AVENTURA: O ESTRANHO MUNDO DA EXPLORAÇÃO URBANA – URBEX: O FIM DO ABANDONO, O INÍCIO DA AVENTURA

Abandonado no dicionário significa deixado ao abandono, desamparado, desprezado, esquecido. E continuaria assim se não fossem um bando de aventureiros que cansados do “lugar comum” resolveram trazer à tona lugares antes esquecidos e desprezados para serem cenários de muita aventura, adrenalina e imagens incríveis. A prática inusitada e realizada ao redor do mundo, inclusive em terras tupiniquins, recebeu o nome de Place Hackers (invasores públicos) e os locais explorados Urbex, ou seja, exploração urbana e já virou tema de pesquisa e livro pelo explorador, fotógrafo e pesquisador de Oxford Bradley L Garret.

 

Como toda aventura que se preze, a Place Hacker, ou exploração urbana, também tem seus riscos.  O primeiro deles são os próprios lugares explorados, já que muitos são prédios antigos e em ruínas, túneis abandonados, linhas de trem desativadas e onde mais a adrenalina fizer morada; o segundo diz respeito ao fato de que muitos desses lugares são propriedades privadas ou de entrada proibida e uma das regras da exploração é não pedir autorização a ninguém e aí podem rolar algumas confusões, o que implica em mais estímulo para os aventureiros. Alguns acidentes já chamaram a atenção das autoridades que já ficam de olho nos exploradores e nos espaços que costumam ser utilizados para a prática. Garret montou seu grupo de pesquisa e exploração urbana, o “London Consolidation Crew” em Londres e desde então eles já descobriram de um tudo em várias partes do mundo. A proposta é experimentar as cidades de outra forma, com outro olhar quebrando paradigmas e mudando a relação que se tem com grandes metrópoles e lugares abandonados. “A ideia da exploração urbana está em revelar o que está escondido do mundo”, explica Bradley Garrett.

Na “estrada” como explorador de 2008 a 2012 Garrett registrou toda a experiência para o seu livro Place hacking: tales of urban exploration lançado em 2013 e também manteve e mantém, um site e blog relatando e expondo imagens da sua aventura. O grande barato é que Bradley além de explorador urbano é graduado em História e Antropologia com mestrado em arqueologia marítima e doutorado em geografia social e cultural, ou seja, bagagem ele tem, o que torna essas intervenções com o urbano mais que uma experiência sensorial e estética, mas antes de tudo uma experiência sociológica e holística. Entre as peripécias do grupo estão Mothballed Londres Correios Railway, uma rede ferroviária subterrânea de 6,5 milhas usada pelos Correios para o transporte de cartas por toda a cidade em 2011, o que, aliás, tornou o grupo conhecido da grande mídia. Em seguida veio o Shard, o mais alto arranha-céu da União Europeia, ainda não concluído. O metrô de Londres também serviu de Urbex para o LCC e foi razão da prisão de alguns de seus membros. Como foi dito no início da matéria, um dos pré-requisitos da exploração são lugares proibidos e ser preso pode ser uma consequência da experiência.

O INÍCIO

Explorar espaços urbanos abandonados não é nada tão novo assim e há tempos desperta a curiosidade humana, mas definir um “quando tudo começou” não é uma tarefa tão precisa. Acredita-se que foi nos anos 70 que um grupo de contracultura denominado Suicide Club, de São Francisco, Califórnia. Essa galera fez feitos incríveis como excursões em túneis de serviços, jantares em lugares “inapropriados” como a Golden Gate Bridge entre outros, o que foi gerando espanto, curiosidade e atração. Outro explorador urbano bem conhecido foi o canadense Jeff Chapman, autor de “Infiltration: the zine about going places you’re not supposed to go”  publicado em 1996 e conhecido pelo pseudônimo Ninjalicious. Em julho de 2005, pouco depois de sua morte foi publicado o livro “Access All Areas: a user’s guide to the art of urban exploration”, um guia com códigos de ética, técnicas e práticas da exploração urbana.

A exploração urbana se caracteriza pela exploração de espaços criados pelo homem, dessa forma não necessariamente localizadas em grandes centros e metrópoles. Daí muitos buscarem minas desativadas, locais de teste de armamentos e outros prédios afastados. Nos grandes centros, parques, shoppings e hospitais desativados são bastante atrativos para os exploradores.

 

A partir da década de 90 a exploração urbana foi ganhando mais força e mais adeptos e algumas condutas foram se fortalecendo entre os exploradores, como não retirar nada do lugar explorado ou praticar vandalismo. O grafite não é bem visto porque a ideia é não deixar vestígio de que se esteve naquele lugar. A prática comum é fotografar ou fazer vídeos como meio de incentivo e registro. Alguns praticantes mais puristas, defendem que não se devem criar passagens com nenhum tipo de ferramenta, ou quebrar janelas e derrubar portas, pois o explorador deve usar a criatividade para encontrar entradas.

Além da diversão e adrenalina, alguns grupos se motivam pelo retorno ao passado que as explorações proporcionam, afinal houve um tempo em que estes lugares eram cheios de vida e hoje contam histórias de um tempo remoto ou não tão distante. O ForgottenDetroit.com, por exemplo, é dedicado a catalogar os restos decadentes dos anos dourados do centro de Detroit; o explorador urbano Steve Duncan 60 anos depois, deve ter sido a primeira pessoa a ver um laboratório abandonado, onde experimentos iniciais no Projeto Manhattan (o qual produziu a bomba atômica) foram realizados. Assim como algumas pessoas buscam paz e equilíbrio na natureza, os Place Hackers buscam no concreto o imaginário de realização e aventura.

 

O LIVRO

Supõe-se que cada centímetro do mundo tem sido explorado e cartografado; e que não há lugar novo para ir. Mas talvez sejam os locais do cotidiano ao nosso redor, as cidades em que vivemos-que precisam ser redescobertos. Qual é a sensação de chegar nas “bordas” da cidade, para explorar seus túneis esquecidos e escalar arranha-céus inacabados com altura muitas vezes acima da metrópole? Explore tudo que existe na cidade, a encare como um lugar para aventuras sem fim.  Com suas expedições em Londres, Paris, Berlim, Detroit, Chicago, Las Vegas e Los Angeles, Bradley L. Garrett burlou a segurança urbana, a fim de conhecer a cidade de uma forma além dos limites da vida convencional. Ele chama isso de “lugar de hackers”: a recodificação do espaço urbano fechado, secreto, oculto e esquecido de fazê-los reinos de oportunidade.  O livro “Explore Everything” é um relato de aventuras do autor com sua tripulação, um relato coletivo de exploração urbana. O livro é também um manifesto, que combina filosofia, política e aventura, em nossos direitos para a cidade e como entender as metrópoles do século XXI.