ESTRELA: LORENA COMPARATO ENTRE O DRAMA E O HUMOR

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Lorena Comparato é daquelas atrizes que transitam do drama para o humor com uma facilidade que você não consegue imaginar que seja a mesma atriz. Prova disso tem sido sua participação em duas séries que estão dando o que falar, com a personagem Gláucia, de Rensga Hits!, e a Geise, de Impuros. Lorena é divertida, leve e solta na arte e na forma de encarar a vida. Nesse bate-papo com a MENSCH logo se percebe. “Pra mim, o que mais importa nessa vida, é ser feliz”, conclui ela ao final desta entrevista.

Acabou de estrear a 2ª temporada de Rensga Hits, que tem um astral mais leve e divertido. Passa pela música, sertanejo e dramas familiares. Como foi vestir-se de Gláucia e soltar a voz? A Gláucia e a Geise são completamente diferentes, mas às vezes sinto que tenho mais dificuldade de fazer a cantora sertaneja do que a rainha da droga sul-americana. Claro que os desafios não são os mesmos, mas pra Gláucia acontecer, me deparo com questões muito mais próximas da minha realidade do que da Geise. Fora que cantar pra mim que sou atriz – é um dos grandes desafios dessa personagem e requer disciplina, foco, estudo e confiança. Ambas as personagens me ensinam a ter força de vontade e seguir meus sonhos e metas, mas a Gláucia mesmo vestida com ornamentos extremamente vaidosos tem sua essência bastante enraizada na dor e no abandono. Muito da comédia que eu faço, tanto na Gláucia quanto na Geise, justamente funciona pela profundidade das angústias que elas vivem, mas permitem que a gente tenha esperança e torça pra que elas, em alguma hora, sejam felizes. A Gláucia tem uma vida muito divertida. Então, existe uma leveza maior nesse ambiente da música, mas a exigência da excelência e a vontade de estar sempre perfeita também podem ser bastante cansativas. 

E falando em série, em breve vem aí mais uma temporada de Impuros. O que podemos esperar nessa nova fase da série e de sua personagem Geise? A Geise tem se tornado uma das personagens mais icônicas da atualidade. ‘Aviso’, a partir de agora, que essa resposta contém spoiler pra quem ainda não viu as outras temporadas de Impuros, indico entrar no Disney+ já e assistir todas as cinco temporadas disponíveis. Até agora, Geise foi essa mulher que lutou com unhas e dentes pela sua família, mas como a gente bem viu na última temporada, ela agora também tem sede pelo poder. De certa forma, ela entendeu alguns movimentos do Evandro e, do seu jeito, quase replica o arco do marido. Dividida entre proteger a sua família e ter sucesso nos negócios, a dúvida que fica é se o casamento vai continuar com empatia ou finalmente chegar ao fim. Na primeira temporada conhecemos a Geise, mãe solo e tudo que ela queria era dar todo conforto e oportunidade pro seu filho. Hoje a Geise se tornou uma mãe de dois, casada, mas que, certamente, fará de tudo pelo futuro dos filhos. 

A série trata de temas pesados que infelizmente estão bem presentes no nosso cotidiano. Em algum momento você se chocou com algo ou alguma cena? Eu acho que me choquei com absolutamente tudo em Impuros. O texto já traz ideias bastante mirabolantes de conflitos e desenvolvimentos da história que impressionam – formas de matar, roubar, invadir, saquear, prender, revidar, se vingar que me fazem ter muito medo e decepção com a humanidade. Quando o que tá escrito passa pra tela e vejo a qualidade com que contamos essas histórias, me choco ainda mais. Mas é ficção, isso conforta. Dói mesmo pensar que é baseado em muitas histórias reais e sinto muito pelos que sofrem as consequências desses crimes bárbaros, de todos os lados. Falamos muito que, em Impuros, qualquer personagem pode morrer a qualquer momento e, infelizmente, essa é a parte que mais me impressiona nessa realidade periférica das pessoas que vivem em torno do tráfico. A vida está sempre por um fio. O que mais me choca são as mortes, principalmente de vulneráveis, e a busca incessante pela felicidade inalcançável dos personagens.

Participar de projetos que tem uma carga mais pesada, como no caso de Impuros, requer um desapego maior que um trabalho de humor. O que você faz para não levar esse “clima” para casa? É difícil desapegar? Cada trabalho tem a sua carga dramática e o seu peso de produção. Impuros é uma série em que a gente se diverte muito fazendo, por incrível que pareça, mas é um trabalho de dificílima produção. Acho, às vezes, que as pessoas subestimam a carga que existe na comédia. Dizem que o nariz do palhaço é vermelho de tanto chorar e acho que requer muita profundidade para se fazer rir, assim como se fazer chorar. Não gosto de permitir que nenhum personagem invada o clima da minha casa e da minha intimidade, pra mim essa separação é sagrada. Mas é impossível dizer que não há uma contaminação de energia pras minhas personagens existirem, mas isso é bom. Quando as produções são difíceis, tem pouco dinheiro, aí tudo se aperta. Temos menos tempo e as condições pioram, isso sim dificulta o desapego fora do trabalho porque drena nossa energia. Para relaxar eu tento muito “não trazer o personagem pra casa”, fazer o máximo de coisas boas pra mim nas minhas horas de folga como relaxar, comer bem e descansar. Os nossos dias de trabalho são de 12 horas seguidas, às vezes mais contando com transporte. Então,  equilibrar entre descanso e o lazer fora do trabalho, se torna um exercício sagrado pra manter a saúde mental durante as filmagens. 

Você transita muito bem entre o drama e o humor. Você, de fato, se sente confortável em qualquer universo? De fato, particularmente gosto muito de gêneros que misturam o drama e o humor. Um termo que tem sido muito usado é dramédia, quando drama encontra a comédia. Faço parte de um núcleo criativo chamado Cia de 4 e estamos juntas há mais de 13 anos. Eu e Andressa Abreu,  Anita Chaves e Karina Ramil somos atrizes e roteiristas que criamos para atuarmos e gostamos muito de comédias ácidas, ou seja, humor que leva em conta os percalços e as dores da vida e, justamente, faz piada com isso. Se for pensar em outro gênero, também gosto muito de me aventurar em alguns mais audaciosos. Acabamos de realizar o nosso primeiro curta de terror, dirigido pela Cláudia Castro com coprodução da Racord. Não foi o primeiro projeto do gênero de terror em que me aventurei – já tinha participado de alguns outros como Lacuna, filme de Rodrigo Lages, que tá no Globoplay. Acho que quando a personagem é boa e a história é interessante, me sinto confortável em qualquer universo, até porque quem vive nele não sou eu, mas sim a personagem. Almejo ainda fazer e contar tantas histórias diferentes – imagino serem infinitas as possibilidades de universos que eu ainda tenho a explorar.

Falando em humor… como esquecer a gasguita Formosa da Fonseca?!? (risos) Como foi viver essa personagem sem limites e como foi gravar no sertão? A Formosa realmente é uma personagem muito apaixonante. As pessoas me param na rua e em festa até hoje, pra falar do quanto elas riram, se divertiram e se emocionaram com a história dela. Sou completamente apaixonada pela Formosa – ela trazia em mim algo de infantil e ingênuo que é bastante raro hoje em dia. Me divertia muito graças ao elenco e as equipes que estavam comigo, lideradas pela fantástica diretora Patrícia Pedrosa em parceria com Renata Porto Dave, Halder Gomes e Ricardo Spencer. Confesso que dei muito trabalho para as equipes de figurino, caracterização e arte, que pacientemente me ajudaram a realizar todas as ideias loucas que vinham na minha cabeça pra cada cena de Formosa. Como artista me senti muito sortuda de estar rodeada por pessoas que embarcavam nas criações e sempre me protegiam, para que eu não me machucasse com as estripulias.

Nos palcos, em 2017, você interpretou diversas personagens em Não Tô Entendendo Nada, o qual você também idealizou e escreveu. Um baita desafio como artista. O que foi mais legal nisso tudo? Não Tô Entendendo Nada foi um projeto que fizemos em especial para a FITA, um festival fantástico de teatro em Angra dos Reis. Em um mês, conseguimos montar um espetáculo de uma hora que contava a história do Brasil com teatro físico, ou seja, contada apenas usando os corpos dos artistas em cena. Acho que a parte mais legal foi ver o sucesso que o espetáculo fez e as temporadas seguintes, que conseguimos realizar com essa linda criação coletiva, que surgiu de uma ideia de revisitar as partes complexas da história e ajudar o público a decorar ou entender o que para muitos, não fica claro. O texto traz um pensamento crítico da nossa história e era emocionante acompanhar o público no final do espetáculo, conversando sobre o que viram em cena. Quase sete anos depois, se essa montagem fosse remontada certamente traria ainda mais questionamentos hoje.

Indo para o cinema, onde você já fez muita coisa legal, seus trabalhos mais recentes foram Meu Álbum de Amores e Amarração do Amor,. Você se considera uma mulher romântica? Muitos amores? Para conhecer o meu namorado ao vivo eu cruzei o mundo durante uma pandemia e fiquei na casa de uma fã de Instagram, que hoje em dia é minha amiga, no México por 15 dias porque na época existia um banimento de viagem. Me responda você se você me acha uma mulher romântica. (Risos) Eu me considero muito romântica e sou muito feliz assim. Pra mim o amor é tudo e digo isso porque sou muito fã do amor romântico, mas também do amor fraterno, materno, paterno e das amizades.

Você nasceu em Portugal e tem parentes por lá. Como é sua relação com o país? Tem vontade de algum dia fazer algum trabalho por terras lusitanas? Eu tenho muito carinho por Portugal e o considero, sim, meu berço e uma das minhas casas nesse mundo. Tenho muita vontade de trabalhar em Portugal e acho que vai ser emocionante quando isso acontecer, mas ainda não tive essa oportunidade. Boa parte da minha família paterna veio de Portugal e por isso tenho ascendência portuguesa e muito carinho pelo país. Hoje em dia, minha família mais próxima que vive lá é o meu afilhado que eu acabei de visitar no início do ano, mas adoraria visitar o país novamente, em breve.

E como é sua relação com sua irmã Bianca, que também é atriz. Vocês costumam ensaiar juntas ou trocar figurinhas sobre alguma personagem? Eu e Bianca temos uma parceria de muitos anos. Além de termos uma empresa com a nossa irmã Fabiana – que também é trabalhadora das artes, poeta e vive mais por trás das câmeras, nas coxias e corretores dos museus – acompanhamos muito a carreira e a vida uma da outra. Somos muito diferentes em quase tudo, mas temos muito desejo de trabalhar juntas e como nos complementamos, usamos de nossas visões diferentes pra nos fortalecer. A beleza da irmandade é que sei que sempre posso contar com as minhas irmãs, não importa o que aconteça e eu também vou sempre estar aqui por elas. 

Nesse ensaio para a MENSCH você se jogou no mar. É pra lá que você corre quando quer relaxar e recarregar as baterias? Corro bastante para o mar, mas confesso que a minha paixão mesmo, são as águas doces. Amo uma cachoeira e um banho de rio e acho que deitar na grama, olhar para o céu, deitar ao sol ou andar de pé descalço na natureza, recarrega as baterias de qualquer pessoa. Sinto que o mar e as águas em geral me limpam, me transformam e me acolhem. Quando eu fico longe, sinto falta e confesso que me deixa mais triste. A natureza tem um jeito especial de me emocionar e me nutrir. Sou politeísta, acredito em muita coisa, mas não consigo deixar de sentir a força e a presença dos orixás, guardiões desse mundo, quando vou pra natureza. Energeticamente, sinto muito a presença deles e acho um grande presente divino estarmos próximos das maravilhas que essa terra tem pra oferecer.

Para conquistar Lorena basta… Ser doce e amável na comunicação, elogiar com afeto, ter paciência e sabedoria e prezar pela alegria! Pra mim, o que mais importa nessa vida, é ser feliz.

Fotos André Mantelli