ENTREVISTA: O Mr. simpatia Marcos Veras fala sério com muito humor

“Nossa como você é sério!” Disse a moça de uma lanchonete quando Marcos Veras pediu café. Aí a gente se pergunta: comediante tem de fazer o rir o tempo todo? Ser gaiato até na hora de fazer um pedido na lanchonete? É caro leitor a vida não tá fácil nem pra quem faz rir (risos). Pois bem, Marcos Veras trabalha muito e trabalha bem feito, leva a sério fazer comédia e antes de tudo fazer arte. Na TV, no cinema, na rádio, no teatro ele se encontra e se faz. Conheça o lado sério do ator e comediante Marcos Veras. E sim, a gente ri com algumas respostas.

Você nasceu em Castelo, e sua primeira peça foi “A Bela Adormecida”. Se considera um príncipe? Era essa a intenção? (risos) Nunca tinha pensando nisso. Mas tanto no Castelo quanto na Bela Adormecida tem monstro, e eu comecei nesse infantil fazendo quem? O monstro. Fui promovido a príncipe no fim da temporada. (risos)

Você se formou em publicidade, chegou a atuar como publicitário? E a formação em teatro já visava a carreira de humorista ou a veia cômica se mostrou somente ao longo do tempo? Me formei em propaganda e marketing depois de estar formado em teatro, mas nunca exerci. E quando me formei como ator nunca pensei em seguir como comediante. Minha formação é como ator, porém sempre fui fã de todos os programas de humor, via, copiava e representava nas salas de aula, nas festas da família onde já imitava os parentes. Em algum momento a vida se encarrega de escolher um carro-chefe pra você, um cartão de visita, e o meu foi o Humor. Mas acima de tudo sou ator e curto fazer comédia, drama, enfim, representar.

Aí você é comediante e nos encontros de família ou de amigos tem de ser o mais engraçado e contar piadas? (risos) Como é o Marcos Veras quando não está fazendo graça? Como é seu humor? Isso rola muito e no geral o comediante não gosta de ser engraçado quando pedem pra ele ser engraçado, principalmente quando está fora de serviço. A graça é uma coisa natural que vem a determinada situação vivida naquele momento. Já cheguei numa lanchonete e pedi um café e a balconista disse “Nossa como você é sério!” Como será que ela pensou que eu fosse pedir um café? Imitando o Sílvio Santos? Na vida eu sou muito bem humorado em casa, com os amigos. Eu e Júlia quando saímos pra jantar fora, por exemplo, é só risadas. Sou irônico, mas sou um cara extremamente sério naquilo que faço.

Fazer humor é coisa séria, ainda mais em tempo de “politicamente correto” e patrulhamentos em mídias sociais. Como fazer piada com tantos melindres? É possível? É possível, mas é difícil. Um pé no saco na verdade. Encaretamos demais em todos os sentidos e isso reflete na forma de se fazer humor na forma de se fazer arte em geral. Hoje em dia tudo e todos têm um sindicato, uma organização qualquer pra defender determinada minoria ou maioria pra julgar o que é humor, o que é ofensa. Só que isso não tem filtro e acaba sobrando pros humoristas. As redes sociais são um avanço, gosto e tenho todas. Mas como é uma área muito grande tem muito lixo também. Pessoas falando sem embasamento algum. Mas mesmo dentro de toda essa caretice estamos dando bons passos e trazendo de volta o frescor que o humor precisa ter. “Porta dos Fundos” e “Tá no Ar” estão aí mostrando isso.

No que você costuma achar graça e o que te tira do sério? Acho graça de tudo que a nossa “Porta dos Fundos” faz. Sem corporativismo os textos são ótimos e o nosso elenco é incrível. Recebo uns vídeos no whatsapp que são bem engraçados também. E me tira do sério, campanha eleitoral, Senado, Câmara dos Deputados e promessas.

 

Como você avalia o humor atualmente? O que você curte? Sempre fomos um país movido a humor. Sempre tivemos comediantes incríveis que estão até hoje aí como Jô, Agildo, Silvino. Acho que o humor na TV precisa se renovar, temos poucos programas de humor e os que têm são com fórmulas ultrapassadas e repetidas. Gosto muito do movimento que o “Tá no Ar” está fazendo na Globo, é um passo, é uma vitória da comédia ter um programa que sacaneia a própria Globo. Humor sempre está em alta. Prova disso é que todos os programas de entretenimento, auditório, querem um comediante no seu casting. ‘Esquenta’ tem, ‘Faustão’ tem, eu tô na ‘Fátima’ e por aí vai. Rio na TV aberta hoje com ‘Grande Família’, ‘Programa do Jô’. Na internet sem dúvida o ‘Porta dos Fundos’ que revolucionou o mercado de humor na internet. No cabo gosto de ‘The Big Bang Theory’.

Teatro, rádio, TV… Várias linguagens, formatos e muitas vezes públicos distintos. Encontra alguma dificuldade em atuar em diversos veículos ou tudo flui de forma tranquila pra você? Na verdade são diferentes, mas todos interligados, todos são arte, comunicação, entretenimento. Não encontro nenhuma grande dificuldade porque faço tudo com muita paixão e disciplina e sempre tive como característica passear por várias áreas, ser inquieto. Ser versátil pro artista é fundamental. E gosto de experimentar, não ficar na zona de conforto. O teatro é a casa do ator. No “Encontro com Fátima Bernardes”, por exemplo, sou o responsável pelo humor, mas ali sou mais comunicador que comediante. E essa não rotina é o que me instiga.

Como é o processo criativo de um personagem humorístico? Cada ator tem o seu. Todo ator é um observador. O comediante acho que é o dobro porque ele pensa sempre torto, debochado, vai sempre pro lado do absurdo pra aquilo virar comédia. E a partir desse absurdo chega um corpo, uma voz, um ritmo para esse personagem.

 

Atualmente você está no Encontro com Fátima Bernardes, Porta dos Fundos, no teatro com “Falando a Veras” e “Atreva-se”, além de estar estreando no cinema com 4 filmes e ser um homem casado que tem de dar atenção à esposa. Como consegue fazer tudo isso rindo e fazendo rir? Ufa, pois é. Ainda tenho um programa na Nativa FM só meu todo sábado com música, entrevista e humor! Fazer o que gosta é essencial. Você fica cansado, mas é um cansaço diferente, uma mistura de prazer e estafa (risos). E Júlia, minha esposa, além de uma atriz incrível é uma mulher maravilhosa. Somos parceiros e cúmplices e isso ajuda na nossa convivência. Ela também trabalha muito então a admiração e compreensão é mútua.

O bom humor já te ajudou na hora da conquista? Realmente as mulheres gostam de homens que a fazem rir? Sem sombra de dúvida. Não sei se isso tem comprovação científica, mas na prática é assim. Mulher gosta de homem que a faz rir. Não pode ser bobalhão, gaiato. Tem que ser engraçado na medida certa. E sempre usei o humor como arma de sedução. Desde meus 6 anos de idade, ops, quero dizer desde os 13 anos de idade.

Uma vez que o trabalho do ator passa a ser mais exposto, mais divulgado as críticas vão surgindo, umas construtivas outras depreciativas, como lida com o que vem do público e da crítica? Lido super bem com os dois tipos de crítica. Meu saldo graças a Deus é positivo. Tenho recebido melhores críticas do que depreciativas, que vem na maioria das vezes mais das redes sociais. Mas é isso, quanto mais aparece mais sujeito a botar a cara pra bater. Estão batendo pouco.

Você é do tipo que ri de si mesmo? Sempre. Primeira regra da comédia. Ria de si mesmo antes de rir do outro ou de fazer rir.

Seus sonhos artísticos já se realizaram? Algum que você pode citar? Me considero sim um cara realizado, sou um cara de sorte. Tenho bons trabalhos, faço o que gosto. Sou cercado de pessoas legais. Mas é claro que o nosso combustível pra viver é o trabalho e ultimamente estou experimentando o cinema que é a minha paixão atual. Fiz o “Copa de Elite”, meu primeiro filme já como protagonista que estreou esse ano.  Depois disso já estou indo pro meu quarto longa, inclusive um deles “A Estrada do Diabo” de André Moraes com Débora Secco, Júlio Andrade e Lúcio Mauro Filho e que estreia no fim do ano, onde vivo um vilão pela primeira vez, um cara sem escrúpulos, sem espaço nenhum pra comédia. E esse mês comecei a rodar um filme com Porchat chamado “Entre Abelhas” com a direção do Ian SBF diretor do “Porta dos Fundos”. É uma tragicomédia. Então as pessoas vão me ver num tipo de trabalho diferente do que elas estão acostumadas a ver.  Além disso pretendo apresentar um programa meu na TV, fazer série, peça nova.