A nossa Musa tem frevo no corpo (e que corpo!), sorriso no rosto e alegria na alma. Rafaella foi Garota do Municipal, tradicional baile de Recife e trabalha como modelo e atriz já há algum tempo. Consciente da efemeridade da beleza, ela cuida das coisas perenes e curte o que o espelho mostra sem grandes neuras ou sacrifícios. O carnaval do Recife ficou mais bonito e colorido com Rafaela frevando pelas ruas, blocos e bailes.
Você já foi Garota do Municipal, conta pra gente dessa experiência e por que concorrer a esse título. Foi uma das melhores experiências que já tive. Na época eu tinha 18 anos e concorri com 96 mulheres. No dia da primeira seleção, ao ver as concorrentes, quase desisti. Havia mulheres com todo tipo de beleza, lindas! Muitas já haviam participado de vários concursos carnavalescos, enquanto eu principiava ali. Mas, graças a Deus, passei por todas as etapas seletivas e conquistei o título de Rainha do Baile Municipal do Recife de 2005. Muitos duvidaram, até eu mesma, mas contei com o apoio e o incentivo de meus familiares, amigos, namorado, profissionais do meio (visto que eu já “modelava” desde os 09 anos) e principalmente, da minha mãe que sempre acreditou em mim e me apoiou em tudo. Foi perfeito, maravilhoso. O estilista Ricardo de Castro também teve papel importante nessa conquista. Na verdade, ele e minha mãe foram os responsáveis pelo meu ingresso no concurso. Serei eternamente grata aos dois! Profissionalmente, o título não me trouxe muitos ganhos porque eu já trabalhava na área artística (sou modelo e atriz desde pequena), mas a visibilidade é incontestável e a experiência de vida foi inenarrável.
Faz a linha narcisista ou é só realista da própria beleza? Na verdade nenhum dos dois. Não me acho tão bela assim. Gosto de meu trabalho de atriz e de modelo e sei o quanto a aparência é importante nestes segmentos, por isso, me cuido e procuro manter um visual agradável. Mas, não me considero uma pessoa vaidosa, acredito que simpatia e humildade são primordiais. Estas sim eu cultuo e me preocupo em mantê-las. Diria, inclusive, que a conhecida “beleza física” é apenas uma embalagem bastante perecível.
Como cuida do corpo? E desde quando começou a cuidar dele com mais ênfase? Malho desde os 15 anos, mas só passei a praticar musculação com o intuito de ter um corpo definido e “sarado” a partir do meu preparo para o Baile Municipal, em dezembro de 2004. Atualmente, tenho uma vida profissional que me exige muito tempo, e embora eu curta bastante atividades físicas não consigo praticar como gostaria. Então, apenas procuro manter uma alimentação saudável e pratico musculação, em média, 4 vezes por semana.
Do que não abre mão pela beleza? Tudo. Acredito que a beleza é algo muito efêmero e sempre me preocupei em não ser escrava dela. Não serei hipócrita, claro que gosto de me olhar no espelho e gostar do que vejo, mas a minha aprovação basta para que eu me sinta bem. Muitos dos meus cuidados com treinos e alimentação carregam consigo uma preocupação estética sim, mas a minha saúde é a verdadeira prioridade. Confesso que não faria muitos esforços apenas pela beleza, não mesmo! Inclusive, se não tiver nenhum trabalho em iminência, furo fácil a dieta por uma sobremesa. Adoro doces!
Há um objetivo estético ainda a ser alcançado ou está satisfeita e agora é só manter? Acho que nunca estarei satisfeita. E quando falo isto não me refiro apenas à beleza, refiro-me à vida. Acho que sempre temos que buscar o melhor de nós mesmos. Particularmente, vivo uma luta incessante pelo melhor de mim. Nosso corpo e nossa essência sempre poderão estar melhor, seja “mais” alguma coisa, ou “menos” qualquer outra.
Como vê a relação concursos de beleza x mulher objeto? Realmente a mulher lutou muito para conquistar um papel na sociedade, o que hoje é bastante deturpado por ambos os gêneros. Infelizmente, a fatia de culpa da própria mulher, nessa distorção de valores, não é pequena. Vivemos numa sociedade em que, mesmo no cotidiano sem nenhuma alusão à beleza, alguns seres humanos ainda veem as mulheres como objeto. E quando a exposição é demasiada, como nesses concursos onde se exploram a sensualidade e a beleza feminina, torna-se bastante complicado mostrar à sociedade que “você” não é um artefato. Esquivar-se de propostas e assédios, sem muitos danos, requer muita educação e cautela. Aos poucos, as pessoas vão entendendo seus valores, princípios e limites.
No dia a dia sofre algum tipo de cantada ou preconceito no trabalho por ser bonita e chamar atenção? Demais. Mas não acredito que isso seja devido à beleza, já que não acredito possuí-la a este ponto. Penso que o meu jeito é que me faz pagar tão alto preço. Sou muito calorosa e costumo ser simpática “até com as paredes”. Sem distinção de gênero, raça ou posição social, gosto de falar olhando nos olhos, de cumprimentar meus semelhantes, de tratar a todos com atenção. Isso, sim, agrava os assédios e cantadas das espécies mais diversas que você possa imaginar. Mas, mesmo com uma contrapartida extremamente difícil de lidar, não me sinto em condições de tratar um semelhante com indelicadeza, ou frieza. Mas, a vida teve seus meios de me ensinar que limites, quando não são respeitados, devem ser impostos.
Tem frevo no pé? (risos) Sim, na verdade no corpo inteiro como diz um dos nossos mais famosos frevos “…a embriaguez do frevo que entra na cabeça depois toma o corpo e acaba no pé”. Impossível ouvir e não sair dançando, fervendo ao som do frevo. Desde a época do colégio faço parte de grupos de dança e tenho dançado de quase tudo nesta vida. A dança popular sempre mexeu muito comigo. Amo nossa cultura e aprecio demais sua diversidade e sua riqueza.
O que mais gosta de fazer no Carnaval? Trocaria por uma viagem a um lugar tranquilo? Dançar, isso é o que mais gosto de fazer, sem dúvida alguma. Há anos brinco as prévias e todos os dias do carnaval. Admiro muito a cultura de nosso país e nessa época do ano, parece ser mais valorizada e exaltada. Já troquei o carnaval de Pernambuco pelo da Bahia, e pretendo, um dia, trocá-lo pelo do Rio de Janeiro. Mas, ir para um lugar tranquilo ainda não faz parte dos meus planos.
Alguma fantasia que possa confessar pra gente? (risos) Nos carnavais que a vida me proporcionou já me fantasiei de índia, estudante, odalisca, Maria Bonita, havaiana, anjo, passista de frevo, passista de samba, Iemanjá, palhaça, jogadora de futebol e várias outras personagens. Nos palcos, e telinhas, já “incorporei” diversos personagens. Mas, se a pergunta é sobre fantasia sexual, confesso que não tenho nenhuma. Acredito que o contexto, o clima e a relação dão tom, cor e som, transformando um simples momento em fantasia sem precisar que planejemos ou sonhemos antes.
Fotos Carlos Júnior / Produção Executiva Cris Glasner / Assistente de Fotografia Bianca Nascimento / Make up & Hair Juliana Dressler
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Cynthia Verçosa (roupas e acessórios), Arezzo (sandálias), ACP – Assossiação Comercial de Pernambuco (locação), Dorinha Estúdio de Beleza (RioMar)