MULHER EM FOCO: GABRIELA MOREYRA

A bela Gabriela Moreyra está comemorando 20 anos de carreira, entre novelas e séries, Gabriela consegue se destacar por onde passa. Tem sido assim com sua protagonista na série Luz, que está entre as mais vistas da Netflix. Tendo sido a primeira protagonista negra da Record em 2016, acabou de participar de um filme todo italiano, na Calábria, e segue fazendo sucesso. E aqui na MENSCH Gabriela nos conta os próximos passos.

Qual a sensação de fazer 20 anos de carreira artística? E o que planeja para os próximos 20? Um pouco assustador como o tempo passou rápido…. Fico feliz de poder ter vivido ou algumas vezes sobrevivido de arte no Brasil. A arte não é valorizada como deveria, sabemos disso. Fiquei pensando em como seria a Gabriela hoje se essas personagens não tivessem cruzado meu caminho. Aprendi muito, não apenas na individualidade de cada uma, mas das pessoas que participaram desses universos. Quanta gente pude conhecer, quanta experiência pude acumular, fiz bons amigos e aprendi, cresci como ser humano. Gratidão acho que a palavra seria gratidão, é isso que sinto. Não tenho nada muito planejado pros próximos 20 anos, mas que eu esteja feliz, realizada, com saúde… Quero degustar o presente e celebrar esse momento. 

Você foi protagonista de novela na Record em 2016 quando ainda não se via muitas atrizes pretas estrelando produções. Como você avalia essa conquista pra sua vida e pro mercado como um todo na época? Contaria a história que antecede um clássico da teledramaturgia brasileira. Senti o peso da responsabilidade. Acabei romantizando no início do processo, tanto o fato de ser protagonista como o da personagem em si, e ai que entendi que não seria bolinho… (risos). Juliana era uma escrava, fruto de um abuso sexual, não foi fácil, mas foi importante demais pra mim em todas as esferas. Não me reconhecia como mulher preta e não entendia meu pertencimento, foi ela que me fez entender e ter respostas pra muitas perguntas. O mercado audiovisual tem grande importância como espelho para tantos dentro de uma sociedade e acordou para acompanhar o movimento mundial, mesmo ainda que lento. O mercado tem posicionado mulheres e homens negros em papéis de destaque que não sejam na subserviência ou nos mesmos estereótipos. Sou uma ferramenta para contar histórias e uma coisa que eu acredito – para não esquecer do passado e transformar o presente – o ser humano precisa continuamente retornar à história para não repetir os mesmos erros e trazer a desconstrução para o hoje. 

Atualmente, você estrela a série infanto-juvenil Luz, da Netflix. Como analisa essa representatividade nos dias de hoje, ainda mais trabalhando para crianças? Uma série para o alcance desse público que está em formação que traz os povos originários, que fala sobre empatia, que traz diversidade, falando de natureza, trazendo mulheres em papéis de importância dentro da trama… São tantos temas de suma importância lidados e trazidos de uma forma leve. A série está ao alcance do mundo, levando aprendizado, conteúdo de qualidade e claro, uma parte da nossa cultura, nosso Brasil, “Luz” está guiando crianças e transformando adultos!

Além de “Luz”, você já estrelou outro grande sucesso da Netflix: “Olhar indiscreto”. Como avalia essas novas possibilidades do mercado com essa forte entrada do streaming? A expansão do mercado trouxe mais concorrência para as empresas e mais oportunidades para os profissionais da área. E isso é ótimo! Assim descentraliza o poder e expande. Ao mesmo tempo a quantidade de produções e concorrências dentro das plataformas e entre elas também traz uma dúvida; “Como esta oferta X demanda?”, “Vai existir uma saturação do mercado?” “E se sim, quando?”

Gabriela Moreyra já fez filme em Portugal e agora também está fazendo um na Itália. Como é trabalhar fora do Brasil? Planeja, de fato, seguir uma carreira internacional? Eu amei! Poder viajar em função do trabalho parece até uma diversão, vira uma espécie de aventura, mas uma aventura com responsabilidades envolvidas, digamos assim. Foi muito interessante, poder atuar em outra língua. Deu frio na barriga? Deu e muito! Mas fui lá dei meu nome e botei meu italiano pra jogo! (risos). Um fato curioso é que, no fim das contas, a linguagem do audiovisual é universal. Às vezes a gente se entendia mesmo sem se entender… (risos). A estrutura é basicamente a mesma. Mudam algumas nomenclaturas, mas no fim das contas parece que estamos falando sempre a mesma língua. Tive receio em todos os dois trabalhos, exatamente por serem projetos que estavam sendo realizados fora do país, mas correu tudo super bem, claro que com algumas adaptações, cada projeto se difere do outro independentemente se lá aqui ou acolá. A carreira internacional já está acontecendo, mas é isso, sem pressão, curtindo as conquistas uma de cada vez. Como um ditado italiano “Chi va piano va sano e va lontano”. Isso significa: “Quem caminha devagar vai são e vai longe”  que equivale ao nosso “Devagar se vai ao longe!”.

Temos visto muitos artistas comentando sobre a influência das redes sociais nas suas carreiras. Como é sua relação com essa mídia? E como é sua relação com os fãs/seguidores? A rede social é uma ferramenta fortíssima. Ter contato com os seguidores tanto brasileiros como de qualquer outro lugar do mundo é maravilhoso, mas a parte da rede social que traz a comparação e o julgamento de tudo e todos não me faz bem. Eu procuro controlar um pouco o tempo que me mantenho ali para não virar algo tóxico. Usar a rede como aliada faz a diferença. O que me preocupa é saber que existem profissionais que estão sendo escolhidos a partir de números, visualizações, engajamento… Precisa existir um equilíbrio em relação a isso e acredito que ainda não o encontramos.

Sua bisavó Eugênia Moreyra foi uma importante feminista nos anos de 1920/30. Como você se percebe como mulher na sociedade atual? Eugênia foi uma mulher à frente de seu tempo. Ela inspirou tantas pessoas, considerada a primeira jornalista do Brasil, uma mulher ousada. Bisa usava calças e suspensórios numa época onde só as saias eram bem vindas. Eugenia juntamente com Álvaro Moreyra hospedou artistas em sua casa a modo de difundir a arte e muitas vezes servir alimento para aqueles que não tinham condições na época, fazendo da casa número 99 na Rua Xavier da Silveira (no Rio) um encontro e troca entre todos esses artistas que vinham de todos os lugares. Deram acessibilidade ao teatro com o “Teatro de brinquedo”, fizeram parte da semana de Arte Moderna de 1920..Enfim, contribuíram para a arte e a sociedade. E eu sinto orgulho disso.

Tenho certeza de que tudo que sou hoje é de um seguimento de mulheres que vieram e reverberaram. Um exemplo fortíssimo é a minha mãe, Valeria Moreyra. Saúdo todas as minhas antepassadas, obrigada por tudo, sem vocês eu não estaria aqui. Me enxergo empoderada, não sempre, mas muito mais consciente do que antes. De qualquer forma, a estrutura do patriarcado ainda impede muitas coisas num mundo hoje aonde acessibilidade para as mulheres aumentou ainda assim encontramos essas barreiras e preconceitos ligados ao gênero. Sempre foi um movimento de resistência e ainda será por muito tempo.

Você namora há seis anos um italiano. Como é manter uma relação na ponte-aérea? Fácil não é… (risos). Olhamos pelo lado positivo, tanto eu quanto ele temos a oportunidade de frequentar duas culturas diversas em países diferentes, lidamos com a saudade de uma forma pra que ela não nos atrapalhe nos nossos afazeres diários, mantendo nossos planos de reencontro quando e onde serão feitos. Eu acredito que cada casal tem seus combinados e nós temos os nossos. O plano futuramente é fincar um pouco mais em um país ou outro, mas por enquanto seguimos assim e está dando certo até aqui. E isso que importa, né? Quando a saudade aperta demais, dói, mas os objetivos estão sendo alcançados e estamos construindo da forma em que acreditamos, e o que mais acreditamos com firmeza é naquilo que sentimos e nutrimos um pelo outro.

Como Gabriela Moreyra lida com o espelho? E com as possíveis cobranças externas, infelizmente, ainda existentes? Muitas de nós temos a visão distorcida diante dos nossos espelhos. Nos julgamos além do que deveríamos. O mundo foi construído em cima de padrões e não é fácil abandoná-los. Me cobro muito em relação ao espelho, tenho procurado evoluir nesse aspecto, converso com a minha mente “a construção ideal foi imposta, podemos nos libertar!”. Parece clichê aquilo que vou escrever, mas está mais do que na hora de olharmos para nós e procurarmos ter uma vida saudável e equilibrada, na verdade, mentalmente equilibrada. Não é simples, mas é possível.

O que te conquista? Diálogo, risada e paz.

O que você faz quando não está trabalhando? Viajo, vou à praia com um bom livro debaixo de um guarda-sol, maratono séries, assisto filmes, repito filmes que sou fã e já vi 300 vezes… (risos). E cozinhar, ahh cozinhar é bom demais! Quando estou trabalhando, em período de gravações, não tenho muito tempo pra mim. Aí é um período de total dedicação ao projeto. Acredito que o artista está sempre trabalhando, estudando, até mesmo quando está numa mesa de bar e apenas observa. Somos esponjas que gostam de encher a mochila de bagagem, pois futuramente aquilo sempre pode servir como ferramenta para a construção de algum personagem que ainda não nos encontrou.

Fotos Sergio Baia

Assessoria Natasha Stein

Agenciamento Amcompany