Há quase oitenta anos produzindo carros esportivos e de luxo, a Jaguar é o ícone de uma geração de construtores que inventaram uma categoria e redefinem os conceitos de carros que conhecemos. Esqueça o carro popular nacional rebaixado, com rodas largas e cromadas, escapamento barulhento e frisos reluzentes. Não, este não é um carro esportivo. Passa longe, aliás. Os esportivos são outra categoria, legítimos puros sangue do automobilismo, que construíram reputação e história ao longo de décadas. Como o Jaguar, a cereja do bolo desses cobiçados automóveis. Motor, design, dirigibilidade montados em um english style inconfundível, que acompanham o primeiro ministro britânico e o não menos famoso agente 007.
Já que o futebol, que é invenção inglesa, foi apropriada por nós brasileiros, restou aos britânicos levarem seus filhos para corridas de automóveis aos domingos, em vez de a parques para jogar bola. Daí talvez essa paixão pelos motores e pelas corridas tenha feito a indústria dos carros esportivos de luxo ter se desenvolvido tão fortemente naquele país, com destaque absoluto para a história do Jaguar.
Mas como essa história começou? Tudo remonta aos anos vinte, quando William Lyons e William Walmsley fundaram a Swallow Sidecar Company, para produzir aqueles carrinhos acoplados a motocicletas. Mas a empresa logo viu o potencial do mercado automobilístico e já nos anos 30 já fabricava seus lendários modelos SS. Lendários porque a Jaguar, que na época ainda não tinha esse nome, soube antever o que as pessoas de fato queriam em um carro: qualidade e performance. Para William Lyons isso era incompatível com o modelo de negócios vigente, em que empresas construtoras de carrocerias compravam chassis de outros fabricantes e montavam o veículo. Era necessário desenvolver o carro por inteiro, com conceitos inovadores de engenharia. Nasceram assim o SS-1 e vários outros modelos que marcaram a história da Jaguar. E se Ford criou a linha de produção com carros padronizados e Lyons, os modelos esportivos exclusivos, uma coisa tinham em comum: o preço baixo dos veículos. Carros inovadores que poderiam ser vendidos por até mil libras custavam menos da metade disso. Um feito e tanto.
Como tudo na Europa, a Segunda Guerra mudou muita coisa. A SS concentrou sua produção nos sidecars para motos e, ao final do conflito, precisou mudar de nome, pois a sigla era associada negativamente à terrível seção nazista do exército alemão. Nascia assim a Jaguar, nome do felino predador solitário, sinônimo de potência, beleza e robustez. Esse nome veio do modelo SS 100, que, para se diferenciar dos concorrentes, ganhara o nome do poderoso animal. Outro fato inovador na história da empresa foi a noção do trabalho de relações públicas. A cada lançamento, a imprensa era reunida em um lobby de hotel para apreciar o novo modelo da Jaguar, além das apresentações regulares nos Salões do Automóvel.
A fama não se construía apenas nas páginas dos jornais. Motores potentes são sinônimos de corridas, certo? Então, não tardou para a Jaguar entrar nas corridas, numa época quem que terminar a competição era tão difícil quanto ganhá-la. Durabilidade em carros de corrida foi um problema só resolvido com alguma eficiência neste novo milênio, e a Jaguar surpreendeu a fazer um primeiro, segundo e quarto lugares com seus carros em sua estreia na tradicional e competitiva corrida de Les Mans em 1953. Era o lançamento do C-Type, que daria mais quatro vitórias à marca naquela década. E essa história continua. Corridas de automóveis são o palco maior para as marcas esportivas apresentarem seus modelos e testarem a performance ao limite. A Jaguar, de 1999 a 2004, até se aventurou na Fórmula 1, a categoria máxima do automobilismo, contando com pilotos brasileiros, como Luciano Burti e Antônio Pizzonia (em 2004 a equipe foi vendida para a Red Bull, que hoje é tricampeã de construtores e pilotos na categoria, com Sebastian Vettel).
Mas o automobilismo é apenas a grande vitrine para o que realmente interessa: construir carros esportivos de luxo para as estradas e ruas. E isso a Jaguar vem fazendo com excelência há quase oito décadas. Do SS-1 dos anos 30 ao F-Type atual, a marca passou por eras de evoluções e design, tecnologia, potência e, por que não, conceitos. O pós-guerra trouxe o conceito de precisão militar e o conversível de dois lugares XK-120, com a até então inédita potência de 160CV e conceitos construtivos absorvidos da Royal Air Force. A evolução da marca e do mercado abriu novas oportunidades, com a criação de modelos de carrocerias longas e curtas, além dos consagrados esportivos. O estilo Jaguar aportara em diversos momentos da vida moderna.
A década de 60 trouxe o estrondoso sucesso do E-Type, o esportivo mais famoso de todos os tempos. Foram produzidas 70 mil unidades em 13 anos, um sucesso de vendas e de crítica. Talvez o carro mais belo de sua época, ele foi adotado por celebridades como Steve McQueen, Brigitte Bardot e George Best. Cinco décadas após o seu lançamento, o E-Type continua causando espanto por antever uma era e ter marcado tão fortemente a virada de um estilo de fabricação de carros esportivos. Hoje, se você quer luxo, sofisticação e desempenho, a Jaguar lhe oferece a linha de coupés XK, com quatro poderosos modelos. Na linha de frente do mercado brasileiro e também mundial, está o Jaguar XF, que veio substituir nas fábricas o S-Type. São 13 diferentes configurações para os modelos Sallon e Sportbrake.
Se você acha que para por aí, se enganou. A mesma astúcia que fez a Jaguar dar um ponto de virada nos modelos esportivos nos anos 50 ainda continua de pé. Na fábrica, os concept cars anteveem o futuro da categoria. Os modelos C-X75, C-X16 e C-X17 são a imaginação do futuro da Jaguar, ou, como a própria fábrica diz: “nós nos desafiamos a usar tecnologias avançadas, extraordinário design thinking, sustentabilidade e performance superior, tudo a serviço de quem vai dirigir”. Esses protótipos são que de mais moderno há e antecipam o que os apaixonados por carros desportivos podem esperar nos próximos anos. Aí é só exercitar a imaginação e a paciência para aguardar o que a Jaguar vai nos brindar num futuro próximo.
Coisa de Cinema – Em tempos de um mundo globalizado, porém, a Jaguar conserva seu estilo inglês de produzir carros esportivos, mesmo já tendo sido vendida aos americanos da Ford e hoje sendo controlada pelos indianos da Tata Motors. Essa realidade exige novas plataformas globais de marketing, tornando o cinema um excelente veículo de comunicação para o lançamento de carros. E nada mais com cara de britânico do que James Bond, o agente secreto a serviço da rainha. Em Operação Skyfall (2012), o 007 dirigiu o Jaguar XJ-L, com motor 3.0 V6 Turbo, que gera 340 hp de força, o suficiente para ajudá-lo no cumprimento de suas arriscadas missões. Essa não foi, contudo, a primeira aparição de um Jaguar num dos filmes do agente. Mas a última vez tinha sido em 2002, no filme Um novo dia para morrer, em que Pierce Brosnan, o 007 da época, tinha muito trabalho pra perseguir o vilão, que estava a bordo de um modelo conversível XKR.
Você sabe o que Ridley Scott (Blade Runner, 1492), Damian Lewis (Band of Brothers, Homeland) e a cantora indie Lana Del Rey têm a ver com a história do Jaguar? Pois é, a montadora inglesa contratou o famoso diretor de Hollywood para dirigir um curta-metragem para divulgar o modelo F-Type, tendo como protagonista o ator inglês vencedor do prêmio Emmy e do Globo de Ouro, e a talentosa cantora dando uma palhinha com o clipe da música Burning Desire, repleto de imagens do carro. O filme é um drama latino eletrizante, de tirar o fôlego, com o carro assumindo um lugar chave na trama. Ah, ele se chama Desire. Bem sugestivo e a cara desse superlançamento da Jaguar.
Você pode conferir o filme Desire e o clipe de Lana Del Rey a baixo:
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