Em entrevista à MENSCH, Cláudia Ohana, abriu o jogo sobre sua trajetória de vida pessoal e profissional, revelando mais sobre sua história e posicionamentos sobre temas polêmicos. Talentosa por natureza, nos revelou que quando criança era meiga e medrosa, que é tímida, porém disfarça bem. Relatou que às vezes, se fecha demais em seu mundo, “não sei se essa última é uma falha, mas tem gente que reclama (risos).” Se considera uma pessoa feliz, segundo a atriz ela é “daquelas que gosta de rir mesmo quando está deprê.” Afirma ter orgulho de ser uma pessoa honesta, trabalhadora, esforçada, independente, que adora desafios. Para encanta-la três atitudes são fundamentais: “verdade no olhar, a generosidade e o bom humor.”
Com mais de 30 anos de carreira, 20 filmes, 16 novelas, 9 peças de teatro, músicas gravadas, atualmente prepara-se para escrever seu primeiro curta como diretora chamado “Um Dia Vermelho na Vida de Uma Dama de Alma Vermelha”, que irá inscrever em vários festivais pelo Brasil e mundo a fora. Transitando com fluidez pelo universo das artes transformou-se em uma mulher multimidiática, dona de uma beleza brasileiríssima, de personalidade forte e determinada, ela segue se reinventando a cada novo projeto, a cada nova atitude, imprimindo em suas produções uma assinatura autoral.
Recentemente você postou em suas redes sociais uma imagem desejando bom dia de lingerie que “quebrou” a internet, os comentários positivos a sua sensualidade se multiplicaram rapidamente, a que atribui a repercussão da imagem? Aos 54 anos, como faz para se manter tão sexy? Acho que o fato de me sentir bem comigo mesma sempre ajudou. Agora, ser sexy, ao meu ver, independe da idade. Ninguém aprende a ser sexy. É algo que está dentro de cada um. Ou você é, ou não é.
Por que suas atitudes estão dando tanta repercussão nas redes sociais e como se relaciona com o público neste novo ambiente? As redes sociais viraram um grande reality show. As pessoas, pelo menos a grande maioria, têm interesse em saber o que as outras fazem. Isso é fato! É quase um voyeurismo em relação ao que é privado ou íntimo. Agora, a decisão do que será mostrado, o limite, cabe a cada um. É uma ferramenta poderosa onde devemos saber que estamos sendo monitorados e vigiados o tempo todo. Quem decide ter, não pode reclamar. Tudo é uma questão de conteúdo. Eu, por exemplo, adoro Instagram! Acho as outras mídias meio chatas… Não sei se tenho tanta repercussão assim, mas meus posts costumam ser bem recebidos por aqueles que me seguem. Adoro fotos e gosto de me comunicar com o público através de imagens que mostrem um pouco da minha rotina profissional e pessoal. É como se fosse uma revista sobre lifestyle onde eu sou a editora e decido tudo o que vai ser publicado. Acho que, por isso, me sinto super à vontade. Adoro!
Qual sua percepção sobre as mudanças no mercado das artes cênicas atualmente no Brasil e no mundo após a internet? Nossa, mudou muito! Na realidade, acho que ainda estou me adaptando a esse “novo mercado”. Muitos não precisam mais da TV para serem vistos por milhões de pessoas. A internet proporciona isso. Se alguém quer mostrar seu trabalho, basta criar um canal no Youtube, por exemplo. E isso é muito bom! Abre portas e permite que muitos talentos escondidos sejam revelados.
No filme Zoom, de 2016, você contracena com Mariana Ximenes, as cenas de sexo mexeram com o imaginário masculino e fez a internet ferver, como avalia a repercussão das cenas? Foi lindo fazer o filme. A Mari é muito parceira e profissional. Não tenho problema com cena de nudez e sabia que o Pedro Morelli, diretor, tem muito bom gosto. Apesar disso, como foi a primeira vez que eu fazia cena de sexo com uma mulher, fiquei um pouco sem graça. Não por ser como uma mulher, mas por não saber o que fazer mesmo. Mas, como eu disse, o Pedro, além do bom gosto, é um excelente diretor e conduziu a cena de forma brilhante.
Como você se define? Como eu me defino, é uma pergunta difícil porque estamos sempre mudando e em constante transformação. Normalmente, as pessoas me veem como uma mulher calma, “natureba”, que faz yoga e não se depila. O que não é verdade! Sou ansiosa, como carne e já me depilo há muito tempo. Como sou difícil de brigar, muitos me acham calma. Mas, por dentro, sou um vulcão. Talvez, por isso, me escalem para tantos personagens fortes, apesar de me verem como uma pessoa mais delicada. Independente de tantos adjetivos que possam definir a minha personalidade, a minha essência é e sempre será de paz e amor.
Quando e como Maria Claudia Silva Carneiro, filha da montadora de cinema Nazareth Ohana Silva, se transformou em Claudia Ohana? Engraçado que minha irmã sempre brinca comigo dizendo que eu tenho as duas dentro de mim; a Maria Claudia e a Claudia Ohana. Eu fui Maria Claudia até os 15 anos e, depois que minha mãe morreu, tive que ir à luta, trabalhar e cuidar de mim. Foi quando virei a Claudia Ohana!
Como a vivência no ambiente das artes cênicas influenciou nesta transformação? Claro que o meio em que vivemos pode influenciar nas nossas escolhas, mas acho que a gente já nasce artista. Quando eu era pequena, mesmo antes de morar com minha mãe, eu já me fantasiava, fazia concurso de dublagem, contava e dançava. Isso nasceu comigo. Com 12 anos já me chamavam para fazer fotos e vídeos, mas foi através do inspetor da minha escola (Carlos Wilson, o Daminhão) que fui parar no Tablado.
Sempre demonstrando personalidade forte, sem medo de se expor e das consequentes polemicas, casou aos 18 anos com o diretor Ruy Guerra, na época com 54 anos fale um pouco desse encontro. Foi o encontro entre duas pessoas, independente da diferença de idade, que gostavam das mesmas coisas. O Ruy sempre foi muito jovem e eu era bem madura para minha idade. Já me sustentava desde os 15 anos.
Em sua trajetória pessoal e profissional você sempre se posiciona firmemente a respeito dos mais variados assuntos, na sua opinião, o Brasil está preparado para descriminalização das drogas? Acho a proibição uma violação do direito à individualidade quando falamos do respeito à intimidade ou da vida particular. Sinto-me um pouco dividida nessa questão. A descriminalização pode ser vista como uma concorrência ao tráfico que será diminuído e, consequentemente, toda essa violência em torno dele. Isso, ao meu ver, é um ponto positivo. Sem contar, no caso da maconha, os inúmeros benefícios medicinais a serem explorados. É difícil falar de descriminalização das drogas no Brasil quando estamos muito aquém de países como EUA, Canadá e Holanda, nações desenvolvidas e que sabem lidar muito bem com essa questão. No caso do Brasil, será que conseguiríamos? Seria preciso uma legislação mais rígida, onde o estado tivesse o total controle do plantio, produção e venda, de um sistema de saúde que dessa assistência integral aos usuários, etc. Não sei se nosso país, que já tem enormes problemas com a falta educação, saúde e saneamento básico, conseguiria lidar, de forma madura e justa, com tudo o que esse processo envolve.
Quando estreou profissionalmente e qual produção foi a oportunidade de trabalho que você considera como start da sua carreira? Aos 15 anos, na época, eu já conhecia muita gente de cinema e fazia a lista de todos os filmes que estavam para ser rodados. Depois disso, telefonava para os produtores, diretores e pedia para fazer um teste. Fiz figuração e muitos curtas-metragens até ter a minha primeira grande oportunidade com o longa “A Pele do Bixo”, de Pedro Camargo. Apesar disso, o filme que me lançou de verdade foi “Menino do Rio”.
Em 1983 você protagonizou ERENDIRA, filme com indicações em várias premiações. Entre elas, a Palma de Ouro em Cannes. É correto afirmar que esse foi o marco para sua projeção internacional? Com certeza, foi um filme que mudou minha vida, mas, na época, eu não tinha muita noção disso. Pra mim, era só mais um filme e todos eram importantes. O Ruy me chamou para fazer o filme e eu disse que não porque estava indo para Roma fazer um outro longa, com Lina Wetmuller, onde eu ia fazer a Sophia Loren jovem. Fui para Itália, mas o filme parou porque, por incrível que pareça, a Sophia foi presa e o produtor sumiu! Depois disso, corri atrás do Ruy para ver se ainda dava para fazer “Erendira”. Ele já tinha escolhido outra atriz alemã, mas depois recebi um recado em Paris, dizendo que ele me queria. Foi incrível! Acho que, quando uma personagem é para ser sua, ela será! E foi uma personagem que começou ingênua, mas que se transformou a ponto de tramar a morte da própria avó. O filme foi um sucesso e me lançou no exterior. Foi um daqueles casos raros onde tudo dá certo: direção, roteiro, atores… A Irene Pappás estava maravilhosa. Depois que o filme foi lançado, fui chamada para vários testes, participei de uma produção francesa e, até hoje, ele me abre portas lá fora.
Você participou dos principais desafios lançados pela Globo às suas estrelas como a “Dança no Gelo”, “Dança dos Famosos” e da última edição do “Superchef”. Qual deles você mais gostou, e qual lhe trouxe as maiores transformações? Sem dúvida, pra mim, a “Dança dos Famosos” foi o que mais gostei pois sempre tive facilidade para a dança. Na realidade, eu amei! Às vezes, quando acho que não sou capaz de algo, assisto trechos da minha participação para me dar força. Sinto-me poderosa quando me vejo dançando samba e o passo doble. (risos). Aprende-se muito com esse tipo de reality. Hoje também consigo “tirar uma onda” patinando e não me sinto mais tão perdida na cozinha.
Na opinião da ativista Claudia Horrana, a cultura está atravessando uma das piores crises registradas até então no Brasil? Fale um pouco sobre a campanha #TeatroSim. Infelizmente, acho que a cultura no Brasil sempre esteve em crise e nunca foi prioridade. Essa é a verdade! Em abril tivemos 43% da verba bloqueada pelo governo. E isso é quase a metade do que estava destinado. Se falarmos de saúde e educação então, a coisa fica ainda pior. O #TeatroSim é uma campanha de apoio, de incentivo, aos artistas e ao teatro. É preciso que as pessoas saibam o momento difícil que as artes cênicas atravessam. No Rio de Janeiro, não tivemos a quitação do Fomento às Artes 2016 e os teatros estão sendo fechados a cada dia. É uma realidade extremamente triste, mas que pode ser mudada através de movimentos como esse.
Você estreou, em São Paulo, agora no mês de setembro, o musical VAMP, depois de um enorme sucesso da temporada carioca. Como é reviver uma personagem tão emblemática depois de 26 anos? É um grande privilégio poder reviver uma personagem que ainda é tão amada pelo público. A Natasha é atemporal! Até hoje sinto como se fizéssemos parte uma da outra. Não conheço nenhuma atriz que, depois de 26 anos, voltou a viver a mesma personagem. É mágico, uma alegria imensa!