Por Ivan Reis
Não é de hoje que o guarda-roupa masculino vem sendo repensado para o novo consumidor. Moderno, tradicional e transgressor são palavras que definem o clima dos bastidores dos desfiles das marcas masculinas participantes da 57ª edição da São Paulo Fashion Week. De 9 a 14 de abril, a capital paulista abrigou 27 apresentações de etiquetas nacionais nos espaços do Shopping Iguatemi São Paulo e JK Iguatemi, além de locações da capital paulista.
Da programação, selecionamos quatro marcas masculinas que marcaram presença na semana de moda brasileira com coleções que inovaram para o homem contemporâneo.
IGOR DADONA
Desde o início da carreira, a alfaiataria é o carro-chefe das coleções do designer. O corte elegante, discreto e certeiro ganha recortes, dobras e pregas inovadores. Amarrações de camisa, bermudas e calças compõem um guarda-roupa habitual, porém visto a partir de uma nova abordagem. “A alfaiataria é a base do meu trabalho. Eu vou desconstruindo e brincando um pouco, transformando com outras coisas, mas a alfaiataria está sempre ali”, afirmou Igor Dadona com exclusividade à MENSCH antes de apresentar suas criações na última edição da semana de moda paulista. Nesta coleção – que também insere modelos femininos na passarela -, o estilista se valeu da parceria com a marca Svarovski. O brilho dos bordados fez a vez em lapelas, ombros e golas nos detalhes de algumas produções. “É a minha segunda parceria com a Svarovski em bordados exclusivos que desenvolvi com os cristais. Traz muito desse universo floral que eu gosto muito, mas tem, ao mesmo tempo, um toque quase punk”, explicou o designer brasileiro. Variando entre preto, cinza, branco e uma pincelada de cores quentes, a coleção de Igor Dadona amplia sua atuação no mercado. O clássico visto pelos olhos da contemporaneidade.
GEFFERSON VILA NOVA
Pensada para o homem em constante movimento, a coleção Jornada, do designer baiano Gefferson Vila Nova, trouxe peças atemporais que se adequam a diversas ocasiões. Calças, camisas e jaquetas lisas, em alfaiataria, com modelagens mais amplas e utilitárias seguem o estilo streetwear made in Bahia. Sofisticada e casual, a dualidade de estilo combina com uma cartela de cores elegante em tons de verde militar, azul e branco.
A novidade da temporada também ficou por conta da linha jeans com lavagem baby blue. Entre sarjas e gabardines, a linguagem work wear compõe produções para o homem cosmopolita com sucessos de outras coleções, como as camisetas estampadas que remetem a momentos da jornada pessoal do estilista. A ilustradora baiana Gabriela Cruz, que conduz o projeto De Tudo que Eu Vejo, assina os desenhos.
Para além das peças versáteis – incluindo sobreposições de moletons, casacos, bermudas -, os acessórios, como bolsas e bonés, tiveram destaque, assim como o brilho de paetês e tafetás que imprimiram uma identidade tecnológica à marca. Moderno, ousado e funcional – tudo ao mesmo tempo.
RAFAEL CAETANO
O escritor brasileiro Mário de Andrade foi a grande inspiração para a coleção Intransitivo, do designer. Rafael Caetano falou sobre a profundidade da relação do escritor, morador do bairro da Barra Funda, com a cidade de São Paulo sob a ótica do Modernismo brasileiro.
Trazendo marcas culturais paulistas à passarela, a alfaiataria nostálgica trouxe golas proeminentes, modelagens amplas em versões lisas, listradas e estampadas. Nos tecidos, a sarja, com tingimento respingado em verde, dá vida ao concreto imaginado pela selva de pedra, fazendo uma alusão à cidade mais cinza do Brasil. Os diferentes tons e lavagens do tecido contrastaram com as cambraias leves, além do cetim em suede que surge com estampa exclusiva inspirada no pássaro saracura, ave milenar que habitava o Rio Nove de Julho, hoje coberto pela própria avenida no local. O desenho tem como proposta exaltar a cidade de São Paulo, pano de fundo da coleção. As cores transitam entre o preto, marinho, musgo, verde bandeira, marrom, vinho, bege e o azul celeste.
Sobre seu momento de criação, o estilista declarou sua inspiração no passado. “Eu me encontro muito no vintage. Nessas últimas temporadas, tenho olhado muito na década de 1970, para as roupas de casa, baby-dolls e hobbies”, afirmou Rafael Caetano à MENSCH momentos antes do desfile.
JOÃO PIMENTA
Encerrando a temporada de moda, João Pimenta ocupou a cobertura do Edifício Martinelli, construção icônica do centro de São Paulo. Uma coleção repleta de referências à capital ampliou o estilo e reafirmou os códigos desenvolvidos pela marca. Casacos longos, estampas, texturas e sobreposições foram os destaques, além da cartela de cores que remetiam à locação. Rosa velho, tons de bege e cinza foram usados em calças e camisas que consagraram o clima urbano da coleção. Para além da alfaiataria, força-motriz da marca, os tricôs e a estampa tie-dye foram a novidade por trazerem uma atmosfera streetwear à marca.