ESTRELA: INDIRA NASCIMENTO E SUA GRANDE ESTREIA NO HORÁRIO NOBRE

Dedicada e talentosa, Indira Nascimento conquistou o público e a crítica de uma vez por todas com sua personagem Laís em ‘Travessia’. Um papel que a fez se desafiar para encarar uma advogada bem sucedida que enfrentou problemas de dependência virtual com o filho. Uma personagem intensa como ela própria e que deixou lições que nossa querida estrela irá levar como referências de um trabalho marcante na sua carreira. “A Laís esteve praticamente em todos os capítulos dessa novela e foi muito trabalho. Agora é a sensação de missão cumprida. E poder descansar um pouquinho com a família, em casa, vai ser muito bom”, declarou Indira ao longo dessa gostosa entrevista. A nós ficou um gostinho de quero mais e a satisfação de conhecer melhor essa artista incrível.

Indira depois de uma personagem discreta em Um Lugar ao Sol, você conquistou de vez o grande público com a Laís em Travessia. Como foi encarar esse desafio? Como você disse, a Janine era uma personagem mais introspectiva. Era uma artista querendo viver do seu trabalho, que acabou caindo em uma cilada, mas depois deu a volta por cima. E a Lais, é outra personalidade. Elas são de classes sociais diferentes, com experiências de vida completamente diferentes, idades distintas também. Foi um desafio muito grande fazer um trabalho de composição com a Laís, porque era a primeira vez que eu teria que construir uma personagem que é muito distante de mim. Laís é mãe de dois adolescentes, tem mais idade do que eu, é uma advogada. Eu precisei fazer um mergulho profundo de estudo e de pesquisa pra me aproximar desse arquétipo da mãe, mas também pra saber como é ser uma líder no ambiente de trabalho, uma mulher de classe média alta. Foi bem desafiador e bem poderoso. Eu saio dessa experiência muito maior do que eu entrei. Aprendi muito com ela.

E como surgiu o convite? O convite veio a partir da Dani Ciminelli, que é uma produtora de elenco. Ela estava produzindo o elenco dessa novela e me apresentou para o Mauro Mendonça e para a Glória Perez, que curtiram. E o convite chegou em seguida. O Mauro me ligou, a gente bateu um papo, ele me explicou como seria – desde o início ele me falou que a gente ia tratar da questão da dependência digital – e eu me amarrei muito. Ele me contou também que eu estaria junto com o Ailton Graça e foi uma alegria muito grande. Eu fiquei extremamente feliz.

Ainda sobre Laís, ela é uma advogada de renome que passa por um drama familiar. Como foi falar sobre esses dois assuntos importantes na trajetória da personagem, a advocacia e dependência dgital. Chegou a fazer algum laboratório sobre os temas? Eu fiz laboratório. Tive a oportunidade de estar próxima do doutor Cristiano Nabuco, que é responsável por pesquisas nessa área, que tem experiência no assunto. E ele abriu espaço, abriu as portas para que eu pudesse estar junto, participar de grupos de apoio de famílias de dependentes digitais. E foi muito enriquecedora essa experiência, foi muito profundo. Eu fiquei muito comovida com todos os relatos que eu ouvi. Também tive a oportunidade de fazer laboratório junto com algumas advogadas, tanto no Rio quanto em SP. Participei de fóruns, e estive no dia a dia dos escritórios. Foi bem rico, eu precisava muito dessa vivência, porque era uma área que eu não dominava nada. As pessoas foram extremamente generosas por doarem seu tempo e suas experiências para que eu pudesse ouvir e, de alguma forma, assimilar esse universo. Foi muito importante. O que mais me alegra de ter feito esse trabalho é que a gente conseguiu, além de entreter as pessoas – a novela tem essa função. A gente conseguiu prestar um serviço, porque a dependência digital é um assunto urgente, assunto de saúde pública. Eu fico feliz que a gente pôde alertar as famílias, trazer essa consciência para nossa sociedade.

Como percebeu a aceitação por parte do público e crítica dessa personagem? Realmente atuar numa novela das 21h tem um peso especial? Eu acredito que atuar na novela das nove tem um peso especial por ser o produto mais visto, por estar no horário nobre. É uma novela feita com muito esmero, muito capricho. Então, você vai entrar na casa de muitas pessoas, isso tem uma responsabilidade. A Laís foi muito bem recebida desde o início – tanto pelo público, quanto pela crítica. Isso deixou a gente muito feliz porque fazemos nosso trabalho da melhor maneira para o público, para que as pessoas gostem, para que elas assistam, para que elas se sintam contempladas. Eu consegui acompanhar também pelo Twitter. Também recebi muito retorno das pessoas nas ruas quando eu saía para fazer qualquer coisa. Sempre tinha alguém fazendo questão de dizer o quanto o personagem era relevante, o quanto a trama que ela estava inserida é relevante, o quanto as pessoas estavam amando as mudanças, as roupas.

Muita gente não sabe, mas sua trajetória como atriz vem desde 2014 com o teatro. Como foi esse início? O que imaginava para sua carreira? Minha carreira começou em 2014 no teatro. Eu fiz algumas peças antes de adentrar no audiovisual. De lá para cá, quando eu olho, eu tenho uma alegria muito grande de ter escolhido isso para mim, de ter tido esse ímpeto de ir atrás do que eu queria, de ter me desafiado a sair da minha zona de conforto, a mudar de cidade, a começar uma coisa nova, estudar um assunto novo. Eu me interessava por atuação, mas eu não sabia nada, nunca tinha feito teatro na vida. Eu vim para o Rio de Janeiro e me dediquei, me propus esse desafio de estudar. Olhar agora, desse lugar de onde estou é muito gratificante, dá uma sensação de vitória, de que valeu a pena ficar distante da minha família, passar sufoco financeiro, ficar pulando de apartamento em apartamento… Muitas coisas que acontecem e que as pessoas não sabem e não imaginam, mas que também fazem parte da construção de vida, da construção do trabalho, da construção de um sonho. Um pouquinho por dia a gente vai construindo um grande sonho. E, sem dúvida, fazer uma novela era um dos meus sonhos. Eu ainda tenho muitos outros, eu estou só começando, mas estou muito feliz e realizada.

Filmes, novelas, peças e séries. Onde se sente mais confortável? Ou tudo, meio que se completa na Indira atriz? Nossa, sim, tudo se completa. Eu tenho muito prazer em atuar, eu me sinto útil. É um lugar onde eu me sinto como um instrumento e eu consigo servir o outro. Para mim, atuar é servir, é me colocar à disposição para servir ao texto, servir à história, servir ao público. Então é uma delícia ser um canal, é como eu encaro esse ofício. As coisas passam por mim e chegam ao público. E é delicioso ser canal. Agora o veículo por onde vai ser, no cinema, no teatro ou na TV, é indiferente, é prazeroso igual. Cada linguagem tem o seu desafio embutido, mas é muito gostoso mesmo. Eu amo, amo, amo, amo.

Tem percebido uma mudança de consciência com relação a mais negros no audiovisual, não só atores? Acha que aos poucos isso está realmente mudando? O que ainda falta? Eu acho que o que a gente vê hoje é resultado das políticas públicas, resultado de uma pressão muito grande que o movimento negro fez, resultado de esforço e trabalho de muita gente envolvida politicamente, artisticamente. A gente vê hoje o resultado da luta, do trabalho e do empenho de muitos atores e atrizes que vieram antes, autores, artistas, pensadores que vêm, há algum tempo, fazendo pressão para que esses espaços se ampliem, para que a gente possa ter corpos negros ocupando posições de destaque, para que a gente possa ter histórias mais diversas. Acho que depois de tanta pressão, os criadores de conteúdo, as emissoras, os streamings estão começando a entender e a ceder a essa pressão também do público. Eu acredito que esse é o desejo das pessoas, dos espectadores. Eles querem se ver, querem consumir algo que os represente, que fale sobre eles, que os inspire. Então, acho que todo esse movimento começa a surtir efeito agora e eu espero que seja um crescente, que essa onda cresça cada vez mais, e não passe. Eu espero que o próximo passo seja a proporcionalidade. A quantidade de pessoas pretas seja equivalente à quantidade de pessoas brancas, que a gente possa ter mais mulheres ocupando as partes técnicas do trabalho também, mais mulheres ocupando cargos de direção, de roteiro, mais mulheres negras em todas as posições. Acho que o próximo passo é que isso se alastre cada vez mais e essas pessoas tenham não só espaço, como também poder e voz para se impor porque todo mundo ganha. Uma televisão mais plural, obras de arte, filmes e séries mais plurais com todos os tipos de corpos, e raças e etnias é bom para todo mundo, é assim que tem que ser.

Quem foram e são suas referências artísticas? Tenho algumas referências artísticas, algumas pessoas que influenciaram minha forma de pensar a atuação e me inspiraram muito. A Grace Passô, que é uma mulher que eu admiro muito, uma artista gigante. A Cia Brasileira de Teatro. A Marjorie Estiano, uma atriz que eu admiro muito. O Lázaro Ramos, um ator que eu respeito, que eu admiro muito como pensador, como artista. Poxa, tem muita gente. A Issa Rae, que é uma figura que eu tenho estudado muito, olhado de perto – é uma americana, uma atriz e criadora genial, a Michaela Coel e, claro, os grandes ícones, como Taís Araujo, Viola Davis, Zezé Mota, Dona Ruth de Souza, Fernanda Montenegro… Tem muita gente que me faz querer ser melhor e maior.

Quando e como se sente mais desafiada como artista e como mulher? Quando eu sinto que estou me expandindo, que eu estou crescendo. Quando eu saio da minha zona de conforto e preciso extrapolar os limites daquilo que eu sei e conheço, e sou desafiada a pesquisar mais, a conhecer outros universos, a adentrar outras mentalidades. Quando acontece isso, eu me sinto muito instigada, muito inspirada, desafiada e feliz, porque eu me sinto crescendo. Eu amo fazer personagens, participar de projetos que mexem comigo, que me sacodem nesse lugar. Quando o projeto também tem algum cunho político importante. Quando vai ser útil para a sociedade de alguma forma, ele me inspira muito a participar e, de alguma forma, não mudar o mundo, mas balançar um pouco.

Falando nisso, onde homens e mulheres precisam aprender mais uns com os outros? Acho que os homens e as mulheres podem aprender juntos sobre todos os assuntos. A potencialidade do feminino e do masculino está dentro de ambos. E acho que juntos, homem e mulher podem, a partir da generosidade, do respeito, aprender a ativar dentro de si todas essas potências. Tanto o feminino quanto o masculino estão dentro da gente, e a gente pode ativar isso, equilibrar essas forças. Acredito que os homens e as mulheres podem trocar e ser muito úteis uns pros outros em infinitas áreas.

Como exercita sua vaidade (como artista e mulher)? Eu sou uma mulher muito vaidosa. Eu sou leonina. Então, para mim, é muito importante estar me sentindo bem, bonita, e eu trabalho isso cuidando do meu corpo, me alimentando bem, cuidando da minha mente, nas coisas que eu penso. Estou sempre atenta. A meditação me ajuda bastante nisso – a manter uma mente mais limpa, mais clara. É difícil porque a gente vive num mundo de muitos ruídos, muita interferência de fora o tempo inteiro, muitos atravessamentos, mas eu tento sempre me puxar para dentro, sempre me puxar para estar presente no meu corpo, e lido desse jeito. A minha vaidade em relação ao meu trabalho eu também cuido fazendo terapia, olhando sempre para mim e para as minhas sombras. Eu tenho muitas potencialidades, muita luz, mas também tenho muita sombra como qualquer outro ser humano. E eu estou sempre atenta a isso, sempre querendo de alguma forma limpar, evoluir, harmonizar.

Final de novela, onde e como pretende relaxar um pouco? Onde recarrega suas baterias? Eu estou voltando para São Paulo, vou recarregar as energias no seio da minha família, na minha cidade, voltar para minha casa. Vai ser muito importante para organizar as ideias, renovar as forças para o que vem aí pela frente. Foi um projeto muito lindo e desafiador para mim. Foi a primeira vez que fiz uma novela inteira. A Laís esteve praticamente em todos os capítulos dessa novela e foi muito trabalho. Agora é a sensação de missão cumprida. E poder descansar um pouquinho com a família, em casa, vai ser muito bom.

Para conquistar Indira basta… Para conquistar a Indira basta ter presença e honestidade, falar com o coração, olhar no olho. Acho que se tiver isso, com certeza vai conquistar minha atenção e vamos bater um papo, trocar e nos conectar. Basta presença e honestidade, são características que eu valorizo muito.

Quais os planos daqui pra frente? Eu tenho muitos planos e sonhos ainda. Em breve eu vou voltar com meu monologo, chamado Ensaio sobre ter voz. É um solo onde eu atuo, um solo que eu criei, dirigi e escrevi. Vou voltar com esse trabalho que eu tenho uma alegria imensa de fazer. Tenho mais algumas propostas no audiovisual que eu não posso contar ainda, mas que eu tenho certeza de que todo mundo vai ficar muito feliz. São muitos planos, muita expectativa boa de que as coisas estão fluindo e que é só o começo, ainda tem muita coisa para fazer.

Fotos Chico Cerchiaro

Stylist Carla Garan

Make Erika Oliveira