ENTREVISTA: Gustavo Wabner, o “professor de Carrossel” segue no compasso do seu talento

O desafio de encarar instrumentos musicais e um bando de criança pode ser instigante e ao mesmo tempo assustador para algumas pessoas. Mas não (tanto) para o ator Gustavo Wabner, que encarou o papel de professor Renê na atual versão da novela Carrossel (SBT). Gaúcho de Porto Alegre, Gustavo tem escalado cada passo de sua carreira se descobrindo cada vez mais como ator e com o talento que tem para interpretar personagens ricos, desafiadores e acima de tudo encantadores. Passeando pelo universo lúdico infantil em peças como “O Soldadinho de Chumbo”, Gustavo e sua Trupe Fabulosa vão criando e encarando novos desafios. Conheça um pouco do querido “professor Renê”, que no momento encanta nosso talentoso entrevistado Gustavo Wabner.

Após algumas participações especiais e papéis coadjuvantes, você vive seu primeiro protagonista na novela Carrossel no SBT. Como se sente em relação a esse momento? Comecei a fazer teatro muito jovem, aos 15 anos ainda em Porto Alegre. Tudo o que aconteceu profissionalmente na minha vida  foi muito paulatino, nada foi de uma hora para outra. Um caminho que é necessário trilhar com muita perseverança, descobrindo na prática que a vocação para a carreira de ator é tão importante quanto o talento. Sem dúvida o teatro é minha base, minha casa, foi onde eu comecei e não sei viver sem fazer parte dele. Foi no teatro que tive a honra de trabalhar ao lado de pessoas que sempre foram bússolas importantes, referências de qualidade artística para mim, como Marco Nanini, Pedro Paulo Rangel, Sergio Brito, e diretores como Gabriel Vilella, Gerald Thomas, Naum Alves de Souza e Sérgio Módena. Já fazer televisão é um pouco novo. É muito desafiador e o processo completamente diferente do processo teatral. É muito mais dinâmico, você precisa chegar acertando, não existe tempo para experimentações ou muitos ensaios. Assim como no teatro as oportunidades e os trabalhos em TV também foram chegando aos poucos. Fazer Carrossel no papel que interpretei foi um presente. A novela foi um grande sucesso, e as gravações tinham um clima super gostoso.

Você já estrelou várias campanhas publicitárias. Os comerciais não deixam de ser um desafio pra um ator porque precisa em segundos interpretar e persuadir. Concorda com isso? Eu parei de contar, mas acho que fiz mais de 150 campanhas nacionais e internacionais. Fazer publicidade é uma das possíveis ramificações que sua carreira pode ter, mas é somente uma possibilidade de retorno financeiro. Ninguém faz publicidade por amor à arte, até porque o dia que publicidade for arte, telegrama será literatura. Nenhum artista tem como sonho ou objetivo final ser garoto propaganda de uma loja de departamentos, por exemplo. Sem dúvida fazer  comerciais é desafiador, pode ser prazeroso e resultar em campanhas muito bonitas. É um mercado importante, mas não se constrói uma carreira de credibilidade somente vendendo sabão em pó.

 



Como surgiu a Trupe Fabulosa, sua companhia de teatro no Rio de Janeiro? A Trupe Fabulosa surgiu em 1998 aqui no Rio de Janeiro. Na verdade não somos exatamente uma companhia de teatro, e sim um núcleo formado por três amigos e sócios  que possuem uma grande afinidade artística. Juntamente com Sérgio Módena e Erika Riba, escolhemos, idealizamos os projetos e peças que queremos  montar.  Fazemos parcerias, montamos a equipe, escolhemos o elenco e colocamos nosso teatro na roda. Atualmente estamos em cartaz com  “A Arte da Comédia” de Eduardo Di Fellipo, direção de Sérgio Módena,  com Ricardo Blat, Thelmo Fernandes e um elenco maravilhoso. Estamos indicados em várias categorias nos principais prêmios de teatro do país, muito orgulhosos por isso e já pensando nos próximos textos a serem montados.

Qual a missão da Trupe Fabulosa, o que vocês buscam com ela? Nosso objetivo é ter autonomia artística, não ficar a mercê do mercado, mas acima de tudo é ter a possibilidade de escolhermos bons textos, gerarmos empregos, trabalhar com obras de grandes autores, e viver essa paixão que é o teatro.

Fala do professor Renê, de Carrossel. Como foi a composição dele? Quando recebi o convite para interpretar o Professor Renê, um professor de música multinstrumentista aceitei de imediato. Dias depois me ligaram perguntando se eu tocava algum instrumento. Eu não toco nada e nos cinco primeiros capítulos já havia cenas cantando, tocando piano, teclado, violão e sax. Quase tive um ataque epilético, pois não havia tempo suficiente para aprender a tocar todos. Acabei fazendo uma espécie de workshop para ter alguma propriedade ao manuseá-los Com alguns tive muita facilidade, como com sax, sai tocando na primeira aula, já com violão, nem que eu nasça de novo com três braços vou aprender. Para compor o personagem também busquei algumas referências no cinema, como nos filmes “Ao Mestre com Carinho”, “Sociedade dos Poetas Mortos” e no quase desconhecido e maravilhoso filme iraniano “Todas as Crianças são Especiais”. O resto foi seguir as orientações da direção da novela e seguir minha intuição.


Vida de professor é difícil? (risos) Na ficção a maioria dos personagens ou profissões são um pouco idealizadas. Vida de professor na TV também é assim. Já na realidade a coisa é bem diferente. Venho de uma família tipicamente de classe média onde minha avó trabalhava no magistério, tenho primos,  tios e tias professores e minha irmã mais nova também leciona. É uma vergonha, um descaso a maneira como esta profissão tão fundamental é tratada no Brasil. Salários miseráveis, escolas caindo aos pedaços, professores desestimulados e sem condições de exercer seu ofício com o mínimo de dignidade. Os professores deveriam ser considerados os verdadeiros heróis deste país.

Acredita que na vida real há mulheres como a professora Helena? E professoras como ela? Acredito, claro. É um pouco mais difícil de encontrar, mas mulheres que são lindas, doces, com caráter e também ótimas profissionais existem.

O que uma mulher precisa ter para te chamar atenção? Tanto quanto a beleza duas coisas são fundamentais, inteligência e senso de humor. Sou muito bem humorado e não consigo conviver com pessoas que se levam muito a sério, quem não riem de si mesmas ou das intempéries da vida.

Filmar rodeado de criança é motivador ou cansativo? (criança sempre tem energia sobrando!) É uma delicia, mas também pode ser muito cansativo. Eu tenho a sorte de adorar crianças, quando estou com elas viro uma também, isso facilita muito. Eu tenho um carinho enorme por todas as crianças do elenco da novela, nos damos super bem, mas tinha horas que dava vontade de sair correndo. Eu os chamava carinhosamente de “Gremlins”. Tinha dias que num mesmo momento uma criança chorava, outra caia, uma desaparecia, dois brigavam, outro dormia e assim por diante, uma loucura.

Qual conto infantil te entusiasma mais? Aquele que você gostaria de ter escrito, tamanha admiração? Sou apaixonado pela obra do dinamarquês Hans Christan Andersen, autor de vários contos maravilhosos, como “O Patinho Feio”, “A Pequena Sereia”, “A Pequena Vendedora de Fósforos” etc. Tive o prazer de adaptar em parceria com Sergio Módena dois destes contos para o teatro, “A Roupa Nova do Imperador”, montado pela Trupe Fabulosa e “O Soldadinho de Chumbo” (rebatizado de “O Soldadinho e a Bailarina”), dirigido por Gabriel Vilella e com Luana Piovani como protagonista. Ambos grandes sucessos. Já tenho outra adaptação pronta esperando para sair do forno, que é “O Rouxinol”. No futuro pretendo publicar esta “trilogia” das obras de Andersen para o teatro.

E para ser feliz basta… Ter saúde, família, alguns bons amigos e uma profissão que te dê prazer.

Já tem planos para quando a novela acabar ou é do tipo que deixa a vida levar? Muitos planos, vários projetos principalmente em teatro e tenho o desejo de fazer mais cinema,  uma das minhas paixões. Mas estou sempre aberto às novidades e surpresas que a vida me trouxer.

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