirismo e liberdade.

Fotos Márcio Farias  /  Styling André Moraes  /  Beleza Elcides Freitas  /  Studio Mariana Salles