ENTREVISTA: Daniel Del Sarto vive um momento de criação e inspiração na TV, palcos e na música

Músico, ator e um observador do comportamento humano, Daniel Del Sarto vive um momento de muita riqueza cultural e artística atuando em novela, teatro e produzindo CD. O amor pelo que faz dá a ele fôlego suficiente pra encarar de bom humor e muita vontade a correria com tantas atividades em diversas áreas. E talvez sejam essas tantas coisas que o fazem um grande observador das pessoas e seus comportamentos. Conheça as opiniões, pra lá de interessantes sobre o universo masculino e feminino além de um pouco mais do universo de Daniel Del Sarto.

Você começou cantando, depois seguiu carreira de ator e agora retoma a música. Pretende focar na música ou levar as duas carreiras em paralelo? Sim, o começo de tudo foi a música, desde muito cedo. O tesão de cantar, de escolher um repertório e ”fazer um show” pra família no Natal com  8, 9 anos. Pra não virar papagaio, resolvi estudar um instrumento. Foi o violão aos 11. Desde então parceiro inseparável, como a música, são partes fundamentais da minha vida. Por isso não diria que retomo a música agora, ela sempre esteve presente. O processo do primeiro disco, o “Desassossego”, durou 2 anos no total. Este segundo, o que lanço em breve, ainda sem título, tem músicas feitas de 2007 até 2013. Esses dois discos, cada um do seu jeito, são obras depuradas, faixas construídas com meu total envolvimento. Desde pré-produção, gravação de instrumentos no meu estúdio de casa – baixo, guitarra, violões, teclados e programações de bateria eletrônica e samplers – até a finalização, mixagem. Por isso levam períodos longos, que são, aí sim, romanticamente conciliados com cinema, teatro e TV. E os shows, claro. Sem tocar ao vivo eu vou murchando, a alma reclama. Pretendo terminar a novela, que me tomou quase por inteiro desde fevereiro do ano passado e ainda neste primeiro trimestre lançar o disco novo com alguns shows e sair em turnê com a banda. E no final do ano começo a ensaiar espetáculo novo pro teatro.

Você iniciou sua carreira de ator no seriado Sandy e Júnior, trabalhou com o Didi, fez novela, o que aprendeu como ator e pessoa de lá pra cá? Isso na TV, certo? Por que como ator comecei no teatro, bem antes disso. Como ator, na TV, ainda me considero começando. É preciso conciliar a coisa de ”produção em massa” que é uma novela, com uma concentração absoluta. E eu, como ator de teatro e com o lance de tocar ao vivo, sinto muita falta da vibração da plateia, que na TV, a gente nem sabe direito quem é não troca na hora em que faz a cena. Por isso acho desafiador. O teatro me deu muito amor e respeito pelo Palco – com P maiúsculo e como metáfora do espaço onde se procura encontrar a Arte, seja um palco mesmo, seja o cenário da novela, ou um estádio pra um show. Todo dia é aprendizado pro profissional, pro artista e pra pessoa. Mas ainda creio que ser verdadeiro é sempre um bom caminho. Primeiro consigo mesmo, que daí tudo fica mais certo. E olha que é bemmmmm difícil despir tantas máscaras sociais que a gente carrega. Tento seguir uma ideia do Nietzsche que me diz muito: “Torna-te quem tu és!”.

Você também compõe como é o seu processo criativo? No que se inspira? Vejo o lance de compor como se eu fosse uma incubadora das experiências, amores, dores, descobertas, insights, medos, preguiças, desejos, sonhos, meus e de todos que observo e com que convivo. Tudo isso vai germinando, virando retratos musicais, imagens em letras e transmutando em sons. Aí as canções rebentam. A maioria delas sai como improviso – jeito melhor pra enganar o racional que muito atrapalha o criativo – que gravo no telefone ou onde der e depois escuto e transcrevo e burilo.

Além da música e da TV você também está rodando o Brasil com o espetáculo “Mulheres Alteradas”, onde encontra tanto fôlego? (risos) Agora estou com mais fôlego que nunca (risos). Com todo o treinamento e preparação pro Anjo, 10 quilos mais leve e com alguns músculos que nunca tive, (risos) quero mais é peça e show pelo Brasil! Sério, preciso me alimentar a cada 4 horas – sou faminto, tenho metabolismo rápido – dormir bem – o que é muitas vezes um desafio, com tanta ideia e vontade na cabeça – e fazer alguma atividade física e tudo fica mais fácil. Mas a estrada detona muito a saúde, voos eternos, hotéis mil e comidas nem sempre do jeito que se precisa. Por outro lado, alimenta muito o espírito. Amo conhecer gente que vai às minhas peças e shows, escutar o que rola, o que causa, trocar experiências.

 

Em “Mulheres Alteradas” você interpreta vários personagens masculinos no meio de várias mulheres, deu pra entender um pouco mais do universo feminino? Vichiiiiiii!!! (risos) Desde Confissões de Adolescentes, estou eu entre as mulheres. Desde sempre, na verdade, me identifico mais com as mulheres. Mais amigas que amigos, mais a onda do papo, do questionamento, que a do futebol. Entendo muito do universo feminino, sem dúvida. Mas isso não quer dizer em absoluto que aceito ou relevo. Acho que cada um, homem ou mulher, tem que querer se conhecer muito bem, pra depois questionar o outro. Acho que quem se conhece cobra menos e chateia menos o outro.

Onde as mulheres encantam e onde desencantam? Encantam na feminilidade, na leveza dos movimentos, na sexualidade que pulsa até no ajeitar do cabelo. Nas formas maravilhosas do corpo da mulher, no inconsciente cheio de camadas, na delicadeza… humm… em tanta coisa… Desencantam na insatisfação recorrente, no sempre querer o passo adiante. Muitas vezes deixando a naturalidade e a poesia de lado pra engendrar rótulos, roteiros, pra ser dona do impossível. Veja bem, não falo aqui contrário à cumplicidade, à fidelidade – o sexo também ganha muito com a monogamia – nem contrário ao respeito e à construção dos laços, da família. Mas falo das cobranças, da chatice que pesa e da insatisfação que cansa as relações. Acho que isso tem a ver com o órgão mais maravilhoso, o útero. Ele tem sede de procriar, existe pra isso. E, tirando o período da gestação, quando se instala uma serenidade sem igual na mulher, ele clama sempre por realizações, por preenchimentos de tantos anseios, uterinos, emocionais e intelectuais. E daí as TPMs e eteceteras

 

Que qualidade feminina você inveja nas mulheres? ”Só tenho inveja da longevidade dos orgasmos múltiplos” parafraseando Caetano.

E onde elas menos entendem os homens? Deixa a gente livre. Cria seu homem solto. Quem é cachorro não muda por chatice da mulher e quem é príncipe cansa de insegurança. Homem e mulher tem que cuidar da imaturidade, da criança de si mesmo na terapia, análise mesmo. Na relação a gente tem que se apoiar. Admirar o outro e torcer pelo bem. Se tiver isso, tem amor e vai que vai. (mais uma vez: quando escrito parece tão fácil…).

Voltando a música, já usou seu violão para seduzir? (risos) Personalidade, sensibilidade e música seduzem, né?! A mim, sim! O artista, por definição, encanta, mas deve encantar naturalmente.

Você fez várias peças, entre elas o sucesso “Confissões de Adolescente”. O que poderia nos confessar da sua adolescência? Minha adolescência ainda não acabou! (risos) Sério, minha adolescência foi repleta de amores fulminantes, paixões avassaladoras e namoros longos.

Atualmente você está também fazendo novela na Record, tá tendo tempo de descansar? Como se divide entre tantos compromissos sem esquecer do lazer, dos amigos…? Ah, indo ou voltando da gravação pulo no mar, corro na praia, malho na areia. A vantagem de gravar é que rolam dias de folga sempre aleatórios. Aí quando não gravo, tiro o atraso do resto. Não dá pra se programar muito porque estamos sem frente nenhuma. Então não consigo marcar show nesse período. E quando marco eu rezo muito e conto com a sorte!

Como é sua relação com os fãs e com a fama? Disse numa outra resposta, acima, curto muito trocar. Sacar como emociona, como bate pro outro o que eu faço. Curto carinho, sentir que rola uma admiração real pelo meu trabalho, música, etc. E quando a pessoa vem tranquila, com calma, converso, escuto, dou linha. Não curto é falta de educação. Tem gente que aborda de maneira invasiva e ainda usa a frase: ”quem mandou ser famoso, tem que aguentar” Acho que aí tá mais pra inveja que pra admiração, aí não é uma energia boa.

O que vem por aí em 2014? Disco novo, faixas inéditas e uma regravação de Acontecimentos, hit da Marina Lima, artista que adoro e que me influenciou muito quando comecei a tocar e escrever. Anjo ainda apronta muitas em Pecado Mortal. Problemas com drogas, e muita água rolando por debaixo da ponte. Mulheres Alteradas concluindo turnê no Nordeste, Shows com a minha banda ”Del Sarto Eletro Orgânico” e projeto novo para o teatro, no segundo semestre.

Fotos Rodrigo Lopes
Direção Criativa e Stylling Marcia Dornelles – www.mdproducoes.com
Daniel Del Sarto veste Eduardo Guinle
Agradecimentos videomaker Berbel