DAS PASSARELAS AO COTIDIANO, A PEÇA VEM GANHANDO ADEPTOS E QUEBRANDO BARREIRAS DE ESTILO.
Por Ivan Reis
Há tempos que a nova safra da indústria do entretenimento vem propondo outros estilos e configurações de atitudes e comportamentos. Depois das peças oversized de Justin Bieber e o refinamento das produções de Glen Powell, a casualidade e o conforto reinam nos tapetes vermelhos. Na última edição da semana de moda masculina de Milão, o ator Paul Mescal, 28, compareceu ao desfile da Gucci vestindo shorts, camisa de alfaiataria, além de meias brancas e um loafer clássico da marca nos pés.
Uma pesquisa rápida no Google revela que o micro comprimento dos shorts dominou o guarda-roupa dos mais ousados. A peça agitou as redes sociais e também tem aparecido nas passarelas. Na 58ª edição da São Paulo Fashion Week, encerrada em outubro, algumas marcas da Nordestesse, coletivo que reúne etiquetas e criativos da região do país, apostaram no modelo em diferentes estilos.
NO PASSADO
O sucesso dos shorts masculinos vem de temporadas passadas e está associado a hábitos e costumes. Somente a partir dos anos da década de 1920, o homem passou a mostrar as pernas devido à prática de atividade física ou em trajes de banho. Sua popularidade ocorreu, em grande parte, pelo rugby, tênis e futebol, modalidades esportivas que necessitam de velocidade e, consequentemente, agilidade e movimento nas pernas. Até a década de 1970, a peça era curta e larga e, nos anos 80, ganhou força com a irreverência do colorido da época.
No universo do esporte ou não, os comprimentos micro e acima do joelho geraram polêmica pelo tom casual da peça. Assim como Pascal, muitos adeptos dos shorts foram questionados sobre questões envolvendo bom gosto e até masculinidade.
TENDÊNCIAS
Para a consultora de estilo e imagem Marcela Faury, a peça não apresenta uma configuração visual única. “Atualmente, os shorts não são mais limitados somente ao uso casual e esportivo; eles podem transitar em vários estilos e compor desde looks descontraídos, até os mais elegantes, se bem escolhidos. Tudo varia de qual ocasião será usado e como será composto na produção”, definiu ela. Ressaltando sua versatilidade, os detalhes diferenciam a peça. “Para um toque mais sofisticado e refinado, a escolha por tecidos como sarja, linho ou alfaiataria, em vez de malhas ou jeans, podem ser excelentes opções. A escolha de cores e comprimentos também é importante. Tons neutros e comprimento próximo aos joelhos são mais versáteis, enquanto cores vibrantes e modelos mais curtos podem ser usados para looks mais modernos e ousados”, orientou a consultora.
Os shorts também ganham nova roupagem. É certo que as manualidades vêm dominando as tendências de moda há tempos e, com os shorts, isso não foi diferente. Tricô, crochê e tantas tramas manuais imprimem personalidade e novas leituras podem ser feitas com técnicas tradicionais – uma nova cara para o handmade.
Marcando presença na última edição da São Paulo Fashion Week, a marca baiana Ateliê Mão de Mãe apostou em texturas especiais e proporções maiores para uma nova configuração do masculino. São peças irreverentes, modernas e que criam um lifestyle próprio cheio de atitude e descontração.
Para a David Lee, a alfaiataria encontra o sporstwear e costura com o que é feito à mão. A marca investe em peças utilitárias e funcionais, propostas para um contexto urbano e confortável. Com este espírito, a marca baiana traz peças ousadas, com cores fortes e detalhes que fazem a diferença.
Na MB Conceito, etiqueta baiana sob a direção criativa de Moab Barros, os shorts podem aparecer mais clássicos, com modelagem tradicional e comprimento bem acima do joelho – um estilo com atitude brasileira.
As altas temperaturas também fazem a peça aderir ao guarda-roupa masculino, incorporando o espírito do tempo em que vivemos. “Os shorts tendem a transmitir uma imagem mais leve e informal, sendo ideais para quem busca um visual descomplicado, moderno e autêntico”, disse Marcela Faury sobre o impacto da peça.
INDIVIDUALIDADE
“Sou um grande defensor dos homens que usam shorts curtos”, declarou Paul Mescal à imprensa internacional minutos antes de conferir a nova coleção de Sábato de Sarno, diretor criativo da Gucci, na semana de moda italiana. Dividindo opiniões, a peça gera certa polêmica pelo micro comprimento em seus contextos de uso. Antes de aparecer na fashion week, o ator é um adepto da peça e já foi flagrado em momentos do cotidiano, como saindo da academia, no supermercado ou andando pelas ruas.
O uso dos shorts – especialmente em um contexto de uma semana de moda – levantou o debate sobre questões que envolvem novas propostas de estilo e masculinidade. Curta ou não, a peça carrega o histórico de pertencer à informalidade. A consultora Marcela Faury esclareceu a questão. “As roupas são formas de expressão pessoal e, ao adotar peças vistas como ‘não tradicionais’, como shorts em ambientes mais sérios, o homem desafia a ideia de que existe um padrão fixo para a masculinidade”, disse ela.
Ainda de acordo com a consultora, a reinterpretação de peças sem estereótipos consegue quebrar barreiras e incentivar o uso sem preconceitos. A perpetuação de novos valores para o homem contemporâneo também acontece pela força da mídia. “Quando celebridades e figuras públicas vestem peças historicamente associadas a um questionamento de gênero, elas ajudam a normalizar e a tornar a moda mais inclusiva para todos, reforçando a ideia de que o estilo deve priorizar a autenticidade”, esclarece Marcela Faury. Mudanças acontecem com atitudes e a moda está aí para provar!