Pense no tempo e na forma mais simples que podemos de tê-lo sob controle. De imediato, certamente, você pensou em seu pulso, correto? Pois um dos instrumentos de marcação de tempo mais comuns tem história – e não é das breves. Antes mesmo do controle do tempo digital, quem realmente dominava os pulsos por aí eram os ponteiros. Sua popularização aconteceu no século 18, mas os primeiros relógios mecânicos surgiram na Europa no século 14. Já a criação do primeiro relógio de pulso aconteceu somente em 1904, por Louis Cartier, com a fabricação de um presente para seu grande amigo Santos Dumont, depois de um pedido feito cinco anos antes.
Desde então, as modificações estéticas em instrumentos horológicos foram pequenas, mas muitas as evoluções técnicas. Só que antes de mergulhar neste mundo tão pequeno, mas tão complexo, é preciso ter uma compreensão básica sobre este universo.
Essencialmente, os relógios se dividem em modelos de quartzo e mecânicos. Mesmo que as peças de quartzo suíças trazidas para o Brasil representem cerca de 80% das importações em unidades. O maior valor agregado dos modelos está nos relógios mecânicos, que representam cerca de 80% do valor total de importações, de acordo com dados divulgados pela Federação da Indústria Relojoeira Suíça, em julho de 2018. Este cenário é semelhante mundialmente. No mesmo período, relógios mecânicos representavam apenas 28% das exportações suíças, mas 81% do valor total de exportações.
Com base nesses dados, conseguimos ter um panorama da importância de modelos mecânicos mundialmente. E é por isso que eles serão foco da nossa viagem pelo universo das engrenagens.
Entre roldanas, pinos e fusos, um pequeno barrilete guarda uma mola. Ela precisa ser carregada para fornecer energia para o funcionamento do mecanismo. E, desta forma, permitir a marcação das horas e demais funcionalidades. A principal diferenciação entre todos os modelos mecânicos disponíveis no mercado está, justamente, na maneira que esta mola é carregada: automaticamente ou manualmente.
Modelos manuais oferecem uma reserva de energia predeterminada e eles precisam ser recarregados periodicamente pelo usuário por meio da coroa, o pino na lateral que ajusta as horas. Já os relógios automáticos, estes possuem um sistema de rotor com contrapeso que dá corda no barrilete, de acordo com o movimento cotidiano do pulso do usuário. Quando um relógio automático fica sem uso por um período mais longo que sua autonomia permite, ele precisa receber corda manual ou ser movimentado por algum tempo.
CONTROLE SOBRE O TEMPO
O perfil esportivo bastante adorado pelo brasileiro é comumente apresentado por contadores no mostrador dos relógios. Muitas vezes negligenciados por modelos mais básicos, que os apresentam apenas de forma decorativa, os chamados cronógrafos (e não cronômetros, você vai entender mais a frente) adicionam uma funcionalidade bastante interessante: a marcação de períodos decorridos de tempo, que, em geral, permitem o cálculo de até 12 horas com uma precisão de cerca de um quarto de segundo.
ALÉM DA FOLHINHA
Uma, duas ou até mesmo três pequenas aberturas ou contadores no mostrador de um relógio permitem a apresentação do dia, dia da semana, mês, ano e até mesmo fases da lua. Esses dados são apresentados em tipos distintos de calendário, com dados fornecidos por mecanismos exclusivamente mecânicos.
CALENDÁRIO SIMPLES
Apresenta apenas dia, ou dia e dia da semana e requer ajuste em todos os meses com duração inferior a 31 dias
CALENDÁRIO ANUAL
Apresenta a variação do total de dias do mês ao longo do ano. Requer ajuste apenas no mês de fevereiro. Este pode apresentar todas ou algumas das indicações.
CALENDÁRIO PERPÉTUO
Não requer nenhum tipo de ajuste enquanto o calendário gregoriano não sofrer alterações (algo que ocorrerá novamente apenas em 2100), pois identifica, inclusive, os anos bissextos. Mas é importante manter o relógio sempre com corda e manutenção em dia.
COSC
Abreviação de Contrôle officiel suisse des chronomètres, é uma certificação que acompanha muitos relógios do mercado. Estes, sim, podem ser chamados de cronômetros. As peças submetidas a esse controle são testadas em diversas posições e possuem um limite máximo de atraso e adiantamento em segundos por dia (-4 e +6 segundos). Essa medição é parâmetro, mas muitas marcas contam com seu próprio controle de desvio de segundos.
EXPERTISE E EXCELÊNCIA
Um pequeno dispositivo que permite que o relógio compense eventuais erros de marcação causados pelo efeito da gravidade. Exatamente, esta pequena, mas muito complexa inserção inclui o ajuste e o escapamento do mecanismo e realiza, em geral, uma rotação a cada minuto e anula o efeito da gravidade quando o relógio é mantido em uma única posição. Hoje em dia esta complicação quase não conta com funcionalidade técnica para relógios de pulso, mas é uma verdadeira representação do conhecimento relojoeiro de uma Maison.
SOAR DO TEMPO
Enquanto o turbilhão representa o ápice do savoir-faire de uma relojoaria, um repetidor de minutos representa o ápice do conhecimento de um relojoeiro. Mais do que a leitura das horas, um relógio como estes reproduz as horas por meio de suaves toques de martelos em gongos metálicos. Geralmente, estes sons são apresentados por meio de um toque simples para cada hora cheia, um toque duplo para quarto de hora e um terceiro sino para os minutos adicionais. Por exemplo: 11:57, o primeiro sino soará 11 vezes, o segundo soará três vezes e o terceiro doze vezes.