ESTILO: GEFFERSON VILA NOVA – MASCULINO EM EXPANSÃO COM BRASILIDADE

Por Ivan Reis

Um dos nomes promissores na moda masculina feita no Brasil está ganhando asas e conhecendo novos territórios. Trazendo elementos de peças casuais e alfaiataria contemporânea, Gefferson Vila Nova criou sua marca em 2013, em Salvador, com o compromisso de ter um estilo único e universal. Camisetas, calças e jaquetas marcam presença fora do país e levam a assinatura do streetwear made in Bahia.

Em sua quarta participação na São Paulo Fashion Week 2024, a Gefferson Vila Nova Label apresentou a coleção Amore com peças que e incorporaram influências da viagem recente do designer à Costa Amalfitana, na Itália. O local o reconectou artisticamente às suas raízes baianas e brasileiras. As criações refletem a leveza, o movimento e a liberdade do verão ao trazer o universo marítimo, cítrico e refrescante das altas temperaturas para a passarela.

Em entrevista exclusiva à MENSCH, e a poucos minutos de seu desfile na semana de moda paulista, o estilista baiano contou um pouco sobre sua trajetória no mercado fashion, a internacionalização da marca que conquistou o circuito europeu com peças esperadas (e já esgotadas!) nos últimos meses, além dos próximos planos da etiqueta brasileira.

Qual é a sensação de mostrar uma coleção em uma semana de moda? A sensação é como da primeira vez, e acho que sempre vai ser a mesma. Percebemos que é diferente da primeira em alguns aspectos porque as coisas estão em tamanho e proporção bem maiores do que na primeira vez, tanto profissionalmente como em questão de mídia sobre o meu trabalho. Mas a ansiedade permanece. Você acredita que está tudo certo, mas acha que vai dar tudo errado e, depois, se acalma e percebe que vai dar certo. Aparecem os probleminhas de sempre, mas ainda acreditamos que estão acontecendo mais dessa vez. Enfim, a sensação é uma mistura de ansiedade com satisfação. Acho muito importante estar em uma semana de moda; é o momento que você tem para mostrar a sua coleção, o seu trabalho e, dessa forma, firmar a identidade da sua marca.

Desde coleções passadas – como Coração Tropical e Jornada -, as viagens voltam a lhe inspirar nessa temporada que traz referências italianas para o verão brasileiro. O que as viagens representam no seu processo criativo? Eu acredito que criação envolve muitas sensações. Já me perguntaram se eu tinha planejado fazer uma coleção inspirada na Itália. Respondi que imaginava, mas não tinha desenhado um esboço. Nesse processo, tudo veio a calhar com a identidade. Já conhecia a Itália, mas não a costa do país. Quando estive na região, eu bati o martelo com a paleta de cores, a textura e a luz. É muito mais de sensação do que uma peça em si, sabe? Eu fiz exatamente isso nessa coleção. Por isso, eu a batizei com o nome de Amore, que é muito relacionado ao sentimento de como você vai receber isso e eu recebo isso. Assim, eu posso citar [a coleção] Jornada que também é uma questão de lembrança. Eu acredito que Amore traz a sensação do que ficou no imaginário da viagem que posso proporcionar ao cliente através dessa roupa.

Você também é conhecido pelo streetwear made in Bahia. Em se tratando de modelagens, estampas e cores, o que mais lhe define em suas criações? Eu gosto – e sempre gostei – de trabalhar com elementos do sportswear, desde que estava em outras marcas, como assistente. Gosto de misturar tecidos que não são tecnológicos, que não são habituais do estilo esportivo para fazer roupa com um estilo sportswear. Assim, eu consigo ter esse casamento de uma roupa que está nesse universo do esporte, nessa casualidade, mas propõe momentos de sofisticação. Essa roupa consegue transitar entre momentos descontraídos com aqueles mais sofisticados. Dependendo do estilo da pessoa, é possível usar um look da minha marca para ir a um casamento, em ocasiões mais formais, e que casa com a identidade de quem a usa. Eu sempre vou trazer elementos do sportswear para a alfaiataria. É uma característica pessoal e que desenvolvi para a marca.

A Gefferson Vila Nova Label inaugurou, recentemente, o seu primeiro ponto de venda em Lisboa. Como está sendo o processo de internacionalização da marca? As pessoas estão achando que abri uma loja, mas, tenho um corner (espaço) em uma multimarca que me procurou. A equipe da loja namora a marca desde quando desfilamos na Casa de Criadores [evento dedicado à moda brasileira e lançador de novos talentos]. Havia questões aduaneiras que tiveram que ser resolvidas. Tudo foi acertado e eles compraram parte da coleção Jornada [apresentada na 57º edição da São Paulo Fashion Week]. O público da loja já esperava a marca. Foi só resolver essas questões burocráticas para que pudéssemos começar a trabalhar com exportação. O lançamento foi um sucesso. O produto já chegou esgotado na loja e fizemos reposição. Eles estão ansiosos para ver as peças da nova coleção. Foi muito bom ver que o meu trabalho está sendo reconhecido internacionalmente. Tenho clientes da Dinamarca, Estados Unidos, Alemanha e Portugal que compram minhas roupas. O curioso é que a diferença entre o cliente internacional e o brasileiro é que os produtos com uma linguagem mais vanguardista, são mais acessados e solicitados.

Qual é o perfil do homem contemporâneo que consome moda? Eu comecei com a minha marca fazendo masculino em 2021 e percebo algumas questões no homem contemporâneo, tanto heterossexual quanto gay. No início da marca, eu ouvia muito das pessoas não gays que os comprimentos dos meus shorts só eram para homens gays e tudo se mostrou ao contrário. Eu vendo para homens gays e héteros que amam shorts curtos. O que eu percebo é que o masculino é carente de uma roupa mais fashion, sabe? Eles ficam impressionados, consomem muito a camisaria, a calça, o shape e gostam do que a marca propõe. Percebo que é um público que existe e muito carente do que o mercado proporciona. Eu consigo oferecer um produto de alto padrão com preço acessível em comparação às marcas de luxo em que você poderia comprar com um design mais arrojado. Eu ofereço um design arrojado com preço acessível. A minha roupa é preço de Zara [loja fast fashion], e não é cara – é acessível.

O que podemos esperar da marca para os próximos anos? Acredito que a marca vem crescendo gradativamente. Eu até falei para o meu assistente “Nossa, você está tão magrinho”, mas não que não fosse. “Tudo é um passo de cada vez”, eu disse. Tudo o que eu apresentei antes era aquilo que queria apresentar. Hoje, estou apresentando algo e este é o momento certo – uma evolução. Estamos nos preparando para o nosso primeiro ponto de vendas aqui em São Paulo. Será em uma loja multimarcas, mas temos o desejo – e estamos prospectando – de um ponto físico próprio na cidade. Existe um público consumidor bem grande da marca que compra pela internet. Acreditamos nessa expansão.