Se desafiar, encarar o novo e descobrir uma nova forma de encarar as coisas. Esse foi o que motivou e desafiou a atriz e psicóloga de formação, Tania Khalill quando há quatro anos atrás mudou com o marido, o cantor Jairzinho, e as duas filhas para os EUA. Dessa nova realidade surgiu uma nova mulher com um olhar mais desafiador para coisas que até então estavam bem definidas. A experiência pessoal, veio seu novo projeto, Palco da Vida, um workshop direcionado para mulheres com mais de 40 anos se reinventarem. Isso sem falar de “Grandes Pequeninos”, voltado para o público infantil. Se você estava com saudades de Tania, nós também estávamos e foi um prazer bater esse novo papo com ela.
Tania, como anda a vida nos EUA? Há quanto tempo se mudaram e qual o principal motivo? A gente se mudou para os Estados Unidos vai fazer 4 anos. O principal motivo da mudança foi interesse em se conectar com novas realidades, de fazer novas experiências pessoais e familiares. Depois, isso foi se transformando por novas experiências profissionais, mediante as oportunidades que foram aparecendo, quando a gente mudou para Nova Iorque. O interesse primeiro era se colar como família, unir um outro momento com as meninas um pouco maiores, sempre sem a gente, por eu e o Jair estarmos viajando sem parar. Então, foi um interesse de se reconectar como seres humanos, com a gente mesmo e com a nossa essência e com a nossa família.
O que foi mais difícil na fase de adaptação (se é que teve) e o que foi mais fácil? O mais difícil é adaptação ao frio, para mim. A gente foi para Nova Iorque, então, a questão do clima duro, um inverno muito longo sempre foi para mim um desafio. A chegada… o americano de Nova Iorque é um pouco mais acelerado, mas que não difere tanto da gente em São Paulo, embora que com pouca paciência, menos doçura do que nós brasileiros e… com um inverno muito rigoroso, uma cidade que não tem tempo nem para respirar. O mais fácil do que eu imaginava, foi por conta da família, em sua totalidade. Dar conta do que eu queria experimentar, sem todas as ajudas e as possibilidades e as seguranças que a gente tem no Brasil, segurança não estou falando não é segurança de violência, estou falando da segurança que o nosso trabalho gerou. Viver num universo um pouco mais inseguro em relação à ajuda, onde, no dia a dia, eu tenho que ter todos os cuidados com a casa e me ver num novo lugar. Um lugar onde eu queria me ressignificar, me reinventar como pessoa e como família.
Voltar a morar no Brasil passa pela cabeça de vocês? Voltar a morar no Brasil, sempre passa pela cabeça da gente. Amamos muito o Brasil, a gente nunca saiu com um desejo de sair para fugir de algo. A gente saiu para nos encontrar em outros universos, em outros cenários, em novos espaços.
Seu último trabalho na TV brasileira foi em 2017, Prata da Casa, pela Fox Brasil. Sente saudades de atuar no/para o Brasil? Algum projeto em estudo? Meu último trabalho eu acho que foi um do GNT, Mulheres são de marte e é para lá que eu vou. Eu amo o Brasil, eu tenho sempre possibilidades de voltar a trabalhar aí, eu fico muito feliz com convites que chegam e a hora certa vai chegar – uma hora que caiba na minha realidade morando aqui fora, que não seja tão longo, que eu me interesse artisticamente para essa nova ressignificação que eu me propus viver, que me desafie em termos profissionais e, principalmente que caiba no tempo de quem mora fora, que não pode passar um ano no Brasil.
Você chegou a atuar na minissérie Mrs. Fletcher e entrar para o sindicato de atores local. Deu um frio na barriga como se fosse uma estreia? Como foi a experiência? Dá frio na barriga, mas me deu muita alegria de gravar com uma atriz do porte da Kathryn Hahn e quando eu estava lá, eu fiquei muito feliz do profissionalismo que a gente tem no Brasil. Chegar numa série Americana, com uma atriz de Hollywood, com o diretor que, no caso, era indicado ao Oscar, e ver que todo aquele circo de backstage, de câmeras, de produção é o mesmo que a gente tem no Brasil. O Brasil faz isso com muito louvor. A Rede Globo tem uma qualidade que nós atores saindo dali, podemos pisar e ter pés firmes em qualquer outro lugar em termos de saber como acontece, saber como fazer. Nosso país é muito maravilhoso, nesse sentido de preparar atores maravilhosamente bem.
Quando se sente mais desafiada em um trabalho? Sempre me sinto, se eu não me sinto eu boto um desafio, porque eu gosto. Nos infantis que eu fiz do nosso projeto dos grandes pequeninos, eu quis botar um número de circo, no outro quis botar malabares, subiram uma bola que tem no circo, que é superdifícil de ficar em cima e caminhar. Em todo trabalho eu quero botar algo que seja novo, que me desafia a ir para o novo, eu tenho essa urgência e emergência dentro de mim de não ficar num lugar estável e mormo, foi isso que me fez vir para cá – buscar desafios positivos, não para alguém que à toda hora quer se cutucar, mas que quer mais da vida, que quer aprender, que quer se inovar.
Segundo você já declarou, o desejo de se reinventar te levou a encarar a ideia de morar no exterior. Foi daí que veio a iniciativa de lançar os workshops Palco da Vida, onde você combina seus conhecimentos de atriz com a formação em Psicologia para estimular mulheres acima dos 40? Como tem funcionado? Esse processo faz parte de mim o tempo inteiro. Então, estar aqui, estar no lugar, estar nesse processo chamado Meu Tempo, nesse programa que eu estou criando chamado Meu Palco da Vida, que é sobre se reinventar na maturidade. Unir esses conhecimentos da psicologia com a atuação, está funcionando maravilhosamente bem nesse lugar de encontrar novas potências, de encorajar mulheres, de criar novos disciplinas dentro da minha vida e oferecer isso para outras mulheres, de valorizar esse tempo valioso que a gente tem aqui, de valorizar a nossa existência. Sair da estagnação que muitas vezes a vida quotidiana nos traz. Esse trabalho fala sobre o poder da escolha, de cuidar de si, da mulher que cuida de si, dessa valorização da vida num lugar onde existem ferramentas para que isso aconteça. Esse curso, essa arte traz muito essa ferramenta para que a gente possa ser personagem, ser o que a gente quiser, que a gente possa criar papéis. Por que não fazer isso na nossa vida? por que não criar esses universos que a gente deseja vivenciar ou experimentar em termos físico e energético não só mentais, não só de visualizar e imaginar que é muito poderoso, mas como corporificar, como agir em direção a esse interesse, essas vontades que a gente quer viver e que a mulher madura muitas vezes está repensando essas vontades, ou se já perdeu as vontades que eram até então os propósitos dela, e agora ela quer se recolocar dentro dela mesma para ser recolocar no mundo.
Como lida com as questões de produção de conteúdos digitais? Costuma ficar ligada no que rola em suas redes? Como é sua relação com o público nas redes sociais? Eu tenho gerado os meus conteúdos digitais, mas não sou vítima nem refém das redes sociais. Sou muito mais do que uma pessoa que gosta de trabalhar internamente e pesquisar, mas sei que é muito importante esse meu chamado de alma de falar com o público, acho que isso é o meu canal de existência também. Sei que é muito importante essa comunicação através das redes sociais.
O quanto é cuidadosa da beleza e o quanto é entregue às ações naturais do tempo sem qualquer nóia? Eu sou cuidadosa comigo, com meus exercícios físicos, com o que eu me alimento. Já foi muito mais, além de um limite de exigência comigo mesmo. Estou num momento muito bom de autorrespeito, de saber os limites, de saber que eu não preciso fazer exercícios 7 vezes na semana, que se eu fizer 4 está ótimo, que eu não preciso correr e malhar pesado, que eu posso fazer minha ioga e tudo bem, que eu posso achar um caminho do meio sem estar nos extremos. Que eu posso aceitar as minhas rugas, não só como posso e devo, não acho que é fácil, não quero vender essa good vibes only, porque não acho que envelhecer e amadurecer é fácil, mas acho que tem presenças incríveis que só atravessando esse processo do amadurecimento, do envelhecimento é possível. Isso exige tempo, tempo de vida, tempo de experiência e umas ruguinhas também (risos).
Onde e como exercita a mente e a alma? De que você se “alimenta” nesse sentido? Eu faço ioga, medito, alimento muito a minha alma estudando, ouvindo e principalmente pesquisando, observando internamente meus padrões, minhas crenças, buscando me conectar com o meu corpo e com o que eu sinto para poder desse material de alto pesquisa oferecer ajuda, servir com meu trabalho, seja no Palco da Vida ou seja no palco em cena, é poder sair da minha mesmice e me melhorar.
Para você, o que é felicidade e o que te faz feliz? Esse é um dos pontos bem importantes do curso Palco da Vida, porque é importante no meu percurso. Eu já ressignifiquei a felicidade muitas vezes na minha vida, mas hoje, principalmente, estar feliz é um estado que a gente pratica, e a gente aprendeu que ser feliz é algo que nos foi dado – a pessoa é feliz ou não é feliz. Nós praticamos a felicidade, ela é um exercício, onde a gente tem o poder de escolha. Se não, parece que a gente fica entregue a uma bênção divina, sim é uma benção, mas será que eu posso escolher ser feliz? Como eu pratico a minha alegria, a minha felicidade? Então, quando a gente entende que ela é algo que pode ser construído e ela é construída, é um atributo. É claro que tem estados de humor de pessoas que, por sua história de vida ou não, pessoas que têm mais facilidade de se conectar com a felicidade, mas esta é algo que a gente pode praticar. Para mim, estar feliz, o que me faz feliz, é ter tempo para mim. É poder ouvir e olhar os que eu amo com consistência, com verdade – é poder desfrutar do tempo e não estar correndo atrás do tempo. Essa questão do tempo, de como eu quero viver o meu tempo é muito importante para mim no que é ser feliz – é conseguir pôr o meu trabalho em ação e, principalmente, estar perto da minha família e ter novas experiências é algo que me faz muito feliz. Ter um cotidiano que é inventado a todo o tempo, que não está mais estático.
E na hora de relaxar, se distrair… qual seu refúgio? O que curte? O meu refúgio é a minha casa. Eu adoro ficar em casa. Eu amo ir à praia. Então, agora morando em Miami está muito perto a praia, e isso me faz muito bem – conexão com a natureza é o que mais recarrega as baterias.
Planos para 2022? Consegue traçar algo ou “deixa a vida me levar”? Tem uma parte que é deixar a vida me levar, e tem a parte que eu ajo para onde eu quero que a minha vida vá. O meu projeto no Palco da Vida vai tomar corpo no digital – até então está presencial. Então, provavelmente, no começo de 2022, ele vai sair como forma de curso para mulheres que querem se colocar como protagonistas em suas histórias, em suas vidas e tornar consistente esse processo do viver, não só sobreviver à vida e sim ocupar esse espaço de vivência, de inteireza. Esse é um projeto muito especial para 2022. Para Os Grandes Pequeninos, que é o nosso projeto infantil que já voa muito bem sozinho, vamos gravar novos clipes. A gente vai fazer presencialmente uma peça que a gente montou nesse ano e a gente fez online, mas a gente não fez no teatro ainda, e é linda de viver. A peça fala muito da criança se reconectar com essa essência maravilhosa dela, do mergulho para dentro dela mesmo, descobrir que ela é a melhor amiga dela mesma, e desse lugar, ela olha para seus medos, ela cai e ela levanta, ela aprende a resiliência, ela respeita o próximo, ela vê um outro com como diversidade, ela aceita o outro e se aceita. O projeto Os Grandes Pequeninos é um dos projetos da nossa vida. Tenho a pretensão de fazer uma série no ano que vem, uma série maravilhosa – isso é o que eu visualizo, imagino, sonho e projeto.
Quem é Tania Khalill hoje? Eu me sinto mais integrada com a minha essência, onde eu consigo unir o teatro, a minha arte, com esse desejo imenso de falar com a alma humana, que me fez me formar em Psicologia e estar a serviço do outro. O que eu procuro por dentro, reverbera fora e essa procura de auto-encontro está achando esse lugar com outras mulheres, onde eu posso estender a minha inteireza, e a minha ajuda e o meu poder de escolha ao me cuidar e poder cuidar de outros, e a arte sempre é onde a minha alma se encontra, no teatro, na interpretação. Então, é assim que eu me vejo hoje.
Fotos Márcio Amaral
Styling Liandra Salles e Skept 30
Beleza Dominique Kitchen