Italiano morando no brasil há muitos anos, Nicola Siri, filho de pai italiano e mãe brasileira, fez sua estreia na TV brasileira na novela “Mulheres Apaixonadas” no papel do Padre Pedro, que até hoje é lembrado pelo público. “O Padre Pedro foi o meu primeiro papel na TV brasileira, numa novela das nove, eu amo o Padre Pedro!”, comento Nicola durante entrevista para a MENSCH. Atualmente ele segue com novo personagem polêmico, e com inspiração religiosa, o Poncio Pilatos. “Li muito sobre o período histórico e sobre o personagem. Assisti a filmes e devorei pela quinta vez “O Mestre e Margarida” de Bulgakov”, comenta o dedicado Nicola. Entre um trabalho e outro, Nicola deixa sua marca de talento desse italiano apaixonado pelo Brasil.
Italianos costumam gostar de moda e serem estilosos. Você é um deles? É ligado em tendências? Eu gosto muito de design e estilo, não sei se gosto tanto da Moda. Ela vai e vem, poucos são os que decidem o que é tendência, o que você tem que usar, e eu sou muito mais democrático!! Sempre construí a minha moda, baseado no que vejo nas obras de arte, no que gosto de vestir, no que me deixa confortável! Era dono do meu closet quando tinha 15 anos, imagina agora com 50…(risos)
O que não pode faltar no seu guarda-roupa? Ternos e chapéus!
O que é um homem de estilo pra você? O que veste o que pensa, o que o agrada, o que o deixa livre para se expressar.
A cultura e vida brasileiras são bem diferentes da italiana. Como foi a adaptação? O que foi mais difícil? Do que sente mais falta? Pra nós europeus o Brasil é o exótico, a música, as férias da sua vida! E pra mim continua assim! Mas no início você tem a sensação da aceitação total, do mundo sorrindo, de ser sempre bem-vindo, de estar no paraíso…e o difícil foi ver que isto é só superficial. No país que escolhi pra viver, sinto falta de investimento na saúde, na educação pública, de ir e vir, igualdade e da legalização do aborto. E de muitos outros direitos previstos na Constituição e que são a base de qualquer país democrático. É disso que sinto falta da Itália, mais civilidade e direitos, que temos por lá. Além da família, amigos e da gastronomia, claro!
A Itália tem uma tradição muito forte com a cultura, preserva e valoriza sua história e tradições. Isso influenciou de alguma forma na sua decisão de seguir a carreira artística? É essencial para a afirmação cultural de um povo que a sociedade valorize sua história e tradições. E eu sem dúvida bebi dessas fontes no meu país e no mundo. A minha carreira tem tudo a ver com Shakespeare, com Goethe, com Pirandello, com Brecht, com Beckett, com Orwell, com Brook e com outros que buscaram realmente fazer algo com a arte…
E o tradicional cinema italiano. Te influenciou de alguma forma? Amo Federico Fellini e Totó! Com certeza influenciaram o meu desejo de ser ator! E o Pier Paolo Pasolini foi o cupido que lançou a flecha quando conheci a minha mulher…
Como é ser ator, viver de arte no Brasil? E na Itália? Ser ator é a melhor profissão do mundo! Você vive bilhões de vidas, de emoções, de situações…tudo de mentirinha!! Viver da Arte é sempre complicado, no Brasil e também na Itália! Lá em Roma eu vivia do Teatro, aqui no Brasil é bem mais difícil…e isto é uma pena. É bom lembrar que a profissão de ator é um trabalho como qualquer outro, e você tem que suar, se esforçar, estudar e se dedicar 24h por dia, para fazer boas cenas e se aprimorar sempre. Eu não sou um ‘famoso’ (profissão que não existe)…eu sou um Ator, um Artista.
Sente falta de trabalhar mais na Itália? Tem planos para isso? Filmei um longa-metragem em agosto de 2017, ‘Quanto Basta’. Adorei! Nem lembrava como era trabalhar na Itália, na minha língua, com gente que entende totalmente o seu excursus histórico, emocional, psicológico e profissional…se eu falo de Fonzie ou de Fantozzi aqui no Brasil ninguém me entende…rs! Eu tenho dupla cidadania, nos projetos sou ponte entre a Itália e o Brasil, e gostaria de ser ainda mais!
Aliás, como surgiu o primeiro convite para trabalhar no Brasil? Conheci na Itália o diretor Luciano Sabino e a Daniela Poggi, da Globo. Quando vim ao Brasil filmar um longa, nos encontramos e ele me indicou para gravar um teste para o arquivo da Globo. Quase dois anos depois a produtora de elenco Ana Margarida Leitão me apresentou para o Ricardo Waddington e Manoel Carlos e eles me escalaram para viver o Padre Pedro.
Padre Pedro, de “Mulheres Apaixonadas”, foi muito marcante. Te incomoda ser lembrado 15 anos depois pelo personagem? O Padre Pedro foi o meu primeiro papel na TV brasileira, numa novela das nove, eu amo o Padre Pedro! Não me incomoda absolutamente o carinho e o amor que o público ainda sente por este personagem!
Agora como Pilatos, em Jesus, você está fazendo um importante nome da história. Como foi a construção/preparação para esse trabalho? Incrível fazer Poncio Pilatos. Li muito sobre o período histórico e sobre o personagem. Assisti a filmes e devorei pela quinta vez “O Mestre e Margarida” de Bulgakov, que fala muito sobre Pilatos e é também o meu livro preferido.
Você fez “Belíssima”, que está sendo reprisada. Fale um pouco desse trabalho, onde você viveu um italiano. Adorei o Cyro Laurenza, italiano, dono da maior agência de modelos de Milão, primeiro marido da Gloria Pires e genro da Fernanda Montenegro…grande sorte, melhor impossível!
Você tem alguma religião? A religião que acredita no ser humano e na humanidade…
Casado com brasileira e com dois filhos nascidos aqui, diante do país em que estamos vivendo, pensa em levar a família para a Itália ou acredita num Brasil melhor? Eu ainda acredito, mas está bem difícil ultimamente. Vejo muitas pessoas alimentando a violência, o preconceito, a intolerância, o racismo, a homofobia, tudo isto me deixa muito triste, penso muito nos meus filhos. Estamos em 2018 e tem gente que quer nos transportar à Idade Média? Aos horrores de Hitler e de Mussolini ou à época bem recente da ditadura que o Brasil viveu? Não dá pra acreditar! Mas a única forma que conheço pra lidar com tudo isto é ficar e exercer a cidadania, lutar pela democracia e por governantes que queiram de fato melhorar nossa política e lutar pelo povo brasileiro!
Além da TV, você tem feito muitos trabalhos no cinema. Fale um pouco do que podemos esperar para te assistir em breve. Em Abril foi lançado o longa-metragem italiano “Quanto Basta”, de Francesco Falaschi, uma comédia divertida e emocionante coproduzida pela Gullane e pela TC Filmes, que pode ser que estreie no Brasil no Festival de Cinema do Rio…estou na torcida! Também filmei em Tucuman o longa “El Diablo Blanco”, filme argentino de Ignacio Rogers, um thriller de suspense muito bacana e pra mim como ator uma grande novidade, que deve estrear no primeiro semestre do 2019. Participei também do filme que abriu o 46° Festival de Gramado, “A Voz do Silêncio”, drama maravilhoso do gênio André Ristum, com Marieta Severo, Arlindo Lopes, Augusto Madeira, Ricardo Merkin e muitos outros atores incríveis, que levou o prêmio de melhor direção e melhor montagem, e vai estrear logo mais em novembro em todos os cinemas brasileiros. Não percam!