Por Isabelle Barros
O engenheiro químico Erik Kened alcançou o que poucos na área cosmética conseguiram, especialmente em tão pouco tempo – uma marca própria que, em menos de cinco anos, é vendida em todo o Brasil e até no exterior. Os produtos capilares, corporais e óleos essenciais da Erik Kened Professional – todos veganos e livres de testes em animais – podem ser encontrados nos Estados Unidos, Europa, Dubai e no Japão. Esse reconhecimento é consequência de uma trajetória que começou cedo e, segundo o profissional da beleza, é pautada por princípios inegociáveis. “Empreender, para mim, não significa ter dinheiro. É sobre fazer bem-feito, é ser honesto, é colocar o amor como principal ingrediente na composição dos meus produtos. Sem isso, o trabalho perde a essência”.
A história de Erik começou em Ipatinga, no Vale do Aço, em Minas Gerais, cidade de origem de sua família e seu local de moradia até hoje. “Vim de uma família muito humilde mesmo, que chegou a passar necessidade. Éramos eu, meus dois irmãos, minha mãe e meu pai, que eram muito ocupados, sempre trabalhando para levar o sustento para a família”. Em suas memórias de infância e adolescência, uma pessoa se destaca – sua avó, uma costureira que tinha um talento formidável no manejo de plantas. “Eu ficava muito com minha avó, a ponto de querer morar na casa dela onde havia uma horta com morango, chá de hortelã, capim-limão, alecrim e outros. Ela me ensinou a plantar, a cuidar das sementes, das flores, dos frutos. Minha avó não tinha muito estudo, mas carregava muita sabedoria de vida. Eu não sabia o que ia ser quando crescesse, mas ela me fazia acreditar que eu era destinado a fazer coisas importantes, especiais”.
O incentivo da avó, que o estimulava a estudar e a se esforçar para ter uma vida melhor, também fez com que Erik desenvolvesse um sentido muito importante para seu futuro – o olfato. “Ela me ensinou a perceber os cheiros de qualquer coisa. Adolescente ainda, comecei a fazer sabonetes artesanais de glicerina com alecrim e de sementes de maracujá, orientado por minha avó. Comecei a vender para um tio, depois para os vizinhos e, em seguida, na rua mesmo. Desde o início da minha carreira, tentei fazer alquimia com aromas. Depois, fiz um curso de sabonetes e velas artesanais com uma farmacêutica e, quando percebi, já era assistente dela. Depois, passei a dar aulas e despertei para o mundo dos cosméticos”.
AS FÓRMULAS DOS AROMAS
Erik já havia mostrado que tinha talento – faltava lapidá-lo com estudo e formação. Aos 17 anos, o profissional da beleza realizou curso técnico em Química, no qual aprendeu a fazer perfumes, óleos essenciais, produtos para a pele e cremes para rachaduras nos pés, e continuou seu trabalho de venda de cosméticos artesanais. No ano 2000, Erik fez curso de Cosmetologia em São Paulo. As aulas eram divididas em módulos e ocorriam aos sábados, quinzenalmente, durante o dia inteiro. Nas sextas antes de cada aula, ele precisava sair de ônibus de Ipatinga, a 920km da capital paulista, para chegar em seu local de estudo. Virava a noite no ônibus e trazia dinheiro contado a cada viagem para se manter na maior cidade do país. “Esse foi meu pontapé inicial dentro da cosmetologia. Com ele, pude ampliar meu portfólio e perceber que estava no caminho certo”, relembra.
Em seguida, outro desafio: a faculdade de Engenharia Química, cursada em Minas e paga integralmente com o dinheiro da venda de seus produtos artesanais. “Continuei a fazer velas aromáticas e sabonetes artesanais, mas o carro-chefe das minhas vendas eram os perfumes que eu mesmo fazia. Tudo era muito bem-feito. Eu sempre fazia questão de dar um toque especial aos meus produtos. Nunca abri mão da qualidade e da padronização, seja na escolha das essências, seja nas embalagens. Não fiz curso de vendas na época, agia por instinto e a partir dos ensinamentos da minha avó. Queria que as pessoas me reconhecessem não como um vendedor, mas como um consultor, como alguém que fazia a diferença e trazia algo de valor. Com o tempo, aprendi a distinguir preço de valor e a estabelecer metas – que eu sempre batia. Vi que o negócio estava dando certo quando colegas me procuraram para revender meus produtos. Consegui comprar uma moto e juntar dinheiro e fazer o máximo possível de cursos na área de saúde, beleza e bem-estar”.
Após a formatura em Engenharia Química, Erik Kened trabalhou como responsável técnico por 17 anos, também dando consultorias e mentorias nas áreas de colorimetria, tricologia, estética capilar, terapia capilar e cosmetologia. A pandemia, no entanto, foi responsável por uma guinada impactante nessa rotina. “Em meados de 2020, meu contrato com a empresa onde eu trabalhava foi encerrado e me vi desempregado. Foi a partir daí que tive a ideia de usar toda a minha bagagem profissional para criar minha própria marca – a Erik Kened Professional. No início, eu nem havia cogitado em usar meu nome e pensei em alternativas, mas a resposta veio em um sonho. Além disso, várias marcas importantes têm o nome de seus químicos nelas. Então, sei que tomei a decisão certa. Minha experiência na área fez com que os consultores e cabeleireiros adotassem meus produtos sem nem mesmo eu precisar enviar uma prova. Tudo começou a fluir desde cedo”.
O NASCIMENTO DE UMA MARCA
A marca totalmente vegana criada por Erik Kened começou com um produto que ele criou de memória. “Eu estava com COVID e não conseguia sentir cheiros. Pedi para outras pessoas cheirarem e, depois de alguns ajustes aprovamos o nosso defrizante. Em seguida, fizemos o Fluid Shine, nosso perfume capilar, e continuamos nossa linha com produtos variados para cabelos, água micelar e óleos essenciais. Tudo o que é vegano tem mais afinidade com a pele, com o cabelo e tem absorção mais rápida, por ser mais natural. Meus produtos se adequam a todos os tipos de cabelo porque não são cosméticos, são cosmecêuticos. Eles não apresentam substâncias tóxicas como parabenos, parafina e petrolatos. Além disso, utilizo a tecnologia waterless, com menos necessidade de uso de água, e escolho apenas as melhores matérias-primas. Se precisamos importar, importamos. O cliente quer ter seu problema resolvido, quer soluções imediatas e precisamos estar cada vez mais sintonizados com esses desejos”.
Para dar conta do crescimento da empresa, que tem representantes e distribuidores em todas as regiões do Brasil, Erik faz curso de empreendedorismo em São Paulo, além de supervisionar a rotina da fábrica, em Ipatinga. “Acordo às 6h40 e fico meditando até as 7h. Vejo a agenda com os compromissos do dia e depois vou para a academia. Quando não estou viajando para fazer o curso ou visitando meus distribuidores pessoalmente, vou para a fábrica e vejo quais áreas necessitam mais de mim. Às 18h, vou para a minha aula de inglês e depois vou para casa ficar com minha esposa e minhas duas filhas, de 13 e de 7 anos. Tenho uma vida discreta e tranquila. Quando não tem culto na igreja, fico com minha família, que é a coisa mais importante da minha vida”.
FOCO NO FUTURO
Parte da família de Erik, por sinal, também ajuda no crescimento da empresa. “Quando abri a fábrica, trouxe meus parentes para ajudar. Eu produzia, eles envasavam e minha esposa, Polliane, vendia. Atualmente, ela trabalha no marketing da empresa pela manhã. Meu irmão que mora nos Estados Unidos é um dos franqueados. Minhas filhas, às vezes também vêm trabalhar comigo e sabem falar de produtos quase igual a mim. Quando eu quero desenvolver algo novo e encontro alguma dificuldade, levo amostras para casa. Elas são as primeiras a testarem, a opinarem e se envolvem com todo o processo. Mesmo assim, ainda é cedo para saber se vão seguir a mesma carreira que eu. O futuro a Deus pertence”, reflete.
Para o futuro, Erik estabeleceu metas ambiciosas. “Quero levar a Erik Kened Professional para todos os continentes. Minha meta é chegar até a Ásia inteira em 2024. Também quero aperfeiçoar meu cuidado com os franqueados. Assim que eles compram uma área, o pedido sai da fábrica e eles recebem uma mentoria personalizada on-line e, sempre que possível, pessoalmente. Outra frente na qual queremos avançar é no marketing, publicidade e parcerias artísticas. A semente que plantei precisa de água, de tratamento, para dar origem a novos frutos, novas sementes e novas árvores. Estou lutando por isso”.
Diretor de Arte Marco Antonio Ferraz
Fotos Rodolfo Paganelli
Grooming Graciane Vázquez e Elaine Martins
Locação Hotel Carioca