FOTOGRAFIA: Jorge Bispo – Um mestre na arte de retratar pessoas

Filho de uma família de atores, o carioca Jorge Bispo começou pelo teatro, mas nos bastidores, fotografando e ali começava uma trajetória de sucesso que tomou conta de revistas, editoriais de moda, publicidade e várias exposições de seus clássicos portraits e trabalhos cheios de personalidade. Com um olhar peculiar que vai do simples ao sofisticado. Formado em Artes Plásticas pela UFRJ e um dos nomes saídos do Curso Abril de Jornalismo de 2001, Bispo já retratou dos cineastas norte-americanos David Lynch e Spike Lee, aos atores Willem Dafoe, dos cantores Otto e Chico Buarque às belas Leandra Leal e Bruna Linzmeyar. Do projeto do “Apartamento 302”, a simplicidade em retratar o nu feminino com sensibilidade e força. Ao fotografar alguém, Jorge Bispo capta a complexidade humana e a revela para o mundo de forma inquieta e contemplativa. Um verdadeiro mestre da forma de ver o ser humano através da foto. Detalhe, é de Bispo o ensaio de capa com nossa estrela Deborah Secco. Para conhecer um pouco mais acesso www.jorgebispo.com

Quando você descobriu a fotografia e como ela te conquistou? Começou na adolescência. Comprei uma câmera pra registrar a cia. de teatro da minha família, meus colegas atores, viagens. Quando comecei a perceber que gostava mais de ir pro ensaio pra fotografar no lugar de atuar entendi o que estava acontecendo.

O que torna um fotógrafo bom de verdade? Acho que você conseguir ter algo próximo de um estilo próprio. Criar suas imagens e fazer com que as pessoas percebam ela como sua.

O quanto você é adepto de programas como o Photoshop e quando você não admite? Qual o limite para retoques numa foto? Existe? Não vejo limite. Isso vai do estilo de cada um. Eu particularmente não faço uso. Apenas em trabalho comerciais/publicidade que eu mando tratar. Eu nem sei mexer no programa. Mas acho uma ferramenta incrível. Retoques sempre existiram. O que mudou foi a tecnologia e agilidade. Nos meu retratos confesso que não sou muito chegado mas não sou o chato puritano.

Qual a marca dos seus trabalhos? Existe algo que só você faz como fotógrafo? Eu tento colocar minha energia ali nas fotos. Cada dia mais venho priorizando a energia no lugar da técnica. Eu tô sempre atrás de uma imagem impactante. Essa é a eterna busca.

O que te incomoda e instiga na fotografia comercial? Os trabalhos me proporcionam conhecer pessoas incríveis e lugares. E no fundo ainda é um espaço pra você ver a foto física. E isso me interessa muito. Os incômodos são sempre relacionados a caretice que tá tomando conta do mundo.

 

 

Como surgiu esse projeto “Apartamento 302”? O que ele te provocava? Ele surgiu naturalmente. Sempre cliquei nus em casa. E um dia comecei a perceber, com a ajuda da minha assistente da época: Manuela Galindo, que eles tinham uma cara, uma luz e sempre um mesmo lugar. No início foi algo apenas estético. Depois comecei a perceber que tinha algo mais ali para aquelas mulheres que posavam. Ele mudou minha vida e me fez um homem melhor. Me trouxe maior consciência para o quanto é difícil ser mulher na nossa sociedade.

Que cuidados, digamos assim, você tem ao fotografar uma mulher nua sem deixar cair no vulgar? A nudez anda fora de moda? Acho que nudez e corpo nu estão sempre na moda. Na fotografia de nu, seja masculina ou feminina o mais importante é você entender o quanto confortável está aquela pessoa e entender seus limites.

No que difere produzir uma foto para um editorial de moda, publicidade ou, por exemplo, uma foto para uma exposição? No caso de trabalhos comerciais existe um cliente, uma forma, paginação, espaço. Vários elementos que você tem que ter em mente. Já no trabalho pessoal tenho uma página em branco que posso ir fazendo como quiser e no meio do processo ir descobrindo o que aquilo vai virar.

Pode-se treinar o olhar para se tornar um bom fotógrafo? De que forma? Podemos e devemos treinar nosso olhar. Fotografando, vendo filmes, exposições, revistas. Isso tudo treina e dá uma memória visual, ferramentas fundamentais pra criar uma imagem.

Os índios acreditavam que a fotografia roubava a alma da pessoa fotografada. De certa forma dá para aprender sobre a alma humana através da fotografia? Roubar não garanto. Perceber, aprender e ficar ainda mais confuso com a complexidade humana eu te garanto.

Quais seus próximos desafios na fotografia? Quem sabe? Esse é o barato da coisa!

 

 

Para saber mais: www.jorgebispo.com