“Um fotógrafo não faz uma fotografia apenas com sua câmera, mas com os livros que leu, os filmes que assistiu, as viagens que fez, as músicas que ouviu, as pessoas que amou.” (Ansel Adams)
O que á a paixão senão um turbilhão de emoções, instintos e impulsos que nos levam à frenética e insistente vontade de viver cada vez mais e mais profundamente junto do ser apaixonante? Exagero? Talvez sim, talvez não, caro leitor. Para alguns, paixão é algo tão sério, que até se torna profissão. Uma profissão apaixonante que começa no olhar de um e segue para o olhar de muitos.
Estamos falando da fotografia, a arte de usar a luz e a sensibilidade do olhar para contar uma história, revelar uma personalidade, criar um personagem, denunciar uma injustiça, celebrar uma conquista ou simplesmente capturar um momento único. Próxima da pintura para a grande maioria dos fotógrafos, ela também é comparada ao teatro.Conversamos com alguns fotógrafos, com especialidades distintas para tentar compreender a fotografia e a paixão que ela desperta. Aviso antes de ler: você corre o sério de risco de também se apaixonar.
O Começo
O interesse pela fotografia pode vir da influência de alguém próximo, amigo, familiar ou pela magia que uma foto pode provocar. Sergio Santoian, viu sua paixão pela fotografia nascer ao se deparar com uma capa de Playboy: “Meu primeiro contato com a fotografia, se deu em 1997, quando tinha apenas 12 anos de idade. Sem querer, passei numa banca com minha mãe, olhei para as revistas que lá estavam e me chamou atenção a capa da Playboy (fevereiro de 1997 – irmã caçula de Luiza Brunet) fiquei com a imagem da capa na cabeça, nem pela mulher em si, mas pela composição da capa. Cheguei em casa, liguei pra minha tia e pedi pra ela comprar a edição pra mim. A partir daí, começou não só uma história de amor pela revista, mas também, mesmo que involuntariamente, um amor por imagens”
Uma paixão que começou em uma banca de revista hoje é vista nelas também, já que Sergio fotografa para várias publicações brasileiras. O começo de qualquer profissão nunca é fácil, até o fotógrafo encontrar seu espaço e fazer o diferente, o que é só do seu olhar, leva tempo e precisa de muita dedicação e persistência. O mercado oferece vários cursos de fotografias que vão desde interesses por hobby ou profissionais. Escolher um bom profissional e uma boa proposta de conteúdo e metodologia pode fazer toda a diferença no resultado, e claro, entender que não basta só um curso, mas vários, até porque cada um tende a focar em uma parte do todo que é a fotografia.
Um bom curso deve ensinar a técnica, mas, sobretudo e ainda mais estimular o olhar do aluno, perceber suas potencialidades e encaminhá-lo ao desenvolvimento, segundo Miva Filho: “A técnica qualquer um aprende e o cara que quer ser fotografo ele vai aprender, se se dedicar, até mesmo sozinho. O bom curso tem que incentivar o aluno a construir, compreender e interpretar a realidade. O bom curso deve dar referencias e repertório para que o aluno consiga isso.” A leitura de revistas e vídeos na internet também rende boas dicas. Para Miva Filho, profissionalmente ou por hobby, o respeito pela fotografia deve ser o mesmo: “Acredito que um profissional ou um amador deve tentar ao máximo registrar o que realmente se quer registrar no momento do clique. Nunca fotografe de qualquer maneira só porque você não é profissional, faça o melhor, faça a foto.”
Para quem busca a fotografia como profissão a primeira lição vem do fotógrafo Arlindo Namour, “profissionalizar-se em primeiro lugar. Estudar muito, ter postura e acima de tudo: Ética. Quem tem intenção de entrar neste mercado que entre para somar, não para subtrair.” Miva Filho sugere a observação do mundo, suas formas, linhas, luzes “desmonte o que está a sua volta, tente sair do óbvio do que todos conseguem ver. veja o que está abaixo da superfície e experimente. Eduque seu olhar.”
De uma brincadeira de criança à realização de um adulto, foi assim que o fotógrafo Alan Chaves descobriu a fotografia na sua vida. “Saímos pelas ruas para estudar pessoas e como que por brincadeira com uma máquina simples registrava cenas e situações de pessoas ditas comuns, fazendo coisas banais e isso causou certo impacto nos meus professores, daí pra frente gostei do resultado que isso tudo causava e sempre tentava me superar, era um autodidata, resolvia minhas próprias equações (risos)… A fotografia entrou na minha vida como uma brincadeira de criança que não parou mais.”
A eterna e incansável prática é para
Sergio Santoian o caminho certeiro para produzir cada vez melhor: “praticar muito, na rua, com amigos… praticar, clicar sempre! Conhecer trabalhos de fotógrafos reconhecidos e tentar buscar, na obra de algum deles, uma referência… também é legal!”
O Equipamento
As opções de equipamentos fotográficos são inúmeras e estão acessíveis a vários níveis de interesse e econômicos. Miva Filho sugere que a máquina do amador permita que ele realmente faça a imagem, sendo o mais manual possível para se evitar o uso da programação da câmera, para profissionais ele sugere câmeras reflex de lentes intercambiáveis. Segundo Alan Chaves, para um amador, de preferência uma que seja bem automática e fácil de ser manuseada. “As duas câmeras profissionais mais adquiridas são as linhas da Canon e da Nikon. Cada fabrica tem dezenas de modelos, com particularidades indicadas para cada seguimento profissional.”
Outras sugestões:
Como acontece a paixão
O viver a fotografia, o seu dia-a-dia tem um sabor especial e promove toda uma gama de situações que a tornam ainda mais interessante. Conhecer pessoas, viajar em busca do cenário perfeito, ver algo de um jeito só seu e transmitir para outras pessoas, fazer poesia em um click, tudo isso faz a paixão nascer e crescer diariamente.
Eternizar um momento e saber que seu nome vai pra posteridade junto com a imagem que você criou é umas das delícias da profissão para Sergio “saber que seu trabalho pode ser publicado, conhecido por um grande número de pessoas, e que principalmente vai ficar para posteridade, com a assinatura de um olhar único, sem cópias.”
Para Miva Filho, além de ser pago pra fazer algo que ama profundamente, o melhor de ser fotógrafo é poder se comunicar com outras pessoas de uma forma mais ampla, do que a fala ou a escrita, poder mostrar o que pensa não importando a língua e dando a oportunidade das pessoas darem outros significados e interpretações ao que ele viu e mostrou através de suas imagens. A fotografia faz do fotógrafo um professor, um artista e também um contador de histórias e o glamour e o reconhecimento pelo que se produz, segundo Arlindo, dá um gostinho bom à profissão, mesmo com os desafios diários e busca incessante pela perfeição.
A fotografia perfeita e os sacrilégios
Para Miva Filho a perfeição é impossível de ser alcançada, mas é uma obrigação persegui-la, e este perseguir se traduz na eficiência da fotografia. De acordo com nosso time de entrevistados a imagem antes de tudo tem de contar uma história, dizer o que aconteceu ali, naquele momento em que foi capturada, unir a exposição correta com um apurado senso de oportunidade, seja ela o que for. A foto jornalística precisa narrar os fatos sem que o leitor precise ler a matéria, a artística precisa provocar reações, afloras sentimentos e a foto-publicitária, por exemplo, vender o produto. E tudo isso precisa ser feito saindo do óbvio.
E na busca por essa perfeição será que vale tudo? Em um mundo cada vez mais tecnológico em nome da perfeição a imperfeição pode surgir por conta dos abusos cometidos no uso dos softwares de tratamento de imagem. Para Alan Chaves, a fotografia perfeita é aquela que transcende os padrões da câmera e ultrapassam a visão humana, atingindo assim o coração.
Arlindo considera um sacrilégio deixar as pessoas com aparências andrógenas de tanta manipulação através de photoshop e outros recursos. A aparência fake da foto desacredita publicação e profissional, por isso o uso desses artifícios deve ser feito com bom senso. A obsessão pela técnica tira muito da vida da fotografia, e fotografia é antes de tudo feita com a alma, afinal não são os olhos as janelas da alma?
Usar softwares e manipular imagens não é um crime que deve ser banido do mundo da fotografia, muito pelo contrário, pode e deve ser usado, quando necessário e desde que haja uma admissão de seu uso. O limite da manipulação é o bom senso e a verdade que se quer passar através daquela imagem.
Para ser um bom fotógrafo
E depois que você se apaixonou pela fotografia, o que fazer para se tornar um bom fotógrafo? Ter um bom equipamento faz parte, mas antes de tudo você deve ser um observador nato, perceber o mundo à sua volta, interpretar e fazer um recorte disso em uma imagem, Miva Filho completa que o bom fotógrafo consegue colocar significado e compor elementos no espaço físico que é a fotografia.A sensibilidade é requisito fundamental, segundo Sergio, é a sensibilidade que vai fazer com que o profissional enxergue que cada pessoa é uma pessoa, cada objeto é um objeto, ou seja, que cada coisa a ser fotografada é única e especial naquele momento e que mesmo o mundo sendo único para todos, para o fotógrafo cada pessoa deve ser encarada como um mar de possibilidades. “A sensibilidade está para a arte, como a água esta para o corpo humano. É fundamental ser capaz, a se abrir para um outro mundo diferente, mais panorâmico, abrangente, que não seja somente um fundo infinito com dois flashes ao lado.” Diz Alan Chaves.
Mas para tudo isso, bagagem é fundamental e aí retomamos a citação de início de Ansel Adams: “Um fotógrafo não faz uma fotografia apenas com sua câmera, mas com os livros que leu, os filmes que assistiu, as viagens que fez, as músicas que ouviu, as pessoas que amou.”
Um bom repertório cultural é fundamental para despertar os vários sentidos de um fotógrafo, liberar sua imaginação, apurar seu senso de oportunidade e fazê-lo enxergar onde os demais nada vêem. A técnica, claro, é indispensável, mas operar botões se aprende rápido, todo o resto é uma construção que começa e recomeça a todo instante.
AS REFERÊNCIAS
E como quem quer começar muitas vezes precisa ter referências, nossos entrevistados falam das suas:
Para Arlindo Namour: “Helmut Newton, pela originalidade, técnica e ousadia. Bresson, pela vida dedicada a registrar o século passado de forma tão imparcial. Sebastião Salgado, pela maneira com que se envolve em seu trabalho, vivendo cada desafio profundamente.”
Para Sergio Santoin: “Bob Wolfenson e Sebastião Salgado. Acho que são exemplos de fotógrafos reconhecidos mundialmente, com lindos olhares serem compartilhados por todos nós! “
Para Miva Filho: “José Medeiros, Robert Capa, Annie Leibovitz e Henri Cartier Bresson”
Para Alan Chaves: Sebastião Salgado. Foi quando ele foi morar com os “sem terra”, para entender melhor antes de contar uma história, foi o que entendi que não se pode se apropriar de uma causa sem abraçá-la de corpo e alma. E que isso seria um falso testemunho. Cada pessoa tem sua singularidade e suas verdades e que se você não se dedicar a ouvi-los jamais será digno de retratá-los.
E já que falamos tanto de fotografia, vamos mostrar um pouco mais da produção de nossos entrevistados:
Arlindo Namour:
http://namourphoto.com/
Miva Filho: http://www.flickr.com/photos/mivafilho
Sergio Santoin: https://www.facebook.com/sergio.santoian
Paula, quando você descobriu a fotografia? Em 2004, quando comecei a buscar mais um instrumento de manifesto dentro da área das artes visuais.
Em que momento a fotografia passou a ser profissão para você? Nunca. A fotografia para mim é arte. Tem sido há sete anos meu veículo de expressão artística. Antes da fotografia me utilizei de vários outros veículos e, nada impede que eu ainda os troque ou, até mesmo que eu faça uma boa mistura entre eles. Sou inquieta e preciso de liberdade. Esse preceito me levou a uma carreira solo. Aprendi com minha experiência a aceitar somente os trabalhos em que meu DNA possa ficar implantado.
Quais as delícias e agruras de ser fotógrafo profissional? No meu caso, a delícia maior de ser uma fotógrafa é poder construir uma imagem e me expressar através dela. O maior dissabor é o de, às vezes, inevitavelmente, ter que ceder as ideias e as opiniões de terceiros.
Representar o Brasil na Bienal Internacional de Roma significa o que para você? Vejo isso como um aprendizado. É mais uma etapa do caminho que estou percorrendo.
Sua obra “The Little Princess”, baseada em “O Pequeno Príncipe”, te trouxe algum desafio novo? Como esse trabalho te tocou? Na obra “The Little Princess” abordei a liberdade artística. O tema foi levado a Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Firenze em dezembro do ano passado. Participar de uma Bienal é sempre um desafio.
Qual o limiar entre uma foto meramente técnica e uma obra de arte fotográfica? A existência ou não de uma ideia, de um conceito.
Pode-ser treinar o olhar para se tornar um bom fotógrafo? Sim, o que já é boa parte do caminho. Fica faltando a alma e um pouquinho de técnica.
Correções através de softwares tiram maculam a foto? Depende de que categoria de foto estamos falando. Em moda, por exemplo, não existe imagem sem manipulação. Não existem verdades absolutas. Depende do que se deseja fazer, de onde se quer chegar, de que resultado se quer atingir…
Quem são seus ídolos na fotografia? Por quê? Steven Meisel, Patrick Demarchelier, Mario Testino, Terry Richardson, Helmut Newton e muitos outros. Seus trabalhos têm força e personalidade.