MUSA: KARIN ROEPKE, A BELA É FERA

Com esse sobrenome e essa beleza nórdica, a atriz Karin Roepke é puro deleite para os olhos, seja por sua beleza, seja por sua atuação nas telas. Para quem a está conhecendo agora, fique atento à série “Chuteira Preta” (Prime Box Brasil e Amazon Prime) e nos curtas “Cinzas” e “Europa”. Natural de Brasília, Karin desde de criança já se via envolvida com as artes, “Tem um vídeo do meu aniversário de seis anos em que apareço feliz entrevistando os convidados da festa. Brincar de ser personagem era natural”, comenta ela. Atualmente casada com o ator Edson Celulari, Karin segue para voos altos e cheia de planos. E nós, claro, vamos seguir os passos dela.

Você é uma mulher ligada a arte desde criança. Como foi a sua infância dentro desse universo? Um dia desses questionei minha mãe sobre isso. Descobri que era eu quem pedia para ir às aulas de dança, teatro, sapateado, canto… Tem um vídeo do meu aniversário de seis anos em que apareço feliz entrevistando os convidados da festa. Brincar de ser personagem era natural. Eu sempre me diverti no mundo da criatividade e sou grata a meus pais por terem me incentivado. Tive oportunidade de me preparar e me aprofundar no meu ofício desde sempre.

Soubemos que você formou-se em arquitetura. Por quê? Foi influência da sua família? A arquitetura surgiu no momento de escolher uma profissão. Minha cidade natal é Brasília e minha maior referência arquitetônica é Oscar Niemayer e Lúcio Costa. Cresci admirando a Catedral de Brasília e o Palácio do Itamaraty. Portanto, como em Brasília não tinha um núcleo de audiovisual tão forte quanto Rio e São Paulo, decidi fazer arte de outro jeito. Mas com o tempo eu entendi que não gostaria de produzir obras de arte fora de mim. Eu, com minhas experiências e sentimentos queria ser de ser a obra artística.

Natural de Brasília você veio para o Rio estudar teatro e cinema. Como foi esse início de carreira? Eu tinha acabado de me graduar em Arquitetura e Urbanismo. Tinha concluído meu primeiro projeto arquitetônico: uma escola de música onde eu fazia aulas de canto. Gostei de fazer esse projeto, mas sentia um vazio, uma dúvida. Me imaginar fazendo protótipos e maquetes pro resto da vida me deixava angustiada. Decidi fazer um curso de teatro em São Paulo e passei para o teste de um musical. Para mim aquele sinal tinha sido muito claro. Meu destino era os palcos. Depois desse trabalho, eu fiz outro, e outro. Trabalho profissionalmente como atriz há 15 anos.

Entre muitos trabalhos em teatro e participações na TV, veio a série “Chuteira Preta” que aborda o submundo do futebol, atualmente nos canais Prime Box Brasil e Amazon Prime. Na série você vive uma mulher gananciosa, egoísta e ex mulher do protagonista, Kadu (Márcio Kieling). Como foi fazer esse laboratório? A Flávia veio num momento muito interessante da minha vida. Falam que é a personagem quem te escolhe, eu sinto que estava pronta para ela. Entender a alma humana não é simples, e quanto mais você vive, mais você observa, mais aprende. A minha principal motivação foi buscar a raiz desses sentimentos, dessas sombras que ela tem na personalidade, sem julgamento. Meu trabalho foi entender como age uma pessoa que pensa primeiro nos seus interesses prejudicando o outro sem nenhum pudor. Fiz um laboratório profundo sobre instabilidade emocional.

Conte-nos um pouco sobre a preparação da sua personagem. Comecei buscando referências reais sobre o tema que iríamos tratar. Parei de romantizar o futebol e entendi que esse jogadores viram um produto. Se dão dinheiro, ótimo, se não, são descartados. Percebi que vários jogadores constroem uma relação descontrolada com o dinheiro e é aqui entra a minha personagem. Ela percebe essa fragilidade do Kadu (Márcio Kieling) e se aproveita da situação. Analisei o comportamento das pessoas manipuladoras. Elas são frias, sabem o ponto fraco do outro e agem. Construí a Flávia de dentro pra fora. Primeiro os sentimentos e depois a aparência. Mas devo assumir que “me senti” Flávia com a composição da maquiagem e o figurino. Ela só usava saltos 15cm e isso modificava a minha postura e forma de andar. O meu cabelo era descontruído, tinha um ar selvagem. Esses detalhes também enriquecem a construção.

Chegou a ter acesso a alguns relatos de mulheres que viveram (ou vivem) como a sua personagem, “Flávia”? Eu digo que a Flávia é uma Maria-Chuteira ao contrário. A ideia que temos é que essas mulheres tem relacionamentos amorosos com os jogadores para ter benefícios financeiros ou sociais. Mas, no caso da Flávia, ela proporcionou um “upgrade” social pro Kadu. Ela é de uma família tradicional e ensina para ele regras de etiqueta e o insere num círculo social mais elevado. Acontece uma troca de interesses. Mas descobrir como funciona a cabeça dessas mulheres me deu material para desconstruir o esteriótipo e criar o meu personagem de forma humanizada.

Você gravou o curta, “Cinzas” com direção do seu marido, Edson Celulari rodado em Los Angeles em que você é a protagonista. Por que a escolha de gravar nos Estados Unidos? A ideia desse curta surgiu em parceria com uma amiga, a atriz Paula Lafayette que mora em Los Angeles e trabalha profissionalmente lá. Nós sempre tivemos vontade de trabalhar juntas e ela me propôs: “se você encontrar um roteiro, eu posso conseguir equipe e uma produção aqui em LA.” Dito e feito. Edson adaptou o roteiro para as locações de Los Angeles e o resultado visual e emocional é incrível. A última cena é gravada no deserto do Mojave e a lenda da Golden Hour do sol da Califórnia não é mentira, o ambiente é perfeito para filmagem. Gravar em outro país enriqueceu as personagens que se sentem estrangeiras sempre, sem um lugar para poder repousar as cinzas da mãe. Foi uma experiência inesquecível.

Já no curta, “Europa”, também com direção do Edson e totalmente rodado no Rio de Janeiro vocês contracenam juntos pela primeira vez. Como foi gravar com ele? Edson é um ótimo parceiro de cena e a nossa intimidade acrescentou muito para o filme. Eu senti plena confiança de que, ali, junto comigo, estava alguém que era cúmplice. Eu poderia me jogar num fluxo de criatividade mas seria salva caso fosse necessário. Toda essa disponibilidade aparece no resultado dos nossos personagens e da história. O fato dele ser o diretor do filme também ajudou nessa troca. Nos preparamos e fomos para a filmagem com muitos recursos para o jogo da atuação.

Dirigir também faz parte da sua trajetória? Eu tenho uma obra como diretora e roteirista. O curta se chama “El Vocacionado”. O processo criativo foi muito interessante, mas comandar um set de filmagem, com um várias pessoas na equipe, me angustiou. Eu sinto que, para tudo que faço, tenho que me preparar, me estruturar. Para continuar na direção, quero me aprofundar mais no ofício. Cada um tem um processo de descoberta, mas não descarto essa possibilidade.

Como você enxerga a cultura de um modo geral no Brasil? Somos um país tão rico com tantas influências religiosas e culturais. Somos descendentes de índios, negros, alemães, italianos, portugueses…temos muitas histórias para contar. Em tempos obscuros, meu foco é na criatividade. Dizem que os momentos de crise são ótimos estímulos de mudança e é dessa forma que enxergo a cultura no nosso país, com força e superação.

Quais seus planos profissionais para 2020? A segunda temporada de “Chuteira Preta” está confirmada. Devemos filmar ainda no primeiro semestre de 2020. Eu adoro esse projeto e estou ansiosa para descobrir as loucuras que a Flávia vai aprontar. Além disso, tenho lido muitas peças de teatro e quero realizar uma produção no ano que vem. Acho importante estar nos palcos nesse momento em que teatros fecham e obras são censuradas.

E na sua vida pessoal? Sigo na busca pelo equilíbrio e o autoconhecimento. A vida é uma caminhada e quero estar cada dia mais consciente. Tenho um parceiro que divide isso comigo e sinto que que relacionamento é uma forma amorosa de crescimento. Além disso, adoro estudar. Edson brinca que eu tenho cadeira cativa nos cursos da cidade. Tenho vontade de pesquisar as origens da minha família na Alemanha e estudar alemão é uma boa ideia para o próximo ano. Mas ainda não completei a minha lista de desejos pra 2020, quero deixar a vida me surpreender.